31 dezembro, 2001

Adeus, 2001
O melhor de 2001
Filme do ano: "15 minutos", com Robert de Niro e Edward Burns
Música do ano: "I´ll take the rain", do novo disco do REM, "Reveal"
CD do ano: Beth Carvalho canta Nélson Cavaquinho empatado com Roberto Carlos
Acústico
Show do ano: Neil Young no Rock in Rio
Festa do ano: Alexandre Lalas, festa-show no Espaço Arpoador
Time do ano: Flamengo, tricampeão e campeão da copa dos campeões, além de ir
para a final da Mercosul
Mala do ano, categoria masculino: Luiz Felipe Scolari
Mala do ano, categoria feminino: Vera Fischer
Loucura do ano: Racionamento de energia do Governo Federal colocar meta do
verão igual a do inverno
Homem de visão do ano: Sílvio Santos
Mulher de visão do ano: Bárbara Paz
Programa de TV do ano: Casa dos Artistas
Site do ano: http://www.darwinawards.com

Livro do ano: O vermelho e o negro, do Ruy Castro
Figuraça do ano: André Gonçalves, o ator maluco do avião
Gol do ano: Petkovic, na final contra o Vasco da Gama
Craque do ano: Romário
Mico do ano: Edmundo Santos Silva, presidente do Flamengo, chorando na CPI

28 dezembro, 2001

Mais festa no início do ano


Dia 2 de janeiro é aniversário da Adriana, minha irmã, e do Gustavo, esse flamenguista que vive me dando bronca e que eu gosto demais da conta apesar desse grande defeito de escolha futebolística. A data é ótima, bem festiva, época de reciclada, de branco, com a impressão de que está tudo novinho em folha, mesmo que seja só impressão já é gostoso.
Vou pensar numa lista de presentes para ele, também.

Ainda o final de ano

O final do ano veio repleto de noites em claro, dessas de amanhecer e os olhos estarem ardendo de sono. Mas 28 de dezembro chega quase filosófico pra mim, bom.


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Chuva de papel

As janelas do prédio em frente ao meu, na Avenida Rio Branco, estão começando a abrir e os papéis já estão começando a cair.


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Ressacas de fim de ano

Último dia útil do ano. Tchau, tchau, até a semana que vem, melhor dizendo, até o ano que vem! Vou passar o reveillon em Angra dos Reis. Às 22h estou entrando no ônibus com a minha amiga de nome havaiano e rezando para a chuva dar um desconto, pelo menos na estrada. Estou curtindo a última ressaca do ano em dia útil, é claro, mas bem de leve, só um sono gostoso e uma certa ansiedade para ir para casa descansar um pouquinho até a hora da viagem e me preparar para enfrentar aquele engarrafamento bacana.
Já separei um livro pra ler no caminho. Quando viajo me distraio, também, pensando na semana passada, no mês passado, no ano passado, nas merdas que eu escrevo e faço e falo, nas linhas que eu gostaria de escrever, nas últimas broncas que levei, numa frase solta. Então, abro a janela e sinto o vento no rosto - só se não estiver engarrafado, lógico - e faço aquela cara de oh! que é bom pra caramba. Talvez hoje eu não possa abrir a janela porque poderá estar chovendo. De carro não tem graça. Só se for a dois.

Breaking news
Alessandra vai viajar, eu vou ficar por aqui. Mas até o dia 3 de janeiro, um dia depois do meu aniversário (quando muita gente vai estar viajando ainda, e nos dois sentidos), esse blog estará funcionando apenas com breaking news, informes extraordinários em cima da hora.
Hoje estarei na Casa da Matriz e amanhã estarei praticando um dos mais nobres esportes: fazer nada.
Um 2002 ótimo para vocês, que justifique a raridade de um palíndromo.
Abraços

Provérbios que salvam
"Para quem está se afogando, jacaré é tronco"
- Marcelo Valença
"Em terra de saci, uma calça dá para dois"
- 26, o frasista
"Boi sonso também abre porteira"
- Marcelo Valença
"Só pago a tabela"
- Tim Maia

Teeeeeeemmmpo esgotaaaaado!!
Reveillon tem sido assim. Sempre a eterna dúvida se estarei de plantão ou não me impede de planejar uma festa. Esse ano não apareceu simplesmente nenhuma. Necas de pitibiriba. Lombrou. Deu pau, chabu. Sujou. Fudeu legal. Melou. Babou. Foi pro vinagre.
"O que não tem remediado, remediado está". A sabedoria deste provérbio parece conformista, mas é de uma objetividade ímpar. Problema: não tem festa. Solução: juntar uns maníacos sem festa, centenas de CDs, garrafas e mais garrafas, ligar o foda-se (aliás, até dia 3 pelo menos o meu foda-se estará em conexão 24 horas, a partir das 22h desta sexta, na Matriz) e virar o ano ouvindo Sam Cooke cantando "Having a party". É isso aí.
E a partir do dia 3, entro na fase definitiva do meu "plano de reestruturação interpessoal", que já iniciei há uns três meses (quem não percebeu, é porque não foi incluído no plano...).

27 dezembro, 2001

Espelho
É bom deixar claro para a arqueira que não estou satirizando o texto dela sobre Narciso. Mas é que, por coincidência, hoje de manhã antes do banho estava tendo o mesmo tipo de reflexão em frente ao espelho. Só que em versão hard core.
1- Olheiras que vêm e vão são as piores. Noites dormidas tarde, dias vividos com dor de cabeça, noites em claro pensando merda ou bebendo todas.
2- Mais acima, no topo da cabeça, cabelos rareando. A calvície ainda não é total, ainda dá para salvar com aquele remédio maluco. Mas cadê que eu encontro tempo para arrumar uma receita? Ligo o foda-se uma vez por dia e salvo pelo menos uns cinco fios.
3- Braços e ombros estão intactos; os tempos de luta de chão ajudaram, o namoro mais longo com uma mulher mais alta do que eu ajudou muito - se é que me entendem. Olho para o peito e vejo mais pêlos do que gostaria, mas nada assim Tony Ramos.
4- A barriga irrompe assustadoramente do corpo, como os invadidos pelo Alien na cena imediatamente anterior ao aparecimento da criatura. No meio do ano estava quase sem barriga, mas calhei de passar 15 dias em São Paulo. Aí, sinceramente, fudeu.
5- Pernas, para que te quero? Continuam grossas, dos tempos do futebol de praia. Mas brancas demais, além de terem perdido a elasticidade completamente. Meus passes de calcanhar talvez não dessem certo. A idade começa a abrir suas asas negras.
6- Os pés. Putz, as unhas estão compridas. Bom, mas pelo menos esse é um problema mais solúvel, mais rápido de resolver. MAS, CACETE, COMO EU VOU ALCANÇAR ESSAS MALDITAS UNHAS DOS PÉS????


4-

Um dia de cão
Chego às cinco da manhã, depois de ter saído do trabalho às nove da noite para um "chopinho de leve", com uns amigos no Don Scracho. Antes de tudo apagar, ainda me lembro de estar discutindo qual o melhor lateral-direito para a Copa. E acabei às quatro da manhã no Fornalha, comendo salgadinho quente com coca-cola. Acordo às onze, recebo um vírus INFERNAL, que manda emails para diversas pessoas, inclusive para a Alessandra. Fico transtornado. E ainda com hora para sair logo, resolver uma porrada de assuntos no jornal.
O problema do vírus parece ter sido resolvido, usei o McAfee e limpei. O que me assusta é que o vírus que peguei, que vem em uma mensagem com assunto em italiano, CONTAMINA SEM QUE SEJA NECESSÁRIO ABRIR A MENSAGEM. Basta aquela selecionada para deletar. E babau.
Para evitar que outras pessoas sejam contaminadas, meu irmão me enviou um bom macete para a gente usar em outlooks. Peguem aí:
"Apos a contaminação por um vírus de e-mail, o mesmo faz com que sejam enviadas mensagens com o próprio vírus a todos cadastrados em seu adress book. Para evitar a disseminação de virus, crie um contato no seu adress book com o nome de !0000.
Apenas isso. Crie um novo contato e em "nome" escreva !0000 e de OK sem endereço de e-mail e etc nos detalhes. Esse contato vai aparecer em primeiro lugar na sua lista de endereços. Se o virus tentar se auto-enviar para todos os enderecos do seu adress book, vai dar erro e seu computador vai colocar uma mensagem de erro dizendo que:
"A mensagem nao pode ser enviada. Um ou mais destinatários nao tem um endereço de e -mail. Favor checar seu Adress Book e tenha a certeza de todos os seus destinatários tem um endereço de e-mail válido".
Basta você clicar em OK e a mensagem ofensiva nao vai ter sido enviada para ninguem, pq travou logo no primeiro endereco do Adress Book e obviamente nenhuma modificação vai ter sido feita na sua lista de contatos
original. O e-mail com virus sera entao automaticamente armazenado na sua pasta "drafts ou Rascunho" ou "outbox". Vá até lá e apague a mensagem, removendo-a depois da lixeira. O problema é resolvido e o virus nao se espalha. Tente esse procedimento e passe para os amigos, e importante ressaltar que isso impede a disseminação do virus, mas nao elimina-o de sua maquina. Portanto, passe sempre um antivírus e mantenha-o atualizado pra se livrar dessas pragas.



Narciso

Agora tenho dois espelhos brilhando na porta de um armário de baixo preço recém comprado. Não havia, até então, nenhum de corpo inteiro para que eu me observasse em casa. Fiquei feliz com a novidade, mais pelo armário que pelo espelho, é verdade. Mas eis que volta e meia paro deslumbrada rindo para mim mesma, narcisicamente, em frente aos espelhos, dando passos a frente e atrás, virando de perfil, abrindo a boca, aproximando os olhos, exatamente como uma “modelo” olhando a câmera, fazendo caras e bocas. Outro dia, cortando cebolas, meu olhos arderam e eu corri para o espelho para me ver chorando mas ri.
De biquíni preto, fiquei linda. De calça de moletom, um horror. Nua, não prestei atenção; lembrei dele. As sobrancelhas grossas e despenteadas, olhei-as de bem perto e não gostei. Estou muito branca, também. Gosto de roupas de frio, blazer, calça jeans, botas de um leve salto alto, elegantes. Um lápis preto nos olhos e batom não. Só para ressaltar os olhos e, quem sabe, ouvir um elogio. Uma roupa cor de terra me caiu bem. O armário tem a sua função e as roupas precisavam ser guardadas. Com as portas abertas, os espelhos miraram olhos primitivos.
O gato não se reconheceu e ouvi seu urro estressado para “aquele outro” que o olhava com insistência. Seu rabo arrepiou-se e ele saltou feroz da cama, caminhou silencioso até si mesmo, no espelho, sem nunca reconhecer-se. Era um outro que insurgia ameaçando seu reinado na casa. E cada vez que o “outro” urrava, mas ele rugia e espreitava. Usou toda a sua linguagem felina para proteger-se e ameaçar a si mesmo. Chegou a tocar-se, bem rápido, depois correu para baixo da cama, ainda sob vigília. Eu ri e me senti obrigada a segurá-lo no colo, posicionando-o olhos nos olhos, patas com patas, gato com gato, até que ele se acalmasse.
Sei que não vai adiantar. Cada vez que ele se deparar consigo mesmo será tão e simplesmente o reconhecimento de “um gato”. Assim deve ter acontecido a Narciso quando se viu pela primeira vez, reconheceu apenas um ser humano. Mas só na primeira vez.

