100 anos
Se vivo fosse, Carlos Drummond de Andrade estaria completando 100 anos. No blog da Cora Rónai, um material especial sobre o assunto, com poesias, histórias ótimas do convívio dela com o poeta e curiosidades.
BLOGUS
31 outubro, 2002
The Omen
Comprei terça-feira passada o DVD de um dos meus filmes preferidos: A Profecia (The Omen). Estava a R$ 34 na Siciliano do Botafogo Praia Shopping, e eu, mesmo na pendura, não resisti e adquiri a obra. Não diria que eu sou fã do gênero Terror, mas tenho uma Santíssima Trindade de filmes que considero obras-primas: O Bebê de Rosemary, O Iluminado e A Profecia. Sextas-feiras 13 e Horas do Pesadelo se tornam comedinhas universitárias americanas perto destes três pesos-pesados. The Omen surpreende um pouco mais porque, em confronto com Bebê... e Iluminado, é de um diretor ainda nem tão expressivo para a época (1976) quanto os outros dois: Richard Donner, que mais tarde ficaria mais em nossas memórias instantâneas como o diretor das Máquinas Mortíferas de Mel Gibson.
Ainda que Polanski tenha feito o Bebê de Rosemary também no início de sua longa carreira, não sei, não sei mesmo se antes ou depois de Charles Manson ter feito sua bela Sharon Tate em pedacinhos (se alguém souber, comenta aí, por favor). E, claro, tudo gravado no belo prédio Dakota, em frente ao Central Park, em Nova Iorque, ali onde Mark Chapman acabou com o sonho de vez em 1980, matando o marido de Yoko Ono e lamentavelmente pai de Sean Lennon.
A Profecia, apesar de tudo, tem um grande mago: Jerry Goldsmith, estudioso de piano, mas um dos mais procurados criadores de trilhas de Hollywood. É dele, por exemplo, todas as músicas-ambiente da série Star Trek no cinema (ou 90%), do relativamente recente terror-farofa "A casa amaldiçoada" (com Catherine Zeta-Jones) e do pipocão "A Múmia" - só para se ter uma idéia. E para quem tem mais de 30: é dele a trilha da série western Gunsmoke, cujo xerife deu nome a um dos bons atores de hoje: Matt Dillon.
Os cantos gregorianos/franciscanos que Jerry colocou na trilha de The Omen envolvem o espectador em um clima de mudança de poder. Sim, vendo o primeiro filme da série há uma sensação angustiante de que "eles" estão chegando. Claro, é só a gente olhar qualquer Jornal Nacional que tudo fica mais tranqüilo: "eles" já estão por aqui há muito tempo.
Mas Goldsmith e Donner fazem um belo trabalho de desconforto. Cenas simples, como a de Damien Thorn indo pela primeira vez a uma igreja, são filmadas e sonorizadas de um jeito que é impossível o horror não se apoderar do espectador. Até porque o moleque que faz Damien também parece ter lá sua conexão com o inferno. Sua expressão enquanto a igreja é sutilmente filmada de longe, projetando-se sobre um céu azul, é como a de um animal sendo levado para o abatedouro.
Depois, Kathy Thorn (vivida por Lee Remick) leva seu filho a uma mistura de zoológico com Simba Safari. Para quê? Babuínos e girafas demonstram, incomodamente, "estar vendo" algo horrível ali, onde os seres humanos vêem só um garotinho.
Os corais, aliados aos versos supostamente bíblicos (segundo o filme, do Apocalipse, mas eu não li para confirmar se são reais ou não) declamados por um padre amaldiçoado ajudam a aumentar o clima. Se o espectador é católico, o efeito é muito maior. Quanto mais próxima for a formação religiosa, mais desconfortável se torna "The Omen". Me lembro de, na época em que foi lançado, a censura ser 16 anos (existia isso, alguns filmes podiam para quem tinha 16 mas não para quem tinha 17), eu nunca pude ir, e só vi "The Omen" mesmo em videocassete. Mesmo assim, fiquei fascinado. Influências? Há algumas pitadas de Hitchcock e alguém poderia dizer, de "O Iluminado", na cena em que Damien anda de velocípede - mas o filme de Donner é anterior à obra de Kubrick.
Ah, também é de Goldsmith um efeito hipnótico, terrivelmente incômodo, um som horrível, demoníaco e repetitivo na hora em que o rottweiller infernal olha para a babá de Damien no início do filme. Um som mecânico, automatizado, quase uma música tecno.
Bom, tudo a ver, se for o caso.
2002 - que odisséia é essa?
Este ano está praticamente no fim, faltam dois meses, sendo que dezembro voa. E penso que 2002 foi um ano muito bom. Não ganhei muito dinheiro, é verdade. Mas vivi coisas boas, conheci a mulher mais perfeita que já apareceu para mim, essa menina por quem eu estou apaixonado e que defenderia de qualquer coisa que fizessem contra ela, e ainda firmei algumas festinhas. Tem dado para sobreviver. E Lula ainda ganhou as eleições, o que é um verdadeiro marco para 2002. Ou seja, apenas formas agradáveis de lembrar 2002 com saudades.
Mas...
Acabo de chegar do Maracanã, onde vi o Flamengo iniciar sua descida definitiva rumo à segunda divisão. Ou seja, está confirmado mesmo que nada é perfeito. Um ano com lembranças tão boas será maculado por um desastre de proporções incalculáveis. Chego ao supremo sacrilégio de pensar que ainda bem que meu pai não está vivo há 18 anos. Ele, que me ensinou tudo de humano que eu sei, não suportaria ver o time dele chegar a esse ponto aviltante, ridículo, vexaminoso, inacreditável.
É o fim. O fundo do poço. Acho que acabou. Não vejo esse time em condições de vencer nenhum dos quatro adversários que restam (Botafogo, Portuguesa, Palmeiras e Guarani). Incapazes, divididos entre jogadores ruins que entregam o jogo e jogadores apenas razoáveis que se recusam a jogar. Um fracasso. Gostei da idéia de um amigo para quem liguei agora de madrugada: "Se eu fosse o Hélio Ferraz demitiria TODOS. TODOS, sem exceção, e amanhã. Abandonaria a competição, e iniciaria o trabalho por um novo time para disputar a segunda divisão". O cara está certo. TODOS eles são uns incompetentes.
Você levaria o Liédson para ser atacante do seu time, jogador responsável pelos gols, ou preferiria empregá-lo como MOLEQUE de recados? Eu optaria pela segunda função. O Zé Carlos algum dia jogou futebol? Anderson? André Gomes? Alessandro? Algum deles é jogador?
Athirson teve uma das atuações mais patéticas, ridículas e irresponsáveis que já vi em um jogador de futebol em toda a minha vida. E ainda tomou um cartão amarelo ridículo que o deixa de fora de um CLÁSSICO decisivo contra o Botafogo.
Em suma, não há mais esperanças, não há perspectivas. Talvez a segunda divisão seja o ponto de partida para uma retomada do destino desse clube que meu pai me ensinou a gostar. Sim, penso por esse lado. Para que ficar na primeira? Para continuarem esses caras no clube?
Se não fosse por Marcele, eu certamente já teria enlouquecido. Ou sido preso por apedrejar a Gávea. Bom, alguém tem um coquetel molotov aí?
30 outubro, 2002
Pride
Se eu fosse um famoso colunista social das décadas de 60, 70 e 80, diria "sorry, periferia". Afinal, sair no blog da Cora Rónai já é motivo de orgulho. Ter comentário da famosa jornalista no meu próprio blog, bom, isso supera todas as expectativas. Agora, desconfio de que minha amiga e colega de idolatria (ao Elvis) Elis é quem deu a dica...
O calor está, definitivamente, de volta
Se é que um dia ele esteve ausente esse ano. Tivemos inverno? Eu não sei. Não vi pessoas bebendo vinho e depois saindo com leve embriaguez pelas ruas, não vi a orla cheia de gente com blusas de mangas compridas, não vi planos de passar noites mais longas, não fiquei muito na casa de amigos ouvindo música e aproveitando que se podia ser feliz sem ar condicionado. Não vi, em 2002, o inverno, essa estação que, por força de morar no Rio, acaba sendo uma estação de suave esperança. Se planeja mais no inverno, se pensa mais em encontrar os outros no inverno.
No verão, hesita-se antes de deixar o conforto do ar condicionado. Vamos onde? Ah, ali é quente. Puxa, mas não tem um ventiladorzinho sequer? E com isso, vai se perdendo a arte do encontro, vão se naufragando os dias, sem grandes prólogos, epílogos ou conclusões. Como um amadurecimento sem gosto, como se dias fossem frutos que passassem do amadurecimento para a podridão sem que ninguém os mordesse.
Vive-se apenas um sutil ocaso, uma pressa de resolver logo, como se o melhor fosse o fim, e não os meios - e sabemos que nem tudo é assim. As ruas? Suplício, martírio entre lugares refrigerados. O sol, como chuva de fogo. Camisas criam manchas de suor em pontos estratégicos, a testa se molha, e você quer deitar, mas no início do dia, quando sabe que ainda faltam nove ou dez horas para isso. Mais gelo, mais gelo, essa Coca-cola não está boa, cadê o meu sorvete? E está lá o cidadão se arrastando. "Ah, eu não vou sair para comer não, vou pedir para entregar porque tá quente demais".
E é isso, um Rio de fogo. De férias? Seria maravilhoso. Andar de bicicleta e encerrar com mergulhos no posto 9 e na Praia Vermelha. Trabalhando? Apenas um martírio. Mas sempre se pode piorar, já diz o Alberto Gambardella - nada é tão ruim que não possa piorar. Ou seja, haja mercúrio para pouco termômetro. Vou pro ar condicionado. Até mais ver, blog.
Espaço demais
Acho que usei espaço demais para reclamar de algo tão insignificante quanto o João Kleber, no post abaixo. Ah, mas bebi um vinho chileno aqui e fiquei meio loquaz. Isso passa. Importante é saber que não verei mais o filme 11 de setembro porque algum filho desnaturado colocou todos os finais no Meninos, eu vi. Bom, mas pelo menos tá engraçado.
Cristo não combina com João Kleber
De jeito nenhum. Aliás, a conclusão é a de que Judas Iscariotes é no máximo um ladrão de galinhas, se esforçando muito chegaria a deputado pelo PFL, mas não chegaria ao que é João Kleber, este cidadão que surgiu na mídia como imitador manjado e despencou ostracismo abaixo após a derrocada dos Jecas Colloridos.
Assistir a seu inacreditável programa "Eu vi na TV" (acho que é esse o nome) é um exercício de cidadania. Porque mesmo o mais empedernido dos onanistas se revolta com a maneira franca, cínica, indisfarçável com que o cara passou a explorar a nudez e a putaria em seu programa televisivo.
Explique-se, para não parecer falso moralismo: que se assista o canal 80, excelente. Que se veja o Sexytime no Multishow, beleza pura. Até mesmo um bom filminho com a Nastassa Kinski, de preferência "A marca da pantera", e você dizendo pra sua namorada ao lado, sim meu amor, estou vendo porque quero ver a Nastassia pelada, e pronto.
Agora, o que João Kleber faz no programa ultrapassa os limites do cinismo. Vamos à descrição:
1- Ele tem o que chama de "quadros", que são basicamente a mesma coisa: dramatização com mulheres peladas e uma história completamente idiota. Algumas, plágios de filmes, escancarados, ridículos.
2- Nesses quadros, João Kleber torra completamente o saco do telespectador, falando o tempo INTEIRO: "presta atenção, olha bem o que vai acontecer, heim, é incrível, é incrível". Me lembra aquela brincadeira idiota do cara que está numa rodinha conversando e de repente fala, "gente, pára, pára, silêncio, o que foi isso", e quando todo mundo pára para prestar atenção ele solta um traque. E fedorento. Mas nunca mais do que os traques cerebrais de João Kleber.
3- O mais engraçado é que ele se comporta quase como se a mulher pelada não estivesse ali, fosse do contexto. Exemplo: as dramatizações começam com um casal qualquer, a mulher pelada, simulando sexo. Fica minutos assim, sem história. E João Kleber falando sem parar "olha o que vai acontecer". Bom, eu sei o que acontece desde os 13 anos. Mesmo depois de iniciada a trama, o roteiro simplesmente pára para alguma mulher tomar banho. E fica o João Kleber falando, como se nada estivesse acontecendo. Volta e meia solta um "porra, mas que mulherão, heim?".
