08 março, 2002

Sorrindo

Adoro pessoas que riem com simplicidade e simpatia. A moça ainda não havia entrado no elevador e, desde o primeiro momento, sorria. Primeiro, com a sobrancelha e os olhos, a única parte visível do seu rosto através da janelinha da porta quando o elevador parou no quinto andar, antes dela entrar. Eu vinha do décimo andar, com o elevador parando pacientemente em todos os pavimentos. Uma senhora com sandálias de enormes margaridas entrou no sétimo; uma mulher de óculos e calças cáqui entrou no sexto e a moça sorridente, em seguida. Um elevador de mulheres num prédio comercial. A senhora tinha os cabelos pintados de ruivo, de uma cor forte, e ela toda exibia uma aparência rude quebrada apenas pelas sandálias com enormes margaridas de cor amarela.
A moça de óculos saltou no terceiro andar, mas logo foi substituída por uma outra mulher, também uma senhora, um pouco gorda, de cabelos encaracolados e vestindo um conjunto de estampas azul e branco. Precisei sair do elevador para compor a cena da substituição, ato que rendeu novo sorriso da moça que entrou no quinto andar. Cumprimentamo-nos, cúmplices, como se nos conhecêssemos desde a infância. Naqueles curtos minutos em que estávamos encaixotadas entre quatro paredes cinza metálicas sabíamos que não seríamos as mesmas quando a porta automática se abrisse no térreo e fôssemos para as nossas vidas e virássemos apenas uma lembrança de alguém que, simplesmente, sorriu.