26 dezembro, 2001

Pensando com o copo na mão - 1
Vários pedaços de amor não fazem um inteiro


Diagnóstico
Um rápido exame, para verificação. Vamos ver:
1-Chove pra cacete
2- Tenho que ir trabalhar
3- Estou atrasado
4- Estou com cartão de crédito pesado das compras de Natal
5- Ainda não sei onde passar o reveillon
6- Chove pra cacete e sequer diminui o ritmo da chuva
7- Infelizmente, desejei que aquela mocinha do Espírito Santo me ligasse
8- Infelizmente, ela não ligou
9- Já não sei mais o que sinto em relação a nada
10- O Flamengo não vendeu o Vampeta
Fim do exame. A coisa está grave mesmo. Recomendo a mim mesmo cinco dias de folga - começa sexta, pelo menos isso, começa quando eu colocar som na pista 2 da Matriz.

Algumas notas


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O editor e criador do grande Falaê envia email a todo seu Stafff avisando que em 2002 o site retorna com força total. Augusto Sales disse que finalmente conseguiu recuperar disquetes e becápes que jaziam em algum aeroporto, depois da mudança às pressas para São Paulo.


Aliás, é de Augusto Sales que recebo um email contando que no blog http://voltaaomundo.blogspot.com a diretora da empresa dele, Gabriela Spinardi, relata a viagem que faz com o marido depois de uma belíssima chutada de balde. Vale a pena dar uma olhada, e aos colegas de jornal, aviso que rola até pauta. Os dois deram preferência ao hemisfério sul e estão indo de jipe, pouca grana e muita disposição.


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Natal continua sendo um porre. Agora, uma dica para aqueles que estão de saco cheio do Natal: procurem uma missa para ir. Abrevia o tormento da ceia e é uma boa pausa para reflexão e sentir fé. Fui a uma missa na Igreja de Santo Afonso, na Tijuca, na noite do dia 24, com familiares, e fiquei muito impressionado. Já tinha ido ano passado, mas desta vez a cerimônia estava ainda mais tocante. Vi homens da minha idade ajoelhados aos pés de uma grande cruz com a imagem do Cristo crucificado, orando. Independente de nós mesmos acreditarmos ou não, acho que deveríamos todos apreciar o lirismo de uma fé cega.


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No meio da missa, totalmente interativa, com um padre daqueles carismáticos, toca meu telefone, e eu saio da igreja para atender. Não deu tempo. Vejo o número, e ligo, era Alessandra Archer. Me conta de seu dia e me conta da sua noite. Fiquei feliz com o telefonema, sem dúvida nenhuma.


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Agora, passa o Natal, até sexta estou trabalhando, e uma coisa impressionante: ainda não sei onde vou passar o reveillon. Se tiver alguma sugestão, me escreve, por favor, até sexta estou no jornal.


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Minhas resoluções para 2002 ainda estão no forno, sendo editadas. Mas uma coisa é certa: haverá cortes!


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No mais, continuamos por aqui.

Bichos: A tartaruga

Crianças que éramos, só por esse fato, a tartaruga já se tornava um bicho estranho. Ativos e alegres, olhávamos curiosos aquele animal cascudo e retraído em sua banheira abóbora cercada de alfaces na área do apartamento. Não lembro seu nome . Durante a maior parte do tempo a ignorávamos, ocupados que estávamos em fazer besteira, tais como quebrar janelas de incêndio, promover campeonatos de cuspe à distância, arremessar bolas enormes de jornal da janela do apartamento ao telhado vizinho, escalar as paredes do corredor até o teto feito “meninos-aranha”, sem contar os inúmeros piques e as comidas modernas que enchiam a geladeira então farta da minha infância nos chamando para comer a toda hora.
A tartaruga tinha dono. Melhor dizendo, dona. Minha irmã mais velha era a respeitável proprietária da lenta criatura e talvez por isso a única cena que me lembre seja a da briga de sabão, ocorrida na área, entre ela e meu irmão. Até hoje não sei como os dois conseguiram a façanha, mas arremessaram a tartaruga do quarto andar abaixo. Entre risos inocentes e a expectativa de morte e bronca, os quatro irmãos olhavam de cima de pequenos bancos da cozinha devidamente enfileirados na varanda da área a tartaruga virada de cabeça para baixo na divisão entre o segundo e o primeiro andar do edifício.
Resgatada com a ajuda do porteiro, envolta na curiosidade mórbida dos vizinhos e no olhar repreensivo de nossos pais, a vida voltou ao normal de modo que a tartaruga foi novamente legada ao seu pacato canto, até que outra briga de sabões acontecesse, o que não aconteceu. Talvez por isso não consiga me lembrar do fim do primeiro bicho que um dia tivemos.


Sábado, 14h30min
Escolher um dia e uma hora da semana em que acontece o nosso reset : sábado, às 14h30min. Horário do Gustavo. Porque as sextas são festivas demais e ainda temos a energia acumulada do trabalho da semana inteira. No sábado, pode-se acordar mais tarde e resolver o que se quer fazer. Caminha-se sem horário de manhã e almoça-se com calma. Sábado 14h30min é bom. Não sei não, mas depois desse feriado, queria um reset agora mesmo.

Natal
Todo Natal eu penso como criança que acabou de levar um tombo: não foi nada, não. Repito isso para entender todas as coisas que vivi até aqui. Ei, me dê um beijinho aqui, do lado esquerdo do meu ego, para passar a dor de ser quem sou. Dê um outro aqui, para suavizar a saudade que sinto do meu irmão e de outros que morreram. Não foi nada não. Assopre aqui e diga que a vida é assim mesmo e continua. Vontade de não sentir vontade, só inércia causada pela chuva. Sono. Natal com rabanadas e panetone. Na casa da minha mãe, os olhos brilhantes das minhas irmãs e a alegria contrastante da minha sobrinha. Minha mãe sentada no sofá, sorrindo, forçosa, como se também alguém a tivesse soprando um consolo por estar viva. Meu pai estava em outra sala, mas havia alguém lhe dando beijos, também. E houve chuva, ainda. Então eu me lembrei de todos os amigos que gosto e liguei, um a um, mandando beijos e dando meu alô, até ficar com o ouvido quente e cansado de falar ao telefone, desprezando outros tantos que mereciam meu “alô”. Mas o telefone tocou, para mim, de madrugada. E era alguém com quem eu queria muito falar. Que chuva que nada. Insônia no Natal até que é bom.

Surra
Estive desconectada há um tempo. Tentei entrar ontem, mas a conexão não ajudou e eu ando meio sem paciência. Hoje, mais uma surra. Trocaram minha senha, disseram que tinha alguém com meu login, uma verdadeira guerra contra o computador.
Sendo assim, Feliz Natal pra todo mundo é o que eu quis desejar. E antes que venha outra surra e eu não consiga mais conectar, Feliz Ano Novo! (E quando eu uso o backspace a porcaria da página some, volta para a anterior, eu não sei desfazer isso, irrrhhhh, ignorança é um pobrema sério).

24 dezembro, 2001

Série "Trilhas sonoras da minha vida"
IT AIN´T ME BABE
Bob Dylan
Go 'way from my window,
Leave at your own chosen speed.
I'm not the one you want, babe,
I'm not the one you need.
You say you're lookin' for someone
Never weak but always strong,
To protect you an' defend you
Whether you are right or wrong,
Someone to open each and every door,
But it ain't me, babe,
No, no, no, it ain't me, babe,
It ain't me you're lookin' for, babe.

Go lightly from the ledge, babe,
Go lightly on the ground.
I'm not the one you want, babe,
I will only let you down.
You say you're lookin' for someone
Who will promise never to part,
Someone to close his eyes for you,
Someone to close his heart,
Someone who will die for you an' more,
But it ain't me, babe,
No, no, no, it ain't me, babe,
It ain't me you're lookin' for, babe.

Go melt back into the night, babe,
Everything inside is made of stone.
There's nothing in here moving
An' anyway I'm not alone.
You say you're looking for someone
Who'll pick you up each time you fall,
To gather flowers constantly
An' to come each time you call,
A lover for your life an' nothing more,
But it ain't me, babe,
No, no, no, it ain't me, babe,
It ain't me you're lookin' for, babe.

23 dezembro, 2001

Três frases de anúncios realmente incríveis
'Notícia em primeira mão. Até porque a outra o traficante arrancou'
(Propaganda de um jornal popular sanguinolento do Rio de Janeiro)
'Memorial (...), o primeiro cemitério com qualidade de vida'
(Anúncio de um conhecido cemitério vertical carioca)
'Casa de massagem para quê, se no final o resultado é igual?'
(Panfleto de um serviço de sexo por telefone)

22 dezembro, 2001

Os dois lados da meia-noite
Dez coisas legais de quando se está namorando
1- A mulher
2- Ouvir Barry White e achar maneiro
3- Poder chorar e fazer bem à saúde - afinal, só se chora em colo de mulher, quando se está vendo filme bom.
4- Acordar
5- Domingo de manhã, comprar vários jornais e revistas e os dois irem para um barzinho vazio antes do almoço, tomar chope e ler em silêncio
6- Passar o Carnaval com uns 15 filmes na locadora e centenas de coisas na geladeira - principalmente birita.
7- Poder achar desprezível toda mulher que você quis e não te deu a menor pelota antes
8- Passear na Lagoa, meio sem direção
9- Gosto de beijo com chope
10- Poder tocar "Love me tender" no violão enquanto ela está sentada na janela.
Dez coisas legais de não estar namorando
1- Domingo de manhã, ver o campeonato italiano
2- Com sono, ir dormir, com fome, ir comer, com tristeza, ir ouvir Nélson Cavaquinho, tudo isso na hora necessária
3- Ninguém liga te procurando no jornal na hora do fechamento
4- Você vai se tornando você mesmo com mais facilidade, e não fica fazendo aquelas violentas concessões só para namorar.
5- Ouvir Ray Charles e pensar em alguém distante, sem que te perguntem "no que você está pensando?"
6- Escolher o filme que se quer ver no cinema sem debate anterior
7- Poder ficar em casa quando se quer ficar em casa
8- Ir ao Jóquei Clube
9- Poder criar barriga em paz
10- Faturas de cartão de crédito infinitamente menores

The same old
Muito me comovem as músicas que tem a expressão "the same old" no título. The same old blue, the same old song, the same old rain, the same old love, the same old felling. Porque me dá a impressão, sim, caras, me dá a impressão de não estar completamente sozinho nessa maldita percepção de que as coisas, bem, as coisas são the same. Ou aquela velha frase (the same old), "eu já vi esse filme", e a resignação muda no lugar da indignação triste.
Pois é. Assim foi um pouco desse 2001, que vai chegando ao fim. Perdi uma das namoradas mais marcantes de todas - the same old blues - ganhei um emprego legal, de salário nem tão bom, mas gratificante, conheci mais gente, vivi mais ou menos as mesmas situações (o velho gin tônica do Lamas, a frozen do Puebla, o whisky da Matriz, o vinho das horas vagas). E cá estou eu pronto para outra. O ano que vem já não vem, já está aí, batendo as nossas portas, a nos lembrar que não são muitos os nossos reveillons nesse nosso vale de lágrimas.
Mulheres vão, mulheres vêm - mais vão do que vêm. Algumas ficam, mas não para estar sempre a seu lado, e sim para aguardar um pouco enquanto seus príncipes consortes não aparecem - esse, certamente, não sou eu. Nem príncipe, nem consorte - apesar de não ter tanto azar assim. Outras se queixam, umas reclamam, outras elogiam - mas eu fico meio de fora olhando, como a dizer, sim, eu entendo, mas seria mais legal se alguém me entendesse. Ah, bobagem, para que ser entendido? Espera-se aplausos junto com a compreensão? Bullshit.
O fato é que a odisséia continua, e de cada ano temos mais é que aprender. Apanhando, levando um tiro em cada perna e nos arrastando com os braços. E se vive bons momentos, cara, pode acreditar. Não era nem para ser assim, mas com alguma gana e força vital, superamos as merdas e do caos engendramos estrelas, como queria o tal Niezstche.
O Natal chega, e eu faço questão de agradecer em uma missa - mesmo não sendo religioso. Nunca se deve duvidar da força dos absurdos, do misticismo do imponderável. Deus? Quero ver alguém me dar provas de que Ele não existe, e provas palpáveis. Afinal, depois de ouvir Jimi Hendrix, não posso duvidar de mais nada.
Só posso prometer que em 2002 vou continuar aí, e que um tiro só não vai me derrubar de jeito nenhum. Herói ou covarde? - não sei. Na hora em que os heróis estiverem recebendo os louros de César, talvez eu esteja lá dando água aos covardes, estou mais próximo deles. É isso ai. Como disse um amigo meu, tá tudo dominado porra nenhuma. Vamos para 2002, e que as coisas mais alucinadas como o amor, a birita, o rock and roll e o futebol continuem mais vivas do que nunca.
E se mais uma vez eu for deixado de lado, que o vinho me seja leve - quero sempre mais uma garrafa.
Feliz Natal e Ótimo Ano Novo para todo mundo que leu esse blog nos últimos dois meses.

