04 dezembro, 2001

Perdoe esta poesia reta

Perdoe minhas manhas e esta poesia. Perdoe meus olhos tristes e alguma frieza. Perdoe minha idolatria, minhas brincadeiras, algumas palavras tortas. Estou tentando arrancar neste trajeto uma poesia para você. Mas o metrô é rápido e contrapõe-se à lentidão de tudo o que sinto. Perambulo, sentindo-me desconfortável nesse sentimento vagaroso. Mas tento escrever corrido, como quem fala sem amarras nem culpa. Como quem não mede palavras. E temo agredir. Não quero explicar o inexplicável. Às vezes eu tento dizer: sou estranha. Em seguida, penso: somos todos. Curiosa, a menina ao meu lado espichou os olhos. “O que tanto eu escrevo?”, ela pensa. “É para ele!”, responde meu pensamento. Mas sei que se ela gostasse de alguém a quem precisasse pedir perdão, usaria a música da partitura em suas mãos que, só agora, observei. E não uma poesia reta, como esta. Não mesmo. Mas eu me sirvo desta e por tudo isso, peço: me perdoe.