O rato que rugia
Não sei se foi coincidência ou se o Canal Brasil marcou mesmo um gol de placa ao lembrar, solitariamente, que este 6 de outubro celebra também outra data importante para o Brasil: há exatos 20 anos, Emerson Fittipaldi conquistava pela primeira vez o Campeonato Mundial de Fórmula 1. Neste domingo, exibiram "O Fabuloso Fittipaldi", talvez - veja bem, talvez, não conheço direito a vida do diretor - o primeiro filme de Hector Babenco, datado de 1973. Datado apenas para fins de catalogação, pois "datado" é um adjetivo que eu não usaria para as belíssimas imagens de "Emmo" nas pistas e nos bastidores.
O filme narra toda a saga heróica do Rato, conquistando o título com duas corridas de antecipação, ainda em Monza, na Itália, vencendo uma corrida abandonada pelo figuraça Jackie Stewart e também por Clay Regazzoni. Em Monza, acontecem coisas do arco da velha: primeiro, Emerson chega ao hotel e recebe a notícia de que o caminhão que transportava seu Lotus tinha batido na auto-estrada. A imagem seguinte é a de Emerson inconsolável olhando para um caminhão tombado de lado com MILHARES de pecinhas e caquinhos na grama - o carro.
A equipe Lotus trabalha muito e faz outro protótipo. Mas este, a duas horas do início da corrida - durante o warm-up - apresenta nada menos que um VAZAMENTO DE GASOLINA. Em duas horas, os mecânicos da equipe retiram 210 litros de gasolina do tanque, retiram o motor, reparam o problema e recolocam o combustível. "Colin Chapman veio até o cockpit quando eu já estava no grid e perguntou como estava o carro. Eu disse que não sabia, que só sabia que pelo menos eu não estava banhado em gasolina", conta Emerson.
Para quem não acompanha a F-1: os "heróis" do nosso tempo jamais fariam uma largada nessas condições, com todo o aparato e preocupação com segurança dos dias de hoje, pós-tragédia de Senna. Mas Emerson fazia essas loucuras - com um herói louco. Peguei o filme no meio, já em Nurburg, na Alemanha, com a voz de Emerson em off dizendo: "A gente fica praticamente sentado em um tanque de gasolina, é uma sensação estranha. No meio da corrida, todo mundo no boxe fazendo sinal, alarmados, e eu não entendia porquê, dava aquela preocupação do carro de repente estar pegando fogo lá atrás e eu não perceber". Imagem: Emerson passando em frente ao boxe da Lotus com CHAMAS no aerofólio traseiro e todos tentando avisar. Hoje, o rádio soluciona tudo. Naquele tempo, os caras ainda usavam um cinto de segurança com três pontos para prender, segundo mostra o próprio Rato no documentário de Babenco.
Enfim, no dia em que encontrar VHS ou DVD de "O Fabuloso Fittipaldi" eu compro. Considero sem dúvida o maior de todos os nossos pilotos - sem demérito para Piquet, Senna, Pace. Emmo é de um tempo em que não havia a pressão dos patrocinadores para a construção de um mito - como aconteceu com Senna, um excelente piloto também, mas não um "fenômeno". Aliás, o "fenômeno" Ronaldo é um exemplo dessa pressão pela construção de mito. Um craque, mas não algo excepcional.
Emerson talvez fosse esse fenômeno, só que com todas as letras. Depois, vieram as decepções com a Copersucar - quem viu a Copersucar e hoje vê o Barrichello não pode lamentar nada, a Copersucar era pior.
Mas Emerson, sempre, o melhor.
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