14 fevereiro, 2002

Sonho triste
Na noite de terça para quarta, tive um sonho terrível e angustiante. Vai parecer lugar-comum quando eu contar, mas tente ler até o fim para ver que não é tão lugar-comum a forma dele.
Os jornais diziam, "Esta é a nossa última edição. O mundo vai acabar, e isso é fato já confirmado". Angustiante, triste, sem saída. Como fugir da morte em um mundo que vai ser totalmente destruído? O tom dos jornais era o mesmo: "Os cientistas mais conhecidos do planeta só conseguiram mesmo chegar à certeza de que tudo vai acabar, e de que todos vão morrer. Mas não conseguiram chegar nem perto de uma solução para isso. É lamentável, mas tudo que podemos recomendar é que todos permaneçam junto das pessoas amadas, dos lugares amados. Não há para onde correr. Todos vão morrer".
Um amigo meu, de convivência próxima, aparece no sonho depois que eu reclamo do tom fatalista dos jornais. Ele diz, "Mas é isso mesmo, cara. Vai acabar, você quer que eles escrevam o quê?". E eu sentia enorme tristeza.
Bizarro do sonho: uma nota dizia que o lateral Arce, do Palmeiras, já tinha se matado, para antecipar seu fim. Mas não havia nada de alarmante no tom da nota, era como alguém dizendo que um amigo resolveu ir mais cedo para algum lugar.
O sonho seguia com manchas, imagens, sensações de tristeza. Me lembro de ter ficado estranho por não ter tido filhos - nem triste nem alegre. Pensei em ex-namoradas, pensei no grande amor da minha vida e de como eu gostaria de estar segurando a mão dela no momento final.
No sonho, começava a pensar na sensação da morte, que eu iria certamente experimentar em poucas horas. Vinha minha mãe chorando, meu irmão passando de um lado para o outro. Pensava em meu pai, e pensava se haveria algo além, uma vida após, se a mente continuava.
Em todo o mundo, os valores mudavam, o dinheiro perdia, os pertences não valiam mais nada, só se queria despedida, um último beijo, um abraço. Ninguém brigava por um salva-vidas, pois era sabido que não haveria como se salvar. Todos ficavam em seus lugares, e uma nova corrente de amor surgia, como nunca tinha surgido igual - pela primeira vez, a humanidade toda tomava consciência da mortalidade ao mesmo tempo. O perdão, a paz, os valores espirituais mais nobres, venciam, na iminência da morte do corpo.
Subitamente, o céu límpido e azul visto da janela do meu quarto dava uma piscada, um flash, como uma lâmpada queimando, e tudo escurecia, enquanto se ouvia o côro de simplesmente toda a humanidade gritando de horror, com a chegada da hora. No escuro, ouvi minha mãe gritando, pedindo para eu ir para junto deles, pois o fim chegara. E todos nós, familiares, nos abraçávamos.
Nisso, acordei.
E a morte, deitada ao meu lado na minha cama, ainda dormia. Até um dia qualquer.