18 dezembro, 2001

Where it all begins
Revirando as pastas do meu outlook este fim de semana, achei o primeiro texto que li da Alessandra, enviado pelo Dodô, nosso amigo em comum. Fiquei encantado quando li.
"Considero o outono uma estação muito feminina. A queda das flores e das folhas; o mês de maio na preferência das noivas (ainda é?); o clima ameno; um sentimento de feliz admiração pela cidade - diria até meio maternal - de se olhar apaixonado para a nossa cidade como se ela fosse nossa ³grande² filha. Mesmo que a ressaca espalhe tudo, ainda mais admirarei essa época do ano em que tudo parece mais colorido e bonito de se viver.
Sinto, nesse período sem nome de dez dias antes do inverno, que é como se houvesse um sinal dizendo que há algo muito especial além desse determinismo natural que é a divisão das estações.
A mudança é notada com muita intensidade nesse momento (no mais é eterno verão e inverno) e a gente pisa em folhas secas, tais quais as de Nelson Cavaquinho, ri, pensa, respira fundo e, parece, adquirimos mais força para seguir o resto do ano.
E quer saber?
É uma trégua, é um passe, uma comunhão, um copo d´água numa maratona, uma joaninha numa flor ou cheiro de maresia. É bicicleta roubada. Aconteceu comigo num dia desses de "indo-se o outono". E daí?, estou no Rio de Janeiro, pensei, e de raiva fui a pé para a Pedra do Arpoador ver o pôr-do-sol e zombar do ladrão inebriada que estava num misto de prazer e dor que só o Rio e um grande amor conseguem fazer com a gente.
Pois é, não tenho sugestões de nome para esse período, mas agora que você escreveu sobre isso hei de conformar-me com o inominável só para ter a chance de, todos os anos, buscar uma palavra que defina o sentimento agora já inaplacável: saudade. Sem nostalgia, pois a ansiedade da espera já torna os próximos dias outonais melhores e mais queridos.