4- Aí ele chama os comerciais umas seis vezes. Cada vez que volta dos comerciais, o filme volta um ou dois minutos. Ontem vi uma dramatização inteira (haja saco, ainda bem que tinha Jackass), e houve um momento em que ele gritou "pára, pára, pára", foi para os comerciais, voltou bem atrás, e aí gritou "pára, pára, pára" exatamente no MESMO lugar em que tinha gritado antes.
Enfim, João Kleber se supera. Dizem pela imprensa que ele chega atacadinho no estúdio, e a cada vez que cai a audiência (para onde cai uma audiência dessas?), chega no estúdio ameaçando todo mundo de demissão.
Por isso digo: não dá para ser cristão tendo um João Kleber por perto, não dá para exercer os princípios de perdão, misericórdia, essas coisas. Um João Kleber não se perdoa. Impossível não lembrar do Collor, a quem ele nunca imitou. Enfim, ele segue sua triste sina. Um dia, espero que o Collor o resgate para algum lugar, de preferência onde falte até enxofre.
29 outubro, 2002
Junkie Box
Nesta sexta-feira, aniversário do repórter Rodrigo Mattos, aqui do Lance. Será lá na Spin, eu e Zé Otávio vamos dividir o som mais uma vez. Quem quiser pintar lá, o serviço segue abaixo:
SPIN
Endereço: Rua Teixeira de Melo, 21, Ipanema.
Referência: é a rua que começa na praia e termina na Praça General Osório, a da feira hippie. A SPIN fica logo no início, para quem vem da praia, na calçada da esquerda.
Entrada: R$ 5
Consumação mínima: R$ 7
Som: rock dos anos 90,. 80, 70 e 60, música negra (Marvin Gaye, Aretha Franklin, Temptations, Des´ree, George Clinton), surf music (Beach Boys e Dick Dale), muito Beatles, MPB e BRock.
Citação honrosa
Ser citado no blog da jornalista Cora Rónai é algo que envaidece qualquer um. Agora, ser citado com um dos motivos mais nobres, é coisa que merece comemoração - um bom presente para esse blog aqui, que completa um ano de contador no sábado, dia 2 de novembro, aniversário da amiguinha Monica. O motivo nobre? É só clicar aqui e ver. Tem a ver comigo e com Marcele. Fiquei feliz.
Jackass - a demência continua
Nada é mais demente na história da televisão mundial do que Jackass. Mas eu continuo assistindo, e rachando o bico de tanto rir. O de ontem foi um especial de Natal, no qual um dos loucos passa o tempo todo vestido de Papai Noel. Caracterizado assim, ele faz tatuagens na bunda e vai a uma clínica - peguei pela metade, não tenho certeza - que me pareceu ser especializada em lavagem intestinal.
O Papai Noel Jackass arria as calças e os enfermeiros atocham uma espécie de sonda em seu rabo, que é ligada a um tubinho transparente de plástico. Segundo eles, o intestino vai acumulando "merda residual" ao longo da vida, e nada melhor para o ser humano do que limpar esses dejetos de vez. Sabe-se lá que prejuízos isso pode causar à flora intestinal. O Papai Noel, de barba e tudo, entuba - literalmente - o artefato e todos ficam "assistindo" à "saída" dos dejetos. "Ih, cara, olha lá, você está defecando de verdade, aquilo foi do tamanho de um cocô mesmo", diz um enfermeiro. No final, o Papai Noel diz que está passando meio mal e sai da maca direto para uma privada, onde se senta para defecar, mas não "residualmente". Incrível. E a câmera continua filmando o cara dando uma barrigada. Asqueroso. Incrível é a "curiosidade" que um dos enfermeiros solta: "Sabia que John Wayne, ao morrer, tinha 49 quilos de merda no intestino?".
Em seguida, o mesmo Papai Noel promove um concurso para ver quem consegue beber mais creme de ovos. Notável a frase introdutória: "Todos sabemos que não dá para comer cinqüenta ovos, não é mesmo?", e depois anuncia que o objetivo dos caras é detonar cinquenta copos grandes de um creme asqueroso de ovos (entre outras coisas, leva noz-moscada e o próprio cuspe do "Papai Noel").
O que se segue é um festival de vômitos e cusparadas. Até que o "duende" despeja um copo de vômito com creme de ovos na cabeça de um cara vestido de "boneco de neve". O cara é grande e gordo, fica puto e começa a destruir o local inteiro, dando porrada em todo mundo. Só que a parada é "à vera", dá para perceber depois. Os caras procuram o gordo e ele pede desculpas pela destruição, beija o "duende" que ele quis matar alguns minutos antes, etc. Incrível.
É o programa mais demente que eu já vi. O incrível é que quando começa eu não consigo parar de ver.
28 outubro, 2002
Blog dos bons na área
O fotógrafo e dublê de porradeiro (se amarrava em artes marciais e tem a maior pinta de lutador) André Arruda está com um blog ducaraio: http://www.oncamera.blogger.com.br/. Entre comentários sobre cinema (melhores comentários do que muito crítico pedante por aí), o cara manda fotos muito boas do dia-a-dia dele.
Só não sei como achei direito, já que ele me passou que era "on camera" ontem, no Bar Hipódromo, eu já no quinto chope. Mas será adicionado em breve à lista lateral. Vale a visita. As fotos são maneiras mesmo.
De repente essa clareza para notar
É difícil arrumar algo para comparar. Não é bem a sensação de uma coisa ter vinda tarde demais, não sinto como se fosse um sonho atrasado - até porque o Lula de 2002 me parece muito mais qualificado para reconduzir a nação aos trilhos do que o Lula de 1989. Mas foi feliz e ao mesmo tempo angustiante ver Lula discursar para milhares na Avenida Paulista, ver uma coisa que nunca tinha acontecido antes: pessoas comuns comemorando a eleição de um presidente. Não, não houve a mesma coisa com FHC, muito menos com Collor, jamais com Sarney. E de Sarney para trás, nem pensar. Jânio? JK? Dutra? Talvez Getúlio Vargas tenha provocado essa mobilização popular espontânea - mas depois de 1937, ele já tinha contestação o suficiente para não estimular muito essas manifestações quando foi eleito pelo povo em 1950.
Lula é, portanto, um marco. Pela primeira vez um país inteiro festeja, quase como na música imortal de Aldir Blanc: "Onde tantos iguais se reúnem contando mentiras para poder São pais de santo, paus de arara, são passistas; são flagelados, são pingentes, balconistas, palhaços, marcianos, canibais e uns pirados, dançando o domingo de olhos abertos na sombra da alegoria dos faraós embalsamados". Sim, parecia esse domingo, que na letra genial de Aldir é um domingo que deveria ser triste mas é o da felicidade dos excluídos.
Ao lado de Marcele, no Bar Hipódromo, senti o coração apertar, ao ver a cena: pessoas felizes com uma eleição de um presidente, que falava na televisão. Insisto, é estranho, inusitado. Claro, alguém deve ter festejado a chegada do Collor ao poder em 1989 - mas não se pode negar que foi a festa do ódio, ódio aos marajás, ódio aos comunistas baderneiros, etc.
A festa ontem tinha um quê de alívio, de esperança como eu nunca tinha visto. Pessoas se abraçavam naquele bar Esperança em que se tornou o Hipódromo, onde parecia que todo mundo estava. Cumprimentei uns 25 conhecidos. Via as imagens do Leme, da Avenida Paulista, de Belo Horizonte, de Recife, de Caeté, e vi que a força desse desejo é enorme, que nunca um presidente chegou ao poder com tanta responsabilidade, quase como um herói de todo um povo que precisa disso e há muito não tem. Fora os Ronaldinhos e Romários, não havia heróis para esse povo que tanto necessita.
Mas fiquei pensando em quem ficaria feliz mesmo com aquela festa: eu mesmo, há 13 anos, quando chorei de verdade, decepcionado com a vitória do ódio, que foi a vitória do Collor. Uma desilusão que me levou, nos anos seguintes, a acreditar menos em soluções políticas, que me levou a não votar no Lula, até que no primeiro turno, um mês antes, li a carta que eu escrevera para mim mesmo. Não, mentira, eu já estava decidido a votar no Lula, mas ver aquela carta para mim mesmo, que escrevi após a derrota de 1989 e guardei em um pacote cheio de coisas da eleição, encarei tudo como uma dívida.
Eu tinha que pagar essa dívida com aquele que chorou, aquele que já não está mais aqui, que sou, ou era, eu mesmo.
E ontem, ao lado de Marcele, feliz com a vitória do Lula, eu pensei: i wish you were here. Sim, queria que o Gustavo de 1989 estivesse ali. Não está mais. Mas agora ele pode descansar em paz. A dívida foi paga. O desejo dele, atendido. Lula é presidente do Brasil.
Talvez um anjo tenha ganho suas asas.
26 outubro, 2002
Tua glória é lutar
Escrevi o post abaixo, aqui mesmo, antes do jogo que levou meu time para mais perto do rebaixamento:
Como no primeiro hino do clube, vale lembrar: Flamengo, tua glória é lutar. Danem-se Meninos da Vila, foda-se a Vila Belmiro, vamos para cima, com André Paraná e Valnei na zaga, velas, galinhas pretas, orações, santinhos, pastores da Universal, tuaregues montados em dromedários, rezas em direção a Meca, meditações em templos budistas, enfim, qualquer forma de pedir a Deus pelo Flamengo está valendo.
Se vacilar, e faltar pontos para salvar do rebaixamento, defendo até apelar para aquele que fede a enxofre. Ou então pegarmos em armas, todos, e tomar o poder para impedir a tragédia maior.
Pois é. O problema é que o time já é ruim. O time já estava apelando ao escalar uma dupla de zaga que nunca atuou junta. Os dois, André Paraná e Valnei, já não são grande coisa. E ainda colocam para apitar o jogo um facínora, um assaltante, um ladrão, um porco chamado Wilson de Sousa Mendonça, especialista em garfar o Flamengo. Aí, realmente não dá. Expulsou o idiota do André Paraná com 20 minutos de jogo, sem dar cartão amarelo, em uma falta na qual o cara foi ingênuo. Claro que o Robinho, o jogador da moda, fingiu que machucou e um minuto depois estava inteiro. Claro que o Léo, lateral do Santos, fez a mesma coisa com o Liédson e só levou o amarelo. Claro que o juizinho safado inventou um pênalti inacreditável (perdido por Elano, afinal, pênalti roubado não entra) e é claro que o retardado mental chamado Valnei que contrataram para o meu time tinha que ir babar na cara do juiz para enfim dar um motivo e receber cartão vermelho.
O caminho para o desastre está mais do que claro. É o rebaixamento, e na minha opinião, merecido. Agora, quem for responsável tem que pagar pelo que acontecer. E pagar caro. Principalmente presidente louco que diz "ainda acredito no título".
Marcele e (é) o presente
No dia 29 de julho de 2002, ganhei de presente o CD "Are you passionate?", do Neil Young. A moça linda que me deu esse presente acabou se tornando ela mesma o maior presente que já ganhei na vida, o presente definitivo, uma vida que será sempre um sonho. Se eu não fosse me apaixonar por ela, por quem iria me apaixonar? Marcele é daquelas aparições raras, como acontecimentos que exigem conjunções astrais que demoram séculos para acontecer. Ter encontrado Marcele foi como se todas as músicas de que um dia eu gostei na vida tocassem ao mesmo tempo por todo o planeta.
E ela, linda como sempre, me diz muito mais do que isso no post que escreve aqui.
Pelos de baixo
Não, o título não se refere a nenhuma campanha de fraternidade da CNBB para os excluídos. Falta o circunflexo aí, "pêlos de baixo", foi o tema de um anúncio feito pela Monique Evans em seu cada vez mais inacreditável programa Noite Afora. Que deveria se chamar Noite Adentro, com trocadilho por favor. Ao mostrar uma escova "revolucionária", a grande diva das revistas de mulher pelada simplesmente abriu as pernas e meteu a escova na, bem, região pubiana (por cima da calça) e mandou, "também penteia os pêlos de baixo, olha aqui". E esfregava.
Depois, continuou a entrevista, com um cantor chamado Frank Aguiar e uma modelo-atriz-recepcionista chamada Daniela Oliveira, que tinha posado pelada para a Sexy, se não me engano. Aí vem o diálogo espetacular, no qual Daniela diz que nunca transou. Escândalo. Perguntam a idade, é 21 anos. Bom, até aí tudo bem, até que, do nada, simplesmente do nada, a moça diz que terá que perder a virgindade com um médico (isso depois que a Monique mandou trazer um pau de plástico para perguntar "imagine isso aqui entrando em você"). "Um médico? Mas até já escolheu com quem vai perder o cabaço?".
