17 dezembro, 2001

Insegurança

A paisagem surgia aos poucos, um pedaço novo em cada curva. O escuro causava um pouco de medo, mas parar seria pior. Os muros altos dos dois lados da rua e os carros passando apressados a assustavam. Um barulho ao longe, logo depois os faróis. A chuva não era coadjuvante neste cenário de terror e insegurança. Ao contrário, o tempo estava limpo e a lua a acompanhava com sua intensa claridade. Como fora parar ali, não sabia. Fora seqüestrada e deixada neste estranho, escuro e estreito lugar. O sentimento de insegurança aumentava, fazendo com que suas pernas tremessem, mas ela seguia adiante. Sentiu vontade de chorar e chorou. Estava mesmo só, podia chorar o quanto quisesse, pois sabia, agora, que era forte. Não imaginava como, muito menos se chegaria em casa, mas nunca se sabe também. Nenhum telefone público pelo caminho e nenhuma pessoa à vista. A rua era reconhecidamente perigosa. Não havia para onde fugir em caso de abordagem violenta. Ela suava, andava e olhava para trás. Não via nada além do seu próprio rosto assustado dois metros atrás. Branca e trêmula. Pensara que se escapasse com vida desse estranho seqüestro, o medo não mais faria parte de sua rotina. Enganava-se. Sabia que sua insegurança aumentaria. Mas era preciso seguir. A insegurança é mal disfarçada pela ansiedade. Era quase insegura. Quase morreu.