Notícia triste
O portal de esportes da Globo.com fechou, sem sequer ter ido ao ar - apenas uma área especial do campeonato brasileiro. Vários amigos trabalhavam lá. Ao todo, 50 profissionais foram demitidos.
Cada vez mais apertado, saturado, neurótico, esse mercado. Nessas horas, lembro logo de "Beleza Americana", o filme.
BLOGUS
31 outubro, 2001
Gustavo, Gustones
A recíproca é verdadeira.
Todos me perguntam, também, quem é o Gustavo. Eu respondo que é o único da espécie flamenguista que é gente boa. Só isso já bastaria para dizer sobre sua peculiaridade, afinal, não costumo ter esse tipo de amizades e, se exceção houve, é tão somente porque ele vem mantendo comigo quase total sintonia de pensamentos, posturas, textos e música.
SEPARAÇÃO
Enquanto ela chora no seu pequeno quarto azul, ele embarca num avião.
Aperta-se o nó na garganta dela, falta-lhe ar: medo de não mais amar.
Aperta-se o cinto de segurança no abdômen dele. Medo de voar.
A lágrima escorre rasgando-lhe o rosto e borrando-lhe a maquiagem. Ela sente-se fraca e impotente.
O avião decola, o estômago parece encolher-se, como se houvesse levado um soco. Sente-se possuído por uma sensação de fragilidade.
Ela examina-se no espelho de molduras douradas acima da cômoda.
Ele ora como criança em meio à turbulência enfrentada logo após a decolagem.
Desfez-se a maquiagem. Os olhos inchados. Borrões negros no rosto ocasionados por uma triste água salgada.
O terno está descomposto, a face ilustra pavor e desespero, responsabilidade única de uma tempestade respingando incessante no vidro do avião.
Ela respira fundo. Limpa com papel higiênico o borrão no rosto.
Ele bebe uma dose de uísque, relaxa.
Sentada ao computador, ela tenta escrever uma poesia. Seus olhos embaçam novamente, não consegue expelir uma frase.
Recomposto, sentado à poltrona azul do boeing, ele agora tenta concentrar-se na leitura do jornal. Não consegue fixar uma linha.
Ela despe-se e vai dormir; pretende pensar nele no dia seguinte.
Ele dorme embriagado, covarde e sem pensamentos. Não possui sobriedade para prever o amanhã. Mas pensará nela e no relacionamento findo após quinze anos e dois filhos.
DAS BESTEIRINHAS LEGAIS QUE EU RECEBO:
QUESTÃO DE SEMÂNTICA
Cachorro: O melhor amigo do homem.
Cachorra: Puta.
Vadio: Homem que não trabalha.
Vadia: Puta.
Boi: Homem gordo, forte.
Vaca: Puta.
Aventureiro: Homem que se arrisca, viajante, desbravador.
Aventureira: Puta.
Ambicioso: Visionário, enérgico, com metas.
Ambiciosa: Puta.
Dado: Homem de bom trato.
Dada: Puta.
Garoto de rua: Garoto pobre que vive na rua.
Garota de rua: Puta.
Bonequinho: Brinquedo.
Bonequinha: Puta.
Mascarado: Homem que oculta sua identidade (Zorro, Homem Aranha...)
Mascarada: Puta.
Atirado: Semelhante a aventureiro,sempre disponível.
Atirada: Puta.
Pistoleiro: Homem que mata pessoas.
Pistoleira: Puta.
Homem da vida: Pessoa letrada pela sabedoria adquirida ao longo da Vida.
Mulher da vida: Puta.
O Xuxa: Nadador mundialmente famoso.
A Xuxa: Puta.
Fla x Flu e chantagem
Sei que serei chantageada mas, como diz o meu pai, "perco o amigo mas não perco a piada":
Pedido público de desculpas
O Gustavo me pediu para ser compreensiva e educada e não usar o seu santo nome em vão, ainda mais para sacanear o flamengo.
Devo pedir desculpas, não só a ele, mas à nação rubro-negra, por eu ser tricolor e estar melhor classificada no Campeonato Brasileiro, não ter presidente envolvido em CPIs e não estar à beira desse abismo onde nós caímos bem fundo aliás.
Antes tarde do que nunca: desculpem, também, o gol de barriga em 95.
HTML do Mal III - O Conflito Final
Bom, mudei a template - espero que a Alessandra goste - e agora está na base do tijolinho. Só não sei instalar o contador da Bravenet. Mas desisti. Pelo menos não deu merda geral.
Na outra template, coloquei o contador da Bravenet e dei um "refresh". Adivinhem: a página ficou INTEIRAMENTE coberta por contadores da Bravenet!
