09 fevereiro, 2002

Motherland e a sutil desesperança
Comentei alguns posts abaixo sobre o novo disco de Nathalie Merchant, uma das minhas cantoras preferidas. Chama-se "Motherland", e somente depois de ter escrito o post é que fui prestar atenção na música que dá nome ao CD, para mim a mais bonita canção que ouvi nos últimos dois anos. Digo, das que nunca tinha ouvido antes.
Ainda não li a letra, mas o inglês de Nat é bem falado, claro, e a voz límpida que ela tem ajuda muito - dá para entender que "Motherland" é mais que uma canção de amor, é uma canção do amor no escuro. Nathalie pede que lhe dêem a mão, que não a deixem, enfim, essas coisas que tem todo bom cancioneiro americano folk, mas na voz dela e com um suave bandoneon ao fundo ganham uma dramaticidade, uma intensidade que não chega a ser um choro - e sim um choro contido, desses que a gente segura para que as lágrimas não nos embacem os olhos e atrapalhem a visão que a gente tem de uma última paisagem.
Nathalie parece se assumir como desesperada, frágil, em busca de respostas, em um mundo onde o desenvolvimento tecno-financeiro transformou todo o resto em andróides. Todo mundo hoje tem email, tem celular, tem 30 anos, tem carro, tem emprego e é bem resolvido. Nathalie Merchante, no entanto, continua cantando o mesmo desespero dos tempos em que andar sem ficha de orelhão no bolso era fatal.
"Motherland" não é uma música para quem é completamente feliz - até porque quem diz uma coisa dessas, no mundo em que vivemos, não pode estar com os sentidos alertas. Que viva a alienação assumida, então.
"Motherland" é uma música de fim com tentativa de recomeço, é uma contemplação de um dia ruim que termina. O sentimento que ela transmite ao cantar os versos "Keep me safe/Lie with me/Stay beside me don´t go" é aquele que se tem quando, enfim, a gente percebe que nem tudo nesses anos todos saiu exatamente como a gente queria e sonhava, e o que resta é pedir a alguém que não saia de perto, pelo menos agora, pelo menos enquanto essa maré não passar.
Enfim, é uma música para levar na cabeça durante a viagem de ônibus na cidade chuvosa, para manter na cabeça no trabalho, e assoviar no banheiro. Cedo ou tarde aposto como algum espertinho vai utilizar "Motherland" como trilha sonora de novela. Mas mesmo assim eu vou continuar sentindo as mesmas coisas - ah, piada. Nunca se sente as mesmas coisas.
Parece que é isso o que Nathalie quer dizer o tempo todo com sua voz de Serenata de Amor.