Montoya
Ainda não estamos nem na décima volta do GP Brasil, e eu já elegi Montoya como o destaque da corrida. O cara perdeu o aerofólio dianteiro, furou um pneu e ainda tinha uma pipa com a bandeira da Inglaterra grudada no motor.
Mesmo assim, o louco parou nos boxes, consertou tudo e voltou para a prova, para fazer uma corrida de recuperação. Neste momento em que escrevo, Barrichello assume a segunda, passando por Ralf. Claro que vou torcer pela vitória brasileira, mas se Montoya vencer, acho que terá muito mais graça.
BLOGUS
31 março, 2002
Mônica, será que ela vem?
Estou aguardando a presença aqui no blog (espero que ela tenha tempo para dar uma passada aqui), da Mônica, de São Paulo. Não, antes que alguns me perguntem, não é a Mônica de Bauru, e sim a Moniquinha, uma criatura paulistana até a alma, com um senso de humor incrível, e alguns outros atributos os quais seria grosseiro listar aqui. Mas é uma pessoa acima de tudo bacana - aliás, é a única pessoa que consegue não gostar de Vinícius de Moraes e mesmo assim continuar sendo alguma coisa perto do máximo.
Mônica, te mandei o link, você veio?
Ah, e aviso: não adianta alguém tentar escrever nos comments com o nome de Mônica, porque só a verdadeira vai dizer qual o nosso bar preferido em São Paulo. É isso aí. Boa Páscoa e maneirem no chocolate.
30 março, 2002
Praise the lord
Eles são gordos. São feios. São negros. E de jeito nenhum eu usaria aqui a palavra "mas", porque eles não merecem. Eles são gordos, são feios, são negros, e cantam "praise the lord". Por quê?, se são feios, gordos e negros (em um mundo francamente racista?)? Eles agradecem a Deus por Deus ser música - pelo menos para eles, pelo menos para as pouco mais de 300 pessoas que viam o grupo Harlem Gospel naquela noite de sexta-feira da Paixão no Canecão, Rio de Janeiro.
Capitaneados por um mestre de cerimônias (que apesar de meio exagerado também cantava demais), eles deram um show espetacular, sem efeitos visuais, apenas com um baixista, um pianista e um tecladista. Olhava as faces daquelas mulheres negras, gordas e feias, cantando como se fosse seu último gesto em vida, e pensava na vida de cada uma delas. Amam, amavam, sentiam? Como foram parar ali? Um enigma. Vivem, como cada um de nós vive, sua "little stupid life" (como em Beleza Americana), a cantar a existência de um Deus que só se torna tangível exatamente por seu canto. Se eles não cantassem, talvez seu Deus não existisse. Mas Ele existe.
Em alguns momento, vivi o êxtase. Parecia que daqueles negros só saía amor. E eu pensando, "caralho", porra, todos nesse imenso teatro, nesse imenso drama, de dor, de rejeição, de paixões mal resolvidas, e aqueles negros feios, gordos e negros, sim, apenas cantando, "praise the lord", e não só cantando, mas fazendo algo acima do verbo cantar. Vozes alcançando uma dimensão que eu nem pensava existir. Racionalmente, sei que Aretha Franklin, por exemplo, vai mais além. Mas ali, não via nada além. Ou melhor, via o que estava além.
Sim, na comunicação com Deus, música + amor parecem ser a soma do fio imaginário que permite o diálogo. O show acabou, eu tinha uma festa para ir, mas me recusei. Não queria participar, pelo menos daquela noite, da coisa de sempre - gente se achando importante por ser DJ, músicas terríveis mas que devem ser aceitas por imposição do momento, a eterna troca de olhares e avaliações humanas. Não, nada disso. O show não deveria acabar.
Fui para casa, e me recusei também a orar. A oração estava feita. Feliz Páscoa. A música sempre vence, no final. Praise the Lord. My sweet Lord.
Como tudo o mais fica insignificante - eu incluso.
28 março, 2002
Reflexão rapidinha
Ouvindo aqui "You don´t know me", "Unchain my heart", "Somewhere over the rainbow", "Georgia On My Mind" e outros blues de um CD mais velho, pensei comigo: por que não lideramos uma campanha para eleger Ray Charles como o maior músico de todo o século 20? E por que não decretamos de uma vez que Ray Charles é Deus? Ficaria tudo mais fácil, sem discussões.
27 março, 2002
Um segundo antes
Poucos conseguem se lembrar. Eu sempre pergunto, aliás, com uma curiosidade que no início parece meio mórbida. Mas é um momento único - eu mesmo esqueci vários. Mas não o primeiro.
Eu escrevo sobre o segundo antes do beijo - do primeiro beijo. Sim, algum amigo me conta, "fiquei (enfim, né?) com fulana", e eu acho legal, mas sempre me detenho nisso: o que você falou pra ela, diz aí, e o cara, o interlocutor, reproduz mais ou menos a conversa - até meio contrariado, às vezes. Mas eu interrompo, "Não, não é isso que eu quero saber".
É como se o momento antes do beijo fosse exatamente como aquele momento sagrado da comunhão, aquele em que o padre ergue o cálice para os céus e os fiéis se ajoelham, não podendo olhar e muito menos fotografar (sim, sei que aquele cálice tem nome, mas esqueci). A mente faz questão de apagar a última palavra.
Eu me lembro de que com uma namorada (ao lado da última, a mais importante) a minha última palavra antes do beijo foi, "ah, vai, não fica com medo". Calma, apesar de tudo ela não estava com medo de mim, e sim porque nós dois tínhamos acabado de ser assaltados, em uma praia, onde estávamos abraçados vendo o pôr-do-sol.
Até hoje eu fico pensando se não foi muita canalhice da minha parte abraçar uma menina com medo e dar um beijo nela. Não, foi totalmente sem querer, nada planejado. Pelo menos isso.
Nunca saberei direito o que dizer - perguntar "me dá um beijo" é algo que não passa pela minha cabeça. Um amigo me diz que fala, "não posso sair daqui hoje se eu não tiver um beijo seu". Parece dar certo. Enfim, dependendo da cara do freguês, é claro que qualquer imbecilidade pode ser falada - com certeza 99% das mulheres que eu conheço prefeririam beijar o gêmeo da casa dos artistas arrotando o Hino da Bandeira do que me dar um selinho depois que eu recitasse "Os Lusíadas", de Camões. Nada contra, questão de escolha, somos um país livre. Tudo bem que a gente faça altas cagadas com essa liberdade.
Só sei que, lembrando de Cinema Paradiso dia desses - e de sua cena simplesmente mortal da edição dos beijos - me toquei de que o resumo das nossas vidas é marcado por esses primeiros beijos que se tornam os primeiros de uma série. Ali, naquela escuridão de memória, onde ninguém consegue guardar a última palavra antes de mergulhar no abismo de dois, é que forjamos os nossos sonhos mais recorrentes, nossa bagagem para o infinito, nosso pulsar inconstante.
Mesmo naquele beijo em que a gente abre os olhos para ver nossa amada recusando a luz que um dia ela nos dará.
Três linhas
Sexta-feira vou fazer um sorteio pra ver se eu vou ao show ou à Casa da Matriz.
*****
Bom feriado pra todo mundo, até semana que vem.
****
Saudações tricolores. De novo.
É sério
Não quero falar de coisas sérias, porque a vida não é mesmo séria. Tive certeza disso ontem, quando almocei num restaurante caro, cujas mesas estavam ocupadas por executivos aparentemente bem sucedidos. Eles comiam comidas dignas do cardápio sofisticado, enquanto eu permanecia no estilo “comida caseira”. Boba, nem fiz valer o preço do buffet com o que realmente valeria a pena. Metidos a besta, todos iguais, com aquela conversa pomposa, um estilo pedante e uma roupa cara.
Eu não queria me impor nesta sociedade. Queria não precisá-la. Queria apenas hospedar-me nela como uma parasita sem caráter, como uma sanguessuga inescrupulosa. Nada mais que isso. Usá-la para soltar os verbos. Um dia que passou? “Saúde-se”, diria o Joaõzinho da piada. Tentei escrever com o coração, mas saiu brega. Ia comentar sobre o gato que deitou no meu colo com seus olhos “cor de mariposa” e mordeu meu pulso enquanto eu teclava, mas isso não interessa. Queria falar da seriedade dos adolescentes (ao menos dos adolescentes pobres) em seus relacionamentos, como me ensinou a professora e pedagoga mais dedicada que conheço - por acaso, minha irmã - mas quem acreditaria que existem adolescentes puros? Falta de assunto é um problema. E sério.
26 março, 2002
Harlem shuffle
Atenção, comunidade (olha a Leci aí, gente):
Maggi apurou preços e horários do espetáculo de voz e blues no Canecão, do Harlem Gospel: R$ 20 - pista, R$ 25 - mesa lateral, R$30 - R$35 - R$40 - mesas especias, sexta e sábado às 22h e dom 20h30m.
Minha proposta que submeto a votação é sexta, 22 horas. Com "warm-up" ali perto, de repente no Rio Sul. E fechando na Casa da Matriz que, por experiência própria, sei que vai estar vazia e maneiríssima.
Aprovado o roteiro? Vamos fechar?
Bananas
Este assunto brotou como um pé-de-feijão plantado num pequeno pote em experiência para a aula de ciências do colégio. Vê-lo crescer, dia a dia, para depois jogá-lo fora. Depois repetir a experiência, desta vez só de brincadeira. Assim eu fiz.
Eu não sei o que é amadurecer. É banana ficando preta, envolta numa nuvenzinha de mosquitos? Um amigo escreveu sobre cinema e comentou superficialmente sobre a dificuldade que o homem moderno encontra para se tornar adulto. Os recém-nascidos na década de 70, eu inclusive, são hoje, com raras exceções, a maioria uns adultos inseguros, dependentes e desiludidos, é o que dizem e atestam, até, algumas matérias já publicadas nos "Jornais da Família" da vida sobre o assunto. Zona Sul do Rio de Janeiro. Mas e os outros tantos de outras gerações, mais novos que levam vida adulta; mais velhos que levam vida adolescente? Às vezes, eu me sinto uma banana. Quer saber? Que venham as experiências, que venham as desilusões, que eu erre sempre - e muito - para que alguém venha e me chame a atenção e eu aprenda. Quero ser a pior em tudo, quero tropeçar na esquina, na letra, no texto, na vida. Eu não sei o que é isso, amadurecer.
Eu sei dos meus desejos. Será que eu pararei de beber? Será que eu não irei mais à praia, nem vou dançar? Rirei menos, para parecer séria? Talvez eu até pare de escrever. E morra, de tão madura.
Camelôs
Outra pancadaria entre "caça-rolinhas" x camelôs aqui na Avenida Rio Branco aconteceu agora mesmo, só para variar. Lojas com portas cerradas, galerias fechadas, tumulto. Tem gente que se revolta, xinga, aprova a repressão aos camelôs, mas eu não, porque eu vivo comprando bugingangas no camelô. Até CD eu já comprei no camelô. Cinco reais. . Muitas vezes porque é mais prático, também. Você está passando ali na esquina da Rua da Assembléia com Avenida Rio Branco e sente vontade de comer um chocolate. Está lá o cara vendendo, rápido e prático. Enquanto que se você resolver comprar nas Lojas Americanas ou Magal, só para citar as duas mais próximas que me lembro, será inevitável mofar numa fila, ser atendido por uma caixa mau humorada, o chocolate provavelmente custará R$ 0,86, pra “facilitar” o troco e a demora será explicada porque "o sistema saiu do ar". Para completar, vem aí a Semana Santa. Milhares de desesperados por ovos de chocolate, comprando, comprando, lotando as cestas com papéis barulhentos e coloridos. Bom para as crianças. Mas eu tô fora. É entrar por uma porta e sair por ela mesma, dando meia-volta, volver. Olha o mau humor de volta, dando o ar de sua graça. Tenho problemas com datas festivas.
Boa da Semana Santa
Eu devo ficar mesmo no Rio. A menos que pinte alguém disposto a dirigir até pouco antes da Região dos Lagos para a rapaziada ouvir um som e biritar o dia inteiro - e não é em Jaconé, como foi a Roberta.
Mas ficando no Rio (nada como ficar no Rio durante o feriado), minha intenção é ver o Harlem Gospel no Canecão, pertinho de casa, sexta-feira, terminando cedo, permitindo até sair depois. Pelo que já ouvi dizer desse coral, é bem mais Harlem do que Gospel. Isso mesmo, aqueles corais que a gente vê em filmes americanos sobre racismo, estilo Mississipi em Chamas, aquelas músicas maravilhosas, emocionais, aquela mistura de blues, jazz, gospel, vai estar ali no Canecão nos dias 29, 30 e 31 de março.
Acho um programaço. É emoção pura, garanto isso. E "Gospel" no caso não é preocupante, pois os caras são americanos e lá todo mundo é meio gospel - não é que nem aqui, onde "Gospel" sempre implica em alguma malice, músicas falando de amor por Jesus, etc (atenção Valeska, esse etc não tem conotação erótica...).