20 dezembro, 2001

Prosa e verso
Não, não estou falando do caderno de literatura de O Globo, e sim da definição perfeita do Cadafalso II, o outro blog do André Machado, que linka para o já conhecido cadafalso. Nele, o homem fica mais solto, com mais prosa, comentário, não se detendo completamente em versos. Vale a pena dar uma olhada, muita coisa boa, inclusive uma inusitada definição de rock and roll por parte do Gene Simmons, o linguarudo do Kiss.

Flamengo, uma vez, sempre
Pois é, acabou o sonho de fechar 2001 comemorando o terceiro título. Só ano que vem acontece a final. Mas o que me chamou a atenção foi o Maloca dando palpite, mais uma vez sobre o sagrado rubro-negro, como se não soubesse da situação que rola na Argentina, com tiro comendo solto. Mais ainda, me chama a atenção eu ter dado uma vasculhadas nos arquivos do blog dele e ter encontrado nada menos que cinco posts falando do Flamengo e simplesmente nenhum falando do Bostafogo, opa, Botafogo, time pelo qual ele passou a torcer há uns dez anos, como o lendário Francinei.
Ou seja, não é só a arqueira que implica com o Flamengo, por isso ela nem precisa prometer nada para o ano novo. Aliás, espero que exista acesso fácil à internet lá da Austrália, para ela poder continuar escrevendo por aqui.

19 dezembro, 2001

Resoluções para o Ano Novo:

1) Não encher mais o saco do Gustavo implicando com o Flamengo
2) Ir para a Austrália
3) Fazer ginástica
4) Aprender a tocar piano
5) Subir o Cristo Redentor
6) Perder a barriga e não encontrá-la nunca mais
7) Amar minhas celulites e dizer com ar de naturalidade (como se propaganda não existisse) que “toda mulher tem, ora, é natural!”
8) Voltar a assistir televisão
9) Comprar um vídeo cassete
10) Não morrer (especialmente “não morrer num dia assim, de um sol assim”, Olavo Bilac).

Coração em vermelho e preto
Eu tinha prometido não voltar a esse assunto, para não ficar brigando com a Alessandra; mas como hoje é dia de decisão, e eu tenho certeza de que ela vai torcer pelo Flamengo só para me ver mais feliz, faço essa homenagem aos rubro-negros e tricolores, usando um trecho do livro "O anjo pornográfico", do Ruy Castro. Foi transcrito e enviado para mim pela minha prima Mariana. Divirtam-se.
"O Fluminense não se conformava por Mário Filho nunca declarar-se tricolor. Todos os Rodrigues eram Fluminense e ele, que era o mais importante, não podia ser outra coisa. Então, por que não confessava? Já fora Fluminense, mas só até 1928, dizia Mário Filho. Desde então torcia apenas pelas 'seleções brasileira e carioca'. O Fluminense se conformaria com isso, se não suspeitasse que Mário Filho fosse secretamente Flamengo. Mário Filho negava que fosse Flamengo e o Fluminense acreditava. Mas, quando o Fluminense ia ver, lá estava Mário Filho cercado de seus amigos flamengos: Bastos Padilha, José Lins do Rêgo, Ary Barroso, Moreira Leite e, agora, Gilberto Cardoso, Dário de Melo Pinto e Fadel Fadel. Tinha amizades também nos outros clubes, mas com os rubronegros era diferente - parecia falar em código com eles. O Fluminense não achava isso certo. E havia umas coisas realmente difíceis de entender. A história de Dóri Kruschner em 1938, por exemplo. O grande treinador húngaro estava sendo importado por Arnaldo Guinle, presidente do Fluminense. E aí Mário Filho intrometeu-se e convenceu Bastos Padilha a desviá-lo para o Flamengo. Dóri Kruschner fez uma revolução tática no futebol brasileiro e foi o Flamengo que levou a fama. Depois, Mário Filho escreveu aquele livro maravilhoso, 'Histórias do Flamengo'. Por que não uma 'Histórias do Fluminense'? E ele vivia publicando coisas suspeitas sobre o Flamengo. Por exemplo: 'Por que o Flamengo se tornou o clube mais amado do Brasil? Porque o Flamengo se deixa amar à vontade. Não impõe restrições a quem o ama. Aceita o amor do príncipe e do mendigo e se orgulha de um e de outro. Se um flamengo matasse pelo Flamengo, seria um herói; se morresse por ele, um mártir ou um santo. O Flamengo nunca se envergonhou de nenhum jogador que lhe vestisse a camisa.'  E por aí afora. Só de coração alguém escreveria uma coisa dessas, pensava o Fluminense. Mário Neto, que nasceu tricolor e viveu com Mário Filho a vida toda, sempre achou que seu avô era Flamengo, embora nunca admitisse. Uma das primeiras recordações de Mário Neto era a de um Flamengo X Botafogo em 1955, quando ele tinha 8 anos. Jogo duro. Quando Dequinha fez o gol que seria o da vitória, Flamengo 1 X 0, Mário Filho pulou da cadeira, em pleno ar, sentiu que não devia fazer aquilo e passou o resto do jogo quieto, mas feliz.
    Mas, para Mário Neto, a prova definitiva foi um fla-flu de 1959. Mário Neto queria uma bandeira do Fluminense. Mário Filho deixou-o comprar, mas obrigou-o a comprar também uma do Flamengo. 'Fica melhor assim', disse. Só que a do Flamengo, escolhida por Mário Filho era o dobro da bandeira do Fluminense. O tricolor ganhou por 2 X 0, gols de Valdo e Telê. Mário Filho voltou amuado para casa e não deixou o neto abanar sua bandeira pela janela do 'Buick' preto. O motorista de Mário Filho, o Chaves, sempre de farda, quepe e luvas, achava graça. Sabia a diferença que uma vitória ou derrota do Flamengo provocava no humor do patrão."
 
(Castro, Ruy. O Anjo Pornográfico: A vida de Nelson Rodrigues. Cia das Letras, 1994. pp 258-59)

Botequim de cara nova
O blog Botequim mudou a template, Maloca fez merda e não soube consertar, daí aconteceu o mesmo que já tinha acontecido com esse blog daqui, quando eu também tive que mudar a template após ver 2000 contadores da Bravenet espalhados pela home page. Mas ficou mais legal, no fundo eu não curto esse modelo azul e branco, todo mundo usa e fica meio sem cara. Digo, azul e branco não como o Blogus, mas aquele de branco em volta. Ah, deixa pra lá.

Porrada pura
Fui a um show no Mistura Fina, da banda Recycle - Acoustic Rock, cujo baixista e espalhafatoso líder é meu amigo Vinícius Sá, conhecido no segundo grau como Capilé (nunca soube a razão do apelido). Coisa fina. Dois violões, um baixo forte, e um baterista completamente ensandecido, que toca também com a Rita Lee. Os caras não tiveram vergonha nenhuma de tocar os covers mais derrubados, tipo "Hotel California" e "Time", do Pink Floyd. E fizeram um PUTA show, do cacete, todo mundo cantando, aplaudindo, e principalmente boquiabertos com a testosterona da banda. Não inventaram, tocaram, com paixão, como tem que ser. E foi bom demais. Até mesmo a "Eye in the sky", do Alan Parsons Project, ficou boa.
Agora, boa mesmo era a minha companhia, uma moça linda de cabelos negros e conversa agradável. Sorry, periferia. Não é para quem quer, é para quem pode.

18 dezembro, 2001

Recado para Maloca
O Maloca escreveu no Botequim que gostou de me conhecer pessoalmente mas que eu devo ter tido uma má impressão dele. Eu não sou impressora sem tinta para ter má impressão de ninguém (humm, essa foi horrível).


Where it all begins
Revirando as pastas do meu outlook este fim de semana, achei o primeiro texto que li da Alessandra, enviado pelo Dodô, nosso amigo em comum. Fiquei encantado quando li.
"Considero o outono uma estação muito feminina. A queda das flores e das folhas; o mês de maio na preferência das noivas (ainda é?); o clima ameno; um sentimento de feliz admiração pela cidade - diria até meio maternal - de se olhar apaixonado para a nossa cidade como se ela fosse nossa ³grande² filha. Mesmo que a ressaca espalhe tudo, ainda mais admirarei essa época do ano em que tudo parece mais colorido e bonito de se viver.
Sinto, nesse período sem nome de dez dias antes do inverno, que é como se houvesse um sinal dizendo que há algo muito especial além desse determinismo natural que é a divisão das estações.
A mudança é notada com muita intensidade nesse momento (no mais é eterno verão e inverno) e a gente pisa em folhas secas, tais quais as de Nelson Cavaquinho, ri, pensa, respira fundo e, parece, adquirimos mais força para seguir o resto do ano.
E quer saber?
É uma trégua, é um passe, uma comunhão, um copo d´água numa maratona, uma joaninha numa flor ou cheiro de maresia. É bicicleta roubada. Aconteceu comigo num dia desses de "indo-se o outono". E daí?, estou no Rio de Janeiro, pensei, e de raiva fui a pé para a Pedra do Arpoador ver o pôr-do-sol e zombar do ladrão inebriada que estava num misto de prazer e dor que só o Rio e um grande amor conseguem fazer com a gente.
Pois é, não tenho sugestões de nome para esse período, mas agora que você escreveu sobre isso hei de conformar-me com o inominável só para ter a chance de, todos os anos, buscar uma palavra que defina o sentimento agora já inaplacável: saudade. Sem nostalgia, pois a ansiedade da espera já torna os próximos dias outonais melhores e mais queridos.

Momentos de 25 reais
Dica para tornar esta terça-feira quente no Rio de Janeiro um pouco mais prazeirosa: tente sair do trabalho mais cedo, tire 25 reais no banco. Daí, passe em uma dessas grandes bancas do Centro ou mesmo daquelas de Copacabana e peça o CD da Beth Carvalho cantando Nélson Cavaquinho, "Nome sagrado". Custa R$ 14,90. Deixe os dez centavos de troco para o jornaleiro e com os dez reais restantes compre um case com seis cervejas em um supermercado. Chegue em casa, coloque para gelar, tome um banho e na saída coloque o CD e, se puder, abra a primeira cerveja. O resto é sono e um pouco de esperança. Senão, some-se os dois e viva de insônia.