A moça explica: "minha vagina é tampada". Monique pira de vez e manda colocar uma "música de suspense", para o incrível caso da "xereca tampada" (xereca é com x ou ch?).
A coisa segue nesse nível, Monique pergunta, "mas você é virgem de tudo, atrás, na boca, nunca fez um sexo oral, nunca entrou nada nessa boquinha?". A mina diz que não. Bom, ela posa pelada para a Sexy e diz trabalhar como "recepcionista de eventos" (um eufemismo antigo), e diz ao mesmo tempo ser virgem - ou seja, estamos diante da piranhagem casta.
Só sei que apesar de estar rindo muito da situação surreal, troquei de canal na hora em que o Frank Aguiar começa a falar um papo reto com a Monique - papo que começa com a sutilíssima pergunta: "Mas e aí, Frank, você já arrancou algum cabaço?", e o Frank diz que já, e que foi tudo bem. E acrescenta: "Inclusive, se eu puder ajudar alguma coisa no caso da moça, estamos aí".
Todo dia deve enjoar, mas pelo menos uma vez por semana é engraçado ver o programa (com trocadilho, por favor) da Monique Evans.
Debate morno
Um debate morno só poderia ter sido vencido pelo Serra, como efetivamente foi o de sexta na TV Globo. Falo, claro, do ponto de vista comunicacional mesmo. Serra foi mais "eficiente", levou o "MVP (most valuable player)" do debate, principalmente ao repetir ad nauseum: "Estou citando o exemplo da administração do PT para que o Lula veja que criticar é mais fácil que governar". Serra reverteu então o jogo, fazendo isso ficou meio "oposição". Em suma, típico de marqueteiro mesmo: ele representa (imerecidamente, pois em outras circunstâncias seria um bom candidato) um governo falido e conseguiu posar como "oposição" às prefeituras petistas. Risível a correção dele: "Lula, o valor da bolsa-alimentação que damos não é de R$ 7 e sim de R$ 15". Fosse em um debate de rua, e mereceria uma resposta malcriada, do tipo "os outros R$ 8 são para pagar a tua mãe". Mas não era, era sim um debate civilizado. Chato, morno, mas melhor para o país do que ver o Lula discutindo com um psicopata irrecuperável como o Collor, por exemplo.
Serra ainda venceu quando ficou como o "oprimido". Lula pecou ao ser arrogante, provavelmente por causa da crise de nervos da qual ele chegou bem perto. "Eu não pediria isso aos nossos eleitores porque aí vamos ultrapassar a casa dos 100 por cento", mandou Lula, debochando desnecessariamente da nova campanha de Serra em que ele pede a cada eleitor seu que consiga mais um voto. Bobeira do Lula falar assim, como se fosse o campeão de votos (que por três outras ocasiões não conseguiu nada, aliás), como se agora pudesse sacanear o outro por ter menos votos. Aí Serra terminou o debate com uma cara de triste que comoveu até Marcele, que via tudo ao meu lado. "É a cara dele mesmo, meu amor", eu disse, fazendo questão de que minha namorada não sentisse compaixão pelo tucano.
Enfim, Serra venceu o debate. Mas quanto à eleição de amanhã, sabemos que é outra história. Mas valeu ter uma disputa presidencial legal assim, tranqüila, em que os dois candidatos afirmam que vão telefonar para o derrotado na semana da eleição, enfim, deu a impressão de que o Brasil fica mais civilizado politicamente - e não uma disputa em que um é chefe de quadrilha, inescrupuloso, extrema direita, com passado nebuloso, e usando de tudo (acusação de aborto, aparelho de som caro demais, baderna) para vencer. Claro, o Collor. E foi bom ver o Lula não encerrar sua campanha com a expressão "caçador de maracujás" como ele fez em 1989.
Agora, é isso aí.
25 outubro, 2002
Listas de tudo
Dica do meu amigo Fábio Ribeiro (ex-Varsano): um site só com listas de "os melhores, etc".
É só clicar neste link, ó: http://members.fortunecity.com/acclaimedmusic/A63.htm
24 outubro, 2002
Derrota nos dois tapetes verdes
Derrota no Orlando Scarpelli, depois que Sandro Hiroshi, Liédson e Andrezinho (os três deveriam trabalhar de entregadores de tinturaria ou coisa assim, ao invés de jogar futebol) perderam centenas de gols feitos. E derrota no tapete verde da sinuca (3 a 1 no mata-mata e 3 a 2 na sinuca comum), esta última porque o mais punk que o Sid Vicious decidiu fazer merda atrás de merda. Tudo bem, eu também não estava em uma noite muito boa...
A tragédia nostra
Vi na terça-feira o Ônibus 174, documentário sobre aquelas horas de terror que o Brasil inteiro viveu no dia 12 de junho de 2000. Um daqueles dias em que cada um sabe onde estava na hora, como no antigo filme "Onde você estava quando as luzes se apagaram?", este relatando o famoso black-out de NY nos anos 50. Bom, perto dos Osamas, um black-out é fichinha. E perto de horas acompanhando um seqüestro ao vivo, um black-out fica até parecendo a "hora do parabéns" em festinha de criança.
O cineasta José Padilha foi extremamente feliz na divisão do filme entre vítimas, poder público, imprensa e parentes e amigos do matador, o Sandro do Nascimento. Em todo momento, o que é destacado é nada mais que a tragédia social de um país em frangalhos, destruído, fracassado, inviável. Desde o dia-a-dia no bairro Boavista, de São Gonçalo, até a convivência nas carceragens imundas (as imagens destas são chocantes e fazem mal ao estômago), Padilha mostra todos os ingredientes para a criação de monstros como Sandro do Nascimento. Sem pena dele, mas ao mesmo tempo mostrando o quanto cada um contribui para que Sandros existam: corrupção, política, descaso individual, egocentrismo, tudo isso se somando para a formação de uma sociedade cuja única perspectiva é um futuro Mad Max. E, claro, 12 milhões de desempregados (cortesia de FHC) não melhoram nem um pouco esse quadro.
"Ônibus 174" é sombrio, mas não traz a escuridão que, por exemplo, traz o excelente "Notícias de uma guerra particular". Enquanto "Notícias..." é sombrio, dantesco, terminal, "Ônibus 174" ainda deposita valores bons nos seres humanos, mesmo naqueles que estão quase deixando de sê-lo. A última cena do filme parece traduzir isso que José Padilha quis mostrar.
O tempo todo são mostradas as trapalhadas inacreditáveis: a divisão de negociadores (qualquer leigo sabe que só pode haver UM negociador direto em situações graves de seqüestro), a inoperância, a falta de jeito para lidar com a população que cercou o local (o fim do seqüestro quase termina em praça de guerra), e principalmente a influência do governador Garotinho. Esta é mostrada sub-repticiamente, aos poucos, deixando claro o que todo mundo já sabe: o governador proibiu que executassem Sandro na frente das câmeras (o que seria tecnicamente e estrategicamente a única coisa a fazer, no momento em que Sandro põe a cabeça e o braço armado para fora pela janela).
Ou seja, por causa de futuros ganhos políticos, uma vida, a da professora Geiza, foi perdida - para que o "pobre governador" não tivesse problemas. É triste, que República.
"Ônibus 174" é um filme para quem quer sair do cinema chocado, em silêncio, pensando no meio em que vive. Não é recomendável para pessoas que tenham a intenção de ver a vida através do próprio umbigo. Pode fazer mal ao estômago - e pior, o mal ser confundido com gastrite.
Abaixo, uma curiosa parte da sentença do juiz Mazza, que encontrei aqui
(...) 5.2 Por derradeiro, destaco que o MP mostra desconhecer a realidade ao afirmar que a conduta dos réus gerou clamor público e sensação de impunidade no meio social. Uma vez presentes, realmente justificariam a prisão preventiva postulada. Mas, na verdade, o grande clamor que houve foi com relação à morte de Geisa, jovem atuante na comunidade da Rocinha, o que inclusive deu ensejo à manifestações sociais. A revolta foi tamanha que populares tentaram linchar Sandro no próprio local e provavelmente matariam-no ali mesmo se não fosse a ação dos denunciados. A morte dele, como aduz o MP, pode ter ocorrido na forma de execução sumária, como na época medieval, já que estrangulado e morto por asfixia em momento que estava sob proteção do Estado. Fato grave e que, caso seja comprovado, sem dúvida nenhuma exigirá uma punição exemplar. No entanto, não podemos ser hipócritas e afirmar que a morte de Sandro pela polícia tenha causado um clamor por parte da população. Ao revés, ninguém chorou a sua morte, sendo que muitos até a aplaudiram, conforme diversas vezes a mídia noticiou. Que a operação policial foi trágica, desastrosa e quiçá criminosa não há quem conteste, mas sentimentos de clamor e de impunidade, com relação aos réus, simplesmente não existem.
5.3 Assim, pelos motivos acima expostos, INDEFIRO o pedido de prisão preventiva.(...)
22 outubro, 2002
Dez filmes e uma loira de verdade
Podia ser loira falsa, mas Monica (assim, sem acento circunflexo), que me liga neste fim de tarde para falar da vida, é loira de verdade. É a minha única amizade polêmica, daquelas pessoas que são detestadas por metade do eleitorado - eu estou na metade oposta, dos que sempre gostaram dela e de sua risada escandalosa, desde os tempos de A Notícia. Por que os outros detestam, raramente sei. Ou melhor, de motivos concretos, não conheço nenhum, apenas rumores e impressões.
Conversamos quase uma hora sobre a vida, sobre mulher, sobre os homens que ela não entende, sobre Cidade de Deus, sobre filmes em geral, etc, etc, etc. Eu falei de Marcele, ela me disse que estava solteira. Bom, me pediu que mandasse por email uma lista com dez filmes para ela assistir. Como estou com preguiça de mandar por email, seguem aqui 10 filmes para mulheres solteiras ou qualquer pessoa que queira se sentir bem.
1- A felicidade não se compra - Não vale, porque esse filme de 1946 entra em qualquer lista que eu fizer. Uma fábula de Natal, direção de Frank Capra e atuação magnífica de James Stewart. Obrigatório para que a gente continue acreditando que tudo um dia vai dar pé.
2- Despedida em Las Vegas - Um dos meus preferidos. Nicholas Cage quer morrer de tanto beber. Elisabeth Shue quer viver de tanto morrer. Ambos se encontram por acaso e fazem uma das mais lindas histórias sobre amor e tolerância que eu já vi.
3-Coisas que você pode dizer só de olhar para ela - O diretor desta série de contos interligados é o filho de Gabriel Garcia Marquez. Achei prodigioso.
4-Quase famosos - Sim, por que não pensar que você, mulher solteira, está dentro daquele ônibus cantando em côro aquela música de Elton John e, acima de tudo, pensando que tudo afinal está dando certo?
5-A chave do sucesso - Um filmaço quase desconhecido, cujo título em inglês é "THE BIG KAHUNA". Com Kevin Spacey e Danny de Vito. Altamente recomendável para quem quer saber que a vida vale mais do que um particular ou do que um momento. Filme no entanto essencialmente masculino.
6-Short Cuts - Mais um filmaço de Robert Altman. Vale alugar a fita.
7-Buena Vista Social Club - Porque a vida também é música, e esse filme mostra vidas de quase cem anos relacionados a Música. É comovente ver pessoas que se importam também com o canto, o ritmo, e ver como se sentem tocadas por algo diferente enquanto estão expressando sua dor. Acho que esse não saiu em vídeo.
8-Sleepless in Seattle - Eu acho que em inglês é "Sintonia do amor", com Tom Hanks e Meg Ryan. Ah, vá lá, em uma lista de dez filmes para uma mulher solteira é possível deixar de fora um filme de Meg Ryan? Ainda mais esse, que tem cenas muito bacanas envolvendo um programa de rádio, uma mulher sozinha em uma estrada e o cara sozinho em um barco.
9-Descalços no parque - Comédia de 1967, primeiros papéis famosos de Jane Fonda e Robert Redford. Casalzinho recém-casado em aventuras dentro de seu prédio, que incluem a ida a um restaurante albanês e uma quase separação. Ótimo.