Acho que as palavras e a ideologia de Jesus Cristo poderiam ser até revistas, reeditadas (não do jeito que está, em que vi em certa propaganda o "Shopping do Povo de Deus", duas filiais em São Paulo).
Mas, em questões de amor, amor mesmo, porra, Jesus deve ser mais legal de amar do que qualquer mulher que eu tive. Afinal, nunca tomei meia garrafa de uísque ouvindo Janis Joplin e dizendo, "Jesus não vale porra nenhuma, Jesus me deu pé na bunda".
Mas, saindo das divagações, bem que a comunidade blogueira poderia armar esta sexta ou sábado ir ver o Harlem Gospel. Maggi? Maloca? Valeska? André Sá? Isabela? The Axe?
Vamos orar na Sexta-Feira da Paixão e encher o pote ouvindo canções gospel americanas!
Blognovela
Pois é, pessoal. Resolvi aderir à moda lançada pelo André Machado e criar a minha própria novela. Segue aí o primeiro capítulo. A personagem principal é uma mulher de 27 anos, bonita, que se perdeu na vida, ex-policial (expulsa da corporação) e que trabalha como investigadora particular, a serviço até mesmo de alguns policiais que ainda a admiram. Não, não é Kate Mahoney, e sim Marta Morales, a detetive freak. Vejam se aprovam ou não. Mas dêem uns capítulos de tolerância.
AMADA ATÉ OS DENTES
A blog-novela policial do Blogus
Capítulo 1 - Sondagens iniciais
O sol lambe com carinho, aproveitando seus últimos minutos no dia, as ondas cálidas da praia do Arpoador. Nas pedras, casais de banho tomado curtem o entardecer, enquanto crianças saudáveis pululam, vitaminadas e proteinadas. Arpoador? Enquanto isso, Marta Morales, nossa heroína, está em Bangu, dentro de seu Chevette 1978, procurando um endereço obscuro – e mesmo sendo crepúsculo, está um calor filha da puta.
- Porra, mesmo sendo crepúsculo, está um calor filha da puta – diz nossa heroína, Marta Morales.
Ao ver uma casa de quintal ao lado da inscrição-senha “Borraxaria do Nem” (tão perfeita senha que havia até mesmo uma borracharia atrás do pequeno cartaz de papelão), Marta entende que o sinal está dado. Pára o carro, silenciosamente, sai e aguarda, enquanto recapitula tudo o que aconteceu nas últimas horas. Estava em seu apartamentinho na Rua Voluntários da Pátria (em cima da Sonoleve) quando seu fiel amigo e quase-escudeiro o escriturário Sérgio Cabeça-de-Pau-de-Jumento apareceu, sôfrego, dizendo que havia uma pista do traficante gaúcho Paulinho Beira-Rio. Segundo os informantes, Paulinho começava a abrir filiais no Rio de Janeiro, e isso já tinha custado a morte de mais ou menos 25 pessoas – na verdade, Paulinho usava como fachada para a venda de drogas uma rede de pastelarias coreanas, e essas 25 pessoas tinham morrido de intoxicação alimentar.
- Martinha, pega esse papel e vai lá em Bangu, o endereço taí, e tem um sinal. Lá tem uma coroa que está disposta a falar sobre o Beira-Rio – ainda ribombavam na cabeça de Marta Morales as últimas palavras de Sérgio.
A julgar pelo clima que ia ficando cada vez mais estranho, poderiam ser as últimas palavras que iria ouvir de Sérgio em sua vida. Afinal, subitamente todos os fregueses da borracharia desapareceram. Um homem negro, de uns 2,50 de altura, recolheu o cartaz imundo de papelão, não sem antes dar uma olhada para o Chevette de Marta. A reação foi a de sempre, um balançar de negativa com a cabeça e um “tsk, tsk”. Mas ela já estava acostumada. O importante é que, para uma investigadora particular como ela, o importante era ter um carro que não chamasse a atenção.
- O senhor já está fechando? – disse Marta para o crioulo borracheiro.
- Não, é que só vou atender agora ao pessoal que entrar pela chaminé – respondeu.
- Porra, chaminé com um calor desses?
Antes que o negão pudesse concluir sua resposta cretina, dois opalas pretos deram uma volta na praça em frente a toda velocidade, e ambos pararam certinho, um do lado do outro, e ainda cantando pneu – desafiando todas as leis da lógica e da física, afinal, na vida real ninguém teria culhões para ficar tentando estacionar opalas em alta velocidade e ao lado de outro Opala. Um homem de terno preto (vejam bem, em Bangu) e óculos escuros (depois do crepúsculo) saltou de dentro do primeiro Opala, dirigiu-se à Marta (a esta altura, de olhos arregalados e pensando em como teria sido bom comprar a prestação aquele revólver 22 no câmbio negro) e perguntou, com a voz impostada, querendo agradar (nossa heroína é gostosa):
- A senhora...
- Senhorita. (Há, esse diálogo-clichê foi inacreditável)
-...senhorita se chama Marta Morales?
- Sim.
- Então venha conosco. A senhora está presa.
(To be continued)
Diálogos necessários
Quando digo que Woody Allen é quase vital para a sobrevivência, não estou brincando.
Revendo O Dorminhoco, ouvi o seguinte diálogo, entre os dois cientistas da base onde a personagem de Woody acorda:
Cientista homem: - Ele (n: Woody) pediu de café da manhã gérmen de trigo, mel e aveia.
Cientista mulher: - Sério?
Cientista homem: - Sim, na época dele acreditavam que essas coisas faziam muito bem.
Cientista mulher: - Não! Eles nunca tinham ouvido falar de bife, gordura, pizza, calda de chocolate e doces?
Cientista homem: - Não, eles achavam que faziam muito mal. O contrário do que nós sabemos hoje.
25 março, 2002
Uma lembrança boa e uma afinidade
Ione tem um blog, aí do lado tem um link. Separei esses dois posts (o primeiro é apenas trecho, ela falava do primeiro dia no novo emprego), onde ela lembra uma sensação realmente incrível da infância, e no segundo ela fala sobre um hábito de internet com o qual eu também sempre tive implicância. São para saborear:
Parece até primeiro dia de aula. Até ganhei material novo, igualzinho. E não sei se você lembra da história dos lápis coloridos que eu já contei aqui, mas se não lembra, eu digo: sinto como se eu tivesse ganhado uma caixa inteirinha e cheirosinha com 36 lápis de cor.
Sexta-feira, Março 15
Eu me recuso a responder a qualquer criatura que me diga, por ICQ: "Oi, vamos tc?"
Tc é a palavra mais abominável. Eu tenho surtos diante do computador. Surtos de mau humor. Se responder, vai ter que ser pra dizer: "Naum, acho k naum kero. Drop dead." Eu também fui agraciada com alguns preconceitos. Palmas pra mim.
Saudações tricolores
Descobri um lugar quase tão bom quanto a Pedra do Arpoador. É a pista Claudio Coutinho, na Urca. Já conheço o lugar há muito tempo, muito tempo mesmo, mas quando digo “descobri”, quero dizer que me apossei dele como um lugar que me faz bem. Fui até lá ontem, de bicicleta. Andei, sentei, li, tomei sol, fiz nada, vi as famílias passeando. Cheio de natureza, cheio de ar, cheio de claridade para espantar a nuvem preta que de vez em quando cisma em me acompanhar. Namorados, casais de gente nova passeando de mãos dadas, dando beijinhos tímidos. Mar. Mas tanta gente não conseguiu interferir no meu silêncio, eu estava quieta. As crianças gostam de escalar a pedra e gritam estridentes lá de cima “mãe, olha eu aqui”, para mostrar aos pais que estão fazendo uma grande façanha. Essa renovação vinda da infância, inocente e feliz, me faz muito bem. O bondinho sobre a minha cabeça. Turistas. Falta do que falar.
Ih, mas eu só ia escrever saudações tricolores e me empolguei.
Mundo do blues
Já está aí do lado o link para o web log dos Sá e do Reis. Muito bacana o conteúdo, bem crítico e com o imprescindível mau humor em relação à realidade. O escriba principal é o André Sá, que eu não conheço mas que pelo que deu para entender é guitarrista de alguma banda de blues (espero que seja, para pintar mais shows). Afinal, o nome do web log é Blues World.
Obviamente eu não sou (mais) daqueles blueseiros que acham que qualquer coisa diferente de John Lee Hooker batucando uma tábua de lavar roupa é uma merda. Mas certo dia, tomando uísque na casa de um amigo, ouvíamos Traffic, Jim Capaldi & Dave Mason (ótimo), Faces, até que de repente alguém colocou um Muddy Waters ao vivo.
O peso, a batida, a voz como se estivesse rasgando qualquer cortina de decência, o ambiente de podridão absoluta em palco, o clima lúgubre da bateria em clássicos inestimáveis como "Nine below zero", "Mannish Boy", "Deep Down in Florida" e "Howlin Wolf" (the song, not the singer), bom, nada como isso para acompanhar cinco caras biritando e falando da vida em uma varanda perdida no Rio de Janeiro.
E às vezes, chega o fim da noite, e eu só quero mesmo é uma guitarra chorando no meu lugar.
Thanks to...
Não, não ganhei o Oscar, mas tenho que agradecer a algumas pessoas. Ao André Machado, por ter me enviado o link de comentários. E principalmente à Ione, que com sua paciência, mesmo pelo telefone, conseguiu me tirar um pouco da imbecilidade tecnológica. A eles, o prêmio Paciência com Atrasados 2002.
Aos poucos, tudo se ajeitando
Os comments entraram, e ficaram no topo dos posts, sem eu querer. Mas tudo bem, vai ficar assim. O contador da Bravenet está na boa. Agora, só falta a tabela de links do pessoal ao lado - um dia quero ir numa festa com essa gente toda. Ou termina em suruba ou termina em pancadaria.
Quer dizer, isso se eu não faltar a minha própria festa.
Aliás, se alguns dos frequentadores do blog não tiver seu blog listado no meu, não deixe de me avisar aqui no comment.
Um sujeito misterioso
Se eu disser que sou amigo dele, assim, direto, vou estar mentindo. Afinal, pouco conversamos, fizemos matérias juntos por jornais diferentes, e não tivemos convívio. Mas assino qualquer declaração dizendo que o cara é gente finíssima: o jornalista Vicente Magno. Chegamos até a tentar trabalhar no Metro, eu dei uma força, mas a editora na época, uma maluca de carteirinha, não quis o cara (mesmo ele sendo talentoso) por alguma babaquice - no mínimo algo a ver com o tom da roupa dele ou coisa parecida.
Ele já tinha inclusive a experiência de ter encarado uma outra chefe de reportagem, completamente insana (essa, caso para internar e jogar a chave fora), durante alguns meses.
Só que eu também assinaria qualquer declaração dizendo que o cara é um mistério completo. Recebo na noite de domingo um email dele (para um grupo) dizendo que vai para Recife, ficar até o final do ano. E que tem despedida na quarta, na Cobal do Humaitá. Bom, eu não vou poder ir de jeito nenhum, afinal trabalho em um jornal de esportes e na quarta a Seleção joga no Brasil pela última vez.
Mas além do fato do cara ir para Recife assim, do nada, sem nunca ninguém ter falado sobre isso, ainda diz que é no domingo de Páscoa - só que no blog da Roberta tem um post dizendo que a despedida é no sábado.
Em suma, já não entendo mais chongas. Ainda bem que essa semana para mim vai ser curta.
24 março, 2002
Do choro, do olhar e suas necessidades
Manhã de domingo, eu deitado, circulando pelos canais. Aparece um dos meus filmes favoritos, "Beleza Americana". E eu fico feliz, pois meu sistema nervoso pede de vez em quando um tipo de desabafo incomum: o choro.
Pode ser no solo de Santana em "Taboo", pode ser ouvindo Joe Cocker cantando "I shall be released", pode ser lendo algo do Pessoa. Mas é sempre certo que no final de "Beleza Americana" eu vou chorar. No momento em que o personagem começa seu discurso intenso sobre a vida que passou, a relembrar os momentos da "stupid little life" (mostrando o quanto a vida pode ser mesmo estúpida, como por exemplo a da personagem vivida por Anette Bening no filme) e diz "um dia vocês saberão", sim, nesse momento eu me preparo.
Porque sei bem que, assim que entrarem os créditos, começa "Because" dos Beatles. Eles não poderiam ter colocado música mais transcendental, mais conveniente para o momento. "Because" nos lembra da morte e da vida - mas da morte em primeiro lugar, pois sua melodia é a de quem já viveu, de quem já viu o universo de perto e voltou para contar como era.
Sim, nesta manhã eu chorei, e isso me fez bem.
Logo depois, "Perfume de Mulher", com Al Pacino. Cena linda, para mim, a mais bonita do filme, não, não é a da dança (com aquela mulher tenebrosamente linda), e sim quando acaba a dança e chega o namorado da garota. Ele fala algumas coisas panacas, cumprimenta Pacino e o rapaz, e depois sai dizendo que eles tinham um encontro com Darryl e Carol.