HTML do Mal II - Mais forte ainda
E a cada comando que retiro ou acrescento, a merda aumenta.....Help!
Alessandra Archer, enfim, chega de mistério
Foram quatro e-mails, três telefonemas e duas abordagens pessoais. No total, nove pessoas com a mesma pergunta, "quem é Alessandra Archer?" e algumas delas com um adicional, "Qual a sua relação com ela? Rola um clima?"
Bom, para evitar constrangimentos para a moça, esclareço à comunidade blogueira: não sou eu o consorte (com trocadilho) de Alessandra. E garanto que, se eu souber quem é, não entrego. Alessandra Archer é, com certeza, uma moça especial, com quem tenho uma sintonia e uma cumplicidade maiores do que com muitas moças com quem confundi escovas de dentes no passado.
Beber com ela é ótimo, conversar mais ainda, não é mala em assunto nenhum, às vezes não liga para outros, e, se os machos querem saber, é uma moça interessante também, ainda mais quando está de vermelho (e fica combinando com seus cabelos pretos). Com certeza, as desconfianças dos leitores não são em vão, eu acho Alessandra Archer um par quase perfeito para mim, pelo que pude analisar. Se houvesse vestibular para ser meu par, ela passaria na objetiva e na discursiva. E disse "quase" porque ela tem um terrível defeito genético, que é o de ser fanática por aquele time que tem uma sedezinha social ali na Rua Pinheiro Machado.
Conheci Alessandra Archer através de uma grande figura, o vascaíno Dodô. E assim viramos parceiros de blog, porque temos no texto o mesmo tipo de humor e o mesmo tipo de melancolia. Ou quase.
Quanto a eu ser um par para Alessandra Archer - como perguntaram alguns leitores - o que eu posso dizer é que me faltariam uns dois pré-requisitos para isso. E isso eu não entrego quais são!!!!
Ah, me faltam três, na verdade. Lembrei daquele clube lá da Pinheiro Machado.
Esclarecido o mistério? Então, vamos que vamos!
Insônia
Pelo menos uma vez por semana eu tenho. Geralmente, quando tenho que acordar um pouco mais cedo no dia seguinte, fico ansioso e não durmo. Que saco. Desisti de dormir quando bateu seis horas, e decidi, "quer saber? ao invés de dormir três horas e ir trabalhar atrasado, vou mais cedo, trabalhar no piloto automático, e ir acumulando sono ao longo do dia para chegar à noite e desmaiar"
E, melhor de tudo, resolver logo tudo que está pendente!
Mas meu humor ao longo do dia promete ser parecido com o de varredor de rua novaiorquino no dia 12 de setembro.
30 outubro, 2001
Amanhã a Adriana Pavlova lança seu livro Coreografia de uma década - O Panorama Rio Arte de Dança, em um evento no Teatro Carlos Gomes. Já estou com o convite na mão. Irei lá para prestigiar, já que acima de tudo é uma grande companheira, sempre ajuda em tudo o que a gente pede. E ela está há mais de um ano trabalhando no livro. Quem conhece, sabe que só pode ser um grande trabalho.
Claro, eu não entendo lhufas de dança e nunca tive saco para assistir um balé que fosse. Vou me sentir o Homer Simpson amanhã nessa festa. Ou como se convidassem o Sérgio Mallandro para um debate com Marilena Chauí, Décio Pignatari, Roberto da Matta e Stephen Hawking.
Blogs atualizados!
Reclamei e fui atendido! Os direitos do consumidor continuam valendo! Os blogs do Coelho e do Sérgio Maggi voltaram a ser atualizados com a corda toda...
Aliás, como eu ainda não sei colocar a tabela de links (apesar do Gambardella ter me enviado os comandos), me limito a indicar a tabela de links alheia; a do Maggi tem vários links para blogs bons, dêem uma olhada.
Preguiçosos
Putz, mas vou te contar, heim? O Coelho, o Sérgio Maggi e o Maloca demoram demais para atualizar os blogs deles...todo dia eu entro e cuuuuuusssssta a ter coisa nova....ou será que eu é que estou muito viciado????
A minha banda de rock and roll favorita do último século - eu e meus partners
Este sábado, ao que parece, o Aerosilva vai sair do jejum. Acho que não tocamos desde o primeiro semestre, para ser mais exato, desde antes de começaro maldito apagão.
Mas não há de ser nada. Eu na guitarra e vocal (????), Marlos Mendes no baixo e André "THE AXE" Machado na violentíssima e gutural bateria vamos botar para quebrar. Quero pelo menos quatro horas de som. Quem sabe a gente não grava e disponibiliza nos nossos blogs?
