30 março, 2004

B.B.
Já está lá no Paralelos.org o texto com minhas impressões sobre o grande momento de 2004 até agora - o show do Blues Boy King.
Aliás, falando nisso, por que ninguém ainda processou a Tim por terem anunciado o Celso Blues Boy na abertura sem que o mesmo sequer fosse contratado? E todo mundo que pagou ingresso, como fica?

23 março, 2004

Programa suspenso
O Cidade do Blues recebeu o terceiro cartão amarelo e cumpre suspensão de duas a três semanas. Deve voltar lá pelo meio de abril. Tá dado o recado.

Deixa a grana me levar
A discussão sobre a tal briga do Zeca Pagodinho com a cerveja nova e sua adesão à velha tem sido vista apenas do prisma pessoal – do tipo o interlocutor argumentar com o clássico “se fosse você, você aceitaria”. Me espanta a quantidade de gente que acha “malandro”, “romântico” e “engraçadinho”. Só faltam dizer que o Zeca Pagodinho trocou de comercial de cerveja por amor, e não por dinheiro. Quer dizer, não faltam não. Há quem acredite na reportagem na qual o Nizan afirma peremptoriamente que “o último assunto a ser discutido foi grana”.
É engraçado: todos criticam a falta de fidelidade partidária dos políticos, mas a maioria acha engraçadinho uma pessoa pública romper uma coisa chamada “contrato”, que é o instrumento jurídico para reger relações profissionais perante a sociedade organizada. E romper com prejuízo de imagem para o contratante.
Não faltou gente para atacar o Vanderlei Luxemburgo quando, em pleno campeonato brasileiro de 2002, ele trocou o Palmeiras pelo Cruzeiro. E no futebol, dá para encher estádios com aqueles que, com a boca cheia, proclamam que “falta amor à camisa”, e “os jogadores são mercenários”. Vale o parêntese: ao contrário de pagodeiros que tentam se infiltrar numa coisa chamada “samba de raiz”, os jogadores de futebol têm vida útil curta. Sua carreira dura no máximo 20 anos, em casos raros. Já os pagodeiros, estes podem se transformar até em uma espécie de Buena Vista Anti-Social Clube, com tranquilidade.
Fecho o parêntese: no caso do Zeca Pagodinho e da cerveja, é legal porque é a tal “malandragem carioca”, que na verdade não passa de preguiça e desculpa para falta de educação. Daí ficam bandos de marmanjos achando “lindo” o que fez o Zeca.
Eu iria mais longe: ao dar entrevista em O Globo, ele ainda disparou o slogan da Brahma para, com uma frase de efeito, fazer uma tremenda apologia ao alcoolismo e ao excesso: “Eu só bebo quando estou pensando, só que eu estou pensando o tempo todo”. Bom, isso é menas verdade. Ninguém no mundo de hoje tem condições de pensar o tempo todo, não enquanto houver uma tela de TV ligada no Big Brother. Mas a frase de efeito é similar ao “refresca até pensamento”, da Brahma, e ainda passa a crianças e mais jovens a idéia de que é “cool” beber o tempo todo. E olhem que eu não sou contra isso, pelo menos nos fins de semana. Só que o artista em questão parece pregar a idéia de que é interessante trocar uma vida produtiva por dias e dias seguidos de porre de Brahma.
Enfim, essa é a ética Pagodinho. Já acho engraçado que ele seja excluído do samba dito “mauricinho”, se as letras nem são tão “acima do nível” assim. Volta e meia ele começa a vender mais, aí a intelectualidade o dispensa. Aí caem as vendas e ele volta a ser “de raiz”, esse conceito pentelho de um samba que se pretende ”legítimo”.
O mais engraçado de tudo isso é lembrar dos artigos que o publicitário-Pagodinho escrevia no portal que ele administrava (de um lado, pregava o “Brasil do trabalho e da ética”, de outro demitia funcionários). Na época, era difícil ler aquilo. Hoje, depois da campanha do Serra e da ética-Pagodinho, acho que aqueles artigos descem redondo. Experimenta.


