The Omen
Comprei terça-feira passada o DVD de um dos meus filmes preferidos: A Profecia (The Omen). Estava a R$ 34 na Siciliano do Botafogo Praia Shopping, e eu, mesmo na pendura, não resisti e adquiri a obra. Não diria que eu sou fã do gênero Terror, mas tenho uma Santíssima Trindade de filmes que considero obras-primas: O Bebê de Rosemary, O Iluminado e A Profecia. Sextas-feiras 13 e Horas do Pesadelo se tornam comedinhas universitárias americanas perto destes três pesos-pesados. The Omen surpreende um pouco mais porque, em confronto com Bebê... e Iluminado, é de um diretor ainda nem tão expressivo para a época (1976) quanto os outros dois: Richard Donner, que mais tarde ficaria mais em nossas memórias instantâneas como o diretor das Máquinas Mortíferas de Mel Gibson.
Ainda que Polanski tenha feito o Bebê de Rosemary também no início de sua longa carreira, não sei, não sei mesmo se antes ou depois de Charles Manson ter feito sua bela Sharon Tate em pedacinhos (se alguém souber, comenta aí, por favor). E, claro, tudo gravado no belo prédio Dakota, em frente ao Central Park, em Nova Iorque, ali onde Mark Chapman acabou com o sonho de vez em 1980, matando o marido de Yoko Ono e lamentavelmente pai de Sean Lennon.
A Profecia, apesar de tudo, tem um grande mago: Jerry Goldsmith, estudioso de piano, mas um dos mais procurados criadores de trilhas de Hollywood. É dele, por exemplo, todas as músicas-ambiente da série Star Trek no cinema (ou 90%), do relativamente recente terror-farofa "A casa amaldiçoada" (com Catherine Zeta-Jones) e do pipocão "A Múmia" - só para se ter uma idéia. E para quem tem mais de 30: é dele a trilha da série western Gunsmoke, cujo xerife deu nome a um dos bons atores de hoje: Matt Dillon.
Os cantos gregorianos/franciscanos que Jerry colocou na trilha de The Omen envolvem o espectador em um clima de mudança de poder. Sim, vendo o primeiro filme da série há uma sensação angustiante de que "eles" estão chegando. Claro, é só a gente olhar qualquer Jornal Nacional que tudo fica mais tranqüilo: "eles" já estão por aqui há muito tempo.
Mas Goldsmith e Donner fazem um belo trabalho de desconforto. Cenas simples, como a de Damien Thorn indo pela primeira vez a uma igreja, são filmadas e sonorizadas de um jeito que é impossível o horror não se apoderar do espectador. Até porque o moleque que faz Damien também parece ter lá sua conexão com o inferno. Sua expressão enquanto a igreja é sutilmente filmada de longe, projetando-se sobre um céu azul, é como a de um animal sendo levado para o abatedouro.
Depois, Kathy Thorn (vivida por Lee Remick) leva seu filho a uma mistura de zoológico com Simba Safari. Para quê? Babuínos e girafas demonstram, incomodamente, "estar vendo" algo horrível ali, onde os seres humanos vêem só um garotinho.
Os corais, aliados aos versos supostamente bíblicos (segundo o filme, do Apocalipse, mas eu não li para confirmar se são reais ou não) declamados por um padre amaldiçoado ajudam a aumentar o clima. Se o espectador é católico, o efeito é muito maior. Quanto mais próxima for a formação religiosa, mais desconfortável se torna "The Omen". Me lembro de, na época em que foi lançado, a censura ser 16 anos (existia isso, alguns filmes podiam para quem tinha 16 mas não para quem tinha 17), eu nunca pude ir, e só vi "The Omen" mesmo em videocassete. Mesmo assim, fiquei fascinado. Influências? Há algumas pitadas de Hitchcock e alguém poderia dizer, de "O Iluminado", na cena em que Damien anda de velocípede - mas o filme de Donner é anterior à obra de Kubrick.
Ah, também é de Goldsmith um efeito hipnótico, terrivelmente incômodo, um som horrível, demoníaco e repetitivo na hora em que o rottweiller infernal olha para a babá de Damien no início do filme. Um som mecânico, automatizado, quase uma música tecno.
Bom, tudo a ver, se for o caso.
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