O Aerosilva sempre foi uma terapia para mim. Nem me importo de pagar os trintão até Niterói (vamos de táxi por causa dos instrumentos), pois sai mais barato e mais eficiente do que analista.
29 outubro, 2001
Zapeada infeliz
De controle remoto na mão, já causei grandes males a mim mesmo. No domingo passado, fui parar em No Limite. Esta segunda, tive a infelicidade de me deparar com um programa chamado Casa dos Artistas ou coisa parecida, que me pareceu uma chupada descarada de um outro programa americano chamado "Big Brother" - que nada tem a ver com o Survivor, no qual o No Limite foi inspirado. O lance aí é dentro de uma casa. Só que na chupada tupiniquim, são umas mulheres gostosonas e mais uns caras, entre eles o Alexandre Frota e o Supla. Valha-me Deus.
Aí tem uma cena deprimente na piscina. O Frota conversa com um outro retardado, contando como tentou comer a Regininha Poltergeist durante um Carnaval. A fala dele é toda censurada, para omitir nomes. Só que a gente percebe que a Regininha é essa mesmo, porque os caras da produção se esqueceram de cortar um detalhe: "Passei lá no Méier para buscar ela, ela ainda morava no Méier", diz o Frota. O nome da moça a produção não cortou, achando que não tinha como nego descobrir que Regininha era. Só que aqui no Rio, seus pangarés, todo mundo sabe qual é a Regininha que morava no Méier.
O que se segue é ridículo. "Aí pintou o (piiiiiiiiiiiiiii), um cara que ela curte lá, mas o cara é feio pacas, tu sabe, tu já viu o cara, ele é feio pacas, o (piiiiiiiiiiiii)". Fica nítido que o cara é o Fausto Fawcett. No final, o cara diz, "porra, no final a mulé (sic) tava toda sem maquiagem, bêbada, cabelo desgrenhado".
Mundo, vasto mundo. Por isso que eu ando ficando tanto tempo em casa.
Opa! Pára que eu vou descer aqui nesse ponto
Tá legal, tá legal. Eu é que sou o escroto aqui. Eu é que sou tampinha, só 1,60m, eu é que deixei aparecer uma barriguinha (já estou cuidando disso), eu é que estou com os cabelos ficando raros, eu é que sou o repugnante aqui.
Mas eu não quero ser do mesmo mundo que o Fica comigo da MTV! É muito hard core para a minha cabeça! Ontem eu vi três meninas se acotovelando em frente a uma parede, para poderem encaixar os respectivos peitos em três buracos. Do outro lado da parede, um moleque "escolhia" qual peito lhe era mais conveniente, e a parada tinha CARÁTER ELIMINATÓRIO!!!! CARACA!!! O cara pode estar escolhendo A MULHER COM QUEM ELE PODERÁ GERAR OUTRO SER HUMANO usando para isso apenas o critério do peitoral!!!!!! Putz!!!! Eu tenho medo de pensar que as mulheres também fazem coisas parecidas!!!! Por isso é que nascem malufs!!!
Alô, rapaziada, deu pra mim, heim! Bota mais gelo aí, e vambora porque tá chovendo merda nessa festa!!!! Heil heil rock and rolll!!!!!
Dor, tontura, desânimo
Garganta inflamada, febre, mas sem nenhum sintoma de gripe, espirro ou coisa assim. Um pouco de dor no ouvido. Sinto que vou ter que entrar no antibiótico.
No trabalho, uma notícia: trabalho fim de semana sim, fim de semana não. Até quando, não sei, não sei mesmo até quando vou aguentar ter só seis folgas por mês (folgarei sábado, domingo e segunda, quando eu folgar).
Aí paro e penso: na verdade, eu já tinha seis folgas por mês.
Ê bobeira. Deve ser essa inflamação. Chato é não poder sair. E olha que domingo eu ia no Maracanã, só para poder encontrar com a Alessandra depois do estádio. Bom, vou ver se eu melhoro.
De gatos e arquibancadas
Ah, em tempo...eu e Alessandra jamais discutiríamos com relação a gatos. Mas acho que teríamos problemas no Maracanã, como podem notar pela nota abaixo!
E O FLA (Gustavo) X FLU (Eu) CONTINUA, sempre, claro, com o maior respeito:
O título é do Gustavo: "Chutando cachorro morto"
Manchete no caderno de esportes do Jornal do Brasil de hoje:
“O Flamengo à beira do abismo”.
Só falta um passo!
Comentário sutil: BUUUUU!