10-A insustentável leveza do ser - Excelente filme de Phillip Kaufmann (o mesmo diretor de Henry & June). Tem Juliette Binoche, Lena Olin e Daniel Day-Lewis, e um final comovente, emocionante. Se eu fosse do MENINOS EU VI, talvez contasse.
Bom, são esses. Quase todos disponíveis em VHS.
As trilhas e os rumos
"Trilhas e rumos" era a marca - ou ainda é - de "equipamentos aventureiros" preferida da galera quando eu tinha entre 17 e 21 anos, um período realmente obscuro da minha biografia (tivesse eu o ego um pouco maior e compararia esse tempo ao período entre a adolescência e a crucificação, no qual até hoje ninguém sabe o que Cristo andou fazendo). Hoje, andando na pista Cláudio Coutinho, pensei nas trilhas. E pensei nos rumos. Mais uma vez a sensação de vertigem inevitável diante das coisas que mudam sem te avisar.
Na parte abismal da pista, colocaram uma grade. Mais do que necessária, pois um passo em falso levaria o corredor direto para o colo do além. Mais à frente, banquinhos em pequenos jardins floridos, sagüis espalhados por arbustos, e a trilha para o Morro da Urca completamente aberta, a mesma trilha onde há 20 anos eu me embrenhava e saía todo cheio de carrapichos. Hoje, um passeiozinho para turistas gordos e desavisados.
Não subi. Continuei a caminhada, pensando no que poderia ter me levado a ficar tanto tempo sem andar naquela pista - a vista para o mar, obviamente continua belíssima. Se há uma coisa que resiste ao tempo é a vista para o mar, seja de onde for.
Mais adiante, um cão, cão mesmo, não cachorro. Não grande, mas também não pequeno, mas um cão - nome que se dá para mim a cachorros com cara de selvagem ou de abandonado. Ou ambos - na verdade, pode-se ser selvagem e abandonado, uma coisa como conseqüencia da outra. Comentei com Marcele, que caminhava ao meu lado (antes dela ir para a aula na UFF), que o cão deveria pertencer ao "Sem Futuro". Explica-se: Sem Futuro é o Gomes. Não é um mendigo, pois a ninguém pede nada. Não é um louco, pois não se vê ele fazendo nenhuma loucura, a não ser morar há anos, desde que eu era criança, no meio do mato que fica logo abaixo do Pão de Açúcar.
Como diz Cortázar, "um exercício para chorar é pensar em um daqueles golfos da Terra do Fogo, onde ninguém vai, nunca". Eu acrescento: um exercício para chorar é imaginar uma chuva grossa como a que provavelmente está caindo agora, e o Sem Futuro ali no meio do mato, procurando uma caverna para se abrigar, ele e os dois cachorros e dezenas de outros bichos.
E, sim, completamente sozinho. O Sem Futuro, como o chamávamos há 15 anos, ainda existe, ou seja, teve futuro, ainda o tem. Meu caminho se cruzou com o dele mais uma vez - quantas vezes ao pegar uma trilha errada eu ia parar na "casa" dele (uma clareira com roupas penduradas e objetos espalhados pelo chão), e me assustava, mas ele apenas nos olhava, às vezes sorria, mas nós iamos embora.
Completamente sozinho esses anos todos. Ele e os dois cachorros - que talvez nem sejam os mesmos. E nessas horas fico pensando se alguma coisa é real ou se simulamos quase tudo mesmo, como a velha história do homem que sonhava ser um gafanhoto sonhando que é um homem. Hoje, ao confirmar que o cão era do Sem Futuro, o procurei, e dei de cara com ele, absoluto, soberano, sentado à beira do caminho em uma cadeira de praia, com a pose de um rei, olhando para o falso horizonte daquele pedaço de oceano.
Como se para um rei bastasse um falso horizonte.
21 outubro, 2002
Nem eu acredito
Sim, estou em casa. De folga. Só trabalho quinta-feira.
Meus músculos chegam a estalar com a primeira seqüencia de três dias sem trabalho desde a folga pós-Copa.
I-Best dos blogs
Estou pensando se devo inscrever este blog aqui no I-Best. Ainda não sei se rola uma grana (a única coisa que me motivaria a tentar). Mas no fundo, acho um puta egocentrismo cadastrar um blog para o I-Best. Esta é apenas a minha opinião. Que você coloque um site onde uma equipe trabalha, se esforça, tudo bem, agora querer ser "premiado" por um espaço onde você pode até se limitar a escrever se acordou ou não de ressaca, aí já é jogar demais para a arquibancada.
Porém, uma decisão eu já tomei em relação a esse negócio do I-Best querer premiar blogs: seja o que acontecer, meu voto no I-Best será do companheiro iAlexandre Inagaki, que mantém seu espaço iPensar enlouquece com assuntos instigantes, interessantes, de bom nível e na maior parte das vezes com curiosidades espantosas. O blog do iInagaki - sem desmerecer outros blogs amigos, por favor - é realmente o tipo de trabalho que cria fãs em torno, e eu sou um deles.
Novas campanhas
Já estão aí do lado os banners da campanha contra o consumo abusivo de pipocas durante sessões de cinema e o da campanha pela proclamação do nome de Maloca como o último punk vivo do planeta. Adesões, pelo sistema de comments, por favor. Quanto à pipoca no cinema, até agora todos defenderam seu consumo, inclusive Chahim, que já me disse não gostar muito de ir ao cinema - agora ele tem o recurso do Meninos eu vi para saber tudo sobre os filmes sem precisar ir ao cinema.
Era verdade
O Dia realmente fez uma matéria com Meninos eu vi. Eu sabia que a matéria estava sendo feita, até porque a repórti é amiga, mas até o último instante achei que eles recuariam. Mas está lá, o blog mais espírito de porco do universo. Contracapa do Caderno D de domingo. É inacreditável...
Jackass, o programa
Inacreditável o programa da MTV americana que passa no Multishow. O pior de tudo é que não dá para deixar de rir. Os quadros às vezes são sem graça, mas quando tem graça, tem demais. Um dos caras se caracteriza, segundo sua própria definição, por fazer "quadros que o deixam com cheiro horrível". De fato: primeiro, vejo o cara com a seguinte tarefa: entrar em um tanque de um barco de pesca e receber centenas de sardinhas trazidas de alto mar na cabeça. Sardinhas às centenas, que poucos minutos antes estavam no sol, imersas em uma água fétida, pútrida, são despejadas sobre o infeliz, que, para piorar, parece ter aversão a peixes. E de fato não deve ser uma coisa agradável a pele escamosa de um peixe encostada na sua.
Depois, o mesmo retardado está em um monociclo, equilibrando-se na beira de um canal de esgoto. Sim, esgoto. Os "amigos" ficam meio longe, fazendo observações como "cara, aquilo é merda mesmo" ou "você tem que ser forte para ser burro" (frase que inicia uma música com esse verso). É claro que o cara cai no esgoto e já levanta vomitando.
Ao sair do esgoto, porém, os "amigos" gritam: "peraí, cara, cadê o monociclo? Precisamos dele! Vá buscar". E o cara que tinha acabado de vomitar volta para o esgoto, só que dando um pulo com salto mortal, como se estivesse pulando na mais límpida das piscinas. Tchibum, na merda.
Depois de chafurdar um pouco, o cara se levanta com o monociclo na mão e começa a fazer um trajeto para casa, enquanto tocam a música "if you gotta be donk you gotta be tough". De cinco em cinco metros, o cara dá uma golfada. No final, debaixo do chuveiro gritando "oh, meu Deus", ele se vira para a câmera e dispara: "ei, será que vai ficar legal o quadro do monociclo".
Puta que pariu, isso é que é profissionalismo.
Ela insiste
A governadora eleita volta a atacar: "É um absurdo que as pessoas digam que o crime está reagindo porque a Benedita está prendendo criminosos" (nota: Benedita e seu governo estão mesmo prendendo criminosos). "O que está acontecendo é falta de comando do governo atual, isso começou quando o Garotinho saiu".
Ela insiste com a tese de que falta um dos dois comandos, ou o terceiro ou o vermelho, na administração estadual. Bom, pelo jeito não vai faltar a partir do ano que vem.
20 outubro, 2002
Notas domingueiras
Está lá em O Globo deste domingo: ataques são reação do tráfico à quebra de pacto. Leio a reportagem, viro a página, e tem lá a governadora eleita, mais uma vez sem a menor noção do que está acontecendo, com um nível de alienação só comparável ao dos seus eleitores (alguns eu noto que se orgulham de não ligar para política): "A autoridade será restabelecida".
A declaração da governadora eleita pode causar problemas, pois ela não especifica se será restabelecida a autoridade do Comando Vermelho ou a do Terceiro Comando.
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De repente entro em um certo blog e descubro que minha namorada revelou sua identidade secreta. É isso aí: Marcele e Sarah Ivich são a mesma pessoa.
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Atração de O Dia deste domingo: os caras daquele blog espírito de porco, o Meninos Eu Vi. Aliás, me parece que o título da matéria é esse, "espírito de porco na internet". Daqui a pouco vou lá comprar o jornal.
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Depois de uns nove anos sem ir lá, ontem fui ao Lord Jim Pub. Lugar legal. Sempre achei. Mas confesso que nunca tinha ido sábado, apesar de imaginar que a coisa devia ferver. Bom, apesar de estar menos lotado do que muitas coisas que já vi no sábado à noite (Marcele também achou isso), tinha o mundaréu de gente típico de lugar pequeno e apertado. O engraçado: o lugar é cheio de mesinha para sentar e conversar, mas os caras colocam o som em um volume como se fosse uma boate para dançar (não entendo porquê). Resultado: conversa aos berros e quase-surdez ao lado da caixa de som.
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Hoje, em Salvador, mais um capítulo da nova luta contra o rebaixamento - luta esta que prevejo inglória, pois pela primeira vez a certeza é absoluta de que o time da Gávea vai cair. Mas que seja o primeiro passo para a mudança total. Não é possível que o time de maior torcida tenha se tornado o mais quebrado, aviltado e massacrado do Brasil nos últimos dez anos. Chega.
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Mais novidades da campanha "Sid Vicious é o caralho, punk é o Maloca": o banner já está pronto, a foto é mesmo do Sid Vicious, pois Maloca, através de seu advogado Oscar Figueira, entrou com um pedido de liminar no TJ (e foi atendido) proibindo a utilização de imagens suas na campanha. Aliás, ontem, ótimo o diálogo: "E aí, onde anda o Sérgio Maggi?" (obs: eles racham as despesas de um apê em Botafogo). Resposta punk: "Sei lá, não vejo o Maggi há cinco dias". Só tem punk morando naquele apê de Botafogo.
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Aliás, pedi a Marcele que fizesse também um banner para a campanha "Abaixo os ruminantes, pipoca no cinema, NÃO!". Haja saco para ir ao cinema com um bando de vacas mascando um pacote de meio quilo de pipoca do Cinemark ao seu lado. Não há nível de concentração que a gente possa atingir com o barulho asqueroso.
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Leio que o aumento dos juros, só de cara, já eliminou seis mil novos postos temporários na indústria de brinquedos. Parabéns, governo. É isso aí, para que trabalho? "O Natal acabou", disse o presidente da Fecomércio. Será que é de propósito que neguinho estimula o desemprego?
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Faltam 72 dias para o início das minhas férias.
19 outubro, 2002
O mundo de Capra
Sexta-feira light, em casa com Marcele vendo "A Felicidade não se compra" ("It´s a wonderful life"), talvez o filme da minha vida, que adquiri recentemente em DVD. Ótima cópia, com exceção de um ou dois cortes abruptos mas que não prejudicam nada. Como sempre, assisto o filme em lágrimas pelo menos desde a metade até o final apoteótico. E olha que já vi "It´s a wonderful life" umas dez vezes. Mas não tem jeito. Em um mundo onde pessoas praticamente ignoram a existência do sentimento alheio, ver George Bailey abrindo mão de sua felicidade em nome de pessoas desabrigadas é simplesmente de cortar o coração.
Para quem nunca viu essa obra-prima do diretor italiano (radicado nos EUA) Frank Capra, explica-se: George Bailey é o herdeiro de Peter Bailey, que em plena depressão dos EUA manteve uma loja de empréstimos que financiava casas para pobres em Bedford Falls. Quem dá o lastro financeiro para as atividades dos Bailey é Henry Potter (não confundir com o Harry), banqueiro frio e calculista que vê números onde deveria ver pessoas.