"Darryl e Carol?", pergunta Pacino. Nesse momento, a cena mais linda. O panaca arrasta a mulher linda, que se vira para olhar os dois. E seu olhar é simplesmente deslumbrante, maravilhoso - algo como a doçura de quem sonha e o amargor de quem acorda.
Claro, para mim os dois filmes têm ligação: tratam da vida ordinária e da extraordinária. Da vida metódica e da vida apaixonada. A vida que a gata que dança tango tem é ao lado de um cara que só está interessado em encontrar Darryl e Carol. A vida que a gata queria ter é uma vida de surpresa, mistério, incerteza e fantasia, a que Pacino oferece (Frank é o nome do personagem, mas prefiro escrever o nome dos atores) naqueles breves momentos.
Como breve é o momento chamado vida - segundo Beleza Americana e toda essa espécie de coisas.
Feliz segunda-feira.
Domingo que passou
Dores, prostração, digestão ruim. Calma, não é dengue - pelo menos não rolou febre nem dor de cabeça, por isso fiquei tranqüilo. Tive o que acredito ser uma intoxicação alimentar.
Para isso é bom um blog: além de escrever textos, poder avisar às pessoas o que está acontecendo.
23 março, 2002
Tentei
Tentei, juro que tentei, atender aos pedidos e colocar um sistema de comments. Tentei também recolocar os links da tabela lateral. O esforço custou duas horas do meu tempo, cheguei atrasado no plantão, mas foi tudo em vão.
Não adianta tentar me explicar como faz - eu não sei fazer. Não entendo a linguagem - pensava que entendia, mas não entendo. Sou um imbecil tecnológico. Daí para esquecer como se programa um videocassete, é um pulo.
22 março, 2002
Reformas
Se eu soubesse mexer nesse treco eu ia colocar tudo grená, verde e branco, só pra implicar. Mas, como estou nas mãos do Gustavo, só me resta agradecer: muito obrigada por não colocar tudo em vermelho e preto. Obrigada mesmo.
Em reforma lenta e gradual
Gostaria de instalar aqui um cartaz: "Desculpe o transtorno. Estamos trabalhando para melhor lhe servir". Espero que o contador tenha voltado. E já estou procurando uma nova tabela de links - com a mudança na template, a antiga simplesmente sumiu.
Em abril, vou colocar uma enquete para eleger o novo nome dessa espelunca. "Blogus" é um trocadilho infame demais. E ainda tem a arqueira por aqui, é preciso incluir.
Se bem que seria divertido fazer uma enquete estilo Big Brother (eca): Quem deve deixar o blog? Alessandra ou Gustavo?
21 março, 2002
Conto
Passeio de bicicleta
Quando aprendeu a andar de bicicleta, Joana ficou horas dando voltas na rua onde morava. Ela gostou da descoberta de sentir-se capaz de dirigir aquela bicicleta - enorme para sua idade. Mas seu longo passeio deveu-se ao fato de não conseguir resolver o simples problema de parar, pois seus pés não alcançavam o chão e temia machucar-se. Aos seis anos, acho que ninguém quer cair, embora seja muito mais fácil arriscar-se numa queda. Joana não pensava assim. Deixou de almoçar e chegou ao limite do cansaço físico até decidir pular da bicicleta. Jogou-se para um lado e não teve tempo para observar a queda do seu mais novo brinquedo para o outro. Descansou um pouco, rindo de si mesma. Estava sã e salva e havia sido bem mais fácil do que imaginara. Durante todo o tempo em que o lazer e o prazer da descoberta acabaram, Joana esperou que alguém viesse socorrê-la; depois, que viessem a lembrar-se dela. A irmã despreocupou-se, acreditando que ela estava mesmo era se divertindo e que demoraria a desprender-se de uma novidade desse quilate, e a mãe não encontrou razão para amolar-se, ouvindo estas explicações da filha mais velha.
Encontrei Joana por acaso, e foi então que contou-me esta história. “Como vai a vida?”, e outras perguntas comuns nos fizemos. Joana quis me dizer que se imaginava, hoje, montada numa bicicleta, como naquele dia na infância, a dar voltas intermináveis, sem conseguir solucionar nada. Descartou a hipótese de lançar-se ao chão, um para cada lado, como o fez na infância. Diz que o tempo e a experiência fizeram-na mais resistente. Também sabe que, nesse caso, não virá ninguém ajudá-la. “E o que fará, então?”, perguntei. Respondeu-me: desviarei dos buracos, das crianças e do mau tempo, mas só pararei quando minha mente e meu corpo já não mais suportarem e tombarem cansados.
Shit
Fui tentar colocar uma figurinha do Sherman´s Lagoon no blog e fiz merda. Irreversível. Além da figura dar 'x" e não aparecer, tornou-se impossível retirar o post defeituoso, porque a linha da imagem tampa o botão do "edit", usado para mudar o post.
Quem se habilita?
Nota na coluna do Ricardo Boechat - JB:
"Tô fora...
Com 143 peças de diferentes espécies em exposição, o Museu do Pênis, na Islândia, lançou campanha para ampliar seu acervo.
Na coleção de mamíferos, só lhe falta o exemplar humano.
A instituição aceita doações anônimas."
Só mais uma coisa: quem sabia da existência de um Museu do Pênis????
20 março, 2002
Susto
Às vezes acho que o mau humor do Gustavo é pouco para o caos que a gente vive. Ontem, com aquele calor, voltando pra casa a pé, por volta das dez da noite, resolvi cortar caminho pela Rua Conde de Baependi, em Laranjeiras, que estava surpreendentemente iluminada e ainda movimentada. Alguém andando atrás de mim. Desconfiada, parei para dar passagem, mas o homem passou os braços no meu ombro, me abraçando, e veio me puxando dizendo “vem comigo, vem comigo e fica quietinha”. Olhei para as mãos dele, nenhuma arma, canivete, nada. Olhei pro outro lado da rua, três seguranças do Restaurante Savana, em frente. Reação: dei um ataque histérico, empurrei o cara dizendo “que vem comigo é o c....lho!!!”, e gritando feito uma louca “me larga, me larga, me larga!”. Nisso passou a polícia e eu gritei ainda mais. Você parou? Nem eles. Devagarzinho eles olharam como se fosse normal uma pessoa gritando no meio da rua. Eu ia atropelar aquele cara, juro, quer dizer, eu ia arremessar ele no meio da rua e os carros ali vêm em alta velocidade. Depois de me desvencilhar dele, corri para trás e ele ficou gritando que “queria saber do Sandro”, para disfarçar para os policiais, como se me conhecesse. Os seguranças do restaurante vieram me socorrer e eu fiquei trêmula e talvez mais branca do que já sou. A polícia passou exatamente na hora, mas e daí? E se ele estivesse armado? Eu não tinha nem dinheiro pra dar pro filho da puta. Que merda. Acho que tenho sorte, ainda bem. Mas fiquei preocupada. E assustada. Também um pouco irritada. E ainda querem bom humor? Bom, há pelo menos uma razão para sorrir: o outono chegou.
19 março, 2002
Mais mau humor
Agressão gratuita
Estou deitado no ar condicionado, luzes apagadas, assistindo a um incrivelmente emocionante especial do Buddy Guy no canal Multishow. Buddy, um dos maiores guitarristas de blues de todos os tempos, mostra toda sua alma, em cenas enegrecidas por sua pele e pela ausência de luz. Me deixo envolver totalmente por esse especial sensacional deste músico simplesmente incrível.
De repente, entra uma tela azul e branco, horrenda, e uma voz anuncia "interrompemos nossa programação para mostrar ao vivo o Big Brother Brasil".
Era realmente o que faltava. Eu pago mais de cem reais por mês para assistir uma televisão segmentada e fugir da bosta cada vez mais fedida em que está se transformando a TV aberta, e eis que jogam no lixo meu direito de curtir música. Foda-se, né? Foda-se se tem algum babaca que gosta de Buddy Guy, um músico que vem se aperfeiçoando em técnica e sentimento há mais de cinco décadas. Foda-se. TEM QUE INTERROMPER, PORQUE AQUELES FILHOS DA PUTA ENFURNADOS EM UMA CASA são mais importantes.
Sinceramente, ando precisando ver um show do Ary Toledo. Senão ninguém aguenta mais ler meu blog.
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Para dar mais uma pitadinha de "bom humor", só contar para vocês de primeira: ouvi dizer que um advogado vai "processar o governo porque clientes estão se achando parecidos com as figuras que têm nos maços de cigarros (aquela mulher no balão de oxigênio, o cara impotente, etc)". Depois neguinho reclama. Vai ser picareta assim no raio que o parta.
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PT e PL, aliados em São Paulo. Com a nova legislação eleitoral, as alianças em âmbito federal deverão ser as mesmas que em âmbito estadual.
Vai ser engraçado aqui no Rio, ver a TFP da Tijuca andando na passeata ao lado da classe média da zona sul e do pessoal dos sindicatos...
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E Caetano Veloso no João Gordo? Pareceu meio sisudo, sério, com raiva, e também ligeiramente afetado. E disse estar indeciso entre Lula, Ciro Gomes ou Serra.
Acho que de repente quando ele decidir vai ser pior.
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Chega. Agora prometo só voltar a blogar quando meu humor melhorar. Senão ninguém agüenta.
Piadinha machista mas engraçada
Mais uma que recebi do Luiz Hagen, que por sua vez recebeu de uma lista da Tatiana. Legalzinha mesmo.
Carta de um desconhecido
"Nunca tinha entendido por que as necessidades sexuais dos homens e das mulheres são tão diferentes. Nunca tinha entendido tudo isso de Marte e Vênus. E nunca tinha entendido por que os homens pensam com a cabeça e as mulheres com o coração. Uma noite, semana passada, minha mulher e eu estávamos indo para a cama. Bom, começamos a ficar à vontade, fazer carinhos, e nesse momento, ela para e fala: "Acho que agora não quero, só quero que você me abrace". Eu falei: "O QUÊÊÊÊ???"
Ela falou: "Você não sabe se conectar com as minhas necessidades emocionais como mulher".
Comecei a pensar no que podia ter falhado. No final, assumi que aquela noite não ia rolar nada, virei e dormi.
No dia seguinte fomos a um grande hipermercado, do tipo Makro, com muitas lojas dentro dele. Dei uma volta enquanto ela experimentava três modelitos caríssimos. Como não podia decidir por um ou outro, falei para comprar os três. Então ela me falou que precisava de uns sapatos que combinassem, a R$ 200 cada par, respondi que tudo bem. Depois fomos à seção de joalheria, de onde saiu com uns brincos de diamantes. Estava tão emocionada! Deveria estar pensando que fiquei louco, agora penso que estava me testando quando pediu uma raquete de tênis, porque nem tênis ela joga. Acredito que acabei com seus esquemas e paradigmas quando falei que sim. Ela estava quase excitada sexualmente depois de todo isso; vocês tinham que ver a carinha dela, toda feliz!
Quando ela falou: "Vamos passar no caixa para pagar", tive dificuldade para me segurar ao falar com ela:
"Não, meu bem, Acho que agora não quero comprar tudo isso".
Ela ficou pálida. Ainda falei:
"Só quero que você me abrace ".
No momento em que começou a ficar com cara de querer me matar, falei:
"Você não sabe se conectar com as minhas necessidades financeiras como homem..."
Acredito que o sexo acabou para mim até o natal de 2003..."
Semana Santa
Declaro aberta a temporada de debates sobre "O que fazer na Semana Santa?".
Desde já, meu edital prevê:
1) Não ter um minuto sequer de sobriedade (espero que o calor baixe para poder ter vinho)
2) Local tranqüilo, de preferência sem celulares por perto (um orelhão basta)
3) Música (ou seja, aparelho de som para tocar CDs por perto)
4) Em caso de calor, ar condicionado ou ventilador; preferência por lugares serranos, frios
5) Se possível, alguma mulher por perto - de preferência que deixe no ar alguma expectativa. Não precisa nem rolar nada não, só a expectativa - e não para sair com o primeiro playboy de camisa Crystal Graffitti que aparecer
6) Bom estoque de comidas - almoços e jantares bons.
7) Na sexta, ovo frito (não como frutos do mar)
8) No domingo, chocolate com vinho. E embriaguez pelo resto do dia.
Do cheiro
Conversando com o André, invadiu-me, aqui, um impulso de impregnar cheiro de leite na palavra "vaca", de mato quando escrevo "árvore" e de café só porque estou tomando um. Quem sabe sobre os odores que sentimos? Odor é igual a aroma. Cheiro não é a mesma coisa. O cheiro é termo suave, sem deixar de ser forte; é sobre o cheiro que quero escrever. O cheiro abranda minha agressividade. Porque preferiria dizer 'fedor". Fede-se despreocupadamente, aleatoriamente, fede-se por displicência, por egoísmo ou por desgraça. Esta última palavra era proibida pra mim, minha mãe não gostava que eu a pronunciasse, mãe tem dessas coisas. Diria ela, se estivesse nesse texto: "não repita, minha filha, esta palavra tem cheiro de enxofre", e ela teria toda razão.
