12 março, 2002

Política

Houve uma época em que eu adorava ler sobre política, discutir, comentar. Mais precisamente, em 1989. Eu tinha, então, 16 anos e estava tendo a honra de votar, junto com meus pais, no primeiro Presidente da República eleito por voto direto após 25 anos de ditadura militar. Isso me inflava de um orgulho bobo. Influenciada pela minha mãe, uma brizolista convicta e convincente, juntei-me à legião de amigos, vizinhos e partidários fanáticos dos núcleos pedetistas numa campanha emocionante por vários lugares nunca visitados por mim e onde jamais pensei em ir. Eu estava munida de uma esperança contente e ingênua, exibida com orgulho simbólico pelo lenço vermelho amarrado no pescoço. Eu queria soltar aquele "não rotundo" que eu também "trazia dentro do peito" quando ouvia, pequena, as conversas dos meus pais sem entender direito até o nome do Presidente.
Mas veio o Collor de Mello com seus monte de "eles". E, com "elle", a Zélia e o confisco do pouco dinheiro que minha mãe tinha. Com isso, a minha revolta. Me lembro ainda com raiva de uma fila de cento e tantas pessoas na Caixa Econômica Federal, eu incluída, tentando salvar o que pudesse do suado dinheiro.
Não sei bem o que aconteceu, mas tenho a impressão de que a chamada "esquerda brasileira" morreu lá, naquele ano de 1990. Porque depois dali a sensação que me passa é a de que a espera foi em vão. Todos os que há alguns anos argumentavam empolgados, hoje limitam-se a reclamar feito velhos em filas de banco, só por reclamar, esmagados por um processo de anestesia global, para entrar "ao pé da letra" no termo.
Eu, como nunca soube falar de política, se me atrevo hoje é porque já quase ninguém fala. Não, não é verdade. Eu é que não falo. Acontece que eu li a coluna da Dora Kramer, no Jornal do Brasil de ontem e confesso: há tempos não lia. O assunto em pauta é Roseana Sarney, desvio de verba, corrupção, tráfico de influência. A filha do ex-presidente que apoiou a ditadura precisou de um escândalo pra não ser eleita. Antes tarde do que nunca. Que bom. Eu ia falar mal da imprensa, mas desisti. Deixa pra lá, eu vou continuar lendo, falando, reclamando e comentando mesmo.