27 março, 2002

É sério
Não quero falar de coisas sérias, porque a vida não é mesmo séria. Tive certeza disso ontem, quando almocei num restaurante caro, cujas mesas estavam ocupadas por executivos aparentemente bem sucedidos. Eles comiam comidas dignas do cardápio sofisticado, enquanto eu permanecia no estilo “comida caseira”. Boba, nem fiz valer o preço do buffet com o que realmente valeria a pena. Metidos a besta, todos iguais, com aquela conversa pomposa, um estilo pedante e uma roupa cara.
Eu não queria me impor nesta sociedade. Queria não precisá-la. Queria apenas hospedar-me nela como uma parasita sem caráter, como uma sanguessuga inescrupulosa. Nada mais que isso. Usá-la para soltar os verbos. Um dia que passou? “Saúde-se”, diria o Joaõzinho da piada. Tentei escrever com o coração, mas saiu brega. Ia comentar sobre o gato que deitou no meu colo com seus olhos “cor de mariposa” e mordeu meu pulso enquanto eu teclava, mas isso não interessa. Queria falar da seriedade dos adolescentes (ao menos dos adolescentes pobres) em seus relacionamentos, como me ensinou a professora e pedagoga mais dedicada que conheço - por acaso, minha irmã - mas quem acreditaria que existem adolescentes puros? Falta de assunto é um problema. E sério.