26 dezembro, 2001

Natal
Todo Natal eu penso como criança que acabou de levar um tombo: não foi nada, não. Repito isso para entender todas as coisas que vivi até aqui. Ei, me dê um beijinho aqui, do lado esquerdo do meu ego, para passar a dor de ser quem sou. Dê um outro aqui, para suavizar a saudade que sinto do meu irmão e de outros que morreram. Não foi nada não. Assopre aqui e diga que a vida é assim mesmo e continua. Vontade de não sentir vontade, só inércia causada pela chuva. Sono. Natal com rabanadas e panetone. Na casa da minha mãe, os olhos brilhantes das minhas irmãs e a alegria contrastante da minha sobrinha. Minha mãe sentada no sofá, sorrindo, forçosa, como se também alguém a tivesse soprando um consolo por estar viva. Meu pai estava em outra sala, mas havia alguém lhe dando beijos, também. E houve chuva, ainda. Então eu me lembrei de todos os amigos que gosto e liguei, um a um, mandando beijos e dando meu alô, até ficar com o ouvido quente e cansado de falar ao telefone, desprezando outros tantos que mereciam meu “alô”. Mas o telefone tocou, para mim, de madrugada. E era alguém com quem eu queria muito falar. Que chuva que nada. Insônia no Natal até que é bom.