11 março, 2002

Poesia

Querido André Machado, lembrei de você:

Não há vagas - Ferreira Gullar
O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema
o gás, a luz, o telefone,
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras.

- porque o poema, senhores,
está fechado: “não há vagas”.

Só cabe no poema
o homem sem estômago,
a mulher de nuvens,
a fruta sem preço.
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.