O retorno
Que delícia de segunda-feira! Que maravilha de fila que eu acabei de enfrentar no SUS – é, no SUS, aquele Sistema Único de Saúde exclusivo para pobres que ficam duas horas, no mínimo, esperando para receber remédios gratuitos e eu nem cogitei reclamar. Ora, é de graça, que benção, que governo bom! puxa, minha mãe precisa fazer hemodiálise e tomar estes remédios e sem o SUS seria muito mais complicado. “Eu espero”, pensei conformada, tudo bem. Enquanto isso fiquei lendo um livro de contos do Julio Cotazar que eu comprei ali na esquina da Praça da Cruz Vermelha, ao lado do Hospital do Câncer, por dois reais, pra passar o tempo. Antes, tentei tomar um suco de maracujá, para me acalmar, porque fiquei um pouco revoltada e senti um ódio tão estranho pelo Rio de Janeiro e pelo piscinão de Ramos que, de repente, esse bolo na garganta se estendeu à Praia de Ipanema e ao Túnel Dois Irmãos, à Lagoa Rodrigo de Freitas e a todos os pedestres da Avenida Rio Branco, e também ao calor insuportável, ao verão, e eu quis estar em qualquer lugar que não fosse aqui e percebi que eu sofro de histeria, ih.
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