Comentário grosso: precisa de um empurrãozinho?
O côncavo e o convexo
O ser humano tem muitos pontos de conflito, e alguns desses pontos tornam ou mais fácil ou impossível o relacionamento entre duas pessoas. Quando acontecem exceções, viram até notícia. Por exemplo, um cara da UDR namorar uma menina do PT. Um rubro-negro namorar uma vascaína (já fiz isso duas vezes, e nas duas fui campeão), um ateu namorar uma garota da Universal, enfim, vários pontos que eu chamaria de "Zonas de Conflito", para ser mais exato.
E outras são menores, mas não de menor importância. Por exemplo, eu tenho uma dificuldade muito grande de pensar em conviver com mulheres que realmente acham que o macarrão deve ser quebrado antes de entrar na panela.
Dou toda razão a mulheres que tenham a opinião de que os homens dela não devem ser assinantes de Seleções do Reader´s Digest.
Eu mesmo tenho uma dificuldade muito grande em conviver com pessoas que acreditam em facções radicais do PT, Astrologia (de forma radical), Tarô (idem), Ufologia, e que adotam raciocínios simplistas de maneira geral, a saber:
"São Paulo é chata, o Rio é tropical, ensolarado"
"Gosto mais de verão do que de inverno"
"Maluf rouba mas faz"
"Esse tipo de música não se ouve mais"
E por aí vai. Considero o raciocínio simplista, se não uma zona de conflito (às vezes dá para conviver) uma perigosa área de contato, que nos faz cansar rapidamente do interlocutor. Acho terrível quando alguém já começa uma conversa perguntando "mas então, você trabalha aonde?".
Enfim, todo esse papo de zona de conflito é para dizer que, uma das coisas em que eu e a Alessandra Archer sempre iremos concordar é em relação aos gatos.
Já fui muito contra cachorros, hoje convivo com eles numa boa. Mas os gatos realmente são espetaculares.
NEGRO GATO
A criatura negra de olhos verdes, andar elegante, bigodes e brincalhona chama-se Billy Negão. Não tanto pela música do Cazuza. Não bastasse ser um gato, estigmatizado como animal arisco, anti-social, antipático e solitário, é preto.
Ainda não me acostumei ao ronronar dele no meu colo, às suas manhas e brincadeiras. Em apenas um mês, quebrou um abajur, fugiu umas dez vezes para a casa da vizinha, me obrigou a pular o muro da síndica para resgatá-lo, derrubou todos os meus porta-retratos, escalou a pedreira atrás da minha casa, picotou uns três rolos de papel higiênico, matou duas baratas, fez festa para mim e arranhou meu sofá. E eu ri.
Como diz o Garfield: “Ter um gato não é fácil, mas vale a pena...para o gato”.
Por falar em Laranjeiras..
"Exigentes os moradores da rua das Laranjeiras que estão a bradar que a mandem calçar, como se não bastasse morar em rua de nome tão poético. É certo que em dias de chuva a rua fica pouco menos lamacenta que qualquer sítio do Paraguai", escrevia Machado de Assis, ilustre morador do bairro, Crônicas 3º vol. Semana Ilustrada / 1871-1873.
RAIVA
De repente, senti uma raiva imensa, dessas que a gente tem vontade de gritar; quebrar uns copos, como fazem as histéricas atrizes em cenas de novela; ou chutar uma porta e quebrar um dedo. Xingar um palavrão. Um não, vários, seguidamente, como quem acaba de levar uma topada no dedinho na esquina da mesinha do cantinho da sala, no escuro da madrugada quando foi buscar um copo d´água. Minha raiva não é por hoje ser segunda-feira e eu não ter dinheiro na conta-corrente, mas sim uma fatura de cartão de crédito e uma conta de telefone vencidas em cima da mesa da minha sala, com o meu gato as vigiando. Imagina. Os problemas são sempre os mesmos. Mas esta é uma ira impulsionadora que vai me fazer levitar. Eu preciso. Me lembrei de uma pessoa. Porque se algum dia houve um grito, foi ela quem deu. Seu nome? Patricia. A moça um dia soltou a voz, chutou uma porta e quebrou um dedo. Ou dois. Talvez tenha se arrependido e hoje quebre apenas a cabeça fazendo palavras cruzadas.