O grande sonho de George é viajar, conhecer o mundo. Às vésperas de ele partir para a faculdade, parte essencial nos seus objetivos, o pai morre. Durante a reunião para avaliar se a Bailey Loans & Building deveria continuar ou fechar, Bailey solta um discurso incrível, que me lembra algumas coisas dos dias de hoje: "O senhor, senhor Potter, quer que as pessoas fiquem juntando dinheiro ao longo da vida inteira e só depois tenham suas casas próprias, mas para quê? Quando elas vão poder ter isso? Quando estiverem velhas, sozinhas, e os filhos abandonado suas casas? Elas querem agora, senhor Potter". O discurso de Bailey arrepia - me lembra mesmo algumas teses dos dias de hoje, e olha que o filme é de 1946.
Os acionistas gostam do discurso e mantém a firma funcionando com uma condição: que Bailey seja o presidente. Daí em diante, Bailey segue fracassando. Não viaja na lua-de-mel, quase vê a firma fechar, vai morar em uma casa velha caindo aos pedaços, fracassa em seus sonhos, fica a mercê da prisão por causa de problemas com o banco. Até que decide se matar. Ou deseja nunca ter nascido - o que, em termos de ficção é um suicídio interessante.
Um anjo faz Bailey viajar por uma Bedford Falls em que nunca existiu George Bailey, e o que se vê é um cenário terrível.
Enfim, "A Felicidade não se compra" é um filme maravilhoso, espetacular, comovente, digno, com um discurso de paz inigualável em toda a história do cinema. É quase um filme socialista, quando mostra o trabalho dos Bailey em promover justiça social e mais tarde quando o mesmo povo divide o prejuízo com George. Surpreende, já que James Stewart, o espetacular intérprete de Bailey, andou sendo citado como um dos caras que gostavam muito de McCarthy. E Capra freqüentemente é acusado de direitista.
Nesses tempos em que sentimentos são o de menos - o que importa é a aparência, a indiferença, o poder que se exibe e a auto-satisfação - é claro que faz chorar, ver George Bailey voltando a acreditar que a vida é um presente divino, é claro que comove ver Bailey cercado de amigos, o fracassado Bailey sendo amado por todos, sem que para isso tenha triunfado em nada. Ou, no fim das contas, triunfado naquilo que é o principal da vida, naquilo que a torna, se não eterna, mas pelo menos longe do fim.
16 outubro, 2002
Ladeira abaixo
O Robin Hood do Campeonato Brasileiro, o Clube de Regatas do Flamengo, fez mais uma doação, desta vez para o time de pernas-de-pau do Vasco. O Flamengo, como time mais popular, mais amado do Brasil, é um retrato do país: abandono, bandalheira, falta de sentimentos legítimos. Perde para Paysandu, perde para Paraná, perde para Gama, perde para o Vasco - só time baba. Oitava derrota, vexame completo, falta de vergonha na cara, enfim, tudo leva a crer que desta vez não há santo ou deus que tire esses caras do rebaixamento.
Proponho aqui aos meu amigos rubro-negros a criação de um movimento nacional para gravar eternamente todos os jogadores, os técnicos (não podemos esquecer do PÉSSIMO Lula Pereira, que foi trazido por um certo dirigente inescrupuloso, que indicou Messias, Anderson Gils, Rubens e tudo o mais), e todos, absolutamente todos os dirigentes que participaram desta lamentável campanha.
Criar um site, talvez, rebaixamento.com e lá deixar para sempre gravado. Afinal, além de tudo o presidente eleito não tem respeito pelos torcedores, ao declarar, após a derrota ridícula: "Eu ainda acredito no título brasileiro". Porra, tá de sacanagem, né? Mais uma vez, o máximo que podemos almejar é não sermos rebaixados.
O problema é que esse time não consegue o máximo. Mínimo já é demais.
14 outubro, 2002
Aquele abraço
Domingão alto astral, quer dizer, mais o final dele, porque até 18h eu permaneci prostrado em minha clínica particular de recuperação para ressacados: meu quarto com TV, ar condicionado, gelo e coca-cola, além das revistas da semana e do jornal. Depois de plenamente - ou quase, vamos dizer, 70% recuperado, fui ao show do Gilberto Gil na praia de Copacabana, em frente ao Copa, perto da casa de Marcele, onde passei antes.
Gil atravessa um momento da carreira que não se afina muito com meu gosto: está tocando a obra de Bob Marley, que tem músicas bonitas como "Is this love" e "No woman no cry". Mas no geral, não curto reggae, essa música de dois acordes e milhões de tranças. Sou mais "sofisticado": gosto mais de um gênero aí que tem três acordes.
Mesmo assim, Gilberto Gil tem aquele problema: o cara é excelente, os shows dele são SEMPRE bons, não tem jeito. Pode ser um mala, cabo eleitoral de ACM, enfim, podem acusar ele de tudo - menos de ser ruim. Cantando absurdamente bem, tocando idem, comandando a platéia, com repertório que não deixa ninguém ficar parado. E muito bonito ver ele e Rita Lee cantando, mais de 30 anos depois da gravação original com os Mutantes, o clássico 'Domingo no parque'.
Claro que a idade avançada e a ressaca me fizeram sair antes do show terminar, além, é claro, do ambiente de apreensão. Este é outro tema chato: em virtude de haver, há mais de dez anos, um "loteamento" informal da Praia de Copacabana, qualquer show da praia é cheio de "gangs" dos morros que têm no Leme e no final da Santa Clara, naturalmente. Sem contar o Cabritos. São garotos que não fazem exatamente parte do tráfico, mas seguem sua ideologia e se apóiam moralmente nos traficantes. Costumam brigar entre si na Praia de Copacabana - como já aconteceu diversas vezes nos domingos de sol (até já fui cobrir um pós-tumulto ali perto, em 1995, por A Notícia).
Essas gangs, além de brigarem entre si, ainda escolhem suas vítimas para roubo usando o critério distração + solidão. Se o cara estiver sozinho ou com a namorada (o meu caso), e entretido com o show, se torna um alvo mais fácil, vitimado pelo elemento surpresa e obviamente pelo fato de serem 15 contra um.
Bom, isso tudo é para dizer que assisti ao sempre bom show do Gil sentindo muito mais paranóia do que o artista sentia, na época em que o SNI mandava e o DOI CODI fazia acontecer. Hoje, o buraco é mais em cima.
De qualquer maneira, o show do Gil foi bem em frente à Rua Fernando Mendes, onde fica um dos locais mais espetaculares do Rio: a Tratoria. Pãezinhos de alho, um cálice de Chianti, um spaghetti ao molho matricciana, uma pizza margarita com folhas de manjericão e o encerramento com chave de ouro, a torta alemã gelada da tratoria, bom, tudo isso fez eu e Marcele renovarmos o fôlego. E em seguida, a reunião de sempre na casa do Maloca, que desautorizou o uso da foto dele na campanha "Sid Vicious é o caralho, punk é o Maloca".
Mas no final das contas, valeu o domingo.
13 outubro, 2002
Um ano, 20 mil acessos
É um dos blogs de mais baixa audiência, esse aqui. Estamos a poucos hits de chegarmos à marca de 20 mil acessos. Ocorre que o contador foi colocado dia 2 de novembro - o Blogus surgiu um pouco antes - e vamos considerar então o Dia de Finados (e aniversário de Monica Marques) como o dia de aniversário deste pedaço de internet. Dividindo 20 mil por 12, chegamos a uma dízima periódica, à média de 1.666 acessos por mês. Dividindo esse resultado por 30, chegamos a 55 acessos por dia. Bom, 55 pessoas lendo o blog em um dia? Desconto aí uns dez por cento de erro, por causa dos meus próprios acessos para conferir e por causa de pessoas que voltam no mesmo dia (incrível, isso acontece), creio que este blog é lido por umas 40 pessoas. Bom, ainda não dá para o Ibest, mas creio ser uma boa média.
Mate-me: quem não foi, perdeu uma ótima
Espetacular a última edição da Mate-me por favor, sábado dia 12 passado. Não sei porque gostei tanto, mas certamente tem a ver com o fato do Zé Otávio ter colocado som a maior parte do tempo e eu ter ficado mais livre para ficar com Marcele. E, claro, praticar o nobre esporte bretão: degustação de uísques. Esporte esse que me fez chegar em casa arrastando duas sacolas de CDs e, depois de ligar para desejar boa noite - aliás, bom dia - para Marcele, desmaiar sem apelação na cama com ar condicionado.
O reencontro dos ex-alunos do IACS foi dentro dos conformes. Pessoas completamente desconhecidas para uns, saudosas para outras. Telefones atualizados, agendas formadas, emails trocados, promessas de novas festas. No ar, o sentimento de que é possível mexer com o Tempo. As ausências se dividiram entre aqueles que avisaram antes que não poderiam ir (Bôto e mais alguns) e aqueles que como sempre prometem ir mas não aparecem. Esses últimos perderam mais ainda, uma ótima festa.
No final, no Cervantes, foi lançado, por mim e pelo Zé Otávio, o novo movimento intitulado "SID VICIOUS É O CARALHO, PUNK É O MALOCA". Ainda devo conversar com o homenageado para saber se ele permite a confecção de um banner para o movimento - obviamente, Marcele é quem deve fazer.
12 outubro, 2002
Estrada para Perdição e Beleza Americana
Os dois filmes do inglês Sam Mendes parecem inicialmente tratar sobre temáticas americanas, mas para usar um antiqüíssimo clichê, no final das contas são filmes sobre cidadãos do mundo. No mais recente, com Tom Hanks excelente - o cara virou ator mesmo - no papel de um pau-mandado de gangster, me parece haver uma discussão entre a vida que se simula e a vida real.
O filho de Michael Sullivan, também Mike, de 12 anos, assiste uma execução na qual o pai estava participando. Sam é genial nesse ponto, pois ele não vê o pai matando, e sim Connor, o capanga em torno do qual vai girar o filme. No dia seguinte, Michael, o garoto, volta ao dia-a-dia familiar, no qual o hábito era 1-o pai chega na mesa com o jornal 2-as crianças tiram e lavam os pratos 3- esperam o pai terminar o café 4- vão para a escola, onde Michael é péssimo em matemática e gosta só de histórias e Peter, o mais novo, é excelente aluno em ciências exatas.
Só que Michael volta ao dia-a-dia modificado, pelo simples fato de saber a verdade, e se recusa a participar da simulação. Então diz, "ora, é só um prato", e rasga o invisível contrato familiar, e a partir daquele dia, da maneira mais terrível e trágica possível, passa a viver de verdade. Quem viu o filme sabe do que estou falando - ele passa a viver a verdade do pai, e depois a dele própria, seguindo em frente, acima das simulações familiares.
Esse talvez seja o grande mérito de Sam Mendes: a crítica à família, de uma forma menos complexa, mais direta do que David Cooper ("A morte da família") faria se tivesse uma câmera. Mendes critica a simulação, e expõe a verdade entre seres humanos unidos por laços genéticos - como em Beleza Americana, quando Kevin Spacey diz, "isso aqui é apenas uma porra de um sofá" (quando no início de uma transa a mulher dele, a excelente Anette Bening, se levanta preocupada em derramar cerveja em um sofá), parece Michael dizendo agora, em Estrada para Perdição, "isso é apenas um prato".
Tanto o lar de "Estrada para Perdição" quanto o de "Beleza Americana" parecem lares perfeitos no início, com orações antes das refeições, rotina tranqüila, futuro "assegurado". Mas à medida que a lente se aproxima, revela que todo mundo esconde alguma coisa, menos eu e meu macaco, como diria Lennon & McCartney. Michael esconde o cachimbo com o pé em "Estrada...", porque não quer ser visto fumando, a menina esconde a paixão pelo vizinho em "Beleza Americana", vizinho este que tem equipamentos eletrônicos de último tipo comprados com a venda de drogas - mas ele diz ao pai que trabalha como garçom. E em "Estrada...", claro, os filhos mais novos não entendem o que o pai faz à noite profissionalmente, ainda que talvez não custasse nada explicar que "eu queimo arquivos".
Tanto um como o outro são filmes sobre pessoas que vivem temporariamente a vida de verdade, de pessoas que fazem uma ruptura ainda que momentaneamente. Em "Beleza Americana" é a falência profissional e familiar que leva Spacey a viver o que ele chama de sua verdade, e em "Estrada para Perdição", é a tragédia que causa a ruptura. Me comoveu ver o jovem Michael narrando, ao fim do filme (calma, não tenho nada a ver com o Meninos, eu vi, não vou contar o final), sobre "aquelas seis semanas que ele viveu" ao lado do pai.