Esporte é saúde
E, ao que parece, também é emprego. Hoje, em O Globo, tem matéria sobre uma discriminação sofrida pelo “secretário-executivo do Ministério dos Esportes”, Orlando Silva. Não, o cantor já morreu. É claro que me lembro do ex-presidente da UNE. Mas não me consta que ele já tivesse trabalhado em qualquer setor da administração esportiva, seja em clube, seja em federação.Engraçado. Ainda bem que no governo Lula não tem esse negócio de negociar cargos, senão eu iria pensar que o cara só está lá porque é do PC do B, que é o partido do ministro, Agnelo Queiroz. Mas, enfim, ele deve ter competência para ser o segundo na hierarquia, senão não estaria lá, né?


Todo Imbecil Merece
O show do B.B. King foi algo de outro mundo, vou escrever melhor sobre ele essa semana mas vou publicar no site Paralelos.org. Mas vale tentar cumprir uma promessa: tentarei não ir mais a eventos que sejam organizados e/ou patrocinados por operadoras de celular. São verdadeiros festivais do deslumbramento. É incrível como tornam tudo fútil.
Para começar, operadora de celular adora uma fila. Fila para entrar, fila para comprar, fila para tirar foto, fila para comprar cerveja, fila para pegar a foto pronta, fila para sair. Depois, operadoras de celular desconhecem o que um público que gosta de música precisa. Daí as cadeiras estarem a uma distância gigantesca do palco, tornando o show do B.B.King quase que uma noite assistindo um bom DVD no telão. De longe, era difícil saber se eu estava vendo o show do B.B.King ou uma apresentação do New York Knicks.
As bebidas são um capítulo à parte: operadoras de celular só admitem vender cerveja em lata por mais de quatro reais. E doses de uísque a dez. Ah,refrigerante em lata é três. Peço um refrigerante e uma cerveja, dou dez reais, o cara me dá os produtos, guarda a nota e diz:
-Thank you.
Sou partidário da tese do Moisés, ex-zagueiro do Vasco, que dizia que até os 10 minutos o juiz não expulsa, portanto o zagueiro tem que entrar de sola no atacante no início senão vai perder o respeito. Por isso, minha resposta não poderia ser outra:
-Thank you é o caralho!
O cara viu que eu não era gringo (sinceramente, não sei como podem achar que um cara do meu tamanho é gringo, afinal, não existem pigmeus brancos) e devolveu DOIS reais em vez de três. Me emputeci novamente, só pelo cara achar que podia cobrar a mais daqueles preços verdadeiramente extorsivos.
-Não fode, porra, é três reais.
Recebi a merda do dinheiro devido.
Na saída, filas para tudo – uma delas para tirar a tal foto-celular-digital-moderna que a gente tirou na entrada. Descubro que a modernidade não evita filas. Em vez de dizer oi para a fila, eu disse tchau, claro. Portanto, olho vivo em eventos de operadoras.

17 março, 2004

Blues Rapaz Rei
Neste sábado, finalmente estarei a poucos metros de Blues Boy King, na fila G do setor azul escuro (ou sei lá o quê, que custou 115 reais). Será um encontro esperado por anos. Na última vez, em 1997, o cara veio ao Metropolitan e por causa de grana, voltei da porta - os únicos ingressos que tinham, se minha memória não me trai, eram caríssimos. Voltei da porta e perdi um showzaço.
Agora, o velho King está com seus 80 anos, meio com o boi na sombra, e deve dar um show curto - mas torço para que ele nos saúde com "we're gonna have a good time tonight", a saudação do cara que está ali para nos fazer passar minutos inesquecíveis, com seu vozeiraço, sua alma incrível e sua guitarra econômica e inconfundível. Sim, o show do B.B. King tem essa marca: se vai para ter bons momentos, emocionantes, se vai para ver o artista - e não por causa de quem tá ali do lado.
E o artista que está ali é um sujeito que tem meio século de carreira, de música, alguém que se aprimorou ao longo dos anos, alguém que já nos deixou, para sempre, obras primas como Guess who ou Darling, you know i love you. O artista que tá lá não é nenhum "DJ inglês" (no meu tempo, não se concebia a idéia de alguém ver um "show de um DJ", a menos que fosse daqueles caras que equilibram copos de tequila em inferninhos), não é um "mago dos botões" da música eletrônica. É um sujeito de carne e osso, que sente a cada dia o manto do fim cobrindo sua vista, que canta o blues, uma música legítima.
Eu só queria ouvir mesmo Guess who e iria feliz para casa. Será uma grande noite, essa com o Blues Boy King.