Então adoro escrever sobre coisas que não tem importância, como o cheiro.
A impaciência traz mofo às narinas, a pizza tem que ter cheiro de tomate e manjericão, e o livro novo tem cheiro em suas páginas, cheiro de livro novo. Também o velho traz cheiro de armário. De estante e coisa morta. A luz tem cheiro de areia. Meu gato cheira a coisa embrenhada. A moça fantasmagórica que sentou-se ao meu lado no ônibus, de pele muito branca, tinha cheiro de pessoa arquivada. Apaguei sem querer uma frase inteira que havia escrito sobre as pessoas que usam o mesmo perfume forte para demonstrar firmeza de personalidade. Unem seu cheiro à aparência uniforme de suas roupas de repetidos tons e cortes, como outdoors estranhos dessa sociedade exposta nas vitrines das lojas de uma Ipanema divertida e colorida dos sábados de manhã. Eu uso o mesmo perfume, alfazema. Mas não as mesmas roupas. Eu gosto de feder, também. Ter cheiro de suor e de cabelos oleosos. Cheiro de sal às dez da noite e de chulé quando tiro o tênis. Vou parar por aqui. Recebam a minha cortês rosa branca em botão, um pouco molhada e abrindo-se. Estou tentando desprender este cheiro do meu nariz pelo resto do dia. Mas é um cheiro bom. Como o de certas poesias.
18 março, 2002
Desculpas, desculpas, desculpas
Minhas desculpas de hoje vão para Tatiana. Acabei não indo na festa dela, sábado passado, no Casarão do Hermê. Espero que tenha sido legal. No sábado eu dei uma de Romário e passei meio mal por causa do calor. Aí lombrou.
Fim de tarde
Termina o dia, é noite de lua minguante. Ainda se vê um pequeno claro, mas que parece se extinguir a cada segundo. Costumo me lembrar da moça nessas horas - foi em um desses crepúsculos que a tive sentada em minha janela, enquanto eu tocava músicas de Elvis, dos Stones, dos Beatles e "Jealous Guy", do Lennon - o que ela mais gostava que eu tocasse.
Mas eu me lembrei dela não só por causa do crepúsculo, e sim por ter passado esse finzinho de tarde ouvindo o ótimo CD duplo "Dave Matthews & Tim Reynolds Live At the Luther College". Sensacional disco, apenas voz (Dave) e dois violões espetaculares. Altamente recomendável para ouvir a dois. Excelente também para ouvir sozinho, calado, curtindo (o método que provavelmente continuarei usando).
Achando, é comprar e levar na hora.
Where is somewhere over the rainbow?
Post longo, me desculpem
Comecei a semana com pessimismo e mau humor, apesar de estar de folga nessa segunda, em casa, refletindo. Mas é que no fim de semana vislumbrei o apocalipse, e isso sempre me deixa mal.
A pergunta "Where is somewhere over the rainbow?" é o título de um blog - vi na lista de atualizações da home page do Blogger. Mas cabe muito bem no meu raciocínio, depois desse fim de semana.
No sábado, ando de bicicleta até o Leblon e volto, parando um pouco no Posto Nove. No caminho, só vejo o caos, e não a cidade bonita que estou acostumado a ver. Passo pela praia da Urca e milhares de pessoas a lotam, jogando papéis imundos, garrafas de plástico, restos de comida, tampas, etc. Não se importam.
Grupos de adolescentes negros falam em "porrada". Outros grupos, de policiais mal pagos, ficam fazendo uma ronda. Continuo a pedalar até tirar a Urca do meu campo de visão.
Chego ao Túnel Novo, e vejo um cara saindo com um pitbull no sentido contrário ao que estou indo - sorte minha, pois o rapaz não liga para o fato de aquilo ser uma passagem para bicicletas e o fato de ele estar com um cão assassino em um espaço apertado pode ser perigoso. Mas ele não se importa. Quer mostrar seu pequeno poder, seu remédio enganoso contra a miséria absoluta. Me parece que a violência virou a grande compensação para a miséria e os baixos salários. Quem se importa com quem ganha mal? Ninguém - mas começarão a se importar se a violência os atingir.
Sigo pedalando, saio do túnel e passo por pelo menos 42 mendigos, idosos abandonados e meninos de rua - alguns começando sexo no meio da rua, crianças consumindo drogas e contando o produto de roubos. Quem é que se importa?
Tento atravessar a Avenida Atlântica, mas uma van pirata, completamente irregular, pára na minha frente para ver se há passageiros. Cagaram para o fato de eu estar na faixa de pedestres com a minha bicicleta. É proibido parar na faixa, mas quando se tem uma van irregular, para que obedecer leis?
Na ciclovia, o esperado. Pessoas caminham tranqüilamente, quase provocando choque entre bicicletas. Isopores de gelo são desembarcados e abandonados na ciclovia - ah, você que anda de bicicleta, é só dar a volta. Outros fazem cooper, ao invés de andar na ciclovia. De que adiantam placas dizendo que aquilo é para bicicletas? E que é proibido andar na ciclovia (como se alguém precisasse da ciclovia tendo um calçadão enorme ali do lado)? Mas quem se importa?
Na volta, passo no Túnel Novo, e um rapazinho meio magro, sem camisa, está em uma bicicleta na minha frente. Um ônibus passa completamente lotado de gente saindo da praia, pessoas em pé, aliás, quase já não são pessoas, amontoadas que estão, aos urros, ensandecidos, esmurrando o ônibus e berrando, xingando quem está na rua. O rapazinho na minha frente tira as duas mãos do guidom e faz um gesto: um C em uma mão e um V na outra. CV. Comando Vermelho. Ou seja, ele nem conhece os caras do ônibus, mas sabe que se eles são pobres e andam de ônibus, são do CV.
O CV já não é uma organização - duvido muito. É uma ideologia. Como em "Warriors, Selvagens da noite". Quem for pobre, morar em morro, negro ou não (estatisticamente, há mais negros, uma herança colonial de opressão e preconceito), tem que ser CV. Quem não for pobre (mesmo eu, que não chego a ter um grande salário), se cuida, porque quem é do CV tem direitos de ameaçá-lo, roubá-lo, xingá-lo.
Polícia?
Como convencer os caras que moram ao lado dos rapazes do CV, como convencer esses caras que ganham 700 reais por mês para arriscar a vida, a tomar conta da gente, que ganha mais que eles? Entre prender um dos caras do "CV", da ideologia "CV" (que, como já disse, mora perto dos PMs, que ganham mal) e deixar a classe média perder seu Astra, o que o policial revoltado vai escolher? Prefiro não responder. Ainda acredito em muitos policiais.
Acordo hoje e fico sabendo que em um tumulto em um show do Charlie Brown Jr cerca de 60 pessoas saíram feridas, e vândalos aproveitaram para quebrar tudo.
POR QUE tem tumulto em um show musical? É a música dos caras que incita à violência? Não acredito. A música acalma as feras.
Prefiro acreditar que estamos socialmente doentes, completamente insanos. À miséria, à violência, à insegurança, a classe média ideologicamente responde com a estupidez do individualismo Big Brother Brasil, com a solidão dos carros importados, com machos exibindo as chaves de seus carros em boates na Barra com o mesmo sentido pelo qual um pavão abre suas asas. É tudo o que conseguiram. Por isso o Big Brother tem audiência - vi ontem, enquanto jogava sinuca. Uma "mulher prendada", um "marombeiro", uma bichona vestida de super-homem, uma intelectualzinha de óculos, um cara com sotaque esquisito. Não sei e nem quero saber os nomes. Mas todos eles parecem um só, aquelas pessoas em que todos nós estamos nos transformando - gente sem percepção da própria mortalidade.
Sim, estamos socialmente doentes. Como se ninguém tivesse conseguido se livrar da adolescência, aliás, da puberdade e de seus valores mais lamentáveis: quem é melhor de briga, quem é "mais gatinha" ou "mais gatinho" (não importa nem o nome), quem tem mais brinquedos, quem tem mais dinheiro, quem tem a tatuagem mais bonita, quem é mais musculoso.
Não sei se haverá algo além do arco-íris - porque já não se se virá o arco-íris.
16 março, 2002
Retrato do desgoverno, da miséria, do descaminho, do estado de guerra civil em que estamos entrando
A mensagem abaixo me foi passada por uma pessoa da mais absoluta confiança, que confirmou a veracidade da história. Aliás, o tema virou matéria de O Globo na semana passada. Leiam e pasmem.
Escrevo para relatar um episódio que ocorreu comigo na Linha Vermelha.
Domingo a noite, em torno de 18h45 h, eu estava passando pela Linha Vermelha em direção a rodovia Presid. Dutra quando o motor do meu carro começou a parar. Eu estava entre Duque de Caxias e São João de Meriti (ao lado da favela do Lixão). Como o carro parou de funcionar, fui para o acostamento e imediatamente solicitei o reboque à minha seguradora (Unibanco Seguros).
Já havia solicitado o reboque há mais ou menos 15 minutos, quando avistei um sujeito de bicicleta sem camisa vindo em minha direção. Logo imaginei - "Serei assaltada". Não havia muito o que fazer em tal situação: estava sozinha, com um carro que não queria pegar e em um local ao lado de uma favela, ou seja, não podia ir a lugar algum. Então aguardei meu destino.
Dito e feito. O cara se aproximou do carro, onde eu estava, colocou o revolver na minha cabeça e mandou que lhe entregasse todo o dinheiro que havia em minha carteira. Diante de tal situação, eu tentei argumentar e não ter uma reação tão passiva porém ele tomou minha carteira, retirou o dinheiro e foi embora de bicicleta.
Para o atual Rio de Janeiro, isso é "normal".
Dez minutos após, passa uma viatura da polícia e eu fiz sinal para que a mesma parasse. Ao relatar o que houve, o policial falou apenas que isso era "normal" e que eu deveria chamar o reboque. Eu informei que já havia chamado o reboque da seguradora. Porém o policial disse, que esses reboques não entram na linha Vermelha, pois é proibido!
Na mesma hora eu liguei para seguradora, contando que já havia sido assaltada e exigia o reboque, e para minha surpresa ela confirmou que não poderia enviar um reboque à Linha Vermelha pois, segundo a seguradora trata-se de uma "via monitorada (?) e com telefones de 100 em 100 metros(!!!)". Qualquer pessoa que passe por ela hoje em dia, sabe muito bem que isso não é realidade. Se houver dois ou três telefones em toda extensão da Linha Vermelha é muito!
O policial também não concordava com a impossibilidade de reboques entrarem na via, que é administrada pela DER (Depto. de Estradas e Rodagem). Ele me contou que o DER paga a concessão de reboques exclusivos a 15 companhias distintas, porém dessas 15 que recebem dinheiro somente trabalham na via de três a cinco companhias. Ele contou também que carros que tem problemas de madrugada, as vezes esperam de duas a três horas pelo socorro.
É um absurdo!!! Vc como cidadão paga seus impostos, paga por um socorro privado (seguro) e quando necessita não pode utilizá-lo porque só os reboques autorizados trafegam pela Linha Vermelha. O DER, alega que ele mesmo lhe fornece esse socorro, só que ele é tardio demais para uma via sem segurança! A instituição deveria oferecer um serviço decente de acordo com as condições reais do local, ou permitir que as pessoas busquem seu próprio socorro.
E vc fica no meio disso tudo a mercê dos bandidos. Pois além de tudo, a via está com sua iluminação precária, os próprios traficantes quebraram diversas lâmpadas para melhor realizar seu "trabalho".
Agindo dessa forma, o DER somente atrapalha e além de tudo coloca nossa integridade física em alto risco.
Os policiais, muito gentis, me contaram que estavam passando ali por acaso, pois eles estavam indo em direção a um shopping na via Dutra. Eles perguntaram se o meu celular poderia fazer alguma ligação e eu disse que sim. Logo, eles me informaram o telefone interno da central do DER onde eu poderia solicitar o reboque. Se o policial não estivesse alí, como eu iria saber desse telefone?
Então, eu, do meu telefone (pois se não tivesse um estaria ferrada!), liguei e solicitei o reboque ao DER. Os PMs ficaram comigo até a chegada do reboque que após essa última ligação demorou 35 minutos para chegar ao local. 35 minutos para um lugar deserto e perigoso é muito tempo!
Divulguem isso, pois esse descaso não pode continuar. Sei que não fui a primeira e tampouco não serei a última pessoa a passar por isso. Segurança é dever do estado e temos o direito de ficarmos perplexos com tais acontecimentos. Espero que isso não ocorra a vcs, mas sejam precavidos e anotem o número do socorro da linha Vermelha: 2584-4245."