Esperança

Sonhei que escrevia um texto sobre esperança e acordei verde. Passou pela minha cabeça que eu iria criar a melhor coisa do mundo, mas eu não sabia que era mentira, e me frustrei demais. Tenho certos sonhos que gostaria de ver filmados e assistir depois, comendo pipoca. Por exemplo, minha mãe sendo uma exímia pianista, imagina. Na sala de estar da casa dela, um piano de cauda, lindo, steinway, e ela bravamente tocando, com uma expressão de êxtase que nunca reconheci nela. E eu sentada, assistindo. Mas o assunto de agora não é sobre sonhos. É sobre esperança que eu quero falar, porque aquela folha que brotou no meu inconsciente ontem estava toda preenchida, linda, com um texto que eu sequer imaginei ter escrito um dia e – droga - eu acordei. Pensei sem pesar “que bom estar na Terra” quando estava ouvindo rock´n roll. Um monte de lembranças esquecidas há anos vieram surgindo com as músicas de uma época boa. Meu amigo ouviu comigo, mas ele quase não suportou de tão feliz e disse que estava em crise de trinta anos. Sessenta e sete por cento das pessoas acreditam que terão outra vida. Eu tenho vontade de morrer velha, gostando ainda de rock´n roll e futebol. É bom comemorar todos os dias enquanto estou aqui neste corpo. Sou muito descrente para esperar.

17 dezembro, 2001

Insegurança

A paisagem surgia aos poucos, um pedaço novo em cada curva. O escuro causava um pouco de medo, mas parar seria pior. Os muros altos dos dois lados da rua e os carros passando apressados a assustavam. Um barulho ao longe, logo depois os faróis. A chuva não era coadjuvante neste cenário de terror e insegurança. Ao contrário, o tempo estava limpo e a lua a acompanhava com sua intensa claridade. Como fora parar ali, não sabia. Fora seqüestrada e deixada neste estranho, escuro e estreito lugar. O sentimento de insegurança aumentava, fazendo com que suas pernas tremessem, mas ela seguia adiante. Sentiu vontade de chorar e chorou. Estava mesmo só, podia chorar o quanto quisesse, pois sabia, agora, que era forte. Não imaginava como, muito menos se chegaria em casa, mas nunca se sabe também. Nenhum telefone público pelo caminho e nenhuma pessoa à vista. A rua era reconhecidamente perigosa. Não havia para onde fugir em caso de abordagem violenta. Ela suava, andava e olhava para trás. Não via nada além do seu próprio rosto assustado dois metros atrás. Branca e trêmula. Pensara que se escapasse com vida desse estranho seqüestro, o medo não mais faria parte de sua rotina. Enganava-se. Sabia que sua insegurança aumentaria. Mas era preciso seguir. A insegurança é mal disfarçada pela ansiedade. Era quase insegura. Quase morreu.

15 dezembro, 2001

A chatice
Eu já devo ter sido chato, algum dia, alguma hora. Ainda serei, com certeza. Até porque repórter geralmente é chato. Alessandra idem, um dia deve ter sido chatinha, ou no mínimo inconveniente, seja por distração, seja por ansiedade.
Mas há criaturas vivas que parecem ter na chatice a sua ideologia suprema. Inspiraram até um livro, da década de 60, o "Tratado Geral do Chato", excelente, do Guilherme Figueiredo. Têm um talento natural para a arte de estragar o dia alheio ou senão provocar algum tipo de coceira. Alessandra citou bem algumas das coisas que os chatos parecem fazer com prazer. Mas eu acho que tem mais.
Sendo assim, vamos a mais dez coisas que pessoas chatas fazem
1- Todo chato prende. Cerca de 90% das ocorrências da frase "Calma, que eu vou chegar lá" vêm da boca de pessoas reconhecidamente chatas. O chato precisa da energia vital do interlocutor.
2- Todo chato encara. Olhar nos olhos de uma mulher, taí uma coisa que curto. Só que o chato faz isso mesmo com o interlocutor do mesmo sexo. Daí a necessidade do uso dos óculos escuros, como tão bem falava Tom Jobim. Eles precisam da atenção com retina. Sem isso, perdem a energia.
3- Todo chato toca em você. A mesma coisa. Sem preconceito machista nenhum, juro por Deus. Só acho agradável mesmo conversar com uma mulher segurando na mão dela de leve (posso já ter sido chato por isso). Mas o chato, mais uma vez, não se preocupa se o interlocutor não quer ser tocado. Ombros, alto da cabeça e tríceps são os alvos preferidos dos chatos.
4- Todo chato liga mesmo - Essa é inspirada em Millôr Fernandes. Você faz o possível para abreviar o encontro com o chato - que obviamente foi casual - e chega até a dizer "não vou poder ficar porque vai passar o documentário do Dragão de Komodo no Discovery Channel". O chato não percebe isso, e pega seu telefone, e o que é pior, liga no dia seguinte.
5- Todo chato pergunta 'a que horas' - Não tem cristão no Rio de Janeiro que não saiba que uma festa começa às 23h, e se chega meia-noite. Só o chato que insiste em saber o horário certinho, e insiste em perguntar, como se houvesse no meio da festa um cara todo de preto que soasse um apito e começasse tudo.
6- Todo chato discute gorjeta - É dez por cento, não tem jeito. Todo mundo sabe. Mas o chato fica discutindo com a mesa se dá ou não gorjeta porque o "garçom trouxe comum quando ele pediu light". Variante: todo chato não se relaciona bem com garçom.
7- Todo chato é abstêmio - Existem chatos bêbados, é claro. A regra permite exceções. E claro que nem todos os abstêmios são chatos. Mas nem por causa de tudo isso que eu escrevi a premissa deixa de ser verdadeira, por um motivo: em 98% das vezes em que a frase-estandarte de moralidade "Não, obrigado, eu não fumo e não bebo" (mesmo que só tenha sido oferecida uma das coisas) foi pronunciada, saiu da boca de chatos de galocha.
8- Todo chato é sectário - Chato acredita mesmo nas regrinhas, doutrinas partidárias, e vê comunista/liberal embaixo da cama. Os chatos de direita adoram citar "as prefeituras ruins do PT em São Paulo" (como se São Paulo fosse tão fácil de administrar quanto uma vantagem de cinco gols) e os chatos de esquerda sempre acham que "o governo está vendendo o que é nosso", mesmo com todos sabendo dos rios de dinheiro que corriam dos cofres públicos para tampar buracos em orçamentos de estatais.
9- Todo chato detesta o Romário - O chato profissional sempre relaciona vários motivos para o Romário não estar na Seleção. Até eu, que sou rubro-negro, acho que o Romário tem mais é que ir para essa Seleção Brasileira em que até a merda do Edílson faz sucesso. Só que o chato sempre lembra que "Romário está com 35 anos" ou "Ele só marca contra time pequeno".
10- Todo chato quer ficar com o controle remoto
Numa sala com quatro pessoas, um teste. Coloca-se uma TV 29" na sala vazia, e um controle remoto. Liga-se a TV e fica-se observando por um fundo falso de vidro. Na tela, começa a passar um programa evangélico, mostrando aquele mesmo pastor que aparece em todos os canais ao mesmo tempo quando você está zapeando (não adianta, TODO MUNDO SABE QUEM É). Considerando que nenhuma das quatro pessoas é evangélicas, uma delas certamente vai levantar primeiro que as outras para pegar o controle remoto e mudar de canal. Esse é o chato? Errou quem disse isso. Chato é o segundo cara, que arranca o controle das mãos do primeiro e diz "Deixa que lá em casa eu também tenho (nome da operadora)" e passa a dominar o ambiente.

14 dezembro, 2001

Garoto das flores

O pátio do colégio era grande demais pra mim, então eu ficava sentada na sala de aula, lendo qualquer coisa ou olhando pelas janelas altas, tentando descobrir se o meu pensamento quereria mesmo estar lá embaixo junto às outras crianças brincando, ou não. Das esquisitices que eu fazia, a minha preferida era sentar, na hora do recreio, nos degraus que levavam à sala e esperar que o garoto aparecesse. Ele sempre vinha, dez minutos antes do sinal tocar e sentava-se ao meu lado, alegre e suado, as bochechas um pouco arredondadas apesar do corpo magro. Impossível lembrar-me sobre o que conversávamos. Ele respeitava o meu isolamento.
Um dia ele me confessou que estava apaixonadinho por uma colega da turma, a Carolina. Que era “coisa de criança”, descobri depois; pois naquele momento era muito sério. Eu acertei um encontro dos dois, secretamente, no final do pátio, ao lado da mangueira centenária. Não disse para ela que era ele quem a esperava, embora ela já soubesse. Eu queria ver meu amigo feliz.
Para demonstrar sua amizade e gratidão ele me deu uma flor amarela e eu não esqueci da cor, entretanto, qual era a flor? Pela primeira vez o meu sorriso escapulia para alguém fora do meu habitual.
Passei a acreditar que todos os outros amigos que viesse a ter iriam me dar flores também. Sem querer, o garoto das flores potencializou nossas decepções: tornamo-nos ingênuos. Mas valeu a pena, só porque o tempo passou, foi o que concluímos, outro dia, num almoço.

Antes de dormir
Agora sim, eu me espreguicei, abri meus braços, me estiquei toda. Parece que ganho mais espaço fazendo isso, me sinto mais à vontade. A casa é toda minha, a cama é larga mas, ainda assim, eu me encolho num pedaço dela, de preferência do lado esquerdo, como se não tivesse o direito de me espalhar dessa forma. Ao menos, tenho dormido sem sonhar.
À noite, quando eu deito de bruços, com um braço sobre o travesseiro, as pernas ligeiramente dobradas e o corpo cansado, paraliso. Eu...sobrevoando o quarto. Penso no sonho que gostaria de ter. A televisão ligada lá atrás por mais alguns minutos enquanto eu finjo dormir. Aí, lembro de gente que não vejo mais, que apenas passou. Coisas que eu fiz que me libertaram e limitaram. O que pretendo fazer amanhã? Às vezes a cabeça pesa culpada sobre o travesseiro. E aí mesmo é que os sonhos não vêm. Cantarolei uma música antiga e inevitavelmente senti saudades. Deve ser a época do ano. Ano a ano, dia a dia, o pensamento vagueia de pessoa-a-pessoa e a vida também.

Três dias de paz e música
Não, não é o Woodstock. É a minha folga, que começa amanhã.
Nem sei direito para onde ir. Só sei que sexta que vem estou lá na Matriz, ao lado do Zé Otávio, em mais uma edição da Mate-me por favor, na pista 2.