Em suma, os filmes de Sam Mendes parecem ser uma discussão entre o tempo psicológico e o tempo real, de como ambos se encontram, e que a forma de promover ese encontro exige ruptura da simulação. Ou, em termos esportivos, o que vale é tempo de bola rolando.
11 outubro, 2002
Processo contra o Blogus
Estava escrevendo calmamente ontem na Cidade Nova quando chegou um Oficial de Justiça com um documento para eu assinar: trata-se de processo movido por Renato de Alexandrino, de Só o ócio constrói, exigindo reparação às acusações de que ele estaria abando a família da patroa. "Tanto que limpei a piscina e preparei a carne do churrasco", diz ele em sua defesa, exigindo ser excluído da campanha "Seja um aba de sua mulher", que eu lancei neste blog. A pendenga judicial promete ser longa e deixar os blogs paralisados. Ainda recebi uma intimação para depor com base no registro de ocorrência feito por um tal Troy McLure. Serei obrigado a contratar advogados caríssimos.
É amanhã, sabadão
O endereço todo mundo já está de saco cheio de ler nesse blog: Rua Teixeira de Melo, 21, Ipanema (quadra da praia). O nome da boate, idem: SPIN. Neste sábado, aqueles que um dia tiveram a honra de habitar o Casarão da Rua Lara Villela irão se encontrar, a partir das 22h30. Isso mesmo, quem estudou no Instituto de Artes e Comunicação Social da UFF de 1985 a 1995 estará se esbarrando na SPIN na MATE-ME POR FAVOR deste sábado. Os preços são os mesmos: R$ 5 de entrada e R$ 7 de consumação.
Quem não for da UFF, tem que dizer "vim para a festa da UFF" na porta. Será em regime semi-aberto, estilo Beira-Mar.
Baba, bobo, baba
Playboy deste mês, com diversas "atrações". Uma entrevista com Fernanda Young que mais parece um jogo de adedanha. Sem contar que Fernanda Young também não pode ser considerada entrevistada a nível de Playboy só porque é roteirista de "Os Normais". Pensar que a moça já foi entrevistada por um certo Aluizio Freire, pelo JB-Niterói...
Depois, reportagem-cascatol, incentivando as pessoas a tomarem o Viagra mesmo sem terem problemas de ereção. O tom da edição é de "denúncia" e "alerta", ("oooohh! os caras tomam viagra e isso não é bom"), mas curiosamente as histórias narradas (todas cascatas, com toda certeza) são somente de sucessos sexuais dos caras. Sem contar que desde que o Viagra aportou no Brasil que neguinho toma sem ser impotente, novidade nenhuma nisso aí. Só não era necessário incentivar.
A mulher pelada: Janaína Santos. Bom, vou de novo: Janaína Santos. Quem é? Pôxa, sou um ignorante mesmo, é a gata que "arrepiou no programa Amor a bordo", da TV Globo. Aaaaah, claro. Sempre vejo Amor a bordo. Que hora que passa? Em que consiste o programa? Não faço remota idéia.
Ultimamente tem sido assim: a capa da Playboy é "a mulher que fez sucesso num programa da Globo". Bom, se eu não tivesse TV a cabo, eu já não assistiria. Imagine então tendo TV a cabo.
Aí vem a entrevista das "20 perguntas", mantendo o "nível" da revista: 20 perguntas para Kelly Key. Vale a pena. Alguns dos melhores momentos:
Playboy: Por quem você baba afinal?
Kelly Key: Pelo Ricky Martin, ele é "tudo de bom"!
Playboy: Homem de verdade, tem algum?
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Playboy: você era boa aluna?
Kelly Key: Não que eu fosse burra. Só não era a mais aplicada.
**
Playboy: Você tem alguém hoje?
Kelly Key: Não....[ri e olha para o teto. Mexe-se bastante]. Não tenho...Ou tenho [risos]? Não sei...Não tô vermelha, viu? [está sim]. Não queria falar sobre isso.
**
Kelly Key: O Latino foi o único homem com quem tive relação sexual.
(algumas perguntas depois)
Kelly Key: (a primeira vez) não foi na cama, mas tudo bem [ri]. Ai, meu Deus! [constrangida]. Tá bom...entrevista para Playboy, eu sei...[suspira]. Foi num sofá. Na casa desse meu namorado.
Playboy: Qual a maior loucura sexual que você já fez?
Kelly Key: Praia todo mundo já fez, né? (...) Já transei dentro de um ônibus leito, no último banco, indo para não sei onde. Tava cheio, mas os passageiros dormiam. Meu namorado (nota do Blogus: ela não diz que é o Latino) passou pro meu banco e....Foi bacana. O que eu queria fazer? Transar no Alaska, no gelo...[risos]
Agora, falando sério: dá pra achar que o Latino foi o único a fazer a Kelly Key babar?
10 outubro, 2002
Cuidados no "reply all"
A história é essa: um amigo dos meus tios encaminhou para dezenas de destinatários o link para o site da Sociedade da Terra Redonda. Depois, um deles, que acredito ser jornalista, quis dar uma resposta engraçadinha e suja pro cara, só que após digitar provavelmente deu "reply all" e enviou para todos. Entre os destinatários, meus tios e várias pessoas que ele não conhece, incluindo mulheres. Agora saquem só a mensagem do infeliz...
----- Original Message -----
From: PL
To: jamil ; Vital Lima ; Roseana de Seixas Brito ; Ronaldo Santos ; Renato Prado ; Péricles C. Barros ; marco aurélio ; Luiz Arthur Leme do Prado ; karina Duailibe ; João Bosco Silva Santos ; Jael Coaracy ; jael ; Jacqueline Vellego ; Ivo Korytowski ; Gustavo de Almeida ; Flávio Nassar ; Eduardo Aranha ; Clara Candida ; Aura Edições ; Amaranta Damous;
Sent: Monday, September 23, 2002 7:32 AM
Subject: Re: Sociedade da Terra Redonda - Humor Dicionário do Esoterismo
o dicionário é ótimo e farei comentarios/colaborações `a posteriori mas quero que folheies a revista CHIC que estará nas bancas apartir de 29 : verás um galã, o melhor restaurante de SP (segundo joãozinho dos velhos tempos) o melhor texto sobre o mesmo, um rabo maravilhoso e muita, mas muita boceta...
09 outubro, 2002
Espetacular
Tem que ouvir até o final. É prodigioso. Vale a pena. Cuidado para não morrer de rir:
Liguem agora para matricular seus filhos! Colégio Universitário.
Escutem até o final!!!!!
Liguem para (21)3345-1030.
Pois é
Deu no Globo on:
Rosinha pode desativar bloqueadores de celular em Bangu
RIO - A governadora eleita do Rio de Janeiro, Rosinha Matheus, disse hoje que ainda não decidiu se manterá os bloqueadores de celular instalados no complexo penitenciário de Bangu I.
Para coibir a ação dos traficantes na prisão, Rosinha afirmou que pretende ocupá-los com trabalho e estudo.
- A informação que eu tenho, e eu preciso confirmar, é que o bloqueador não vai bloquear só o sistema penitenciário, mas toda a região. Então, quem mora lá não vai poder usar o celular? - questionou Rosinha. - Nossa política vai ser não deixar os presos ociosos. Tanto faz estudando ou trabalhando, nós temos que ocupá-los.
Sobre a presença de traficantes perigosos em Bangu I, Rosinha disse que a penitenciária terá um forte esquema de segurança para vigiar Fernandinho Beira-Mar e seu bando. Mas reiterou que cobrará do governo federal a construção de presídios federais.
- Não podemos deixar bandido que tem formação de guerrilha misturado com os outros. Beira-Mar é um bandido que deve ser tratado na esfera da segurança nacional - disse.
Uma de suas primeiras ações de governo, disse Rosinha, será a transferência do comando de todas as forças policiais do estado para o prédio da Central do Brasil.
A futura governadora reafirmou também que não gastará recursos do estado com o dirigível e que o patrulhamento de áreas consideradas perigosas será eventual e programado.
- Que resultado real o dirigível trouxe até hoje? Eu não vi, por isso acho que o recurso empregado nisso pode ser investido de outra forma, com mais eficiência. Por exemplo, na capacitação do núcleo de inteligência da polícia e na informatização.
A governadora eleita falou, tá falado. Fico imaginando o Beira-Mar com uma apostila embaixo do braço, passando pelo pátio, e o Marquinho Niterói perguntando para ele:
- Aê, Beira, tô com fulano na linha, é para ordenar o fechamento do comércio no Centro e em Botafogo ou não?
- Ih, Marquinho, olha só, depois da aula de Ciências eu decido isso. Tou atrasado. E de noite eu tenho proiva de Matemática. É, pois é, o plano da governadora está dando certo, de tanto estudar acabei desistindo do tráfico.
Agora vai
O PFL decidiu apoiar Serra, "respeitando as peculiaridades regionais". Bom, agora o eleitor brasileiro tem tudo para decidir logo seu voto. Não é possível que alguém ainda queira votar junto com o PFL neste país. Mesmo eu ainda respeitando muito o Serra, se eu estivesse indeciso, teria decidido aí. PFL-lá, eu cá.
Não sei se é verdade, mas parece
AJUDE A ACABAR COM ESSA PALHACADA.
Você sabia que o speedy é uma farsa?
Você sabia que: - você pode comprar um modem igual ao SPEEDY, por um preço
mais barato e ainda não precisaria pagar mensalidade???Que fora do Brasil
não existe mais
linha discada e que a AOL trouxe dos EUA seus
equipamentos obsoletos???
Um acordo falso entre as grandes provedoras de Internet
e as cia's de telecomunicações, como Telefônica em SP,
Telecom no Sul, Telemar no RJ, entre outras, frauda
totalmente os Direitos do Consumidor, principalmente no
que se trata de ACESSO DE ALTA VELOCIDADE, como ADSL
(speedy), Mult Link, LP's, entre outros. Está provado
que através de
uma linha telefônica comum podem ser feitas conexões de
até 512 kpbs, onde hoje as provedoras permitem no máximo
uma conexão de 56.6 kbps, quando chegam nete ponto.
Fora do Brasil não existe mais conexão discada. A
América Online, por exemplo, trouxe todos os seus
equipamentos antigos, que já se encontravam absoletos no
mercado americano, para cá, e mais uma vez o brasileiro
usa o lixo do primeiro mundo, achando que é tecnologia
de ponta.
A diferença é apenas que os modems que fazem esse tipo
de conexão são diferentes, externos como os das conexões
ADSL, mas utilizam a linha telefônica comum e se
conectam à 512 kpbs (para transmissão e recepção de
dados, melhor que os atuais ADSL do mercado, que
transmitem coma metade da velocidade que recepcionam).
Um modem desses, já fabricados para efeitos de testes
por empresas comoa 3Com, Lucent, Motorola e Genius,
custariam no mercado algo em torno e 150 reais. Ou seja,
você precisaria apenas de adquirir o modem, gastando
uma só vez uma quantia razoável, e ter uma assinatura de
acesso discado com qualquer provedora de renome que deveria oferecer esses
serviços.
Mas ao invés disso, o consumidor brasileiro é enganado e paga só de
instalação
mais de 200 reais, não tem posse dos equipamentos, que são alugados e você
paga por mês, além da mensalidade ser altíssima.
E na maioria das vezes cobradas pelas empresas de
telecomunicações e provedoras simultâneamente, o que
também é outra operação nitidamente ilegal perante o código do consumidor.
O sistema já é ilegal por sí só,sendo que eles oferecem tecnologia obsoleta
como se fosse de ponta.
E dentro do próprio sistema, eles ainda colocam mais ilegalidades, como
estas,
de obrigar a comprar um serviço para poder utilizar outro.
As provedoras de internet e empresas de telecomunicações não colocam esses
serviços que são simples e eficientes à disposição dos clientes ó porque
seus lucros seriam
bem menores, uma vez que o equipamento poderia ser
comprado até no viaduto Santa Efigênia em São Paulo,
como hoje em dia você compra um modem qualquer ou uma
placa de rede, além do fato que a mensalidade seria
acessível como uma conexão discada comum que existe hoje
em dia, por causa da concorrência.
'Talvez até mesmo provedoras gratuitas poderiam fornecer
tal acesso, de tão simples, eficiente e funcional que é o sistema.