Erramos de novo (tá brabo)
Phil Spector não é o marido e tampouco produtor de Carole King, ao contrário do que escrevi no post abaixo. Aliás, não sei porque me veio o nome de Spector na cabeça. O então marido de Carole é mesmo Gerry Goffin, que compôs com ela "Will you love me tomorrow".
Desculpem a minha falha.
Link onde eu clico todo dia
Espero que logo chegue ao Brasil algum livro com as tirinhas da Baía de Sherman, em inglês, "Sherman´s Lagoon" (Sherman é um tubarão). Enquanto não chega, vou clicando no site que tem sempre uma nova tirinha excelente por dia, o endereço é http://www.slagoon.com/.
Os melhores LPs da minha juventude - capítulo 3
Tapestry
Já falamos sobre o grande Sticky Fingers, dos Rolling Stones, e sobre o primeiro do Peter Framptom que tinha "Show me the way" e "Baby i love your way". Agora, chegou a hora de falar sobre esse espetacular LP da compositora americana Carole King, que ao lado dos outros dois citados era peça obrigatória em qualquer estante dos anos 70 - a menos que o freguês fosse roqueiro radical, do tipo quase metaleiro.
Para quem não lembra, "Tapestry" é o disco em que Carole está sentada perto de uma janela, em um quarto meio na penumbra, e com um gato logo em primeiro plano - a associação "mulheres independentes + gatos", a meu ver, sempre esteve bastante explícita nessa capa. Carole é lindíssima e, como o gato, passa a impressão, pelo menos fisicamente, de ser daquelas mulheres que depois de uma tórrida noite de amor viram-se para a gente e dizem: "Olha, acho que foi um erro que nós dois cometemos, ok?".
E, como gatos, no outro dia, essas mulheres voltam, ou telefonam dizendo que amam, enfim, algo assim que nos faz querer escutar "So far away", segunda faixa do disco, um dos hits de Carole, música preferida de Priscila Foggiato - outro dia eu aprendi a tocá-la e tive a idéia de deixar na secretária do celular dela. Só que a danadinha não tinha secretária no celular. Diacho.
"So far away/Does´t anybody stay in one place anymore?/It would be so fine to see your face at my door", é o que eu lembro da letra - e para quem vive uma situação dessas, é realmente uma trilha sonora fantástica, uma maneira de lembrar da dor e ao mesmo tempo aplacá-la flutuando nos suspiros de Carole King. E vem a pergunta: e quem nunca viveu uma situação dessas, da mulher amada estar longe, viajando, ou brigada, ou casando com outro, ou sumida na metrópole neurótica ou mesmo inexistente?
O disco emenda com um hit, "It´s too late", já regravada por dezenas de cantores e cantoras. "But it´s too late, babe, now it´s too late, tough it really did try to make it/Something inside has died, and i can´t hide, but i just can fake it", e todo o clima das congas tocadas pelo guitarrista Danny qualquer coisa.
Minha favorita é "Way over yonder", a sexta do CD, antes do mega-hit "You´ve got a friend" (gravado de forma magistral por Carole). Sentimentos aos montes, desesperança e ao mesmo tempo expectativa, uma vontade de sonhar, um gosto de devaneio, tudo envolve essa extraordinariamente bela canção de Carole. Dá aquela sensação em nosso coração quando, ao nos magoarmos com alguma coisa ou algum lugar, dizemos o famoso verso de Manuel Bandeira, "Vou-me embora para Pasárgada, lá eu sou amigo do rei". Pois "Way over yonder" fala de um lugar "where i can find shelter/from the hunger and cold/and the sweet tasting good life is easily found".
Sempre desejamos ir embora no momento de extrema mágoa - que nossas mulheres nunca mais nos vejam felizes, que nossos inimigos não tenham sequer os gostos de nossas mortes, que sejamos amigos dos reis e dos imperadores, depois que o desprezo nos machucou. E "Way over yonder" dá essa idéia, Carole além de ter composto uma música lindíssima ainda interpreta de forma doce.
O disco segue com "You´ve got a friend", depois "Where you lead", e uma canção que Carole compôs com seu marido Gerry Goffin - a letra é do cara, aliás. Chama-se "Will you love me tomorrow?" e antes de ser gravada por Carole foi sucesso na voz do grupo vocal feminino da Motown chamado "Shirelles".
É uma contrapartida - reacionarismo? - ao libertarismo, ao culto do amor livre que se desenvolvia no final da década de 60 (e que continua rendendo frutos hoje, só que em versão tecnológica). A canção pergunta, lindamente, "Esta noite você é meu, completamente/Você dá seu amor tão docemente/Esta noite as luzes do amor estão em seus olhos/Mas amanhã você ainda me amará?". Um apelo dos mais femininos em uma época em que muito priápico deve ter se disfarçado de hippie para praticar suas perversões sem ter que pagar pensão alimentícia.
O disco segue com músicas que nem gosto tanto, como "Smackwater Jack" e a própria música-título, "Tapestry", que é bonita mas foi infelizmente colocada antes de uma das mais lindas canções femininas de todos os tempos: "(You make me fell like) A natural woman", gravada na época também por Aretha Franklin, numa versão que deveria ser ouvida de joelhos e agradecendo a Deus por estar vivo. A versão de Aretha é comovente, mas a de Carole faz parte de todo um contexto, não menos feminino do que Aretha, mas como parte de um inteiro - de um feminismo fêmea que parecia estar começando, sem queima de sutiãs mas com direito a desejar seu homem, e que ele fosse só seu. Eu mesmo, ao longo da minha vida, sempre gostei de mulheres como Carole, que exigissem seu homem para si - em suma, mulheres que exigissem que eu não pensasse nem olhasse para outras (para quê?). "A natural woman" é uma ode feminina aos homens de verdade - nada pode ser mais feliz do que homens e mulheres se entendendo.
E no momento em que a gente não consegue se entender com nossas amadas, nada como ter "Tapestry" - onde eu encontro abrigo, da fome e do frio.
15 março, 2002
Andando por aí com dor-de-cabeça
- Um camelô atormentado gritava ontem na rua do Catete: "se for duro não precisa parar aqui nem pra olhar. Aqui os durinhos-da-silva nem param".
- Uma moça com cabelinho Chanel e andar rebolativo desfilava pela Avenida Rio Branco com uma saia estampada com um coração enorme. Dentro, a bandeira dos Estados Unidos. Só quem andava atrás dela viu. Significativo.
- Um outro camelô, desses que entram pela porta da frente no ônibus, entrou deixando de lado o discurso decorado pela maioria dos vendedores ambulantes. Falando com ótima dicção e criatividade as qualidades dos biscoitos amanteigados de goiaba que estava vendendo, bem arrumado, com pinta de ator canastrão, o cara vendeu pra 90% dos passageiros.
- Um grupo vestindo blusas pretas escrito "P-36, VOCÊ ESQUECEU, NÓS NÃO" passou em direção à Cinelândia ainda há pouco.
Eu fui à Rua da Assembléia resolver um probleminha mas estou com muita dor de cabeça mesmo, dessas em que olhar em direção à claridade dói, pisar mais forte incomoda, abaixar a cabeça pra pegar algo que caiu é terrível. Pensar então, nem se fala. É preciso pisar macio, movimentar os olhos bem devagar, colocar a mão na cabeça pra imaginar que assim vai parar de doer, fechar os olhos em todas as oportunidades possíveis e relaxar, além, é claro, de tomar um analgésico, ora.
13 março, 2002
A eleição continua
Começa a fazer razoável sucesso a eleição de A Grande Merda do Rio. O camarada Rafael Rosenhayme me envia um texto-voto em que assinala um x em todas as alternativas. Saquem só:
"Num sábado, ir de metrô ao jogo do Vasco num calor de 43 graus, contrair dengue no caminho por causa das larvas que se procriaram nas poças das rua esburacadas. Ao chegar no estádio, levar porrada da polícia incompetente de nosso governador "de menor". Ao voltar de ônibus para casa, encarar aquele engarrafamento na Praça da Bandeira e, de quebra, ter sua carteira e seu celular roubados durante um assalto no aterro. Depois deste dia de merda, você vai ao Baixo Gávea para tomar aquele chope, mas o lugar está lotado e você mal consegue ficar de pé na calçada. Mas é por pouco tempo, pois o filho da puta do prefeito exige que o lugar encerre os trabalhos à 1h30 da manhã."
A Grande Merda do Rio
Eu ia votar na dengue, mas desisti depois que peguei o metrô hoje. Insuportável. Acho que já comentei aqui que odeio o metrô. Parece loucura, mas odeio. Detesto aquele ar-condicionado, aquelas pessoas todas olhando umas pras caras das outras, com ar de tédio, aquela multidão enfileirada como se fosse um gado entrando no curral. Digo “ai” com afetação mesmo: odeio. Hoje fiz este sacrifício porque saí atrasada e, quando isso acontece, a gente sempre acredita que o metrô é mais rapidinho. Doce ilusão: uma fila enorme para comprar o ticket que eu nunca tenho, mas uns cinco minutos esperando o trem. Enquanto isso o povo descendo as escadas, lotando a plataforma. Sem dúvida, da próxima vez eu vou de ônibus. Meu voto é pra ele, a grande merda.
Por que?
Quarta-feira, 13 de março de 2002. O dia está ensolarado. Há quatro anos também estava. E, naquela data, por volta de meio-dia e meia ela já se perguntava “por que?” sem resposta. Lembra-se de ter descido apressada as escadas de um prédio antigo, com corrimãos de mármore, dezessete largos degraus em cada lance, oito andares. O calor daquele dia é que parecia o responsável pelo derreter dos seus olhos. Mas ela sabia que não era. Sabia o que a entristecia, mas não entendia por quê. Também não encontrou palavras para expressar o vazio de alguns segundos de pensamentos brancos, aqueles que ocorrem quando se está com os olhos fixos em nada mas com o coração batendo forte.
Hoje ela ainda mastiga esta pergunta feito chiclete. Por que? Não há quem a responda. Nem nunca haverá. Ela sabe que o único homem capaz de respondê-la perdeu-se entre o responder e o partir. Empurrado pelo livre arbítrio ou pela mente alienada, ele foi. Mas o desejo de ouvir uma resposta não se dissipou. Apenas murchou. Aonde encontrá-lo neste inconsciente confuso com a resposta nas mãos?
Comprou, então, duas rosas: uma branca e uma “cor de mãe”. Levou-as para a velha, tais como vieram ao mundo, com espinhos e sem enfeites de papel nem fitas. Lembrou-se, depois, de uma canção triste. Era hora do café da manhã. Comeram juntas bolo com café e conversaram. Sua mãe percebeu que as flores eram, também, uma resposta para o porquê da beleza das vidas que brotam, abrem-se e morrem. E o dia transcorreu feliz.
Chuva, só no mar. Caatinga que é bom....
Estou navegando no meu banco on-line, quando olho um link, "Veja aqui quem ganhou um carro na promoção Itaucard, 20 carros de vantagem, sorteio, etc". Bom, ninguém me falou que eu ganhei nada, mas obviamente a curiosidade foi forte e eu cliquei para olhar o nome dos felizardos.
Última vencedora: Vera Matarazzo Suplicy.
Não deve ser membro conhecido - quem sabe uma prima ou irmão do Supla, sobrinha da Marta. Mas, puta que pariu. Eles precisam ganhar carro em sorteio?
Erramos
Ao divulgar a festa da Tatiana Contreiras, repórter de O Dia e figurinha rara (é só ver o nome de seu blog), antecipei a data. É no sábado, e não sexta, como eu havia falado. O local é o mesmo: o casarão do Hermê, em Santa Teresa, onde tudo é bom, menos o DJ - mas acredito que ela dê um jeito nisso e coloque um som decente. Em tempo: consumação de R$ 20 para homens e R$ 15 para mulheres. Espero poder ir lá.
12 março, 2002
A maravilha do Rio
Como eu já votei na Lagoa e no Maracanã para maravilhas do Rio, proponho que o pessoal que acompanha os blogs se una em uma nova votação. Desta vez, para a Grande Merda do Rio. A lista, abaixo:
1) O calor desumano de 43 graus
2) A dengue
3) As ruas esburacadas e cheias de poças
4) Os assaltos a ônibus no Aterro (há anos acontecem, nunca conseguiram resolver)
5) Os lugares no sábado à noite, todos lotados e com um calor infernal
6) O Vasco
7) César Maia (com acento no e mesmo)
8) Governador evangélico
9) O Metrô superlotado depois da privatização e das demagógicas inaugurações de novas estações sem investimentos adequados
10) Os engarrafamentos inevitáveis (Mena Barreto, São Clemente, Rio Branco, Barata Ribeiro, Maracanã, Praça da Bandeira e 24 de Maio)
Votos para gustavoa@lancenet.com.br
Política
Houve uma época em que eu adorava ler sobre política, discutir, comentar. Mais precisamente, em 1989. Eu tinha, então, 16 anos e estava tendo a honra de votar, junto com meus pais, no primeiro Presidente da República eleito por voto direto após 25 anos de ditadura militar. Isso me inflava de um orgulho bobo. Influenciada pela minha mãe, uma brizolista convicta e convincente, juntei-me à legião de amigos, vizinhos e partidários fanáticos dos núcleos pedetistas numa campanha emocionante por vários lugares nunca visitados por mim e onde jamais pensei em ir. Eu estava munida de uma esperança contente e ingênua, exibida com orgulho simbólico pelo lenço vermelho amarrado no pescoço. Eu queria soltar aquele "não rotundo" que eu também "trazia dentro do peito" quando ouvia, pequena, as conversas dos meus pais sem entender direito até o nome do Presidente.
