23 fevereiro, 2006

I can´t get no (Sair deste túnel) - Parte 3


Meu primeiro disco dos Stones foi mesmo o Tatoo You. Hesitei na época, entre meus Leds Zeppelin e Deeps Purples de uma puberdade espinhenta e retraída, entre discos mais antigos dos Stones e o “novo”. Optei pelo novo. A mente viaja pelo túnel do tempo, vai até a Gabriela Discos, no Rio Sul, onde hoje em frente à Viena existe uma caríssima New Disc, onde neguinho acha absolutamente normal cobrar 50 reais em um CD simples. Mas lá havia a Gabriela, eu e o meu pai lá, me lembro dele comprar coisas para ele também, e eu saí com o Tatto You na mão. Os acordes de “Start me up” eram mais do que manjados, tocavam mais do que “Festa no Apê” ano passado. Aliás, muito mais. Mas a experiência com a pancadaria que se seguiu, e o prazer de virar o lado do disco (meninos mais novos, vocês não sabem o quanto é interessante ouvir um disco assim, com dois lados) e dar de cara com a terna “Worried about you”, passar voando pela “Tops”, enfim, viajar na “Heaven”, dar de cara com a crosbistilandnashesca “No use in crying” e finalmente desembocar em uma das mais lindas músicas de toda a história da humanidade: “Waiting on a friend”.
Não, isso não poderia ter acontecido com um moleque de 14 anos, com problemas de acne, mais baixo que a maioria dos outros de sua idade, com milhares de paixões reprimidas e complexos. A porra do rock and roll apareceu para me salvar e ser minha ruína. Tatto you.
Dois anos depois, veio um domingo de janeiro em que faltei a um importante enterro – o do cara que tinha comprado o Tatoo You para mim. Naquela tarde/noite, ouvi na Rádio Fluminense FM o programa “Satisfaction”, e se alguém tiver aquele tape eu compro. Difícil escrever sobre esses assuntos sem ir e voltar várias vezes no tempo, mas o fato é que duas décadas depois vi o personagem Rob Gordon, vivido por John Cusack, citar “You can´t always get what you want” como uma das “cinco melhores músicas para enterro”. E me toquei da parada – naquela tarde de janeiro, ouvindo o programa “Satisfaction”, aquele coro de vozes se ergueu, as cordas do violão se deixaram acariciar, e aquele estranho instrumento que só posso classificar como uma trompa anunciou um clima de deserto. Era a própria, Jagger cantando com boca de sapo e alma de príncipe, coachando horrivelmente e sem desafinar um suspiro sequer, até a aceleração da música e o ataque final, venenoso. Mais filho da puta do que nunca – você não pode ter tudo o que você quer, mas se você tentar algumas vezes, obtém até mais do que precisa, berrava Michael Philip Jagger, como em um esporro à geração do Flower Power. Mas ali eu era só um garoto que tinha perdido o pai – e estava longe do enterro, por opção própria. Ali, naquele momento, tive uma das piores notícias do dia: a de que os Stones existiam e que, por causa disso, justamente disso, a minha vida iria continuar.
Thank you for your wine, Califórnia.

2 Comments:

At fevereiro 05, 2007 12:38 AM, Anonymous Anônimo said...

Excellent, love it! Laser tattoo removal peville

 
At fevereiro 21, 2007 9:55 AM, Anonymous Anônimo said...

Where did you find it? Interesting read »

 

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