Acho que ela sabe. E nós também. Às vezes é preciso fazer escândalos, perder a linha, ser rotulado de louco e berrar. Uma legião de amigos, familiares e desconhecidos, todos munidos de sorrisos, canções, lágrimas e holofotes, a descobriram em algum canto escuro e triste, e ela pensando que ninguém a ouvira. Atenção! Só isso. O berro fez eco no Rio de Janeiro, de Laranjeiras ao Leblon, e ninguém, à época, entendia como alguém podia deprimir-se assistindo os dias lindos que vinham fazendo, como hoje, por exemplo. Nem eu. Então, agora mesmo, desisti de gritar.
Optei por escrever: AAAHHHHHHH!
Dez coisas que me chateiam sutilmente
1- Engarrafamento
2- Não ter cadeira para sentar no Metrô
3- Fila para escada-rolante de shopping center
4- Shopping center
5- Gente que cobra "ué, porque você sumiu?"
6- Ônibus que passa por fora do ponto
7- Esperar elevador
8- Cruzar com alguém em corredor e ter que cumprimentar com um aceno de cabeça
9- Sair com mulher que fica falando de ex-namorado ou atual
10- Campanha do Flamengo no Campeonato Brasileiro
No limite do tédio
E ontem estava eu lá, catatônico, assistindo à terceira edição de NO LIMITE. Os personagens me lembram aqueles livrinhos de Maria José Dupret, ou aqueles da Ática, tipo "A mina de ouro" ou "Escaravelho do diabo". Sempre tem alguém com apelido engraçadinho: na primeira vez, o primeiro a sair foi o Amendoim. Dessa vez, sai a Bisteca. Fora a mistura indigesta que isso deve dar no estômago, fica parecendo mesmo mais um epísódio da turma do posto quatro.
Além do mais, é um tal de nego com mais de 40 anos nos cornos gritando "iiiiiiiiissssaaaa", ou "vamo lá turma!", ou "uuuurrrrrruuuuuuu" que chegava a me constranger. E as profissões? Um policial com sotaque baiano, um sushi man, e, como sempre, um fazendeiro.
Ainda tem um modelo, uma dona-de-casa e um pastor, quem diria. O cara usa um boné escrito "Sem limite com Jesus". Uia. E ontem a equipe dele foi derrotada, e ele fez questão de reunir todos sob seus braços e orar, "nós somos vencedores, obrigado Senhor".
Foi rolar isso e eu entrar numa: "Não é possível, é lógico que o pastor é que vai para o trono", achando que o resto da equipe iria votar no cara porque seria uma malice ficar fazendo aquele ritual a cada derrota. Que nada. O cara não levou um voto sequer. Só as mulheres foram votadas, e no desempate, a Bisteca é que dançou.
Moral da história: Os malas também merecem o reino dos céus.
Dica para bloggeiro
Sérgio Maggi, o que não é caldo, como sempre dando dicas boas de sites em sua imperdível coluna semanal no Globo On. Desta vez é o site e-Kit, com vários códigos para quem quer montar um blog ou home page.
PARA O INÍCIO DE UMA PEQUENA REFLEXÃO
"Para mim, a pior coisa da televisão é que todo mundo que você vê na tela está fazendo alguma coisa melhor do que você. Você nunca vê ninguém esparramado em um sofá com farelo de batata frita na camisa"
(Jerry Seinfeld)
Da série As melhores frases sobre Ismos
Sobre marxismo: "Todo marxista é um marxista de galinheiro. E Marx também era um marxista de galinheiro"
(Nélson Rodrigues)
O pós-plantão
Segunda-feira!
Para quem trabalhou no fim de semana, a segunda-feira tem um peso menor. Afinal, não é uma segunda-feira "início de longa jornada", e sim a metade da jornada! Dá uma felicidade de saber que "agora é segunda-feira para valer", ou seja, a sexta vai ser sexta mesmo, vai valer, e eu vou dar aquela relaxada.
Dá para pensar em replanejar a semana, ter dias melhores, zerar as tarefas pendentes, escrever ficção ou poesia, tentar ir ao cinema, ler mais coisas da Alessandra, ouvir mais som, comer menos, andar de bicicleta, enfim, zerar o taxímetro e iniciar nova corrida.
Ah, e nosso blog teve nesse fim de semana sua primeira "arquivada"....Só não aprendi ainda a tornar o arquivo acessível!
28 outubro, 2001
Zagallo se rende
Quem consegue ler nas entrelinhas, e viu a coletiva de Zagallo após a décima derrota do Flamengo no Campeonato Brasileiro, sabe: pela primeira vez, o técnico rubro-negro entrega o jogo. Contra o Fla-Flu, com os dois idiotas suspensos e mais os três convocados (sendo que só um deles faz falta), serão cinco desfalques. Frase do Zagallo: "Aí, já viu né?". Ou seja, é mais um sacode. Que lamentável a situação desse time. O que será encarar uma Copa Libertadores com esses caras?
