02 março, 2002

Mulheres que um dia amamos - 9
Priscila Foggiato
Eu fazia parte da lista do Staff do Falaê, recebendo uma média de cem mensagens por dia, e 50 eram de um só cara, chato demais, que insistia em responder a tudo que era mandado pela lista. Às vezes ele mandava só um "ha", e assim enchia a caixa postal alheia sem o menor resquício de educação. Fora isso, a lista era movimentada pacas, tinha muita discussão, às vezes gerava (ainda gera) pautas, às vezes tudo caía no vazio. Eu só pedi ao grande amigo Augusto Sales a minha retirada porque o cara chato além de tudo era exibido, enchia muito meu saco.
Só que no meio disso tudo, desses debates, dessas discussões, muito raramente surgia uma mensagem sempre bacana, com uma ponderação certeira, um sorriso para todos da lista e uma inteligência até superior ao que estava sendo debatido. E era uma mulher - eu sou hormonalmente afetado com mulheres de vivacidade, deve ser o meu subconsciente que quer gerar um filho inteligente e procura uma moça idem - já que o pai não é lá essas coisas e resolveu ser jornalista.
O nome dessa mulher é Priscilla, um nome lindo, e os sobrenomes mais ainda: Priscilla Deslandes Foggiato. Eu definiria a Pri - como nós a chamamos - como uma menina tão bacana que, se a gente não conseguir namorar ou casar com ela (por rejeição dela, claro), tem a obrigação moral de, no mínimo, apresentar algum outro sujeito para ela.
Passei a trocar mensagens com a Pri, e ela insistindo em me chamar de "Gustavão". E eu falando, "pô, Pri, tenho 1,60m, não posso usar aumentativo". E ela, com a delicadeza que só uma curitibana poderia ter, mandava, "ah, é porque eu te acho um grande sujeito". Eu passava uns três dias completamente envaidecido com isso - chegava a deixar troco de dois reais para motorista de táxi só para exercer meu papel de grande sujeito. Mas a Pri tem dessas coisas, o que ela escreve ou diz sempre tem efeito.
Um dia, ela disse, "Estou indo para Paris". Ia para lá, com a coragem que eu nunca tive. "Vou tentar viver lá", disse a Pri. Me contou que trabalhou para uma senhora de 70 anos como dama de companhia, e que em Paris "virou clubber". E ela conta essas coisas com um misto de doce escárnio e seriedade. Diz "virei clubber" com a leveza de quem pode dizer o contrário no minuto seguinte. Bom, vocês já perceberam que a Pri voltou de Paris, depois de passar muitos meses. A gente se comunicava bastante, pelo menos uma vez por semana.
Dia desses, eu estava lamentando sobre meu fim de namoro pelo ICQ, com ela, e resolvi ligar para ela ao invés de ficar fazendo clic clac nesse teclado. Foi um choque - além de ser essa pessoinha deliciosa no que ela escreve e sente, Pri ainda tem um sotaque simplesmente maravilhoso, divino, espetacular. Quase fiz a piadinha idiota de sempre com os paranaenses, que é mandar falar "leite quente" - seria muito prazeiroso ouví-la fala isso. Mas preferi deixar quieto.
Ela, a Pri, sempre às voltas com meninos parecidos com o Ethan Hawke (brincadeirinha, é que ela me falou que curte esse tipo), me contou que talvez venha para o Rio, para um trabalho temporário. Eu pedi a ela, "puxa, Pri, você podia vir trazendo alguém, um namorado, senão vou me apaixonar por você, vai ser muito problemático", e ela disse que só dá dor de cabeça. Passei a chamá-la de aspirina - e ela ri, ela ri de tudo o que é sem graça que eu falo. Ela disse que provavelmente vem sozinha ao Rio - como foi sozinha para Paris, como voltou sozinha da França.
Priscilla Deslandes Foggiato é uma criatura quase alada, que voa melhor sozinha. Espero que ela nunca se conscientize disso, senão vai recusar meu pedido de casamento. Mas se recusar de qualquer maneira, não tem problema. Iremos juntos a Hollywood, por terra, bebendo tequila e ouvindo Carole King, e ao chegarmos lá procurarei o Ethan Hawke - e voltarei sozinho.

1 Comments:

At julho 24, 2007 3:25 AM, Anonymous Anônimo said...

É meu amigo... essa menina fez um estrago na minha vida!! Mas hj eu estou curado, porém com algumas cicatrizes que volta e meia resolvem abrir!
Um abraço...

 

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