14 dezembro, 2001

Método Gustones de Riqueza ou Fracasso
Lá pelos idos de 1991 ou 1992, não me lembro bem, estava saindo de um namoro daqueles de fazer sujeito largar a família até mesmo se for parente do Antônio Ermírio. Coisa séria mesmo, era a Ana, sobre quem escrevi na série "Mulheres que um dia amamos". Ana não foi bem um dia, mas uns anos. Mas, enfim, no meio do namoro ela me apresentou a Charles Bukowski, um escritor dos mais picaretas que conheço e ao mesmo tempo dos mais irresistíveis. É um picareta único. Esqueçam Sidney Sheldon e Harold Robbins, esses caras da picaretagem limpa. Bukowski era imundo, mas tudo em sua vida era vivido com uma paixão absoluta.
Pois bem, em determinado momento de "Crônica de um amor louco", livro que Anica me emprestou, Buk fala de corridas de cavalos. Me detive ali, pois naquela época há uns bons dois anos eu já estava me interessando pelos cavalinhos, pois além de ser uma forma de você esquecer todas as merdas que estão lá fora do hipódromo nem que seja por seis estafantes e divertidas horas, é uma metáfora da vida: sorte, conformismo, estudo. Sim, estudo. Foi com muito estudo que desenvolvi o método Gustones de Riqueza ou Fracasso.
Primeiramente, sobre as corridas. Hoje em dia, no Hipódromo da Gávea há corridas de sexta a segunda. Nos outros dias eles transmitem Cidade Jardim, Cristal e Campos, páreos onde o risco é altíssimo por causa da falta de informação e retrospecto.
Passar uma tarde de domingo no hipódromo me dá prazer, para fugir da ressaca e às vezes da fossa. Mas em se tratando de apostas, o profissionalismo me empurra para a noite de segunda-feira, esta sim a noite de tentar ganhar dinheiro.
Nos fins de semana, há pules mais altas, pelo alto volume de apostas e principalmente porque uma zebra em clássico - como acontece nos fins de semana - tende a surpreender mais gente. Um azarão que pague 10 por 1 numa turma de cavalos fracos na segunda tende a quebrar o Jockey inteiro se explodir num domingo. Mas isso é muito difícil de acontecer.
Esta segunda eu vou estar de folga e irei ao hipódromo. O método é o seguinte: chegar cedo, para evitar o engarrafamento. O primeiro páreo é às 19h, onde geralmente correm de cinco a sete cavalos, bem como no segundo e no terceiro. Isso varia pouco.
A primeira coisa a ver na revista é se todos os cavalos são da mesma turma, com os mesmos tempos naquela distância. Verificar se algum está pegando uma distância diferente da habitural e se algum vinha de turma mais forte. Um cavalo que esteja inscrito na segunda-feira mas que já tenha corrido há dois meses num domingo ou sábado é um cavalo de turma mais forte, e tende a vencer se não tiver sentido nada.
Identificando a bomba do páreo, não se deve esquecer o favorito. Uma boa dupla inexata a 3 reais com o favorito e a bomba no primeiro páreo podem bem te pagar uns cinquenta reais, dinheiro que se transformará em pólvora inglesa, ou seja, aquele que você pode torrar sem chegar em casa pensando que é um idiota irresponsável e que joga o leite das crianças.
Não acertando o primeiro, aconselho outra dupla no mesmo preço e uma triexata, hoje chamada trifeta. Dizendo "triexata" ao cara do guichê ele vai achar que você é antigo - eu sou - no local e não vai te engrupir caso você ganhe uma grana. Não estou dizendo que isso já tenha acontecido, mas na minha opinião coisas que nunca aconteceram têm sempre mais possibilidade de acontecer pela primeira vez do que as corriqueiras - segundo Murphy diria.
Contando com a sorte, você pode chegar com uns 100 reais ao terceiro páreo - isso só aconteceu comigo três vezes - e aí com calma você pode até dar entrada no projeto maior: o concurso dos sete pontos, que consiste em acertar os vencedores dos últimos sete páreos. Mas faça isso e continue jogando em páreos separados, porém agora opte pela quadrifeta, com combinações a preços baixos. Por exemplo, chegar no guichê e dizer, "eu quero o 2 para primeiro, 4 e 5 para segundo, 6 para terceiro e 4 e 5 para quarto", são duas combinações (2-4-6-5 ou 2-5-6-4), a cinquenta centavos cada, dá um real. Mas a boa, nesse caso é fazer por um real logo, e o mesmo cálculo caso queira colocar mais cavalos. E atenção na matemática.
Com esse método, é bem capaz de você sair do hipódromo direto para o Porcão Rio´s e mandar descer uma garrafa de whisky. Se der o concurso dos sete pontos - esse realmente eu não tenho macete nenhum - você vai no seu próprio carro, comprado na concessionária mais próxima. Em cash.
Depois falo mais sobre o hipódromo e algumas implicações românticas que eu já vivi.