19 janeiro, 2006

Bem-vindo ao Hotel Califórnia

Tem uma coisa não ficou clara no texto abaixo e é necessário esclarecer: tanto a Ana Carolina quanto Seu Jorge (excelente ator) e Simone são artistas que merecem respeito. Se por acaso alguém acha Simone meio melosa demais, é só ouvir o ótimo Ao Vivo no Canecão, que tem versões de músicas batidas ("Maria, Maria", "Caminhando (pra não dizer que não falei de flores)") em que ela demonstra incrível raça. Só achei que eles todos foram egoístas ao fazer a versão do Damien, pensaram mais na própria vendagem do que em preservar um belíssimo som. Nenhum dos três artistas efetivamente está lotando minha prateleira (tenho o Estampado, da Ana, e esse do Canecão, da Simone) e não sairia de casa para ver nenhum dos três shows - a menos que de graça. Mas gosto do Seu Jorge em "Cidade de Deus", e acho que é um cara que poderia facilmente comandar qualquer roda de samba por aí - se eu fosse executivo da Skol ou da Brahma, contrataria o cara para um programa itinerante de rodas de samba. Garanto que nunca ninguém venderia tanta cerveja.
O que ocorre é que, para mim, para uma versão em português de música estrangeira ser considerada "Boa", ela tem de fazer o ouvinte ignorar que é versão. Como acontece com "Minha História", de Chico Buarque (Ele vinha sem muita conversa/Sem muito explicar/Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar), versão da italiana Gesubambino.
Quem conhece um mínimo de prosódia percebe em poucos segundos quando está ouvindo uma versão. É aquele momento em que o sujeito "encaixa" uma sílaba, força uma rima - muitos leitores (da versão do texto no Globo On, claro) reclamaram que eu errei o verso, na verdade é "o vendedor de flores/ensinar SEUS (e não NOSSOS) filhos/a escolher seus amores". Ficaram arrepiados com a rima de flores com amores? Eu não.
Se eu jamais tivesse ouvido "Blower´s Daughter" na vida, eu saberia que é uma versão de música estrangeira por causa deste verso. Ninguém mais rima flores com amores assim, só para dizer alguma coisa. Tá na cara que é forçação de barra. É quase como rimar vudu com jacu, como fez certa vez nosso grande artista Woody Woodpecker.
Os Emmersons Nogueiras da vida estão simplesmente fazendo o que na década de 70 e 80 se fazia para comer gente (quando o cara não é muito bonito): tocando violão na mesinha do bar. Hoje, na era do Ipod e da música eletrônica, violão significa "A praga de seis cordas". Ainda toco, mas só quando não tem ninguém olhando.
Só que Emmerson Nogueira toca a versão original - ele que não se meta a transformar a história de assombração de "Hotel California" em alguma coisa melosa. Imaginem (no ritmo da música, o refrão): "Bem-vindo então ao Hotel Califóóórnia/Onde eu te quis/Onde eu te amei" em vez da ironia dos versos originais.
É por aí: fazer uma coisa dessas seria como arrancar a melodia dos Eagles deixando a raiz na terra. O clima post-mortem é indispensável, oras.
Agora, posso garantir que se Seu Jorge ou Ana Carolina (ou ambos) resolverem, em seus shows, dar uma de Emmerson Nogueira e cantarem "Blower´s Daughter" em inglês, muito mais que a metade da platéia vai se emocionar. Meu pensamento é colonizado? De jeito nenhum. Apenas creio que há ritmos e melodias que se adequam com absoluta perfeição à nossa forma de falar. O samba, o ritmo "bolerado' de algumas MPBs, a bossa nova, o afrikan samba, o forró, não tem jeito, É NOSSO. O blues, o rag-time, o folk, o country, É DELES. O rock é de todo mundo mesmo, se não fosse assim Festa de Arromba incluiria na letra um monte de críticos vomitando.
Imaginem estas versões (não é difícil imaginar que músicas são):
1-"Tem alguém/Com certeza/Que tem jóias que brilham/E procura a escada pro cé-éu"
2-"Boa noite/Agora é hora de partir/Ele fala, bem rapidinho: "Somos sultões/Somos sultões do su-ingue"
3- "Eu não queroooo Edu-caçããõ/Eu não quero/Alienaçã-ão/Sem sarcamo/na minha turma/Tiozinho, deixa a gente estudaarrr/hei, tiozinho! Deixa eu estudar!!/Afinal isso vai ser/um paredão pra passar"
4- Vejaa que estraanho/istú que eu sin-in-to/Estou com você e sei/que nunca minto/Não tenho dinheiro/pra ser feli-iz/Alugo um apê-ê-ê/como sempre quis/"

Se ninguém captou as versões, seguem as respostas no final do texto, duas linhas abaixo. Mas só queria deixar bem claro - Seu Jorge, Ana Carolina e Simone (e, me parece, Zélia Duncan), meus respeitos e aplausos. Só não criem este hábito, por favor. Se versão fosse necessidade, dublariam a Marseillese.
Ah, lá vai: 1-Stairway to heaven, Led Zeppelin, 2-Sultans of swing, Dire Straits, 3- Another brick on the wall, Pink Floyd, 4- Your Song (Elton John).

2 Comments:

At agosto 01, 2007 1:29 PM, Anonymous Anônimo said...

ta ruim de traduçao eim? =p

 
At dezembro 05, 2008 4:02 AM, Anonymous Anônimo said...

concordo

 

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