05 fevereiro, 2002

Calendários e otimismo

No início do ano, ganho sempre várias agendas e calendários. Ganhei um calendário com dizeres. Por exemplo, para o mês de fevereiro lê-se a frase: “Existirá sempre um sol brilhando e um céu azul capazes de nos mostrar o brilho do caminho a seguir”, de autoria de Valdete Poli, que não faço a menor idéia de quem seja, e não me chamem de ignorante, por favor, se não eu zango. Essa frase se parece com xuxu cozido, ou seja, não tem gosto de nada.
Outra, do mês passado: “Cada novo dia é um descobrimento para crer que vale a pena viver”. Muito otimista esta frase, mas já me disseram que eu sou prática demais. Sou mesmo. Me perguntaram, uma vez: “Há um copo. Ele está pela metade. Você diria que ele está “meio cheio” ou “meio vazio”?”. Com esta besteirada, queriam avaliar meu otimismo. Eu respondi: "ué, está pela metade". Concordo que fui antipática.
Não dá para aturar esse monte de frases de ensinamentos de como viver melhor. Para quê? Para comprar os livros de auto-ajuda que tanto me fizeram rir dias atrás aqui nesse blog e acreditar que amanhã será um dia azul de sol brilhando e que tudo melhorará? E se chover? Eu aguardarei sentada na minha cadeira de praia o dia em que o sol me mostrará o tal do caminho e, até lá, ficarei paciente e tranquila, confiando no poder de Deus e do meu destino? Ahã.
Aí vem o Cardeal Suenens, outro ilustre desconhecido, e doutrina para o mês de março... tchan tchan tchan...”Felizes os que sonham sonhos e estão dispostos a pagar o preço de torná-los realidade”. Não, não vou ler mês a mês de jeito nenhum. Chega. Gostaria que essa minha descrença se diluísse nessas frases cheias de sóis, de sonhos e de azuis, sem que eu precisasse ler. De repente, eu só quero tornar-me disposta e atenta ao que vivo, simplesmente. Sem frases e sem maiores expectativas.
Porque, pensando bem, ainda faltam 23 dias pro final do mês...quantos dias azuis ainda terei! Oba.