Método Gustones de Riqueza ou Fracasso
Lá pelos idos de 1991 ou 1992, não me lembro bem, estava saindo de um namoro daqueles de fazer sujeito largar a família até mesmo se for parente do Antônio Ermírio. Coisa séria mesmo, era a Ana, sobre quem escrevi na série "Mulheres que um dia amamos". Ana não foi bem um dia, mas uns anos. Mas, enfim, no meio do namoro ela me apresentou a Charles Bukowski, um escritor dos mais picaretas que conheço e ao mesmo tempo dos mais irresistíveis. É um picareta único. Esqueçam Sidney Sheldon e Harold Robbins, esses caras da picaretagem limpa. Bukowski era imundo, mas tudo em sua vida era vivido com uma paixão absoluta.
Pois bem, em determinado momento de "Crônica de um amor louco", livro que Anica me emprestou, Buk fala de corridas de cavalos. Me detive ali, pois naquela época há uns bons dois anos eu já estava me interessando pelos cavalinhos, pois além de ser uma forma de você esquecer todas as merdas que estão lá fora do hipódromo nem que seja por seis estafantes e divertidas horas, é uma metáfora da vida: sorte, conformismo, estudo. Sim, estudo. Foi com muito estudo que desenvolvi o método Gustones de Riqueza ou Fracasso.
Primeiramente, sobre as corridas. Hoje em dia, no Hipódromo da Gávea há corridas de sexta a segunda. Nos outros dias eles transmitem Cidade Jardim, Cristal e Campos, páreos onde o risco é altíssimo por causa da falta de informação e retrospecto.
Passar uma tarde de domingo no hipódromo me dá prazer, para fugir da ressaca e às vezes da fossa. Mas em se tratando de apostas, o profissionalismo me empurra para a noite de segunda-feira, esta sim a noite de tentar ganhar dinheiro.
Nos fins de semana, há pules mais altas, pelo alto volume de apostas e principalmente porque uma zebra em clássico - como acontece nos fins de semana - tende a surpreender mais gente. Um azarão que pague 10 por 1 numa turma de cavalos fracos na segunda tende a quebrar o Jockey inteiro se explodir num domingo. Mas isso é muito difícil de acontecer.
Esta segunda eu vou estar de folga e irei ao hipódromo. O método é o seguinte: chegar cedo, para evitar o engarrafamento. O primeiro páreo é às 19h, onde geralmente correm de cinco a sete cavalos, bem como no segundo e no terceiro. Isso varia pouco.
A primeira coisa a ver na revista é se todos os cavalos são da mesma turma, com os mesmos tempos naquela distância. Verificar se algum está pegando uma distância diferente da habitural e se algum vinha de turma mais forte. Um cavalo que esteja inscrito na segunda-feira mas que já tenha corrido há dois meses num domingo ou sábado é um cavalo de turma mais forte, e tende a vencer se não tiver sentido nada.
Identificando a bomba do páreo, não se deve esquecer o favorito. Uma boa dupla inexata a 3 reais com o favorito e a bomba no primeiro páreo podem bem te pagar uns cinquenta reais, dinheiro que se transformará em pólvora inglesa, ou seja, aquele que você pode torrar sem chegar em casa pensando que é um idiota irresponsável e que joga o leite das crianças.
Não acertando o primeiro, aconselho outra dupla no mesmo preço e uma triexata, hoje chamada trifeta. Dizendo "triexata" ao cara do guichê ele vai achar que você é antigo - eu sou - no local e não vai te engrupir caso você ganhe uma grana. Não estou dizendo que isso já tenha acontecido, mas na minha opinião coisas que nunca aconteceram têm sempre mais possibilidade de acontecer pela primeira vez do que as corriqueiras - segundo Murphy diria.
Contando com a sorte, você pode chegar com uns 100 reais ao terceiro páreo - isso só aconteceu comigo três vezes - e aí com calma você pode até dar entrada no projeto maior: o concurso dos sete pontos, que consiste em acertar os vencedores dos últimos sete páreos. Mas faça isso e continue jogando em páreos separados, porém agora opte pela quadrifeta, com combinações a preços baixos. Por exemplo, chegar no guichê e dizer, "eu quero o 2 para primeiro, 4 e 5 para segundo, 6 para terceiro e 4 e 5 para quarto", são duas combinações (2-4-6-5 ou 2-5-6-4), a cinquenta centavos cada, dá um real. Mas a boa, nesse caso é fazer por um real logo, e o mesmo cálculo caso queira colocar mais cavalos. E atenção na matemática.
Com esse método, é bem capaz de você sair do hipódromo direto para o Porcão Rio´s e mandar descer uma garrafa de whisky. Se der o concurso dos sete pontos - esse realmente eu não tenho macete nenhum - você vai no seu próprio carro, comprado na concessionária mais próxima. Em cash.
Depois falo mais sobre o hipódromo e algumas implicações românticas que eu já vivi.






13 dezembro, 2001

10 coisas que pessoas muito chatas fazem

1) chamam a mulher/marido de "mô";
2) usam régua pra cruzar cheques;
3) dizem "hum...muito bem, agora vejamos...";
4) comem de boca aberta;
5) palitam os dentes depois de comer;
6) conseguem entrar numa Chaika da vida e comprar biscoitos de sardinha, por
exemplo;
7) escutam música clássica o dia inteiro, para demonstrar erudição, mas não conhecem Bach;
8) esperam troco de R$ 0,03 e dizem que estão apenas reivindicando o que lhes é devido enquanto a fila espera;
9) repetem sempre que "política e religião não se discute";
10) puxam conversa no metrô, ônibus, etc, sem te conhecer e mesmo vendo que você está lendo alguma coisa.

Frases de pára-choques de caminhão
"Para evitar filhos, transe com a cunhada - só nascem sobrinhos."
"Todos os cogumelos são comestíveis. Alguns só uma vez."
"Quem tem olho gordo, usa colírio diet."
"É fazendo muita merda que se aduba a vida!"
"Macho que é macho não engole sapo, come perereca!"
"Aonde vamos parar? Até Papai-Noel anda saindo com veados."
"Nao adianta balançar...o último pingo sempre é da cueca."
"Nasci careca, pelado e sem dente. O que vier é lucro!"
"Macho que é macho não mata a aula, assassina o professor..."
"Ser bissexual dobra suas chances para um encontro no fim de semana."
"Rouba dos ricos e dá aos pobres. Alem de ladrão é gay."
"Seja legal com seus filhos. São eles que vão escolher seu asilo."
"Eu sempre me importei com a beleza interior da mulher. Uma vez
dentro... beleza!"
"Se o amor é cego o negocio é apalpar."
"Se sua mulher pedir mais liberdade, compre uma corda mais comprida..."
"Quem dá aos pobres tem que pagar o motel!"

Natal chegando
Lojas lotadas, engarrafamentos, presentes, luzes, calor chegando, uma estranha e incompreensível esperança, vontade de rever os outros, de ter novos amores, de voltar para os antigos, enfim, é Natal.
De Papai Noel, quero Flamengo campeão. Nos pênaltis, lá na Argentina, depois que o idiota do Edílson fez o favor de estragar a noite de milhões de rubro-negros. Graças a Deus vai embora, esse retardado.

Reflexões inúteis
Pego os jornais e vejo anúncios de lojas vendendo celulares: "Promoção imperdível", "Mais barato, impossível", "Compre fácil", uma loja querendo mostrar que é mais negócio que a outra. Pergunta: por que insistem tanto em dizer que vendem mais barato se desde o início os celulares custam rigorosamente o mesmo preço?

12 dezembro, 2001

Encontros & Desencontros - nº ?

“Vamos tomar um chopp depois do expediente?”, ele arriscou. Gostava do jeito maroto e espontâneo daquela morena cujo olhar era tão sincero quanto sofrido e que todos os dias lhe dava “bom dia”. Ela era recepcionista de uma seguradora localizada em um desses prédios antigos e tombados do Rio de Janeiro e ele acabara de ser contratado, recém formado em Direito, pela mesma empresa. “Você ainda não conhece meu carro”, ele insistia. Naquela época, gabar-se do carro era ter um Alfa Romeo. O dele era branco e ela adorou. Ela inspirava pontadas de inveja aonde ia, carismática, com sua pele bronzeada, seu jeito alegre. Ele, igualmente, despertava paixões nas mulheres, mas talvez não soubesse, inundado de ciúmes que vivia. Ela se incomodava com o excesso de zelo, com as dúvidas e desconfianças sobre seu comportamento. Por isso ela disse, triste e indecisa, “não quero mais você”, numa tarde de domingo do final de abril, um ano após o início do namoro. Ele não aceitou. Brigaram. Ela foi embora sem olhar para trás, com os olhos inchados, enquanto ele, indócil, entrou em seu Alfa Romeo e numa curva um pouco mais fechada, capotou. Ela soube do acidente apenas duas semanas depois. Quando foi visitá-lo, não era só o rosto dele que ela viu retalhado pelos estilhaços de vidro do acidente, mas também os pensamentos e as emoções. Lembranças vieram dos momentos que não mais veriam. Nunca mais se viram. Era inútil pensar no “se”.

Adbusters

Ouvir falar a respeito, eu já tinha ouvido, mas não me interessei. Sabe lá como, acabei visitando a página da Adbusters Foundation. Para quem não conhece, é uma espécie de Greenpeace da mídia. Além de publicar uma revista, eles promovem campanhas contra o consumismo e criam algumas ótimas "contra-propagandas". O mais legal, na minha opinião, está em www.adbusters.org/spoofads.

Mulheres que um dia amamos - 5 ou 6?
Bárbara
Eu estava andando pela praia de Ponta de Areia, na Ilha de Itaparica, em Salvador, deveriam ser umas dez da noite. Achava tudo muito legal, inclusive o acordar com o sol da manhã no rosto, e o despertar imediato para o mar, tomar banho de água salgada sem nem ter bebido o café antes. Vida de rei. Mas mesmo assim faltava algo, e não era simples ou exatamente uma mulher. Faltava uma mulher com M maiúsculo.
Nessa caminhada, eis que ouço uma voz de homem me chamando de "carioca", e pedindo para eu me aproximar. Era um grupo de pessoas sentadas, em volta de alguém com um violão. Acreditem, já foi um hábito comum e até saudável. A minha opinião é que isso só é possível com todos na roda completamente bêbados, mas era o que parecia estar acontecendo ali.
O sujeito que me chamou eu nem lembro o nome, só sei que estava aos beijos e abraços, um pouco escasso até, com uma loura de cabelos de sereia que iam até o meio das costas. E sua pele era mais para o moreno. Era Bárbara, com B maiúsculo, com trocadilho batido e certidão de nascimento.
Me obrigaram a tocar violão e, pior ainda, a cantar. Nunca fui muito de fazer isso em público, mas ataquei imediatamente "Corações psicodélicos", num ritmo bem mais para o andante do que o allegro. E cantava "Eu quero VOCÊ toda nua" olhando para Bárbara.
O homem de Bárbara, talvez de sacanagem, pediu para eu tocar "Leãozinho", do Caetano Veloso, eu disse que não sabia. A partir daí, todos passaram a chamar o cara de "leãozinho". E a noite seguia, o tempo parecia estar numa redoma, me sentia em um presépio tropical onde o que nascia era o próprio Deus e não seu filho. Tudo ali tinha jeito de que nunca terminaria.
Em um momento de já não saber mais o que tocar, externei a dúvida, e ouvi de Bárbara, "pensa em mim que você toca alguma coisa". Olhei espantado, e me lembro de ter tocado "Amada Amante", do Roberto Carlos. Barra pesada. Ela sorriu enquanto todos riram. Não sabiam de nada.
O homem de Bárbara parecia estar bêbado demais. E ela começando a ficar com dor de cabeça. Ela se virou e disse, "vou levar o Leãozinho embora, tá?", e eu, "tá bom, e depois?", ela, "vou voltar aqui", e eu, incrédulo, "para quê?", e Bárbara, "Para ficar com você". Tão direta que me comoveu, me deixou sem ação - naquele momento.
Bárbara realmente voltou, e passamos uma noite inesquecível naquela redoma de tempo, abraçados, nos beijando, deitados em uma esteira. Os outros não se importavam com a estranha traição ao Leãozinho, seja lá quem fosse ou representasse para Bárbara. Estávamos apenas nos beijando, mas não algo tão descompromissado. Sabia que jamais nos veríamos novamente, sequer poderíamos ir para a cama, era aquele momento e só. Eu, do Rio, ela, de Itabuna, e assim dizíamos adeus antes mesmo de nos conhecermos, tendo as vidas tolhidas pela própria vida, separados e diferentes, separados eternamente.
No dia seguinte, não nos beijamos, mas Bárbara chorou e disse que tinha uma filha. Eu entendi o que ela quis dizer. E fui embora para um bar beber com meu tio - que já não vive mais para me lembrar daquele porre.
Quando Bárbara chorou, tocava uma música brega, talvez Rosana, e uns versos, "e as coisas que você me diz, me levam além". E não dissemos nada um para o outro.