Mas veio o Collor de Mello com seus monte de "eles". E, com "elle", a Zélia e o confisco do pouco dinheiro que minha mãe tinha. Com isso, a minha revolta. Me lembro ainda com raiva de uma fila de cento e tantas pessoas na Caixa Econômica Federal, eu incluída, tentando salvar o que pudesse do suado dinheiro.
Não sei bem o que aconteceu, mas tenho a impressão de que a chamada "esquerda brasileira" morreu lá, naquele ano de 1990. Porque depois dali a sensação que me passa é a de que a espera foi em vão. Todos os que há alguns anos argumentavam empolgados, hoje limitam-se a reclamar feito velhos em filas de banco, só por reclamar, esmagados por um processo de anestesia global, para entrar "ao pé da letra" no termo.
Eu, como nunca soube falar de política, se me atrevo hoje é porque já quase ninguém fala. Não, não é verdade. Eu é que não falo. Acontece que eu li a coluna da Dora Kramer, no Jornal do Brasil de ontem e confesso: há tempos não lia. O assunto em pauta é Roseana Sarney, desvio de verba, corrupção, tráfico de influência. A filha do ex-presidente que apoiou a ditadura precisou de um escândalo pra não ser eleita. Antes tarde do que nunca. Que bom. Eu ia falar mal da imprensa, mas desisti. Deixa pra lá, eu vou continuar lendo, falando, reclamando e comentando mesmo.
11 março, 2002
Poesia
Querido André Machado, lembrei de você:
Não há vagas - Ferreira Gullar
O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema
o gás, a luz, o telefone,
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras.
- porque o poema, senhores,
está fechado: “não há vagas”.
Só cabe no poema
o homem sem estômago,
a mulher de nuvens,
a fruta sem preço.
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.
A Crib Tanaka me ligou na sexta-feira para ir à Matriz. Não fui, aliás, nunca fui num dia em que o Gustavo estivesse no som. Sei que estou perdendo. Uma vez eu tentei, mas era Carnaval e não tinha viva alma quando cheguei, por volta de uma hora da manhã, nem o Gustavo, então eu fui embora.
* * * * * * *
Felizmente consegui reorganizar minhas contas (graças a ajuda da minha mãe) e isso foi muito importante pois não me adaptei a morar com a Eva, a sueca. Ela está de mudança.
Bravenet, enfim, de volta
O contador da Bravenet voltou. Em mais ou menos 5000 hits, depois de ficar uma semana fora do ar. Chato isso. Não que me afete, mas acho interessante saber a freqüencia diária de um blog. Enfim, seguimos em frente.
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Show espetacular
Eu sempre me comovi ouvindo a voz do mr. Roger Waters, doentia, sofrida, quase um urro de tristeza ou de protesto, como em "Vera Lynn" ou "Nobody home". E não poderia deixar de me comover profundamente, ao ver o show espetacular, inclusive no sentido estético-visual, que o ex-baixista do Pink Floyd deu na Apoteose este sábado. Eu estava lá, e me comovi ao ouvir "Shine on you crazy diamond", "Wish you were here" (cantada por milhares), "Time", "Confortably Numb" e "Eclypse". E fiquei especialmente absorto nas músicas de mr. Waters na carreira solo. Enfim, um showzaço.
Mas o maior show da minha vida continua sendo Neil Young no Rock in Rio - e lembrem-se de que meu email é "gustones", heim??! Mas não adianta, o do Neil Young é insuperável.
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Uma torre de candura
Pois é, pessoal. Esta semana estarei meio insuportável, entendem, porque fui elogiado por uma das mais altas torres de candura de que se tem notícia: Valeska Lowerfount, uma moça alta e linda que foi na Matriz sexta-feira passada acompanhar mais uma edição inesquecível da "Mate-me por favor". Clicando no link vocês lerão os posts em que ela fala de mim. Claro, muito melhor ser elogiado por blog do que pessoalmente. Na Matriz, foi só a Valeska dizer que achava meus olhos bonitos para eu ficar completamente sem jeito, sem saber para onde olhar (quem conhece ela, sabe bem como é desconcertante qualquer elogio vindo dela).
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Festa!
Sexta-feira, contam as más línguas, tem aniversário da Tatiana Contreiras (repórter de O Dia) no Casarão do Hermê, na Rua Hermenegildo de Barros, em Santa Teresa. Más línguas, eu digo, porque o lugar é pequeno e talvez não fosse para espalhar. Mas tudo bem, coloquei só na internet....
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Paisagem inútil
Valnei, Maurinho, Anderson, Leandro Machado: o resumo de mais uma história triste em vermelho e preto. Aliás, já conheço os passos dessa estrada, sei que não vai dar em nada. Esse é um retrato em vermelho e preto.
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E-malas go home!
Duas adesões importantes para a campanha "Chega de e-malas": Roberta "O mundo é estranho" Carvalho e Isabela "Ludovico" Bastos. Ambas colocaram em seus blogs a campanha para evitar que nossas caixas de emails sejam entupidas. Vamos lá, gente, vamos aderir - Roberta me prometeu até encomendar uma arte, um símbolo para a campanha!
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Quem é vivo...
Priscila Fogiato reapareceu no ICQ e na minha vida. Mas não me contou ainda se vem para cá, se vai casar com o Ethan Hawke ou se resolveu as coisas lá por Curitiba.
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Syang
O programa Casa dos Artistas me mostrou o que eu já sabia: colocar lado a lado Syang e Andrea Del Fuego é como juntar na mesma CDteca Tiririca e Mozart. E tem mais: Del Fuego é muito mais gostosa.
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Falando nisso...
Está na hora de eu começar a pensar em ir a Sampa. Talvez na Semana Santa, quando estarei de folga. Del Fuego que prepare o quartinho do cachorro.
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Boa!
A Trip deste mês publica uma pequena nota falando bem do Falaê e com destaque para a seção que eu e o Augusto Sales criamos, a "Te vejo como amigo". Muito legal. E isso sem a gente fazer assessoria - se a gente tivesse feito, já sairia com o novo nome da seção: "Frito na hora".
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Semana
Boa segunda-feira.
09 março, 2002
Mens insanas in corpore sano
Sou contra usar blog para falar de Big Brother, Casa dos Artistas ou coisas do gênero. Mas não poderia deixar de reproduzir o email que recebi de uma amiga, Denize Vicente. Uma saborosa compilação de alguns dos melhores momentos desses "gênios" de corpos bem modelados que habitam a casa criada por Sílvio Santos. Divirtam-se:
Diálogo na Casa...
Mariana - Agora não adianta, Inês é morta.
Syang - Quem é Inês????
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"Meu histórico de vida é amplo. Já colhi uva, passei fome. Minha história é bacana."
Cigano Igor - esta pérola foi enviada por Rosana Ferreira.
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"O I Ching foi escrito por Carl Jung, um profeta de muito muito tempo atrás".
De André Gonçalves, errando não só a autoria do oráculo, mas também a idade de Jung em cerca de 4.000 anos - esta foi enviada por Maira Parula.
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"Buuuuuuh... buééééééé.... buuuuuuhhhhh.... chuif... snif... buuuuu..."
Mariana Kupfer, a Mari Alexandre da "Casa 2".
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"Buuuh! Buuuu... (ainda chorando) Eu gosto dele. É o homem que eu amo. Será que acha que vou 'cornear' ele (sic) em cadeia nacional?
De Mariana Kupfer, chorando no colo de Syang, dizendo que jamais trairia seu namorado com Gustavo, na "Casa dos Artistas".
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"Meu! A Lua ontem tava ali e hoje ela tá do outro lado... Será que existem duas luas?"
Do rapper Xis, delirando. Ou entããããão...
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"Eu sou uma das 150 milhões de pessoas no mundo que sofrem todos os dias".
De Mariana Kupfer, dando uma "indireta" à Cruz Vermelha - enviada por Luciana Benevides.
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"Vamos se divertir!"
Da alfabetizada Mariana Kupfer.
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Cena: Xis pega peixes de um aquário e começa a jogá-los na piscina. Tiazinha vê e pergunta:
- "Será que eles vão saber nadar aí?"
enviada por Regina Mara
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"Você já desfilou em tábua?"
André Gonçalves, perguntando para Cynthia se ela já desfilou em passarela. - enviada por Alessandra Wenter
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Cena: Tiazinha e Syang conversam durante o ensaio para encenação sobre a imigração italiana.
Tiazinha - "Bom, um dos meninos era o dono da fazenda e a gente se vestia de escrava. Aí uma ficava grávida e..."
Syang - "Peraí. Os italianos não eram escravos, eles vieram para substituí-los!"
Tiazinha - "Ué? Mas eu vi 'Casa Nostra'!".
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- "Não tenho tesão por ninguém aqui dentro."
Feiticeira, mentindo. Ela faz sexo com a esteira.
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Diálogo na "Casa 2".
Tiazinha - "Syang, eu vou te dar uma camiseta com um desenho de um alecrim."
Syang - "Que legal, ela tem uma flor?"
Tiazinha - "Nããão! Tem aquele cara do Carnaval, igual a um pierrô...
Syang - "Ah, um arlequim."
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- "As asas de um avião são feitas para bater uma na outra."
De Gustavo Mendonça, subvertendo toda a história da aviação - enviada por Tomas, Belo Horizonte
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- "Apertando a canela dá pra saber se a mulher come muita porcaria, se retém líquido. E (apertando) atrás do braço é onde acumula gordura."
Do Cigano Igor, falando mais uma baboseira - enviada por Marisa Gali
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- "Qual a forma certa de escrever? É 'ao comer' ou 'al comer', hein?"
Da anta, digo, participante da Casa dos Artistas, Gustavo, fazendo uma pergunta totalmente sem resposta - enviada por Confúcio e Marcus Ballard
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- "Nas Olimpíadas tem bilhar, né?"
Feiticeira, com dúvidas esportivas - enviada por Aline Farias
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- "Velcro! Velcro! Velcro!"
Syang, Mariana Kupfer e Cynthia Benini, abraçadinhas, pulando na piscina - enviada por Aline Farias também
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- "Essa é a energia vital da vida"
De André Gonçalves, apontando o sol enviada por Sergio Wagner Jr.
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Diálogo na "Casa 2"
Mario Veloso - "Se eu quisesse me suicidar, tomava remédio para dormir e pedia pra alguém me dar um tiro na cabeça."
Gustavo - Aí é assassinato."
enviada por Rodrigo Azevedo, de Santos
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- "Você já comeu até empurrar o cocô?"
Do finíssimo e nada nojento Gustavo, falando com as moças da casa durante o café da manhã.
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- "Só falam bobagem e não querem ouvir a minha opinião."
Do bobagento Cigano Igor, fazendo beicinho - (idem)
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- "Prefiro ficar acordado de madrugada. Vocês falam muita besteira durante o dia."
Do rapper Xis - (idem)
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- "Você devia investir no marketing de filósofo."
De Xis, dando opções profissionais para Ricardo Macchi - (idem)
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- "Todo solo da América é pobre."
Ricardo Igor Macchi, dando aula de geografia.
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- "Às vezes é melhor ser legal do que ser linda."
Da humilde Ellen Rocche - enviada por Jimi Hendrix (juuuro!).
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- "Pô, você vai colocar queijo no frango? Desperdiçar duas proteínas?"
De Ricardo Cigano Igor Macchi, dando bronca na Tiazinha na cozinha - enviada por Marina Small.
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Frases anteriores
"Isso vai ser o futuro da humanidade."
De Ricardo Machi, o filósofo, olhando um copo de shake - enviada por Gustavo.
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Macchi: - Nossa, que lindo! Uma águia!
Feiticeira: - Que águia???? É um urubu!
enviada por Ana Paula Lattes
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"Snoop Doggy Dogg é o cachorro que tinha naquele desenho 'Corrida Maluca', né?"
Outra do Ricardo Macchi, confundindo o cantor de rap norte-americano com o Mutley - enviada por Diego, de Washington (EUA)
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"O que eu vou malhar hoje? Ah, vou malhar o cérebro"
Mais uma do Ricardo Macchi, na sala de ginástica - enviada por Marcos Ribeiro
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Silvio Santos: - E para quem vai seu voto?
Telespectadora: - 'Sirvio', vou votar no Lula!
enviada por Leandro Tadeu dos Santos, de Cambuí (MG)
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"Se o átomo fosse do tamanho de uma bola de futebol e seu núcleo estivesse no Cristo Redentor, os elétrons estariam em órbita em Salvador. Por isso somos formados por espaços vazios."
