14 dezembro, 2001

Antes de dormir
Agora sim, eu me espreguicei, abri meus braços, me estiquei toda. Parece que ganho mais espaço fazendo isso, me sinto mais à vontade. A casa é toda minha, a cama é larga mas, ainda assim, eu me encolho num pedaço dela, de preferência do lado esquerdo, como se não tivesse o direito de me espalhar dessa forma. Ao menos, tenho dormido sem sonhar.
À noite, quando eu deito de bruços, com um braço sobre o travesseiro, as pernas ligeiramente dobradas e o corpo cansado, paraliso. Eu...sobrevoando o quarto. Penso no sonho que gostaria de ter. A televisão ligada lá atrás por mais alguns minutos enquanto eu finjo dormir. Aí, lembro de gente que não vejo mais, que apenas passou. Coisas que eu fiz que me libertaram e limitaram. O que pretendo fazer amanhã? Às vezes a cabeça pesa culpada sobre o travesseiro. E aí mesmo é que os sonhos não vêm. Cantarolei uma música antiga e inevitavelmente senti saudades. Deve ser a época do ano. Ano a ano, dia a dia, o pensamento vagueia de pessoa-a-pessoa e a vida também.