06 fevereiro, 2002

Até a falta de assunto rende uma poesia

Todos estão trabalhando como nunca e ganhando como sempre. Nem todos estão trabalhando como nunca e ganhando como sempre. É. Estou sem assunto para escrever. Nem mesmo sei porque estou insistindo. O Gustavo está ocupado e, pelo visto, abandonou geral (ele vai revidar, querem apostar?). E eu que estou no ócio - ou quase - pouco consigo criar, o que é uma pena.
Que tal uma poesia? Fernando Pessoa, estou lendo agora. Drummond? Cecilia? Castro? Que nomes terão? Li num blog que não lembro de quem, só sei que era de uma mulher, menina, moça, enfim, sei lá, e ela dizia com muita rispidez que detesta poesia. Achei interessante ela dizer isso, assim, na bucha. Embora tenha faltado mostrar o pau dessa cobra morta.
"D-e-t-e-s-t-o poesia", ela disse. Acrescentou que não tinha paciência pra ler porque umas eram muito piegas (pelo visto não acha piegas a palavra "piegas", mas eu acho) e melosas demais. Amaldiçoou os versos açucarados e o romantismo exacerbado. Confesso que me tocou, ler assim, com todas as letras, essa declaração. E eu nem a conheço! Aliás, acho que não vou conhecê-la, mas a considero uma corajosa. Porque não acredito que alguém se liberte assim, de modo tranqüilo e desprendido, de uma poesia. Melhor: de uma boa poesia. A menos que nunca tenha lido uma só que valesse a pena na vida. Pode ser apenas questão de gosto, o que me colocaria numa posição constrangedora de não ter absolutamente n-a-d-a a ver com isso. Mas então, por que "carambas" eu tenho que me espantar e me tocar com isso? Já sei. Mas não vou contar. Sorry. (Queria dizer, apesar de tudo, que é mais fácil declarar que detesta-se o que todos detestam e, por isso, elogiá-la, mas é que justo agora lembrei de um verso).