Ricardo Macchi, em mais um axioma da filosofia do cigano doido - enviada por Christine Cavalcanti.
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"Lulo, você deveria sair hoje, mas como a diferença não foi muito grande _70% para você e 30% para a Mariana_ você fica."
Silvio Santos, justificando com assombrosa matemática, porque o eliminado continua no programa - enviada por Carlos Silva, de BH
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"Ai, que lindo! Ele parece muito com você, os olhos... Até de olho fechado dá pra perceber!"
Tiazinha, ao ver foto do filho de André Gonçalves e Myriam Rios, de dois meses, dormindo - enviada por Raquel Carrara
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"Todo mundo vai colaborar, senão vai ter porrada. É democracia."
Ricardo Macchi, sobre a necessidade de todos limparem a casa - também da Raquel...
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"Quando for pra gente tomar banho junto deixa que eu convido."
Ellen Rocche, dando um objetivo "fora" no insistente Lulo - enviada por Anna Paula, de Curitiba
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"Isso aqui parece o 'The Turman Show', conhece?"
De Ricardo Macchi, uma mistura de Tiazinha com Marco Mastronelli, errando o nome do filme "The Truman Show", com Jim Carrey - enviada por Leandro
_____
"Gente velha sempre tem problemas. Imagina... ficar trancada numa casa! Eles queriam gente jovem, bonita e saudável."
De Tiazinha, aparentemente ironizando um convite que teria sido feito à "idosa" Narcisa Tamborindeguy para a "Casa 2" - enviada por Cássia Linares, SP
_____
"Recebi algumas críticas pois ainda não tinha intimidade com a televisão.
Além do mais, logo veio a crise econômica e..."
Outra do cigano Igor, tentando justificar por que não fez sucesso em sua estréia como ator, na Globo - enviada por Guilherme Camargo.
_____
"Eu curto mais o rap por causa da musicalidade... É do caramba!"
André Gonçalves
_____
"Chitãozinho e Xororó!"
De André Gonçalves, respondendo de bate-pronto quem são os pais de Sandy e Junior (é ótima!) - enviada por Eduardo, São Paulo
_____
"Sabe aquele negócio de o Superman dar a volta no mundo e o tempo voltar? Pois é, aquilo é Einstein!"
Do genial Ricardo Macchi, filosofando - enviada por Vladimir Batista, de São Paulo, Rafael Rangel e Vanessa Bugni
_____
"Eu estou sendo sincero com você. Eu sou tão sincero que às vezes parece brincadeira."
Lulo, passando cantada patética em Ellen Rocche - enviada por Mário Gattini - RS
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"Eu tenho certeza que ví um Ovni, mas a Nasa abafa, fica tentando encobrir os fatos..."
Outra de Tiazinha sobre Ovnis - enviada por Valeria Ribeiro e Leslie Szabo
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"Nossa, seu cabelo antes da tintura era um escândalo de lindo!"
Tiazinha, em momento de amizade e simpatia com Joana Prado - enviada pela Val também
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"É palhaçada! Cada dia eu tomo banho com um homem diferente!"
De Joana Prado, ironizando seus banhos na "Casa dos Artistas 2" - enviada por Vanessa Bugni
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"Ficar num quarto só de mulheres é tortura."
Do cantor Mario Velloso, lamentando a situação - enviada por Carlos Albuquerque, do Rio
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"Deus está bravo."
Tiazinha, explicando a todos porque chovia - enviada por Giovanna Moretto.
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"Eu me olhei no espelho e acho que estou um bujão (sic)"
Joana Prado, em momento de auto-análise. Não que o colunista concorde. Nãããão. Longe disso. Pra mim, está ótima e... certo, vou parar.
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Veja, ainda, outras frases:
Mariana Kupfer: "As mentes desta casa são muito poluídas."
Syang: "Só as mentes?"
(Enviada por Marlon Teixeira, do Piaui)
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"Você sabia que o sol está se aproximando da Terra? Não viu como fez calor nos últimos dias?"
De Tiazinha - enviada por Edes Pasquale.
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"Enche de água e bota pra frevê..."
Do genial Lulo, dando instruções para Ricardo Macchi fazer um bolo.
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Silvio Santos: - "Qual a sua idade?"
Fala Gustavo (um dos gêmeos): - "23"
Silvio: - E há quanto tempo você e seu irmão estão juntos?
Gustavo: - Há 23, oras."
(Enviado por Jair de Oliveira).
_____
"Ai, tá todo mundo com bafo de alho".
De Mariana Kupfer, para os demais moradores da Casa 2 - enviada por Ricardo Dalzotto)
_____
"Eu não dou mole pra mulher nenhuma, não, meu irmão! Só pra Nicole Kidman!"
De Ricardo Macchi, para quem a Nicole não dá mole nenhum - enviada por Roberto, de SP.
_____
"Bomba, a perna dele é só bomba!
A bunda dele é só Bomba..."
De André Gonçalves ironizando o "bombado" Gustavo, e ainda insinuando que o rapaz não é bem-dotado - enviada por Tatiane Caon.
_____
"Vai correndo, Xis, que desse jeito você chega a Itaquera."
Da riquinha antipática Mariana Kupfer ao ver o raper Xis na esteira - enviada por T. Matusaki.
_____
"Tudo que a gente fala Deus edita."
Adivinhem de quem é essa? Claaaaro! Da Tiazinha! enviada por Adriana de Barros
_____
"Ai, vocês me me lembram de tomar pílula de manhã? E à noite também?"
Da Feiticeira, possivelmente com problemas de memória. Devia tomar mais Fosfosol e menos hormônios.)
_____
- "Que 'pírula' ?"
De Tiazinha - enviada por Alessandro Soares e Marcelo Machado.
_____
"Não querem acreditar que eu vi um disco voador. Mas isso é por causa do capitalismo."
Tiazinha, à beira da piscina, insistindo que viu mesmo um Ovni.
_____
"Eu já vi disco voador também... Mas eu tava num estaaaado!"
Do rapper Xis, mostrando pra Tiazinha que ver Ovnis não é exclusividade dela - enviada por Daniel, de Vinhedo
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"Não é você que namorou alguma (sic) de minhas filhas? Quem foi mesmo? A Rebeca?"
De Silvio Santos, falando com o "artista" Mario Velloso - enviada por Milton Miszputen.
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"Vamos fazer uma saudação ao Sol?"
Ela, Tiazinha - enviada por Adriane Raduenz.
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"Você tem que ter fé no seu caminho: faith no way, entende?"
De Ricardo Macchi, que sabe tanto inglês quanto uma capivara. Sem ofender as capivaras! Sem ofender as capivaras! Enviada (e sacada) por Rogério Schincariol e Ana Carolina).
_____
"Tenho um fã-clube na internet. Tem uns 3.000 membros."
Da ingênua Ellen Rocche.
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"Nossa! Quaaaaanto membro!"
Mario Velloso, levando a informação para o lado da malícia - enviada por Eduardo Breves.
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Feiticeira (na geladeira) - "O que é isso? Rúcula?? Espinafre?"
Cynthia - "Isso é brócolis."
enviada por Constance Zahn.
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"Aqui é o público que decide quem sai. Quero dizer, eu acho."
(Tiazinha).
_____
"Sai celulite, que este corpo não te pertence!"
Da Feiticeira Joana Prado, olhando para a própria perna e "exorcizando" alguma coisa que acabara de ver.
_____
"Quero ser vista aqui dentro como um ser humano."
(Tiazinha; nem preciso comentar, certo?).
_____
"Aqui não vai ter jeito. Vou ficar 'limpo' uns 90 dias."
De André Gonçalves, quando alguém perguntou se ele iria sentir falta de bebidas durante a estada na "Casa dos Artistas".
_____
"O planeta vermelho é Mercúrio"
Da Feiticeira, errando a resposta (que é Marte) por alguns milhões de quilômetros - enviada por Rita Munhoz.
_____
"Sai mosquito! Sai mosquito!"
Mariana Kupfer, ao ver um pernilongo _potencial transmissor de dengue_rondando sua cabecinha.
_____
"Pra mim, amigo de mulher é cabeleireiro!"
Mais uma filosofia inexplicável de Ricardo Macchi - enviada por Ana Paula.
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"Achei melhor deixar amadurecer, porque 'essas tomates' (sic) ainda estão meio brancas (sic! sic!)."
Tiazinha, a sábia yogue - enviada por Gustavo Cunha.
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"Estou fazendo aulas de canto, de tudo... Artista tem que saber de tudo.Pretendo gravar CD porque eu vou ser a Jennifer Lopez brasileira."
(Maaaais uma da Tiazinha - enviada por Giulianna, de SP).
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"Nós artistas temos que passar mais para o público, mais do que na boca da garrafa."
Do cigano Igor, digo, Ricardo Macchi - enviada por "Rebic", ou Tonny de Angelis.
08 março, 2002
Sorrindo
Adoro pessoas que riem com simplicidade e simpatia. A moça ainda não havia entrado no elevador e, desde o primeiro momento, sorria. Primeiro, com a sobrancelha e os olhos, a única parte visível do seu rosto através da janelinha da porta quando o elevador parou no quinto andar, antes dela entrar. Eu vinha do décimo andar, com o elevador parando pacientemente em todos os pavimentos. Uma senhora com sandálias de enormes margaridas entrou no sétimo; uma mulher de óculos e calças cáqui entrou no sexto e a moça sorridente, em seguida. Um elevador de mulheres num prédio comercial. A senhora tinha os cabelos pintados de ruivo, de uma cor forte, e ela toda exibia uma aparência rude quebrada apenas pelas sandálias com enormes margaridas de cor amarela.
A moça de óculos saltou no terceiro andar, mas logo foi substituída por uma outra mulher, também uma senhora, um pouco gorda, de cabelos encaracolados e vestindo um conjunto de estampas azul e branco. Precisei sair do elevador para compor a cena da substituição, ato que rendeu novo sorriso da moça que entrou no quinto andar. Cumprimentamo-nos, cúmplices, como se nos conhecêssemos desde a infância. Naqueles curtos minutos em que estávamos encaixotadas entre quatro paredes cinza metálicas sabíamos que não seríamos as mesmas quando a porta automática se abrisse no térreo e fôssemos para as nossas vidas e virássemos apenas uma lembrança de alguém que, simplesmente, sorriu.
07 março, 2002
Falta de espaço
- Seu problema sempre foi falta de espaço - ele disse.
- É - ela concordou.
Ouviu calada e acatou o que ele dissera encerrada num silêncio confuso. Ele sentiu-se desconfortável, temeu ter dito algo constrangedor. Observou-a rapidamente. Continuaram a andar, apressados, sacos plásticos nas mãos, suados. Era tarde da noite de um domingo qualquer. Mudaram de assunto mas ela não prestou mais atenção a nada. Suas pernas começaram a andar mais ligeiras e um pouco trêmulas. Falta de espaço. Ela quis correr. Observou-o rapidamente. Ele continuou falando sobre outros assuntos. Ela permaneceu alheia, não prestou atenção. Falta de espaço. Ela olhou o movimento dos carros na pista de alta-velocidade e o burburinho dos bares.
- Eu caibo aqui, sim - ela disse, sem mais nem menos, ao se despedirem.
Ele levantou a sobrancelha, mas ela já havia sumido na escuridão.
Um dia longo no front
Países do WAR
Estou escalado para fazer logo mais, pela televisão, as páginas de Seleção Brasileira. Detalhe: joga às 23h. Contra a Islândia. E aí eu pergunto: quem merece assistir um jogo desses? Ninguém, claro, por isso o jornal vai cobrir - não é possível que alguém dê algum valor a um jogo contra a Islândia, um país que para quem nunca jogou WAR deve ser até desconhecido. Para mim, a Islândia nunca passou de um meio para atacar a América do Norte.
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Emerson, o débil mental
Passo os olhos em O Globo e vejo declarações de Emerson puxando o saco do Felipão. Emerson, para os completamente leigos, é um jogador brucutu que atua no Roma, da Itália, e quando joga lá vira craque. Mas na Seleção, só sabe dar porrada. Ele vem a público defender o direito do técnico convocar quem ele quiser. Claro, puxa o saco para garantir a vaguinha dele na Copa. Só que, no final, demagogicamente, ele solta, "o treinador tem que ter tranquilidade para tomar a decisão, seja ela qual for". Peraí. "Seja ela qual for"? "Seja ela qual for" é o catzo, pô. Felipão, se convocar o Romário, terá a legitimidade do apoio de milhões de brasileiros, a começar até pelo FHC (que não fez nada mais que embarcar na popularidade do Romário com consentimento do próprio, afinal, o atacante vascaíno deve achar o governo uma beleza, mesmo com dengue, apagão, violência, desemprego, recessão...)!!!!
Por que não temos jogadores machos, heim? Para chegar e afirmar, "o cara tem que ter tranquilidade para não convocar o Romário" e ponto final. Tem que ser sempre essa vaselina? "Seja ela qual for" é demais....
