19 fevereiro, 2002

Texto-ensadecido-doído-moído-ido-contornando

Sabia que era perigoso falar sobre o assunto, ainda tão vivo. Era uma descoberta quase explosiva e feliz. Quis usar palavras, mas não as encontrou sublimes como pretendia. Porque assim precisavam ser para que expressassem com dignidade a lua daqueles humores. Era vontade esparsa de viver.
Comera alguma fruta para amenizar a ansiedade. Sentiu-se liberta do porto de seus conhecidos e rotineiros sentimentos. Alargou-se. Mesmo assim, imaginou uma briga inexistente. Mas ao longe, bem ao longe, ouviu um rugido de uma porta batendo fortemente. Tampou os ouvidos, fechou os olhos e deixou aquele beijo urgente escapar. Não ouviu mais nada. Os olhos ficaram secos, o coração acelerado, as mãos um pouco trêmulas.
Refez uma palavra-cruzada jogada no porta-revistas no canto da sala. Ouviu um bêbado cantando uma bela canção. Dormiu embriagada pelo vento molhado da madrugada que era o que ainda restava de beleza naquele dia.