26 outubro, 2002

Debate morno
Um debate morno só poderia ter sido vencido pelo Serra, como efetivamente foi o de sexta na TV Globo. Falo, claro, do ponto de vista comunicacional mesmo. Serra foi mais "eficiente", levou o "MVP (most valuable player)" do debate, principalmente ao repetir ad nauseum: "Estou citando o exemplo da administração do PT para que o Lula veja que criticar é mais fácil que governar". Serra reverteu então o jogo, fazendo isso ficou meio "oposição". Em suma, típico de marqueteiro mesmo: ele representa (imerecidamente, pois em outras circunstâncias seria um bom candidato) um governo falido e conseguiu posar como "oposição" às prefeituras petistas. Risível a correção dele: "Lula, o valor da bolsa-alimentação que damos não é de R$ 7 e sim de R$ 15". Fosse em um debate de rua, e mereceria uma resposta malcriada, do tipo "os outros R$ 8 são para pagar a tua mãe". Mas não era, era sim um debate civilizado. Chato, morno, mas melhor para o país do que ver o Lula discutindo com um psicopata irrecuperável como o Collor, por exemplo.
Serra ainda venceu quando ficou como o "oprimido". Lula pecou ao ser arrogante, provavelmente por causa da crise de nervos da qual ele chegou bem perto. "Eu não pediria isso aos nossos eleitores porque aí vamos ultrapassar a casa dos 100 por cento", mandou Lula, debochando desnecessariamente da nova campanha de Serra em que ele pede a cada eleitor seu que consiga mais um voto. Bobeira do Lula falar assim, como se fosse o campeão de votos (que por três outras ocasiões não conseguiu nada, aliás), como se agora pudesse sacanear o outro por ter menos votos. Aí Serra terminou o debate com uma cara de triste que comoveu até Marcele, que via tudo ao meu lado. "É a cara dele mesmo, meu amor", eu disse, fazendo questão de que minha namorada não sentisse compaixão pelo tucano.
Enfim, Serra venceu o debate. Mas quanto à eleição de amanhã, sabemos que é outra história. Mas valeu ter uma disputa presidencial legal assim, tranqüila, em que os dois candidatos afirmam que vão telefonar para o derrotado na semana da eleição, enfim, deu a impressão de que o Brasil fica mais civilizado politicamente - e não uma disputa em que um é chefe de quadrilha, inescrupuloso, extrema direita, com passado nebuloso, e usando de tudo (acusação de aborto, aparelho de som caro demais, baderna) para vencer. Claro, o Collor. E foi bom ver o Lula não encerrar sua campanha com a expressão "caçador de maracujás" como ele fez em 1989.
Agora, é isso aí.