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Teimosia
Recebi várias mensagens nos últimos dois dias. Uma foi da Teresa, dizendo porque ela não tem um blog. Disse a ela que deveria ter um. Mas ela, como sempre, teima em não me atender. Espero convencê-la do contrário em breve.
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Blog que vocês ainda não conheciam
A maioria ainda não conhece, mas deveria dar uma olhada no blog da Ione.
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Promessa se cumprindo
Prometi que esta semana eu ia pegar leve, e estou cumprindo o prometido. Amanhã é dia de rock n roll na Matriz, devo estar inteiro para a terrível missão. E sábado estou de plantão, de onde talvez (se estiver bem fisicamente) eu saia direto para o show do Roger Waters.
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Algumas perguntas
Por que as pessoas insistem em me enviar centenas de emails falando mal da Roseana? Alguém pensou em algum momento que eu vá votar na Roseana? Por que as pessoas me enviam emails com musiquinhas falando de amizade? Alguém pensa que nossa amizade depende desses reforços? Por que as pessoas me enviam emails com atachados imensos (como o que estou baixando agora há 15 minutos)? Será que eu tenho tempo sobrando em frente ao computador?
Vou iniciar, com apoio dos blogueiros amigos, a campanha contra o e-mala. Antes de qualquer coisa, temos que criar um Código Civil do Envio de emails. Que acham? Emails para mim.
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06 março, 2002
As suscetibilidades de Tábata
Se for pra escrever, que seja sobre os melindres. Porque há quem nunca se satisfaça. Se há sol, prefere-se a chuva; se há chuva, prefere-se o sol. É um tipo de pessoa solitária e triste, como era Tábata. Sabe-se que desde pequena era esquiva e sonolenta. Falava pouco, comia pouco, se expunha pouco, vivia pouco. Pouco a pouco, entretanto, começou a tomar gosto por essa coisa de acordar todos os dias viva. Cresceu meio desgovernada, como uma flecha solta e arisca, repetindo que ninguém gostava dela e acreditou nisso até quando ficou velha.
Às vezes, tinha certeza de que o mundo girava em torno dela. Se as pessoas conversavam baixo no canto, estavam falando dela; se as pessoas riam, era dela, neuroses que só uma pessoa tímida compreende. Só muito tempo depois Tábata se convenceu de que não era nada. Mas, para isso, precisou matar um pássaro. O canário não conseguia mais voar, deu uns saltinhos e morreu. Ela assistiu, passivamente, a morte do pássaro, virou as costas e foi embora. Tinha colocado algo no alpiste dele. Teve dó do passarinho e mais ainda de sua mãe, que dele tanto gostava. Preferia tê-lo libertado, mas ele iria morrer do mesmo jeito, foi o que deduziu, então matou-o.
Por que precisou fazer isso é o que pretendo explicar. Porque queria permitir-se ser livre para pensar e dizer o que queria, e identificava no pássaro o símbolo da liberdade que queria para si, para ser, para olhar-se no espelho livremente sem vergonha de ser o que era, bonita ou feia, branca ou mulata, de cabelos louros ou negros, com roupas extravagantes ou calças compridas, maria-chiquinhas ou cabelos soltos. Tábata tinha urgência para aceitar-se e demorou tanto para perceber isso que suas suscetibilidades a afastaram das pessoas que mais gostava. Foi então que Tábata acabou virando uma personagem esquisita de um conto assim de uma pessoa como eu e morreu.
Pátria amada, idolatrada salve, salve
Meus neurônios - que já não funcionam muito bem normalmente - hoje estão piores ainda, devido aos bebericos gélidos de ontem na Cobal do Humaitá. E nesse estado irreversível e lamentável, sem a menor vontade de fazer nada, fui ler o JB. Descobri, pasma, que existe uma sala da Ajudância de Ordens da Presidência da República, no Palácio da Alvorada. É usada para a transmissão de alguma mensagem urgente e fora do horário de serviço ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Será que eu li isso mesmo ou é o sono?
Quaisquer notas
Recebo ligação ao celular, lá no jornal, do fant (e) ástico The Axe, me convidando para bebericar algo gélido na Cobal do Humaitá. Vergonhosamente eu declino do convite. No momento, estou em contenção de despesas total. Tenho gastado fortunas de táxi, e o dinheiro tem demorado a entrar na minha conta. Só tem rolado saída. Além do recesso financeiro, ando em um ceticismo que deixaria o Flávio Cavalcanti parecendo a Velhinha de Taubaté. Chato mesmo, ranzinza, mal-humorado, prefiro poupar as meninas Crib e Alessandra da minha companhia.
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Contador da Bravenet sumiu. Não sei onde foi parar.
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Isabela Bastos, uma criatura que admiro, que tem um puta bom caráter, anda sendo maltratada por alguém. A sério mesmo. Ela só fala em vampiros. Eu prefiro nem descobrir que vampiro é esse, pois tá arriscado enfiar um crucifixo no rabo do sujeito. Se tem uma pessoa nessa vida que não merece ser sacaneada por ninguém é a Isabela. Sempre encheram o saco dela, dizendo que ela é doida - mas na nossa época de O Fluminense, eu só via nela uma pessoa doce.
Ah, e tem umas perninhas maneiras.
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Juan Saavedra, de Curitiba, criador do blog Sempre Flamengo (de leitura diária obrigatória!) me envia email como sempre cordial esclarecendo: não é ele o torcedor fanático do Furacão, e sim sua esposa. Bom, mas recomendo ao grande Juan que aproveite as cores e torça fanaticamente pelo Furacão. Eu recentemente vi bem o que é namorar alguém de outro clube, ainda mais oposto - como foi meu caso, namorar uma vascaína.
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Uma pergunta que eu queria ver respondida: por que Teresa não tem um blog?
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Frase tirada do Botequim e que insisto em publicar:
"Achar que o mundo vai ser bom para você só porque você é um cara legal é o mesmo que acreditar que um touro furioso não vai te atacar só porque você é vegetariano".
Bom, bom, muito bom.
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Boa quarta-feira e saudações rubro-negras. Hoje é a vez do Olimpia.
05 março, 2002
O Mágico de Oz e Waters
Sexta, na Matriz, haverá exibição de "O Mágico de Oz" com "Dark Side of the Moon", o sagrado disco do Pink Floyd, tocando simultaneamente, na pista 2. É que existe uma lenda pop sobre a sincronia perfeita entre o disco e o filme. O DJ Marcelo Janot vai ficar apontando na hora quais são as coincidências.
Depois dessa exibição - que começa às 23h15 em ponto - é que eu e o Zé Otávio vamos colocar CDs.
04 março, 2002
Segunda-feira
A folga de hoje serviu apenas para eu passar o dia inteiro em casa, me recuperando da rebordosa do fim de semana. Sábado eu estava em um estado capaz de compor músicas para o álbum branco dos Beatles. Me lembro de ter esgotado a pilha lá pelas oito e meia da manhã de domingo.
Começou tudo com um almoço, eu, Maloca e Sérgio Maggi. Fomos na Tratoria, lá na Rua Fernando Mendes, ao lado do Copacabacana Palace, e detonamos uma massa caseira com vinho chileno, arrematando em seguida com aquela torta alemã inigualável. Depois fomos à casa de um amigo nosso, e ficamos bebendo e vendo futebol pela TV.
Já em estado de alucinação, seguimos para o chá de bebê da Cris, e derrubamos algumas cervejas e eu abracei a garrafa de whiskey. A essa altura, já tinha até me esquecido de que estava no meio de um porre de vinho.
Quando tudo levava a crer que cada um ia para casa, sem nada para fazer, eu peguei o celular e liguei para o endiabrado Alexandre Lalas, que veio nos buscar de carro. Seguimos para a Lapa.
Acordei às três da tarde, me arrumei voando, e fui colocar som no evento X-Tudo. Depois, fui para o pub Shenaningan´s, em cima do Carretão de Ipanema, jogar sinuca e ver a garçonete dinamarquesa.
Acordo segunda-feira, uma da tarde, e não consigo me levantar da cama até cinco da tarde. Hoje, só chá de boldo e erva-cidreira, vitaminas, sustagen, para eu me recuperar para a semana. Sexta ainda coloco som na Matriz, ou seja, tenho que chegar lá descansado, para poder ir, e ainda trabalhar no dia seguinte. Portanto, esta semana não participarei de eventos noturnos.
03 março, 2002
Programa light
Irá somente até as 22h a tal festa, que começa agora, nestas 16h de domingo. Será mesmo no armazém 5 do Cais do Porto, e consistirá em shows de quatro bandas, e nos intervalos dos shows, eu e Zé Otávio estaremos colocando som, só pedreira, porrada, como pediu o organizador da parada, o poeta Chacal. Estou saindo agora, 15h30, de casa. Quem quiser aparecer, a entrada é só cinco reais.
02 março, 2002
Mulheres que um dia amamos - 9
Priscila Foggiato
Eu fazia parte da lista do Staff do Falaê, recebendo uma média de cem mensagens por dia, e 50 eram de um só cara, chato demais, que insistia em responder a tudo que era mandado pela lista. Às vezes ele mandava só um "ha", e assim enchia a caixa postal alheia sem o menor resquício de educação. Fora isso, a lista era movimentada pacas, tinha muita discussão, às vezes gerava (ainda gera) pautas, às vezes tudo caía no vazio. Eu só pedi ao grande amigo Augusto Sales a minha retirada porque o cara chato além de tudo era exibido, enchia muito meu saco.
Só que no meio disso tudo, desses debates, dessas discussões, muito raramente surgia uma mensagem sempre bacana, com uma ponderação certeira, um sorriso para todos da lista e uma inteligência até superior ao que estava sendo debatido. E era uma mulher - eu sou hormonalmente afetado com mulheres de vivacidade, deve ser o meu subconsciente que quer gerar um filho inteligente e procura uma moça idem - já que o pai não é lá essas coisas e resolveu ser jornalista.
O nome dessa mulher é Priscilla, um nome lindo, e os sobrenomes mais ainda: Priscilla Deslandes Foggiato. Eu definiria a Pri - como nós a chamamos - como uma menina tão bacana que, se a gente não conseguir namorar ou casar com ela (por rejeição dela, claro), tem a obrigação moral de, no mínimo, apresentar algum outro sujeito para ela.
Passei a trocar mensagens com a Pri, e ela insistindo em me chamar de "Gustavão". E eu falando, "pô, Pri, tenho 1,60m, não posso usar aumentativo". E ela, com a delicadeza que só uma curitibana poderia ter, mandava, "ah, é porque eu te acho um grande sujeito". Eu passava uns três dias completamente envaidecido com isso - chegava a deixar troco de dois reais para motorista de táxi só para exercer meu papel de grande sujeito. Mas a Pri tem dessas coisas, o que ela escreve ou diz sempre tem efeito.
Um dia, ela disse, "Estou indo para Paris". Ia para lá, com a coragem que eu nunca tive. "Vou tentar viver lá", disse a Pri. Me contou que trabalhou para uma senhora de 70 anos como dama de companhia, e que em Paris "virou clubber". E ela conta essas coisas com um misto de doce escárnio e seriedade. Diz "virei clubber" com a leveza de quem pode dizer o contrário no minuto seguinte. Bom, vocês já perceberam que a Pri voltou de Paris, depois de passar muitos meses. A gente se comunicava bastante, pelo menos uma vez por semana.
Dia desses, eu estava lamentando sobre meu fim de namoro pelo ICQ, com ela, e resolvi ligar para ela ao invés de ficar fazendo clic clac nesse teclado. Foi um choque - além de ser essa pessoinha deliciosa no que ela escreve e sente, Pri ainda tem um sotaque simplesmente maravilhoso, divino, espetacular. Quase fiz a piadinha idiota de sempre com os paranaenses, que é mandar falar "leite quente" - seria muito prazeiroso ouví-la fala isso. Mas preferi deixar quieto.
Ela, a Pri, sempre às voltas com meninos parecidos com o Ethan Hawke (brincadeirinha, é que ela me falou que curte esse tipo), me contou que talvez venha para o Rio, para um trabalho temporário. Eu pedi a ela, "puxa, Pri, você podia vir trazendo alguém, um namorado, senão vou me apaixonar por você, vai ser muito problemático", e ela disse que só dá dor de cabeça. Passei a chamá-la de aspirina - e ela ri, ela ri de tudo o que é sem graça que eu falo. Ela disse que provavelmente vem sozinha ao Rio - como foi sozinha para Paris, como voltou sozinha da França.
Priscilla Deslandes Foggiato é uma criatura quase alada, que voa melhor sozinha. Espero que ela nunca se conscientize disso, senão vai recusar meu pedido de casamento. Mas se recusar de qualquer maneira, não tem problema. Iremos juntos a Hollywood, por terra, bebendo tequila e ouvindo Carole King, e ao chegarmos lá procurarei o Ethan Hawke - e voltarei sozinho.