15 de março
Para mim, o meu sumiço desse pedaço aqui teve uma grande falha: não ter registrado a data do 15 de março com a devida importância - desde 29 de julho de 2002 que o dia se tornou um dos mais importantes do ano para mim. Parabéns, meu amor.

Oi Brother
Confesso que demorei a entender o que é o Oi Noites Cariocas – e ao meu ver, a demora nessa compreensão se deve ao fato de, como criatura crepuscular (royalties para Eduardo Neiva Jr.) que sou, ter ido no antigo Noites Cariocas, casa onde acima de tudo se escutava e via o velho e bom ritmo de Gene Vincent. Sim, o Noites Cariocas era acima de tudo um lugar espetacular, a única boate do mundo com vista para o Rio de Janeiro, e dedicada a shows de rock and roll ou mesmo vídeos espetaculares. Foi lá que vi pela primeira vez o Who Rocks America, provavelmente foi lá que comecei a entender (e ainda não terminei até hoje) Pete Townshend.
Foi lá que vi pela primeira o Let’s Spend the Night Together. Sem comentários adicionais. Vi também Rod Stewart, David Bowie e last but not least, Eurythimics, com Annie Lennox em plena forma – e eu na época odiava.
Fui ao novo Noites no início do ano, com Marcele. Ali senti pesar a diferença de idade. Ao meu lado, minha namorada de 24 anos, linda, achando tudo feliz, agradável, curtindo a noite, a vista, o ambiente, tudo. De cinco em cinco minutos ela olhava para minha cara e dava risada, ou me puxava para dançar, enfim, uma jovem feliz.
Enquanto isso, eu parecia ter 90 anos. Detestando tudo e todos, achando a música-ambiente um lixo, os drinques pavorosos, os sanduíches caros para caráleo e toda aquela gente simplesmente repugnante.
Claro que Marcele estava feliz só por estar ao meu lado. Só que eu, rabugento como um fiscal de rendas, não relaxava. Entramos na gigantesca fila do bondinho para descer de volta, e ficamos assim: atrás de nós, uma dupla de marmanjos marombeiros e com ascendência nordestina. À nossa frente, um bando de oito garotas barulhentas do telemarketing da Oi. Berravam absolutamente o tempo todo.
O diálogo atrás, dos dois homens, era bizarro:
- Mas e aí, que série você tá fazendo para antebraço?
- Ah, eu tenho uma série, mas tou querendo definir peito.
- É? Eu acho melhor definido. Não gosto de peito grande, prefiro definido.
- Pois é, mas você tá bem de braço.
Palavra que fiquei esperando pelo estalar de línguas dos dois machos. À nossa frente, não haviam frases inteiras, apenas pequenos gritos de ordem, como se fosse uma passeata pedindo melhores sandálias grendene. “Ih ó o cara aê”, “Já é” e “Demorô” eram as frases mais longas. As mais curtas deviam ser ideogramas.
Enfim, dois meses se passaram até que eu pudesse entender o que é aquele estranho lugar onde as pessoas deitam (eu, sinceramente, não consigo entender o ato de sair de casa para deitar em um lugar, pois não vejo melhor lugar para fazer isso do que nosso próprio quarto – ou, vá lá, um motel): o Noites atual está para o Big Brother Brasil como o Diagonal Grill está para a Pizzaria Guanabara.
Em suma, aquelas 800 pessoas que sobem todas as noites na verdade queriam entrar na casa do BBB, onde os valores são “corpo”, “influência”, “conhecimento”, “dinheiro” e “peitinhos”. Mas como não havia vagas na casa, foram para o Noites Cariocas. Igualzinho como quando vamos à Guanabara de madrugada, está tudo lotado, e a gente senta no Diagonal Grill.
E, para não dizer que não elogiei em nada o novo Noites Cariocas, fica a ressalva: a pizza do Diagonal é bem melhor do que a da Guanabara. Oi, brother.

01 março, 2004

De folga
Eu já estava quase ligando pra galera do Cidade do Blues para avisar que por causa da gripe e das dores da hérnia eu iria fazer forfait no programa de hoje. Foi quando o Vinícius Sá me ligou dizendo que vai ter muita gente tocando no programa de hoje, ao vivo, e falou para eu me guardar para semana que vem. Maravilha. Estava precisando mesmo.
Portanto, não percam o Cidade do Blues hoje - principalmente porque eu não vou estar lá.