Um time entregando o jogo
Intervalo de jogo. Grêmio 2 x 0 Flamengo. O time gaúcho parece que está ganhando porque não tem outra coisa para fazer. Nem parecem muito interessados no jogo, estão ganhando em ritmo de treino.
Afinal, do outro lado, está um time que ENTREGOU O JOGO, porque vai levar o clube ao rebaixamento. Do outro lado está um time que não quer mais nada com futebol, uma vergonha, um time que é a cara de seu presidente, sempre às voltas com CPI, Polícia Federal, jogadas estranhas, suspeitas. Um time que é a cara da matilha que acompanha o presidente.
Pobre Zagallo. Uma carreira inigualável, o único tetra do mundo, um exemplo de dedicação ao futebol, e vai encerrar a carreira com o REBAIXAMENTO para a segunda divisão.
Acho que a única coisa que poderia confortar o torcedor do Flamengo neste momento, era, no dia do rebaixamento, todos, a diretoria inteira, ser expulsa da Gávea, removida, demitida, expulsa até como sócios. O presidente deveria fugir do país, do mesmo jeito que, como disse o Felipão, não poderia ficar no Brasil caso a seleção ficasse fora da copa. O REBAIXAMENTO, que já é uma realidade, deveria servir para essa limpeza em definitivo da Gávea.
O ano em que vivemos em perigo
No blog Botequim tem uma bela foto de dias felizes de 1998. Aliás, muito mais noites do que dias. E tome Feira de São Cristóvão!
São 15h45
Daqui a pouco está começando Flamengo x Grêmio, no Olímpico.
Provavelmente, mais um vexame rubro-negro, do time que faz a pior campanha de sua história no campeonato brasileiro. Vergonhosa, vexaminosa, ridícula, lamentável sob todos os aspectos.
E eu tenho que ver o jogo, por questões profissionais.
É triste; mas vamos lá.
27 outubro, 2001
Uma boazinha
Os inesperados da tecnologia :
Um casal foi ao hospital para o nascimento do seu esperado bebê.
Quando chegaram o médico disse que havia sido inventada uma máquina que
poderia transferir a dor do parto para o pai.
Perguntou se eles gostariam de experimentar a novidade.
Ambos acharam a idéia maravilhosa e o médico colocou a chave em 10% para
começar, explicando que mesmo 10% seria provavelmente mais dor do que o
pai jamais havia experimentado antes.
Enquanto o trabalho de parto prosseguia, o marido continuou sentindo-se
bem e pediu ao médico que aumentasse a porcentagem de dor transferida para
ele.
O médico aumentou para 20%, checou a pulsação e a pressão do marido e
ficou impressionado com a forma como ele estava reagindo.
Em 50% o marido ainda estava se segurando bem e, vendo que aquilo estava
obviamente ajudando sua mulher, pediu ao médico que transferisse para ele
toda a dor.
A mulher deu a luz, um bebê saudável, sem sentir absolutamente nenhuma
dor. Ela e o marido estavam maravilhados!!! E tudo ficou perfeitamente bem,
até que eles foram para casa e chegando na porta de casa encontraram o
carteiro morto na frente do portão.
Enquanto nenhum deles - Marlos Mendes, Rafael Rosenhayme ou Alberto Gambardella - me ensina como fazer para montar uma tabela de links para ficar fixa no nosso blog (meu e da Alessandra), eu vou dando as dicas de outros blogs nos próprios posts. A dica do momento é o blog do próprio Rafael Rosenhayme, que faz elogios diversos a este blog e ao Botequim, blog de Marlos Mendes.
Rafael diz que a rapaziada vai rir, e tudo o mais. Eu acrescentaria que a rapaziada vai rir também...mas do jeito que ando com o humor instável, não garanto....
Mas dêem uma olhada no Bonde Andando, pois é de confiança.
Flamengo sem rumo
Deu no portal Terra este sábado:
"O presidente do Flamengo, Edmundo Santos Silva, descartou contratar o Baixinho ao contrário do que havia afirmado há um mês. “Não estamos num momento de contratações avultosas. Romário é do Vasco e não falo sobre jogador de time coirmão (sic)."
Era só o que faltava. O Vasco, um time co-irmão. Continuando nesse ritmo, daqui a pouco estaremos torcendo pela Argentina na Copa do Mundo.