11 dezembro, 2001

Da série perguntar não ofende

Eu ia fazer uma perguntinha só e pronto, mas não dá. Era a seguinte: o que é a coluna do Gerald Thomas no JB? Essa é a terceira vez que eu caio na asneira de ler. Pior: até o final. Ele reclama: “por que o Rio está tão careta, meu Deus? O convencionalismo editorial está alarmante e não vejo ninguém reclamando”. Diz que o Rio já foi berço do Tropicalismo, do Cinema Novo e do teatro Cimento Armado. Até aí, tudo bem. E que já teve o Pasquim, a Flor do Mal e até uma versão brasileira da Rolling Stone. E continua dizendo que em São Paulo há vida cultural porque a imprensa paulista é mais antenada “a manifestações artísticas do mundo jovem”. E escreve mais: “Falo com a autoridade de quem atua nas duas cidades há quase duas décadas. O quadro carioca é deprimente”. Termina dizendo que vai na esquina da Rua 6 com Berry ver o que a juventude nova iorquina tem a dizer.
Ele tem toda razão. Afinal, a única "renovação" que conseguimos é Gerald Thomas.

O gato nu
Estou em dívida com a arqueira, pois de tão estressado e cheio de matéria de fim de ano para fechar, acabei não podendo ir ao Jobi encontrar com ela e suas amigas de vários cantos do país. Mas liguei para ela, que gostou da lista de presentes mas fez uma ressalva: "Roupinha, pro meu gato, não!". Apaguem então o uniforme para gatos da lista a baixo.

10 dezembro, 2001

Dez sugestões de presentes para a arqueira
A quem interessar possa, tenho certeza de que Alessandra adoraria:
1- Uma camisa laranja do Fluminense
2- Uma coleção de livros da Clarice Lispector
3- CD do Iggy Pop que tenha "Candy"
4- Uma bicicleta nova
5- Um jantar no Lamas ou no Mamma Rosa (ambos perto de onde ela mora)
6- Algum bom livro do Saramago
7- CD do Velvet que tenha "Pale Blue Eyes" (acho que ela vai adorar)
8- Uniforme do Fluminense para gatos
9- Luvas finas, pretas e longas (ela tem jeito de que ficaria bem com esse acessório)
10- Um emprego novo, de redatora, na internet (olhaí, pessoal, quem tem uma vaga boa aí?)

Consolo

Ainda somos os melhores do Rio.

Versão 3.0

Agora que o Gustavo anunciou, fazer o que? A arqueira queria estar comemorando a vitória do Fluminense. Não deu. Aliás, faz tempo que não dá. Mas tudo bem, cheguei aos 30.
Quanto à Clarice, foi uma surpresa enorme saber dessa coincidência, porque há muito tempo escuto sobre essa semelhança de sentimentos e textos. E é só. Porque a vida da moça foi muito muito complicada.

Um dia à parte
No dia 10 de dezembro, nasceu Clarice Lispector. E também no dia 10 de dezembro nasceu uma figurinha que ao escrever lembra muito o estilo intenso, descritivo e emocionado de Clarice. Já adivinharam? Sim, hoje, dia 10 de dezembro, é aniversário de Clarice Lispector e também de Alessandra Archer. Ela ia esconder, tenho certeza, e vai me dar bronca por eu ter contado. Mas poder encher a caixa postal de emails da moça não tem preço...

09 dezembro, 2001

Arqueira triste
Eu não queria, mas aconteceu. O Fluminense deu um tremendo mole no finalzinho do jogo e não conseguiu sequer a prorrogação. Mas como diria o botafoguense João Saldanha, vida que segue.
Eu estava torcendo para uma final Fluminense x Galo. E na final, obviamente iria torcer para o Galo - a menos que a arqueira quisesse ver o jogo ao meu lado.
Mas não há de ser nada. Agora é hora do Rio torcer na Mercosul.

Arqueira triste
Eu não queria, mas aconteceu. O Fluminense deu um tremendo mole no finalzinho do jogo e não conseguiu sequer a prorrogação. Mas como diria o botafoguense João Saldanha, vida que segue.
Eu estava torcendo para uma final Fluminense x Galo. E na final, obviamente iria torcer para o Galo - a menos que a arqueira quisesse ver o jogo ao meu lado.
Mas não há de ser nada. Agora é hora do Rio torcer na Mercosul.

A planta gigante, também neste domingo
Também estou de plantão, e daqui a dez minutos começa o jogo do Fluminense - estou com uma matéria diferente em cima desse jogo. Vamos ver se a arqueira vai estar mais feliz amanhã. Chego ao ponto até de torcer para aquele timeco das Laranjeiras ganhar só para a arqueirinha ficar mais sorridente.
E, como sempre, estou no email gustavoa@lancenet.com.br
Até!

08 dezembro, 2001

Dez músicas para levantar o astral baixo
1- Dead Flowers - Rolling Stones
2- Won´t Get Folled Again - The Who
3- Ain´t gonna cry no more - Whitesnake
4- Carne de pescoço - Barão Vermelho
5- Bullfrog Blues - Rory Gallagher
6- Take what i want - Rory Gallagher
7- Lounge Act - Nirvana
8- Moonage daydream - David Bowie
9- Agora só falta você - Rita Lee & Tutti-Frutti
10- A volta do boêmio - Nélson Gonçalves

O dia
Aliás, falando em Mariana, hoje é 8 de dezembro. Há 21 anos, eu e ela talvez tenhamos sentido a mesma coisa pela primeira vez. Pode ter acontecido antes, mas há 21 anos exatos é certo. Não é todo dia que morre um beatle.

Aquela grande, gigantesca planta
É isso aí: hoje é dia de plantão.
Quem quiser se comunicar comigo a partir das 15h neste sábado (e idem no domingo), é só mandar um email para gustavoa@lancenet.com.br.

Mariana
Recebo email muito tocante da minha prima, Mariana, que nasceu naqueles saudosos anos 70, cinco anos apenas depois de mim. Ao longo dos anos, vemos a dobra temporal ir fazendo curva, segundo a segundo, minuto a minuto, e nossas idades se aproximarem ainda mais. Um dia ela vai até ser mais velha do que eu - com mais sabedoria.
Ela me diz - e deve estar lendo isso aqui - que as músicas dos Beatles que selecionei são as mesmas que ela selecionaria. Nada que eu já não soubesse. De alguma estranha maneira, eu tenho com ela uma sensação de que somos gêmeos. Há muito tempo que eu sei quanto ela sente vontade de chorar em relação a algum assunto, e vice-versa. Aliás, colocamos o mesmo filme como "mais importante": "A Felicidade não se compra", de Frank Capra.
Eu sabia muito bem como ela estava se sentindo em relação ao George Harrison, e vice-versa. E sinto que, de alguma maneira, é alguma coisa sobre as nossas próprias finitudes.

Duas coisas da década de 70
Alessandra Archer citou, nos últimos posts, duas coisas da década de 70 que eu bem achava que era só eu que me lembrava: o restaurante Parque Recreio, o preferido de meus pais, e a música "Lenda do Pégado", do Moraes Moreira, do disco chamado, se não me falham as sinapses, "Bazar brasileiro".
O Parque Recreio é o tipo de lembrança estranha, porque hoje em dia eu não sei onde ficava. Quer dizer, ficava na Rua Marquês de Abrantes, disso eu lembro perfeitamente bem. Meus pais moraram lá antes de eu nascer. Mas eu não sou capaz de apontar o prédio certo em que ficava aquele espetacular restaurante, onde eu vivi alguns dos melhores momentos de minha infância, com suas entradinhas de delicioso pão de queijo (entre outras coisas), e principalmente sua pizza inigualável - meus pais comiam outras coisas, não pizza. No Parque Recreio que meu subconsciente se acostumou a me fazer sentir com fome ao ouvir a palavra "couvert". O de lá era incrível mesmo. Ou eu é que era muito feliz, achando que o mundo era só a paz da minha casa e a felicidade de estar com os pais numa mesa de restaurante.
Já a do pégaso, era de um disco que tinha músicas que ficavam fácil na cabeça da gente. "Meninas do Brasil", "Meninos do Brasil" ("Os amaros, morenos, e davis/os pablos, pedrinhos, todos esses guris/Vão botar pra quebrar/Lá pelo ano 2000" - Moreno e Davi até apareceram um pouco, né?), "Forró do ABC", "Tapioca de Olinda" e "Cabeleira de Berenice".
Eu achava que era música para menino complexado, tímido, meio fudido, que nem eu era (?). Mas implicava com a rima de "discute" com "abutre". Ainda respeito aquele disco, mas a minha nova lenda do pégaso hoje em dia ainda é "Fake Plastic Trees", música para adulto complexado, tímido, meio fudido.
Enfim, quando alguém diz que "era feliz e não sabia" nos anos 70, eu discordo. Eu sabia, e ainda sei.

07 dezembro, 2001

A lenda do Pégaso...

...é uma música do Moraes Moreira que ouvi muito muito muito numa época da minha infância e que hoje acordei cantando. A letra é bonita:

Era uma vez, vejam vocês, um passarinho feio
Que não sabia o que era, nem de onde veio
Então vivia, vivia a sonhar em ser o que não era
Voando, voando com as asas, asas da quimera

Sonhava ser uma gaivota porque ela é linda e todo mundo nota
E naquela prentensão queria ser um gavião
E quando estava feliz feliz, ser a misteriosa perdiz
E vejam então que vergonha quando quis ser a sagrada cegonha
...
E com a vontade esparsa sonhava ser uma linda garça
E num instante de desengano queria apenas ser um tucano
E foi aquele, aquele tititi quando quis ser um colibri
Por isso lhe pisaram o calo aí então cantou de galo
...
Sonhava com a casa de barro, a do João de Barro e ficava triste
Tão triste assim como tu querendo ser o sinistro urubu
E quando queria causar estorvo então imitava o sombrio corvo
E até hoje ainda se discute se é mesmo verdade que virou abutre
...
E quando já estava querendo aquela paz dos sabiás
Cansado de viver na sombra, voar, revoar feito a linda pomba
E ao sentir a falta de um grande carinho, então cansava feito um passarinho
E assim o passarinho feio quis ser até o pombo-correio
Aí então Deus chegou e disse: "Pegue as mágoas
Pegue as mágoas e apague-as, tenha o orgulho das águias"
Deus disse ainda: "é tudo azul", e o passarinho feio virou cavalo voador
...
Esse tal de pégaso
Pégaso, Pégaso, Pégaso, Pégaso

