20 fevereiro, 2002

A triste história de seu Arlindo e D. Laura

Seu Arlindo era um sujeito gordo, com jeito de matuto mineiro, daqueles que comem capim na beira da estrada e olham a vaca pastar, sem pensar demais. Mas não era, não. Era um sergipano radicado no Rio que, agora, além de gordo, estava meio careca. Com todo este perfil, para piorar, ainda foi à falência no negócio de criar avestruzes que montou com um sócio picareta. Ninguém sabe bem o que aconteceu, mas como para qualquer empreendimento malogrado a culpa do desastre é sempre do sócio... "Ele me roubou", dizia Seu Arlindo. E penhorou as jóias da esposa recém falecida, vendeu o carro do ano, a casa em Geribá, demitiu os empregados, já não colocava cloro na piscina, nem ligava a sauna. Até o relógio suíço, herança do pai, vendeu. Sozinho e à bancarrota, logo ficou sem os amigos que julgava ter nem ter onde morar. Foi então que, ao pobre homem, restou apenas um aliado: Seu Baltazar. Este sim, homem de respeito, sabia levar a vida e os negócios, sempre sorrindo, ao lado de sua espivitada esposa, Dona Nininha, uma mulher arretada e de personalidade forte. Seu Baltazar ofereceu-lhe uma oportunidade de ouro: uma casa espaçosa, com quintal, piscina, nada muito exuberante, mas dispondo de conforto, por um módico preço, para que Seu Arlindo sanasse suas dívidas.
Grato e quase à beira do choro, Seu Arlindo mudou-se. Lá, além de uma casa mobiliada, encontrou um casal de caseiros para ajudá-lo por igual qualidade de preço, ou seja, irrisório. E com um agravante: a esposa do caseiro era muito atraente. Não demorou dois meses para que o desafortunado marido a encontrasse aos beijos e abraços na cama do patrão. Se um casamento acabara desfeito; novo par sentava-se à mesa do café da manhã.
D. Nininha comentou desconfiada com o marido sobre as intenções daquela mulher, de seus vinte e poucos anos, pois Seu Arlindo era homem mais velho, curtido e, como não bastasse, desprovido de qualquer charme.
Uma vez que a tal história não tem pé nem cabeça, como se diz, vou terminá-la assim mesmo, de bermudas e chinelo, num churrasco ao meio-dia, promovido pelo casal Seu Arlindo e Dona ...como é mesmo o nome dela?, quando do alto de seu 1m63cm, D.Nininha "subiu nas tamancas" depois de ter sido ultrajada pela Dona...? na frente de todos os amigos e disparou a tal história, ilustrando com palavrões cabíveis, xingamentos de "vagabunda", choro, dedos em riste, burburinho, e que caiu sobre os ouvidos inocentes de todos os convidados como uma bomba, uma cena de novela. Todos se retiraram, com boa vontade, de uma residência cuja arrogância era, agora, a patroa.