A ignorância do povo faz mais uma vez o regime
capitalista vingar, onde os poderosos ficam cada vez
mais ricos e você fica cada vez mais lesado.
Mas essa situação pode facilmente ser revertida, basta você enviar esta
mensagem para o maior número de pessoas
de sua lista, e também, para os órgãos competentes, pois somente assim as
provedoras e empresas de
telecomunicações vão perceber que não conseguirão mais
enganar os internautas com toda essa fraude e ladainha de conexão RÁPIDA.
Espalhe essa mensagem em nome dos seus Direitos e pela dignidade dos
Internautas.
Atenciosamente,
Reynaldo Andersen K. Pellegrini
Engenheiro ITA - Novas tecnologias
Revista Consultor Jurídico
Antonio Carlos Rossetti Filho e-mail: rossetti@eco.unicamp.br
Setor de Processamento de Dados (SPD) Tel: (019) 3788-5794
Instituto de Economia-UNICAMP Cel: (019) 9125 9756
Campinas - SP - Brasil
08 outubro, 2002
Ele existe sim
Conversando com Marcele, ouvi a seguinte frase: "Eu vi a entrevista do Daltony no Jô Soares". Minha namorada me deu uma rápida descrição de tudo (o cara diz na entrevista que a "moda do pão de queijo" é uma criação dele, e que seus produtos são bons apenas porque são "feitos com amor"), o que me levou à conclusão: Daltony não é uma invenção da internet. Ele realmente existe. O mundo me parece um pouco mais engraçado agora.
Obrigado, eu não mereço
Confiro minha caixa postal e vejo um email com o subject: Parabéns! Seu vale-compras do Submarino chegou!. Abro o email e confiro. "Você tem direito a um vale-compras no valor de R$ 2".
Eles podiam colocar ainda na mensagem "Não vá gastar tudo de uma vez, heim?".
Momento de sutileza, finesse e bons modos
Recebi hoje, por email, a piadinha abaixo, levinha, levinha:
Uma véia estava no busão, e só com um assento vazio,
> > bem do lado dela. Sobe um negão, e a véia, vendo que
> > o negão só poderia sentar do lado dela, coloca a
> > bolsa dela no lugar vago. O negão chega lá, vê que
> > não vai dar pra sentar, e fica de pé mesmo, seguran-
> > do aquele ferro no teto do ônibus.
> > Com aquele puta calor, os vidros fechados, o negão
> > com aquele suvacão fedendo urso do lado dela, a véia
> > não tava mais aguentando.
> > Abriu a bolsa e tirou um livro de palavras cruzadas
> > pra ver se conseguia se distrair um pouco. O negão
> > viu, abaixou e ficou pescoçando no livro da véia com
> > aquela suvaquera no cangote dela.
> > E a véia lá, tentando fazer as palavras cruzadas.
> > Passou um tempo, a véia já não aguentava aquele fe-
> > dor de peixe podre, virou pro negão e disse brava,
> > "Além de preto é fedido".
> > O negão respondeu: "Se for com duas letras é cú".
07 outubro, 2002
Pela salvação do homem-aba
Ao ler no blog do Renato de Alexandrino alguns posts descrevendo sua vida totalmente mansa no lar dos Tavares (sobrenome da senhora dele), com direito a estadia, comida e bebida, resolvi lançar a campanha: mulheres, adotem um homem-aba. Marcele já pode me esperar, pois pretendo abrir a porta da geladeira do solar em Copacabana e perguntar que horas sai o rango enquanto leio a página de esportes no jornal. Fiz as contas e descobri que, ficando na aba aos fins de semana, economizo os tubos em refeições, estadia, consumo de energia elétrica e leitura. Vamos que vamos. Pedirei a Marcele a criação de um banner para a campanha imediatamente.
Governo de alcova
Primeira entrevista da nova governadora no RJ TV. Bom, sei que do jeito que a crise anda, um dia posso estar desempregado e pedindo emprego em alguma assessoria do Estado - quase trabalhei no Palácio em janeiro de 1997, mas preferi ficar no Jornal do Brasil. Mas não consigo resistir a lamentar algumas coisas. Primeiro, vem a pergunta: "O marido da senhora vai participar do governo?". Resposta da moça: "Ainda não conversei isso com ele". Dá para acreditar que os dois estão há seis meses fazendo campanha e dormindo juntos e um não comentou com o outro sobre isso? Será um pacto de silêncio? Como é que a governadora tem a cara de pau de falar isso e ainda achar que o eleitor dela acredita?
Aí vem a consolidação da cascata: "Mas conhecendo ele bem, acho até que ele não vai querer". Peraí, quer dizer que não há intimidade suficiente para saber se o cara vai trabalhar no governo, mas há suficiente para saber que ele não vai aceitar?
É, serão quatro longos anos...
06 outubro, 2002
Mate-me quem fô da UFF
Sábado, dia 12 de outubro, eu e Marcele vamos passar o feriado em um parque de dinossauros. Ex-alunos da UFF vão se reencontrar após quase uma década. A festa será a mesma Mate-me Por Favor de sempre, na mesma SPIN, só que com a maioria de ex-alunos. Presenças prováveis, dentre os ex-alunos que tem blog, do Marlos, do Maggi, do Coelho e da Elis Monteiro.
Doses saudáveis de ironia
O texto que coloco abaixo é de um amigo que usa o pseudônimo de Laertón Glauquito. É um sujeito dos mais inteligentes que conheço, característica que o torna inevitavelmente um dos mais revoltados. "Sou tenso porque sou lúcido", já dizia o Fradim, do Henfil. Bom, mas divirtam-se abaixo. E guardem - pode ser útil para uma monografia...
Estou fazendo pós em Comunicação. O texto abaixo é um resumo de minhas primeiras impressões e reflexões sobre esse tema tão amplo quanto restrito em sua sutilidade semântico-hermenêutica, num contexto que tanto governa quanto é determinado pela mundialização dos sentidos pós-contemporâneos. Espero que seja útil.
Laertón Glauquito.
Como escrever Textos Comunicólogos
1 - Logo de saída, abandone essa idéia estapafúrdia de que seu texto deve estabelecer algum tipo de comunicação com seu leitor. Se o leitor não entender o que você escreveu, exulte.
2 - Não leia, releia; não pense, repense; não escreva, reescreva; não destrua, desconstrua; não pise, repise e reprise.
3 - Seus objetivos ao escrever o texto devem ser confusos o bastante para confundir o leitor. Faça o teste: se você gastar menos do que 10.000 caracteres para explicar o objetivo do seu texto, deixe-o de lado.
4 - Seu texto deve ser uma sucessão de paráfrases dele mesmo. Ou seja, você só precisa se esforçar para escrever a primeira frase.
5 - Nunca utilize as palavras em sua classe gramatical comum: verbos devem ser substantivados (basta acrescentar um artigo antes da forma infinitiva); substantivos e adjetivos podem ser transformados em verbos à vontade (basta acrescentar os sufixos "-izar" ou "-ificar"). Toda e qualquer palavra pode se transformar em advérbio pela adição do sufixo "-dade". Já os substantivos abstratos são sempre preferíveis aos concretos. Quando tudo mais falhar, use o seu dicionário para escolher o sinônimo menos usual na língua corrente.
6 - Quando faltar assunto, apele para a etimologia.
7 - A ambigüidade deve ser a regra, jamais a exceção. Sempre deixe espaço para afirmar o contrário do que você quis dizer, caso algum leitor chato consiga pegá-lo no contrapé de uma contradição.
8 - As aliterações devem ser a liturgia de sua literatura. Ecos, rimas e cacófatos são sempre bem-vindos.
9 - Sempre diga que vai definir "precisamente" ou "de forma muito clara" algum conceito que você vai apresentar em uma dúzia de parágrafos obscuros.
10 - A deseconomia é a pedra fundamental de sua redação: se pode dizer numa frase, não diga numa palavra; se pode dizer num parágrafo, não diga numa frase; se pode dizer em várias páginas, não diga num parágrafo; e assim por diante.
11 - O objeto de estudo é secundário, o que importa é o discurso que você produz sobre ele.
12 - Escreva páginas e mais páginas sobre a antonímia de palavras sinônimas e sobre a sinonínima de palavras antônimas.
13 - Ninguém sabe nada de mecânica quântica, ninguém leu Xenofonte no original. Pode mandar brasa.
14 - As notas bibliográficas devem ocupar pelo menos 20% das páginas do seu texto. A chance de que alguém vá conferir suas fontes é muito reduzida.
15 - A sintaxe deve ser empregada a serviço da confusão: se você usar dois pontos duas vezes na mesma frase: você será considerado um gênio.
16 - Você nunca perde por redundar.
Fotografias recortadas, em jornais de folhas, amiúde
Cumprido o dever cívico do voto, comecei a arrumar algumas coisas no armário, para evitar a verdadeira batalha campal que foi a busca pelo título de eleitor perdido. Achei coisas do arco da velha. Fotografias de ex-namoradas, textos de amigos, cartas escritas à mão - há uns oito anos que não recebo uma mensagem escrita a mão (tirando, claro, um cartão maravilhoso que Marcele me deu quando começamos a namorar). Uma viagem no tempo, uma hora de revisar tudo o que foi feito. E pensei, calado, que poderia ter feito mais pelo meu amor próprio, poderia ter aceitado menos as pessoas como elas são, mas pelo menos, como na música, o acaso me protegeu - o acaso parece sempre me proteger, não é à toa que o acaso me levou a esse presente. Nos dois sentidos.
E lá foi ele de novo - para o beleléu
Acho que depois dessa eleição - a menos que tenhamos uma surpresa muito grande na apuração - já poderemos escrever o epitáfio de Paulo Salim Maluf. Talvez influenciados pela criação do mega-veículo de comunicação Spam Zine, os paulistas estejam votando cada vez melhor e deixando de lado Malufs, Fleurys, Quércias....(parece que o ex-governador Quércia vai ficar em terceiro para senador).
Bye, bye, Maluf.
Ainda sobre F1
Depois de ver o ótimo documentário "O Fabuloso Fittipaldi", de Hector Babenco, aproveitei para dar uma paquerada no excelente livro "Os arquivos da Fórmula 1" (peça imprescindível para quem gosta do esporte) do repórter fotográfico Lemyr Martins. Entre fotos, textos e recordações de corridas dos bons tempos, vi uma foto de uma Jordan com Rubinho dentro, com a legenda que transcrevo abaixo:
"Os projetistas sacrificam o piloto dentro do cockpit em favor de mínimos, mas decisivos, ganhos aerodinâmicos. O regulamento exige, nos testes de segurança, que os corredores saltem do carro no máximo em cinco segundos. RUBENS BARRICHELLO é o recordista absoluto, com exatos 3s008/1000"
Pois é. Rubinho é recordista em velocidade para sair do carro. Acho que isso explica algumas coisas.
O rato que rugia
Não sei se foi coincidência ou se o Canal Brasil marcou mesmo um gol de placa ao lembrar, solitariamente, que este 6 de outubro celebra também outra data importante para o Brasil: há exatos 20 anos, Emerson Fittipaldi conquistava pela primeira vez o Campeonato Mundial de Fórmula 1. Neste domingo, exibiram "O Fabuloso Fittipaldi", talvez - veja bem, talvez, não conheço direito a vida do diretor - o primeiro filme de Hector Babenco, datado de 1973. Datado apenas para fins de catalogação, pois "datado" é um adjetivo que eu não usaria para as belíssimas imagens de "Emmo" nas pistas e nos bastidores.
O filme narra toda a saga heróica do Rato, conquistando o título com duas corridas de antecipação, ainda em Monza, na Itália, vencendo uma corrida abandonada pelo figuraça Jackie Stewart e também por Clay Regazzoni. Em Monza, acontecem coisas do arco da velha: primeiro, Emerson chega ao hotel e recebe a notícia de que o caminhão que transportava seu Lotus tinha batido na auto-estrada. A imagem seguinte é a de Emerson inconsolável olhando para um caminhão tombado de lado com MILHARES de pecinhas e caquinhos na grama - o carro.
A equipe Lotus trabalha muito e faz outro protótipo. Mas este, a duas horas do início da corrida - durante o warm-up - apresenta nada menos que um VAZAMENTO DE GASOLINA. Em duas horas, os mecânicos da equipe retiram 210 litros de gasolina do tanque, retiram o motor, reparam o problema e recolocam o combustível. "Colin Chapman veio até o cockpit quando eu já estava no grid e perguntou como estava o carro. Eu disse que não sabia, que só sabia que pelo menos eu não estava banhado em gasolina", conta Emerson.