Pega o azul, pega o azul


Solidão e insônia na madrugada

Pensei em descrever o que o meu gato negro sente durante um dia inteiro sozinho enquanto estou no trabalho mas sei ser inútil qualquer tentativa de discrição. Sinto vontade natural de libertá-lo do amor que sinto por ele. Quero dizer: "Vá. Brigue com os gatos mais velhos. Sinta-se como o gato que você é", e deixe-me aqui, com estas letras e esses livros insones, fingindo sentir o peso do teu corpo no meu colo. Quero que tu sejas gato, assim como eu quero ser absolutamente humana e livre nos meus sentimentos. Seu contato com o carinho tem nome, chama-se Alessandra. Tu choras, enrosca-se nas minhas pernas e reclamas a sua dor com seu miado alto e estridente. E eu me sinto culpada por prendê-lo, e esqueço as janelas abertas de propósito. Tu foges, como fogem dos sentimentos os tolos, mas voltas.
Sou uma medrosa solitária. Durante noites memoráveis, como a de hoje, penso na solidão e alegro-me nestas horas de prazer criando textos incoerentes, pouco importando se quem lerá tem um cão, o “fiel amigo do homem”. Fidelidade. Ao bem-estar, gato. Cachorro. Fico me perguntando por que conhecemos pessoas especiais que nos acentuam nossa existência de modo espetacular. Seria tão mais fácil simplesmente vivermos. Sentirmos fome, sede, irmos ao banheiro e dormirmos. Mas é preciso que o banheiro esteja de porta fechada ou que ninguém nos veja defecando. Minha nudez será castigada e rezarei para proteger-me de todo e qualquer pecado,oh! E as enfermeiras (e as pessoas que amam também) limpam as bundas sujas de cocô dos seus doentes e as outras acham isso nojento, eca, e é.
As “comidas coloridas, ervilhinhas, tomatinhos, legumezinhos, cerejinhas e frutinhas”, como li há poucos dias na “Veja especial Mulher”, ajudarão a manter-me jovem e atraente. As celulites e as rugas poderão sumir com aplicações de não sei o quê (botox?creme?) ou cirurgias plásticas mediante uma certa e alta quantia. E nos sentiremos felizes com isso, é o que dizem. Talvez tenhamos nos reduzido a pedaços de carne neuróticos vivendo entre paredes apertadas e busquemos nos animais a liberdade que um dia perdemos de sermos também carne, ora. Nossos ovários são menores do que um ovo, me disse uma amiga. Tinham vários ovários menores que um ovo nos vidros do hospital; ela viu.
Talvez tentemos curar nossa solidão e carência ao lado de seres irracionais, sejam eles felinos, caninos ou humanos. Quantas artimanhas usamos, hein?
Estou com vontade de conversar. Um livro. Eu, um ser isolado.
Que condição é esta que nos faz passar horas a escrever, a criar personagens, casos e histórias que sequer vivemos? A sociedade está me comprimindo. Não, é só impressão.
Há instinto. Trata-se do mesmo ímpeto que nos dá sede e fome, tesão e repulsa, sono e ação, criatividade e inércia, palavras e gemidos. E ainda somos seres superiores porque somos criados à semelhança divina... O que é divino senão a excelência, a perfeição? O que é perfeito? O mar. O sol. A lua. A chuva. Uma árvore. Uma flor. Um amor. Vou gastar palavras que aprendi para dizer que não sabemos. Felizmente não nos sentiremos sós. Nem miaremos escandalosamente e tristemente por uma poesia ou uma palavra que explique a solidão. Sentimos e superamos. Um carinho resolve. Fiz cafuné no gato. E cocei minha cabeça. Ouviremos música em qualquer circunstância e escreveremos. Leremos. Somos seres felizes. E, às vezes, não sabemos que somos, então ficamos mais felizes ainda.Há solidão?
Fingimos saber que somos perfeitos e ponto final.
...Ebulição...humm, então há solidão. E insônia. E outras sensações.

Adorei

O "Botequim" do Marlos e "O Gato da vizinha..." do Henrique de Freitas.

Links que não levam a lugar nenhum
Ao lado esquerdo da sua visão tem a minha tabela de links, que tem um novo elemento: o blog Bar do Arlindo, que eu espero não ser muito acessado, por favor. Trata-se de um ponto de encontro entre ex-alunos do Instituto de Artes e Comunicação Social da UFF, onde estudei. Eu diria que nesse blog nós vamos regredir mais em mentalidade e idade do que se passássemos uma semana inteira ouvindo apenas o Nevermind, do Nirvana.
Evitem o link. Mas se você tiver estudado no IACS de 1988 em diante, vai lá, mané.

06 dezembro, 2001

Pequena grande poesia pro dia de hoje

No Pão de Açúcar
de cada dia
dai-nos, Senhor
a poesia de cada dia

Oswald de Andrade

Video-tape
O tricolor Nelson Rodrigues já dizia que o video-tape é burro, tudo bem. Só que cheguei em casa tarde após o jogo do Fluminense e na hora de deitar ainda fui dar uma olhadinha no video-tape de Atlético-PR 2 x 1 São Paulo, no simpático estádio da Arena da Baixada, que devia ter uns 80 mil atleticanos completamente ensandecidos (longe de mim achar que influenciam em algo no jogo). Há muito tempo eu não vejo um time dar tanta porrada como esse paranaense. É bom o Roger Maradona se cuidar, porque lá, ao que parece, jacaré nada de costas.
E ainda tem aquele problema: a camisa é vermelha e preta. Sempre rola um probleminha.

Variações de um mesmo tema: Lamas

D. Corintha e Seu Abel sentavam-se sempre na mesma mesa no Lamas. Vestiam suas melhores roupas e almoçavam por lá, principalmente, para comemorar aniversários. Ótimo pretexto para comer um filet à Oswaldo Aranha uma vez por mês, pois a família era grande: sete filhos, 18 netos e, até então, 16 bisnetos. É essa a lembrança que eu tenho do Lamas. Mais tarde, só muito mais tarde, o Lamas tornou-se, para mim, um lugar para sentar, beber e encontrar os amigos. Engraçado, na noite enfumaçada do Lamas sempre haverá a minha lembrança daquelas tardes regadas a muita comida, taças de sorvete e beijinhos dos avós. E acabo lembrando de outro lugar que era ótimo para comer e hoje não existe mais: o Parque Recreio, também na Marquês de Abrantes, bem perto do Lamas.

Explode Coração... na maior felicidade.....




Bom Dia!!

Hoje eu quero dar um BOM DIA caloroso, alegre, rotundo, tranquilo, vivo, sonoro, ululante, dançante e colorido para os cariocas e para tudo o que há de melhor no Rio no momento.

Mensagens cifradas
O blogueiro, jornalista, baixista e cachaceiro Maloca me mandou uma mensagem/sacanagem cifrada em seu blog. Leiam:
"Cifrada
A macaca caiu do galho.
Hoje a arqueira vai deitar e rolar sobre as pedras..."
Perceberam a picardia do guri? A macaca, a Ponte Preta. Que tomou ferro do Fluminense. A arqueira, claro, Archer, Alessandra Archer. Deitar e rolar, sacanear, as pedras - pedras, stones, gustones.
O que ele não sabe é que já fiz meu pacto de paz com a arqueira, na base de uma troca de carinhos enorme (por email, seus maldosos e ordinários) em uma tarde inteira. Eu não vou secar o Fluminense, e principalmente por causa da Alessandra. Claro, estaria mentindo se dissesse que não acho o Flu favorito. Eu acho o Fluminense favorito.
Mas fico feliz só de saber que ela está mais feliz hoje (escrevo duas e meia da manhã, logo depois de chegar da cobertura do jogo), que dará seu sorriso invejável por aí, e que exibirá sua carteirinha da torcida Garra Tricolor para algum incauto.
A verdade é que meu problema atual ainda é o Vasco. E mais não falo.

05 dezembro, 2001

Da série O Descobridor dos Sete Bares - 3
Lamas
Grandes revoluções, tomadas de poder, publicações editoriais e bandas de rock já foram montadas no Lamas nestes meus 33 anos de vida. E as mesmas foram esquecidas no táxi de volta para casa, invariavelmente bêbado do outrora excelente chope (hoje anda meio aguado) e de algum Concho Y Toro bebericado às garrafas na mesa do atraente bar com ar condicionado. O Lamas é em essência um lugar civilizado - a começar pelas toalhas de mesa e pelo vestuário dos garçons.
Como na música dos Beatles (In My Life), os bares tem essa magia de nos fazer lembrar sempre das pessoas com que dividimos nossas mesas habitualmente. E, por incrível que pareça, a primeira pessoa com quem dividi uma mesa de bar no Lamas foi o lendário Antônio Roberto de Almeida, o popular Machadinho. Você acha textos dele no Fórum Virtual, site do jornalista José Alberto Monteiro, para quem trabalhei em A Notícia. Machadinho tinha verdadeiro prestígio no local, e sempre recebia uma porção por conta da casa assim que virava o primeiro chope - provavelmente, o dono só liberava a comida quando notava que ia começar mais um porre. Mesmo assim, Machadinho sempre pendurava a conta. Hoje, há mais papéis do Machadinho pendurados no caixa do Lamas do que fiapos em um poncho mexicano.
Depois, uma amiga, Raquel Pinheiro, começou a se viciar no local, indo comigo. Foi lá que, em uma certa noite, apresentei-a a outro amigo de longa data, Rodrigo, e daí os dois entabularam um namoro que já dura seis anos.
Em seguida, o Lamas passou a ser um reduto de Marlos Mendes, Luis Edmundo Araujo, Leonardo Feijó, Marina Boechat, Gustavo Autran, Carlos Braga e vários outros que confundem a gente não explicando, a exemplo do que dizia Fernando Sabino, se o artista é uma espécie de homem ou se o homem é uma espécie de artista. Cada um com suas manias, histórias, discursos, sonhos, esperanças e desesperanças tornaram o Lamas um lugar de alma. A Edmundo, sempre associo o inigualável bife à milanesa que durante algum tempo contribuiu para criarmos barrigas colossais, afinal era sempre comido no singelo horário de duas da madrugada. E ele até hoje não sabe pedir outra coisa.
Mas sempre gostei do café do Lamas, da torta de sorvete, dos sanduíches na chapa, do espaguete e acima de tudo do Concho Y Toro quando era barato. Sempre gostei de estar lá e aparecer alguém conhecido - porque no fundo sempre sonhamos em não morar em um mundo tão grande, em um universo tão vasto e sem esperança. Encontrar um amigo em um lugar sem ter combinado nada é algo tão agradável como chegar em casa dois segundos antes de começar um temporal. Você vê futuro nos seus hábitos, basicamente.
Para o Lamas eu certamente dedicaria IN MY LIFE, uma das mais maravilhosas músicas dos Beatles - "There are places, I remember/All my life/And some have changed/Some forever/not for better/Some are gone/and some remain/All these places had their moments/With lovers and friends/I still can recall/Some are dead and some are living/In my life/I´ve loved them all" (Pois é, e foi lá a última vez que vi a Ana, uma das personagens da série "Mulheres que um dia amamos". Tá no arquivo aí do lado).
Com o centenário Lamas, há sempre a impressão de que a gente não vai sentir o tempo nos tirar tanto sangue. Mas a conta da comida de lá é bem capaz de nos tirar os olhos da cara e o couro dos ossos.


Da série perguntar não ofende

Por que as manchas amareladas, esverdeadas, negras, roxas, azuis, abóboras de bolinhas amarelas, cinzas, marrons, vermelhas ou prateadas só aparecem no mar de São Conrado ao Arpoador às vésperas do verão?

Aviso ao "mercado"
Meu celular, como publiquei alguns posts abaixo, voltou a funcionar. Mesmo número. É isso.
Bom dia a todos.

Acordar cedo
Acho o ato de acordar cedo, principalmente no período que vai até sete da manhã - quando eu ainda estou no quarto sono, de uma série de dez - uma das coisas mais saudáveis que se pode fazer para corpo, mente e alma. Para o corpo, porque dizem por aí, sobre exercícios, etc. Para a mente, porque a luminosidade das primeiras horas da manhã causa mais reflexão, e para a alma porque dá a impressão do dia ter ficado maior, da gente estar vivendo mais, da gente poder fazer mais coisas no dia.
O meu único problema mesmo é dormir cedo. Não prego o olho antes das duas da manhã - e isso nos dias de bom sono. E detesto de todas as formas acordar com qualquer tipo de despertador, algo que passei quase dois anos fazendo todos os dias no jornal Extra. Aliás, eu estava no Jornal do Brasil quando o editor de cidade de lá - um sujeito do qual eu me considero inimigo - me chamou para trabalhar, só que em nenhum momento avisou que eu estaria escalado às 9h da manhã. Só disse depois que eu já tinha pedido minha demissão do Jornal do Brasil. Do contrário, jamais teria deixado o JB.
Para piorar, tinha que acordar sete e meia, NO MÁXIMO, e fazer tudo com uma baita de uma pressa. Outra coisa que detesto, acordar e partir para fazer tudo com pressa. Chegava na redação e ainda tinha que encarar uma chefe de reportagem que eu considero até hoje mais mal comida e mal amada do que uma esfiha podre do Habib´s. Aí, criei trauma com acordar cedo, mas de vez (a vida boêmia levada em 1998 também tinha sua participação nisso).
Mas até hoje, quando acordo cedo, tendo dormido bem, me sinto ótimo, como se o dia tivesse 24 horas, e não as 12 ou 13 que consigo viver.
Tudo isso é para recomendar aos amigos que não deixem em hipótese nenhuma de comprar o excelente "Alhos & Bugalhos", mais uma compilação da obra de Paulo Mendes Campos, da série editada por Flávio Pinheiro. São crônicas humorísticas, uma delas em que o cronista descreve seu estado de quase ameba ao acordar - muito parecido com o que eu fico de incomunicabilidade absoluta, até ler a milésima linha no jornal e beber uma xícara de café inteira. O livro é maravilhoso, um presente excepcional.
Aliás, para a Alessandra estou pensando em dar uma bicicleta nova. Essa manhã dela de hoje foi de lascar, pelo jeito.

