Oi Brother
Confesso que demorei a entender o que é o Oi Noites Cariocas – e ao meu ver, a demora nessa compreensão se deve ao fato de, como criatura crepuscular (royalties para Eduardo Neiva Jr.) que sou, ter ido no antigo Noites Cariocas, casa onde acima de tudo se escutava e via o velho e bom ritmo de Gene Vincent. Sim, o Noites Cariocas era acima de tudo um lugar espetacular, a única boate do mundo com vista para o Rio de Janeiro, e dedicada a shows de rock and roll ou mesmo vídeos espetaculares. Foi lá que vi pela primeira vez o Who Rocks America, provavelmente foi lá que comecei a entender (e ainda não terminei até hoje) Pete Townshend.
Foi lá que vi pela primeira o Let’s Spend the Night Together. Sem comentários adicionais. Vi também Rod Stewart, David Bowie e last but not least, Eurythimics, com Annie Lennox em plena forma – e eu na época odiava.
Fui ao novo Noites no início do ano, com Marcele. Ali senti pesar a diferença de idade. Ao meu lado, minha namorada de 24 anos, linda, achando tudo feliz, agradável, curtindo a noite, a vista, o ambiente, tudo. De cinco em cinco minutos ela olhava para minha cara e dava risada, ou me puxava para dançar, enfim, uma jovem feliz.
Enquanto isso, eu parecia ter 90 anos. Detestando tudo e todos, achando a música-ambiente um lixo, os drinques pavorosos, os sanduíches caros para caráleo e toda aquela gente simplesmente repugnante.
Claro que Marcele estava feliz só por estar ao meu lado. Só que eu, rabugento como um fiscal de rendas, não relaxava. Entramos na gigantesca fila do bondinho para descer de volta, e ficamos assim: atrás de nós, uma dupla de marmanjos marombeiros e com ascendência nordestina. À nossa frente, um bando de oito garotas barulhentas do telemarketing da Oi. Berravam absolutamente o tempo todo.
O diálogo atrás, dos dois homens, era bizarro:
- Mas e aí, que série você tá fazendo para antebraço?
- Ah, eu tenho uma série, mas tou querendo definir peito.
- É? Eu acho melhor definido. Não gosto de peito grande, prefiro definido.
- Pois é, mas você tá bem de braço.
Palavra que fiquei esperando pelo estalar de línguas dos dois machos. À nossa frente, não haviam frases inteiras, apenas pequenos gritos de ordem, como se fosse uma passeata pedindo melhores sandálias grendene. “Ih ó o cara aê”, “Já é” e “Demorô” eram as frases mais longas. As mais curtas deviam ser ideogramas.
Enfim, dois meses se passaram até que eu pudesse entender o que é aquele estranho lugar onde as pessoas deitam (eu, sinceramente, não consigo entender o ato de sair de casa para deitar em um lugar, pois não vejo melhor lugar para fazer isso do que nosso próprio quarto – ou, vá lá, um motel): o Noites atual está para o Big Brother Brasil como o Diagonal Grill está para a Pizzaria Guanabara.
Em suma, aquelas 800 pessoas que sobem todas as noites na verdade queriam entrar na casa do BBB, onde os valores são “corpo”, “influência”, “conhecimento”, “dinheiro” e “peitinhos”. Mas como não havia vagas na casa, foram para o Noites Cariocas. Igualzinho como quando vamos à Guanabara de madrugada, está tudo lotado, e a gente senta no Diagonal Grill.
E, para não dizer que não elogiei em nada o novo Noites Cariocas, fica a ressalva: a pizza do Diagonal é bem melhor do que a da Guanabara. Oi, brother.
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