Frases mais atuais que os antigos ditados
Ao invés de "Diga-me com quem andas e te direi como tu és",
muito melhor "Passarinho que dorme com morcego acorda de cabeça pra baixo"
Paulinho da Viola
Volta e meia digo por aí em alguma mesa de bar que o Paulinho da Viola é o maior gênio e poeta da nossa música, sem falar em suas interpretações espetaculares, comoventes, quase santificadas. Acho isso uma verdade praticamente impossível de ser contestada, e se alguém quisesse me processar por essa declaração, eu mesmo me defenderia no tribunal. Qualquer júri do mundo me absolveria por todos os votos menos um (afinal, unanimidade é burra). Esse um seria algum poeta que vê nos 'inhançãs-porãs-magalamabares-obaloês" de outros compositores uma suposta genialidade maior.
Como principal argumento de defesa eu colocaria Não é assim, do segundo disco dele pela gravadora Warner, A toda hora rola uma história, recentemente relançado em CD daquela coleção organizada pelo titã Charles Gavin.
A letra:
Não é assim
Não é assim que se faz
É melhor dizer a verdade
Tudo não passou de um sonho
Não quero viver enganado
Houve um tempo de ternura
Quando nosso amor nasceu
Hoje eu vejo nos seus olhos
Que a flor do nosso amor morreu
Os teus olhos não escondem
Aquilo que eu não esperava
Usa de sinceridade agora
Quero ouvir tuas palavras
O teu amor em minha vida
Foi mais uma ilusão
Que tentarei mais uma vez
Na despedida
Apagar do meu coração
Sábado, dia de trabalho.
Ver o jogo da tarde, escrever algo, sete e meia, no máximo oito, zarpar fora para casa.
Ou melhor, para uma boa sessão das oito. De preferência no Espação Unibanco, ali na Rua Voluntários da Pátria.
E tome vidinha mais ou menos.
As melhores frases sobre Ismos:
Sobre Racismo:
"Prefiro ser negro a ser gay porque quando você é negro não tem que contar para sua mãe"
(Charles Pierce)
Um sol incrível, tem feito esses dias.
Posso ver que o calor nesse verão vai ser de rachar.
Mais uma vez, vou sair por aí defendendo a tese de que não conseguimos nos desenvolver porque ninguém consegue trabalhar e ser feliz com esse calor nigeriano.
E, fora um folgão de 15 dias em março ou abril (amigos, marquem férias por aí, para armarmos uma viagem! Alessandra, marque as férias por aí, para a gente ficar andando pelo calçadão da Urca), só terei férias em janeiro de 2003!
Isso se nada acontecer nesse mercado instável de jornalismo.
No mais, eu já ficaria feliz se o Peter Relative liberasse logo as contas de luz para que eu pudesse ligar meu ar condicionado na hora de dormir.
26 outubro, 2001
O gerúndio mortal
Eu já disse a várias pessoas, mas é bom repetir, para quem por acaso passar por aqui:
Em nenhum setor da nossa vida (profissional, amoroso, financeiro, doméstico, familiar, o que for) devemos utilizar, mesmo que com pouca ênfase, a frase "Eu sei o que estou fazendo" e suas variantes.
Nada dá certo depois dessa frase.
Frases pessimistas:
"Quem ronca sempre dorme primeiro"
"Numa feijoada, o louro sempre vem para o meu prato"
Uma música que veio na minha cabeça
Lendo o texto anterior, de Alessandra Archer, me veio na cabeça a música abaixo de John Kay, líder da banda Steppenwolf. É uma canção triste, meio balada, em que o cara canta demais, maravilhosamente. Tem a alma necessária - ele canta, "take my hand, if don´t know/where you´re going". Eu cantaria isso para Alessandra na hora em que nós mostramos tantas coisas do ano de 1998.
Desperation (John Kay)
When rain drops fall and you feel low
Ah, do you ever think it's useless
Do you feel like letting go
Do you ever sit and do you wonder
Will the world ever change
And just how long will it take
To have it all rearranged
Tell me why these things are still the same
Tell me why no one can seem to learn from mistakes
Take my hand if you don't know where your goin'
I'll understand, I've lost the way myself
Oh, don't take that old road it leads to nowhere
We must return before the clock strikes twelve
It's so easy to do nothin'
When you're busy night and day
Take a step in one direction
And take a step the other way
So don't stop tryin' when you stumble
Don't give up should you fall
Keep on searchin' for the passway
That will lead you through the wall
Don't look back or you'll be left behind
Don't look back or you will never find peace of mind
Procure essa música no Audiogalaxy , mas se você não for cadastrado, lembre-se de baixar o programa Sattellite antes, no próprio site.