Para quem não acompanha a F-1: os "heróis" do nosso tempo jamais fariam uma largada nessas condições, com todo o aparato e preocupação com segurança dos dias de hoje, pós-tragédia de Senna. Mas Emerson fazia essas loucuras - com um herói louco. Peguei o filme no meio, já em Nurburg, na Alemanha, com a voz de Emerson em off dizendo: "A gente fica praticamente sentado em um tanque de gasolina, é uma sensação estranha. No meio da corrida, todo mundo no boxe fazendo sinal, alarmados, e eu não entendia porquê, dava aquela preocupação do carro de repente estar pegando fogo lá atrás e eu não perceber". Imagem: Emerson passando em frente ao boxe da Lotus com CHAMAS no aerofólio traseiro e todos tentando avisar. Hoje, o rádio soluciona tudo. Naquele tempo, os caras ainda usavam um cinto de segurança com três pontos para prender, segundo mostra o próprio Rato no documentário de Babenco.
Enfim, no dia em que encontrar VHS ou DVD de "O Fabuloso Fittipaldi" eu compro. Considero sem dúvida o maior de todos os nossos pilotos - sem demérito para Piquet, Senna, Pace. Emmo é de um tempo em que não havia a pressão dos patrocinadores para a construção de um mito - como aconteceu com Senna, um excelente piloto também, mas não um "fenômeno". Aliás, o "fenômeno" Ronaldo é um exemplo dessa pressão pela construção de mito. Um craque, mas não algo excepcional.
Emerson talvez fosse esse fenômeno, só que com todas as letras. Depois, vieram as decepções com a Copersucar - quem viu a Copersucar e hoje vê o Barrichello não pode lamentar nada, a Copersucar era pior.
Mas Emerson, sempre, o melhor.
Ói nós aqui tráveiz
Como era de se esperar, mais uma derrota rubro-negra. Lá vem a segunda divisão, mais uma vez. Desta vez, acho que ela chega.
Agora sim
Passou da meia-noite, posso falar sobre o voto. É 13 para presidente e governador, 12 para o senado, 1303 para deputado federal e no estadual vou votar de cabresto indicado por meu irmão. Fazer o quê?
Um texto sem graça nenhuma
Costumamos dividir nossas vidas em Copas do Mundo - sobre isso já se escreveu à exaustão, inclusive o Dapieve, do Globo. De fato, vi palitinhos de fósforo jogando futebol em 1974 (propaganda da Fiat Lux), me lembro de papéis picados e Kempes em 78, chorei pela primeira vez em 1982, sofri um trote de mau gosto em 86, e me lembro de ter visto o Brasil perdendo para a Argentina em Vista Alegre no ano de 1990. A partir daí, minha vida fica mais recente - apesar de não ter mais os mesmos amigos que em 1994 (exceto alguns), não trabalhar mais no mesmo jornal que em 1998 (JB) e já ter mudado muito em 2002, pois após a Copa do Mundo comecei a namorar pela última e definitiva vez - pelo menos é o que eu sinto e penso nesse instante, sem a pretensão de mandar no futuro.
Mas 1989 foi um ano de mudança em minha vida - foi durante a eleição direta para Presidente da República de 1989 que decidi fazer vestibular para jornalismo, tomando a decisão dolorosa do que fazer na vida. Talvez tenha sido uma decisão errada - mas é melhor do que não tomar. E em 1989 pensei que o voto e a política mudavam as coisas por um passe de mágica.
Em 1989, na Praça da Apoteose, vi Lula discursar, ao lado de vários outros políticos. E vi pela primeira vez Chico Buarque de Hollanda cantar - a primeira e única vez. Cantou a mais bonita e esperançosa música de protesto já escrita no mundo: "Vai passar". Durante a música, bandeiras vermelhas se agitando, pessoas se abraçando, se beijando, crianças rindo, como se estivesse se decidindo naquele momento que não haveria medo de ser feliz. "Vem ver de perto uma cidade a cantar/A evolução da liberdade/Até o dia clarear", e eu ali, aos 21 anos, sonhando com um mundo mais justo.
Os anos se passaram e o ceticismo individualista tomou conta. Claro - salário no fim do mês, contas, esperanças e desilusões, descrédito e a gente toda já não acreditando em muita coisa. Lula? Farsa. Brizola? Incompetente. Quem mais? Nada. Coragem de apostar? Nenhuma. Vamos manter como está.
Até que vem essa eleição e volta aquele sentimento dos 21, aquele pensamento de que, de repente, pode acontecer, pode ser a hora das coisas não serem mantidas como estão. Junto com esse sentimento, uma sensação de abismo se abrindo, de ver que o tempo passou e que já não se pode mais o mesmo, e, principalmente, já não se espera mais o mesmo. Nada tão doce como a expectativa nascida da esperança - e essa eu confesso que andava meio perdida.
Mas de repente, sim, voltou alguma coisa. E eu vou votar como votei em 1989, como se estivesse enviando uma carta a mim mesmo, daqui, do "futuro", para aquele garoto de 21 anos do passado.
É isso aí, cara. A coisa só piorou. Se eu fosse você, ficava por aí em 1989 mesmo. Mas ó: avise ao Leonardo que o Maurício, do Botafogo, vai empurrá-lo e fazer o gol.
04 outubro, 2002
O debate morno
O debate dos candidatos foi o que se esperava: asséptico, meio frio, todo amarradinho, com tempo certo, enfim, um circo todo idealizado para jamais pegar fogo. Apesar da maioria estar achando o contrário, acredito que Lula foi o vencedor desde morno embate. Primeiro, porque teve a nobreza de ir ao debate estando com a eleição praticamente definida - Collor tinha menos que Lula em 1989 no primeiro turno e faltou a pelo menos três debates. Segundo, porque se mostrou comedido. Sim, por que não? Ao questionamento idiota de Garotinho, "você é contra ou a favor da utilização das águas do Rio São Francisco?", ele respondeu o certo: temos que estudar mais o problema. Garotinho acha no mínimo que todo mundo tem que ser definido em tudo - logo ele, que não soube que posição tomar no dia em que o Rio parou (30 de setembro).
Lula ainda teve um momento excelente, quando Serra disse que "tarifas públicas" têm que ser controlada. Aí realmente foi demais. O mesmo governo que impôs o racionamento e logo depois deu um baita reajuste para as operadoras "para elas recuperarem o que perderam" tem um candidato que diz uma dessas. Aí Lula detonou: "Vocês privatizaram, liberaram operadoras, e basta o dólar aumentar para aumentar gasolina, gás, luz, telefone em cima de um povo que ganha em real. E vão querer falar de tarifas públicas".
Ali, Lula sintetizou o desabafo contra um governo que simplesmente colocou 12 milhões de desempregados nas ruas - este é o número de 1998 a 2002 (se eu não estiver errado) - em uma quebradeira geral, pior do que no período pós-1964, quando Bob Fields mandou o célebre "Quem não tem competência que não se estabeleça".
Serra não é um candidato mau. Se não representasse esse governo, seria talvez o melhor de todos. Não é qualquer pessoa que enfrenta como ele enfrentou o lobby das indústrias do tabaco. E pior, o das indústrias farmacêuticas. Acima de tudo, Serra pôs a cara à tapa, aceitando uma candidatura difícílima, uma candidatura com o peso de oito anos do governo FHC (que até avançou em muitos pontos, mas o preço do desemprego é alto demais, doloroso demais). E não acho que Serra seria pior - tenho certeza de que seria um bom governo.
Mas só se o país não estivesse com está: desemprego geral, o crime abrindo vagas com ótimos "salários", os mais jovens crescendo achando os bandidos legais, a distribuição de renda cada vez mais aviltante, o comércio e a indústria quebrando, enfim, a um passo do Caos. "Os 10% que podem não conseguem consumir pelos outros 90% que não podem, por isso os barzinhos estão quebrando", me disse ontem um taxista em Copacabana após o debate, quando eu saí da casa de Marcele e vi tudo deserto numa noite de quinta-feira.
Se o país não precisasse tanto de uma mudança radical, Serra seria muito bom. Mas do jeito que está, não tem jeito. Agora é Lula.
03 outubro, 2002
Diversificando
Qual não foi a minha surpresa nesta manhã de quinta ao entrar no blog-freak Meninos, eu vi e encontrar um texto muito bom sobre um livro de Agatha Christie. Isso sim é que é diversificação. Isso sim é que é ser multimídia...
Respeito ao Rio
Quem leu o artigo do Elio Gaspari no blog do Maggi e concordou com o conteúdo, já sabe: a melhor candidata para governar o Rio é mesmo Benedita da Silva. E olhem que eu sempre fui contra votar em Benedita (por causa de sua associação com religiões evangélicas), nunca gostei muito da Benedita (achei que significava mais que tudo as concessões àqueles grupos radicais do PT), nunca pensei em tempo algum que eu fosse QUERER que a Benedita fosse governadora do Rio.
Mas hoje eu QUERO Benedita. Porque eu gostei da sensação que a governadora me passou: a de ser respeitado como pessoa, como cidadão, a de ter minha inteligência respeitada. No momento de gravidade, de blecaute de poder no Rio, de medo, Benedita deu a cara à tapa como governadora e como carioca, chegando ao ponto de pedir ajuda ao governo federal de quem o PT é adversário nessas eleições. "Quem está ameaçado é o processo democrático", disse ela, com toda razão, enquanto seus adversários faziam o papel mais rasteiro, imundo e desleal possível.
Benedita demonstrou uma altivez rara, um espírito cidadão, uma vontade política de acertar, de nos dar garantias. Demonstrou respeito. Se sujeitou a ter que ouvir "ah, ela pediu ajuda do Exército porque não teve competência", mas preferiu ouvir isso (uma grande mentira, já que o atual estado de coisas do Rio não é culpa dela) do que arriscar o processo democrático. Uma lição em palhaços como Anthony Garotinho (espero que o Deus dele e o nosso nos impeça de ter uma figura tão hedionda na Presidência) e Cesar Maia (um papel ridículo, o prefeito do Rio, que deveria se engajar no problema, passou o dia inteiro preparando o programinha babaca de televisão no qual ele iria criticar a Benedita - enquanto isso, a governadora trabalhava).
É o tipo de político que nós precisamos extinguir: cínicos, oportunistas, trapaceiros, enganadores da população. É inconcebível que um prefeito faça um papelão desses.
Já aderi à campanha Rosinha Não. E obviamente recuso meu voto para a Solange, porque não representa o novo, e sim a velha direita que acha que pode resolver as coisas somente com porrada (tá bom, umas porradinhas tem que ter, mas não é só isso). A velhíssima direita que coloca parentes de vítimas da violência na TV, chorando, e explora descaradamente seu sofrimento.
Que bom. Benedita em momento nenhum explorou o nosso sofrimento no último dia 30 de setembro. Sim, nessa eleição, a atual governadora, que incrível, é que representa o novo. O resto? É entulho autoritário. Aprendizes de Odorico Paraguassu.
02 outubro, 2002
Saindo tarde
Não chego a ficar sem sono, mas tenho saído por volta de 22h, 23h do trabalho - quando não de madrugada. Foi o bastante para notar - devido à televisão ligada logo aqui do lado - que o garoto-propaganda das Casas Bahia, aquele da Copa ("Deixe a preguiça na reserva e vá correndo aproveitar essas ofertas"), está de volta. E mais chato do que nunca. Vou iniciar uma campanha contra os chatos:
EUTANÁSIA NELE!
Elio Gaspari, logo ali, no blog do Maggi
O artigo em que Elio Gaspari desanca os palhaços Cesar Maia e Garotinho está logo ali no blog do Maggi. Vale a pena ler. É sensacional.
Serviço à população
Relutei um pouco antes de postar este link, porque há sempre o temor de desagradar minha namorada, Marcele. Mas acho que ela entenderá que seria um desserviço à sociedade e à memória do Cinema Nacional deixar de divulgar uma iniciativa tão louvável - o link me foi enviado também pelo jornalista do jornal popular que dizia ser popular mas não popularesco. Cliquem ou copiem a URL e divirtam-se. É aqui, ó: http://www.lioncaps.kit.net/fotos.htm.
Tudo sobre as aparições de algumas das nossas atrizes em celebrados filmes do Cinema Nacional.