Encontros & Desencontros - nº ?
“Vamos tomar um chopp depois do expediente?”, ele arriscou. Gostava do jeito maroto e espontâneo daquela morena cujo olhar era tão sincero quanto sofrido e que todos os dias lhe dava “bom dia”. Ela era recepcionista de uma seguradora localizada em um desses prédios antigos e tombados do Rio de Janeiro e ele acabara de ser contratado, recém formado em Direito, pela mesma empresa. “Você ainda não conhece meu carro”, ele insistia. Naquela época, gabar-se do carro era ter um Alfa Romeo. O dele era branco e ela adorou. Ela inspirava pontadas de inveja aonde ia, carismática, com sua pele bronzeada, seu jeito alegre. Ele, igualmente, despertava paixões nas mulheres, mas talvez não soubesse, inundado de ciúmes que vivia. Ela se incomodava com o excesso de zelo, com as dúvidas e desconfianças sobre seu comportamento. Por isso ela disse, triste e indecisa, “não quero mais você”, numa tarde de domingo do final de abril, um ano após o início do namoro. Ele não aceitou. Brigaram. Ela foi embora sem olhar para trás, com os olhos inchados, enquanto ele, indócil, entrou em seu Alfa Romeo e numa curva um pouco mais fechada, capotou. Ela soube do acidente apenas duas semanas depois. Quando foi visitá-lo, não era só o rosto dele que ela viu retalhado pelos estilhaços de vidro do acidente, mas também os pensamentos e as emoções. Lembranças vieram dos momentos que não mais veriam. Nunca mais se viram. Era inútil pensar no “se”.
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