O calor está, definitivamente, de volta
Se é que um dia ele esteve ausente esse ano. Tivemos inverno? Eu não sei. Não vi pessoas bebendo vinho e depois saindo com leve embriaguez pelas ruas, não vi a orla cheia de gente com blusas de mangas compridas, não vi planos de passar noites mais longas, não fiquei muito na casa de amigos ouvindo música e aproveitando que se podia ser feliz sem ar condicionado. Não vi, em 2002, o inverno, essa estação que, por força de morar no Rio, acaba sendo uma estação de suave esperança. Se planeja mais no inverno, se pensa mais em encontrar os outros no inverno.
No verão, hesita-se antes de deixar o conforto do ar condicionado. Vamos onde? Ah, ali é quente. Puxa, mas não tem um ventiladorzinho sequer? E com isso, vai se perdendo a arte do encontro, vão se naufragando os dias, sem grandes prólogos, epílogos ou conclusões. Como um amadurecimento sem gosto, como se dias fossem frutos que passassem do amadurecimento para a podridão sem que ninguém os mordesse.
Vive-se apenas um sutil ocaso, uma pressa de resolver logo, como se o melhor fosse o fim, e não os meios - e sabemos que nem tudo é assim. As ruas? Suplício, martírio entre lugares refrigerados. O sol, como chuva de fogo. Camisas criam manchas de suor em pontos estratégicos, a testa se molha, e você quer deitar, mas no início do dia, quando sabe que ainda faltam nove ou dez horas para isso. Mais gelo, mais gelo, essa Coca-cola não está boa, cadê o meu sorvete? E está lá o cidadão se arrastando. "Ah, eu não vou sair para comer não, vou pedir para entregar porque tá quente demais".
E é isso, um Rio de fogo. De férias? Seria maravilhoso. Andar de bicicleta e encerrar com mergulhos no posto 9 e na Praia Vermelha. Trabalhando? Apenas um martírio. Mas sempre se pode piorar, já diz o Alberto Gambardella - nada é tão ruim que não possa piorar. Ou seja, haja mercúrio para pouco termômetro. Vou pro ar condicionado. Até mais ver, blog.
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