Olha a TPM aí, gente

O despertador tocou cedo. Liguei a televisão, notícias sobre a mudança na CLT e a crise na Argentina. Desliguei. O Billy Negão tenta, de todo o modo, conseguir uma fresta para fugir e apanhar ainda mais dos gatos da rua. Tenho vontade de deixar, mas acabo me irritando por ele querer ser o que é, um gato. Resolvi, então, ir à academia fazer ginástica às 7h, ainda com os olhos inchados e o corpo mole. Peguei a bicicleta e fui. As pessoas andam na rua às 7h da manhã com uma disposição invejável. Parece que estão há horas acordadas, acesas e interessadas. E talvez estejam mesmo. Enquanto eu ainda tentava trazer minha alma de volta ao corpo, eles estavam lá, rindo, andando, lotando a calçada. E eu de bicicleta, lenta lenta. Depois de quase atropelar estas pessoas, já chegando à academia, descobri que minha bicicleta é uma merda. Aquela cesta é um trambolho, a marcha é de plástico, quase caí e ainda culpei a bicicleta tentando explicar a barbeiragem para um vendedor de flores que ficou rindo da minha cara.
Eu gosto de correr, mas queria mesmo gostar de acordar cedo, talvez tudo fosse mais fácil e bem humorado. Na volta, um bololô de chiclete se embrenhou pela roda da bicicleta, esticando aquele fiapo nojento de uma roda à outra, o dobro de raios nos pneus, um espetáculo! Então, um caminhão me imprensou em um poste, contei até dez, e um milagre me salvou de não arremessar tudo, inclusive aquele mochilão que a gente leva porque vai tomar banho pra ir trabalhar e precisa levar a roupa, o sapato, etc. O banho fui tomar na casa da minha mãe, onde aconteceu o gran finale , na garagem: estacionei a bicicleta ao lado das outras todas, sem amarrar. Virei as costa e só ouvi o papapapapapapapapa pum. Todas as outras caíram, em sequência, a minha por último. Espero que o dia melhore. E a espinha no meio da minha testa também. Donde concluí que isso tudo foi culpa da TPM ou da minha vida boêmia se revoltando com essa mudança radical.

04 dezembro, 2001

Perdoe esta poesia reta

Perdoe minhas manhas e esta poesia. Perdoe meus olhos tristes e alguma frieza. Perdoe minha idolatria, minhas brincadeiras, algumas palavras tortas. Estou tentando arrancar neste trajeto uma poesia para você. Mas o metrô é rápido e contrapõe-se à lentidão de tudo o que sinto. Perambulo, sentindo-me desconfortável nesse sentimento vagaroso. Mas tento escrever corrido, como quem fala sem amarras nem culpa. Como quem não mede palavras. E temo agredir. Não quero explicar o inexplicável. Às vezes eu tento dizer: sou estranha. Em seguida, penso: somos todos. Curiosa, a menina ao meu lado espichou os olhos. “O que tanto eu escrevo?”, ela pensa. “É para ele!”, responde meu pensamento. Mas sei que se ela gostasse de alguém a quem precisasse pedir perdão, usaria a música da partitura em suas mãos que, só agora, observei. E não uma poesia reta, como esta. Não mesmo. Mas eu me sirvo desta e por tudo isso, peço: me perdoe.

Motoristas de ônibus do Rio

Perguntem a qualquer estrangeiro qual a opinião deles sobre os motoristas de ônibus do Rio. Nove entre dez dirão que, além do passeio óbvio, como o Pão de Açúcar, a Praia de Copacabana e o Corcovado, os motoristas de ônibus são uma lembrança obrigatória da cidade. É de morrer de rir (pra não chorar). É diversão equivalente à montanha russa. Fiz a experiência com alguns amigos estrangeiros e uma brasileira que morou na França por cinco anos e não andava de ônibus há pelo menos sete.
Um amigo australiano ficou quatro semanas hospedado num hotel no Catete e não visitou lugar nenhum caso fosse necessário pegar um ônibus para chegar lá, a menos que eu o levasse. Fomos ao Maracanã. Ele segurava no ferro do banco da frente como se fosse uma rédea e fazia U-hu! Crazy! Crazy! Crazy! E xingava palavrão e ria, ria, ria. Freadões, aceleradas loucas e curvas emocionantes, dignas de uma corrida de automóveis.
Para se ter a exata noção do que é andar de ônibus no Rio, aí vão alguns trajetos especiais da Zona Sul: Linha 422 (Cosme Velho-Grajaú) é um passeio emocionante. Atenção para a curva que leva à Praça XV, e cuidado para não cair. Linha 584 (Cosme Velho-Leblon-Circular) - experimente sentar no último banco do lado esquerdo e aguarde passar pelo viaduto da Praia de Botafogo que leva à Rua da Passagem. Linha 497 ou 498 (Cosme Velho-Penha) - dispensa comentários. São os mais loucos. Na Avenida Brasil, então, adrenalina a toda...Linha 125 (Central-General Ozório) É conhecido como o "Expresso Ipanema", você faz o percurso Cinelândia x Ipanema em 30 minutos em horário de maior movimento e em 15 minutos depois das 21h. Se você estiver distraído não verá nem o Aterro passar. Linha 570 - Largo do Machado-Leblon (Circular) - Se você tiver paciência para esperá-lo no ponto por meia hora terá um passeio divertidíssimo. Chegará ao Largo do Machado em 25 minutos e ainda rirá sozinho, como eu ontem, vendo um grupo de franceses apavorados, em especial, na virada da Bartolomeu Mitre para o Jóquei, e do Jardim Botânico em diante. Como eles não estão acostumados, não conseguem ficar em pé com firmeza, a descida do grupo foi quase um dominó, seguido de uivos e gargalhadas. Para maior emoção é preciso fazer estes percursos fora dos horários de rush ou aos domingos.


Telefonica
Depois de três dias de mudez, aviso aos amigos que meu celular finalmente voltou a atender. E, pelo que notei, foi o cara da COMM CENTER do Rio Sul que não soube habilitar. E a Telefonica precisou de três dias para descobrir isso. Mas ok. Não quero mais a volta da ditadura militar. No máximo um Stalinzinho como ministro da Fazenda.

03 dezembro, 2001

Amigos de amigos
Descobri um blog legal, linkado no do meu camarada Sérgio Maggi. É o blog a href="http://mundoestranho.blogspot.com">O Mundo é Estranho, que fica no endereço http://mundoestranho.blogspot.com .

Celular

Esta praga do século XX, este "besouro incessante", como bem apelidou o Veríssimo, que toca inescrupulosamente às piores horas de nossas vidas, só nos causa transtornos. Quando mais precisamos falar com alguém o telefone está fora de área ou na caixa postal. Esqueço o meu toda hora, em qualquer lugar, principalmente em casa, e olha que ele é um "tijolão". Se eu perdê-lo, não comprarei outro. Estou tentando, em vão, destruí-lo. Quebrei o flip, não ponho crédito há um tempão e faço o possível para esquecê-lo. Mas sentirei falta. É uma neurose tão séria - um verdadeiro instrumento de tortura - que fez até o Gustavo sentir saudades da ditadura.

Encontros & Desencontros (...)

Conheceram-se ainda com espinhas no rosto, o corpo em mutação, adolescentes que eram. A lembrança mais marcante que ela trazia dele era de uma tarde, ele num ônibus, magro e sorridente como sempre, cantando uma música de sua autoria. Dez anos depois, esbarraram-se na casa de um amigo em comum. Ele, com sua filha; ela, com seu noivo. Ele se separara havia poucos meses e ela iria se casar. O tempo os afastou, mas quando eles se viram, alguns anos depois, ele ainda estava separado, desiludido e perdido. Ela rompera o noivado, estava confusa. Olharam-se carentes. Depois culparam o tempo por não tê-los unido antes.

Vida difícil
É dura a vida de quem seca o Flamengo. Na maior oportunidade que tiveram para ver o clube na segunda divisâo, tiveram que engolir a gente na primeira. Não deu. Para completar, ainda periga o Flamengo se tornar o clube brasileiro com mais títulos em 2001 - se ganhar a Mercosul e o Grêmio não levar o Brasileiro. É difícil mesmo...

02 dezembro, 2001

Bom conselho
Ouçam um bom conselho: caso o aparelho celular quebre e você precise trocar por um novo, mas mantendo a mesma linha, desista. Compre outro, e da ATL, se o seu antigo for da Telefônica Celular. Essa empresa não existe. Muito menos a loja COMM CENTER, do Rio Sul.
Apesar de terem cobrado, de maneira torpe, sem justificativa (a Telefônica) um acréscimo de R$ 100 "para manter a mesma linha", até agora o meu celular novo não funciona. Na COMM CENTER o cara que me atendeu só faltou dizer FODA-SE pelo telefone, quando liguei. Nem pensou em fazer absolutamente nada. E ainda disse que "ih, se for problema de sistema, não há nada que eles possam fazer".
Aí fiz a pergunta, "Por que os ladrões cobram cem reais para manter a linha se eles não têm certeza de que isso é garantido?". A explicação do cara - que não tem nada a ver com o peixe, a cobrança é da Telefônica - foi um show: "Na verdade, a Telefônica dá desconto de R$ 100 para quem compra o pós-pago, é para estimular as pessoas a não comprarem o pré-pago"..
Na Telefônica, liguei três vezes, na última, apesar de eu ter PAGO NA HORA os cem reais, a moça (sempre me chamando irritantemente de "senhor") disse, "Ah, de três a CINCO dias um técnico entra em contato". Legal. Aí, só para testar, perguntei, "e se passar de cinco dias?".
"O senhor deve então retornar a ligação"
É uma merda. Pagamos caro pra cacete em tudo, esses merdas exploram mão-de-obra barata, enchem nosso saco, temos a conta de luz mais cara do Brasil, tudo uma merda. Que saudades, sério mesmo, que saudades da ditadura militar. Muito melhor que essa democracia de merda que favorece a ditadura do dinheiro, dos ladrões.
Já prometo desde hoje cortar relações com qualquer amigo meu que pense em votar no candidato do governo - seja qual for. Podem botar até Cristo como vice.


01 dezembro, 2001

Uma pausa na tristeza
Em meio a imensa tristeza e quase depressão que se apoderou de mim desde a tarde de sexta-feira depois da morte do grande músico George Harrison, uma coisa boa, um momento raro de felicidade: um telefonema. E aquelas velhas manias e risadas revividas, como se tivessem aberto a janela para as plantas que não viam o sol há meses. Here comes the sun.
Mas nada diminui a tristeza com a partida de um beatle, de uma parte da minha infância, e me vem o temor - sem piadas cretinas - de que daqui a pouco não haverá um só beatle sobre a terra.
E enquanto isso eu aqui fico com os olhos completamente molhados ao ouvir Behind that locked door, outra do belíssimo CD All things must pass.