26 fevereiro, 2002

Teste de fidelidade

São duas horas da manhã. E eu nem sabia. A insônia veio como quem não quer nada e quando me dei conta estava vendo televisão, mudando de canal, buscando filmes ou programas diferentes, tentando apaziguar este estado de alerta, quando eis que me deparo com um programa do João Kleber chamado “Teste de Fidelidade”. Bom, todo mundo já deve ter ouvido falar nesse tal programa, menos eu, que assisto muito pouco televisão e também não li nada sobre isso nos jornais (me sinto obrigada a explicar por que assisto pouco televisão: simplesmente porque os canais têm uma péssima imagem aqui em casa e me irrita ter que brigar com a antena e com os chiados. Ou seja, não é aversão pelo veículo ou pelos horrendos programas que passam, como esse que calhou de eu ver justamente porque era o melhor canal sintonizado, é um problema de antena mesmo, que lembra tv a cabo e se eu continuar descambará na minha falta de dinheiro que, aí, já será um outro assunto).
Um homem baixo, de cabelos raspados, senta-se para uma entrevista de emprego. A entrevistadora é uma mulher loura, com um decote sensual e muito bonita. A mulher começa a seduzir o cara, elogia daqui, elogia dali, convida o cara para tomar um suco, coloca as pernas por cima das pernas dele, tudo isso sob o olhar da namorada que está no auditório, ao lado do João Kleber. Alguém sabe se é possível rir para dentro? Pois o cara ria para dentro, tímido, diminuído na frente da loura. Ai ai.
Depois, um carioca de 21 anos, simpático, que tem uma namorada em São Paulo, uma mulher de 34 anos. O cara diz com lágrimas nos olhos que é apaixonado por ela. A mesma cena se repete, ao avesso: a mulher procura emprego e é entrevistada por um homem nada atraente e daqui a pouco está sentada em um bar com ele e fala algumas coisas tipo “meu namorado é um chato, pergunta tudo” e o menino lá, escutando. E João Kleber pergunta: "vai querer ver até o final? tem cenas pesadas!".
Mas no final todos dizem "eu te amo".
Eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo. Eu te amo? Eu te amo? Eu te amo? Não soube o que pensei.
Agora são duas horas da tarde. Há quanto tempo eu não digo: eu te amo.