DA SÉRIE PEQUENAS HISTORIAS TRISTES
1998 o ano em que nasceu um anjo
Sexta-feira, dia 13 de março de 1998. Choveu muito na noite daquele dia, mas ele não viu, pois acordou cedo, seguiu sua rotina habitual, brincou com uma criança, assistiu televisão, ouviu o telefone tocar, implicou com uma crente, sentou-se à cama pensativo, pensou na sua mãe, riu de sua família, botou um CD do Pink Floyd para tocar, chorou, aguardou o meio-dia, respirou fundo, abriu a janela e, sem a habilidade de um pássaro, uniu-se à paisagem dos prédios, das montanhas e do mar, no ar.
As melhores frases sobre Ismos:
Nacionalismo:
"O nacionalismo é o último refúgio dos velhacos"
Roberto Campos
Maybe
O ano de 1998 foi sem dúvida um dos melhores da minha vida. Não fosse o Vasco ter sido campeão da Libertadores e o Brasil ter tomado de 3 a 0 da França, diria que foi um ano perfeito. Não namorei ninguém, à parte algumas saídas com meninas interessantes que não davam em muita coisa.
Mas muitos em minha volta estavam felizes. Existia o Bukowski, o local mais bacana que já tivemos para freqüentar. Conhecíamos todos, o barman, os donos (antes deles virarem inimigos um do outro), os DJs, e várias meninas que nós sempre víamos lá mas nunca tivemos coragem de abordar. Mas era bom vê-las, saber que estávamos mais ou menos na mesma comunidade.
Eram tempos felizes, mas que não deixavam de ter um sentimento estranho de ausência. Sim, mesmo quando todos estavam lá naquele similar de bar esperança, havia uma espera que parecia nunca acabar. Faltava alguém, sim, e não era apenas uma carência afetiva, e sim a falta de alguém com quem dividir os sonhos mas também os pesadelos.
E não era no Bukowski que isso iria acontecer, e sim na vida. Ou não acontecer.
Só sei que muitas vezes eu decidia ir embora sozinho, porque me cansava um pouco. Entre a felicidade calma e uma fervorosa tristeza, eu saía pela Rua Paulo Barreto escura, protegida pelas árvores, em direção à Voluntários na época iluminada. E estranhamente me sentia além do medo, do medo de assalto ou coisa assim, parecia que eu estava vivo demais, que poderia abrir mão de um pouco de vida.
Porque todas as vezes em que eu entrava na Paulo Barreto, mesmo que eu não quisesse, começava a tocar "Maybe" na minha cabeça, e eu não sabia de que parte de mim vinha o início dessa maravilhosa canção de Janis Joplin. Sei que começava, o solinho de guitarra, o teclado de igreja, o baixo, e Janis suplicando, implorando, pedindo, confortando, como se estivesse pessoalmente cuidando de mim.
E nessa hora eu sabia que sempre haveria o talvez. Maybe. Sempre.
TALVEZ - TALVEZ - TALVEZ - TALVEZ
Talvez eu não tenha feito nada. Talvez eu apenas estanque e olhe a chuva. Talvez eu nunca tenha movido nenhum músculo para mudanças. Talvez eu tome agora uma injeção anestésica e durma. Talvez eu já não sinta mais dor, mas meu amor; talvez eu perca tempo escrevendo. Talvez seja esse o único tempo ganho. Talvez minhas palavras sejam como navalhas. Talvez você sinta o que quero dizer. Talvez a nossa vida seja feita de talvez.
A torcida tricolor responde à nota do Gustavo: “O urubu, pode esperar, a sua hora vai chegar”...mais precisamente, no dia 4 de novembro. E em negrito.
FRASES & FRASES
“É bem verdade que nem a juventude sabe o que pode, nem a velhice pode o que sabe”, José Saramago, “A Caverna”.
25 outubro, 2001
São dez e meia e o Free Jazz come solto na tela da TV. Ao meu lado, vinho. Atrás de mim, o travesseiro. Na minha frente, o Grandaddy. Que voz chata, meu Deus. Mas vá , de repente sou eu que fiquei fã demais de gente que estudou música, que trabalhou voz, que nasceu gênio. Alguns que se enquadram em pelo menos uma (se não todas) essas qualidades como cantor:
Stevie Winwood
Otis Redding
Marvin Gaye
David Bowie
John Fogerty
Roger Daltrey
E muitos outros. Palmas para o Grandaddy. Mas eu infelizmente não acompanhei, não fez minha cabeça. E olha que eu tentei. Com vinho e tudo.
As melhores frases sobre Ismos:
Sobre socialismo: "O capitalismo é a exploração do homem pelo homem; o socialismo é justamente o contrário" (Joelmir Betting in "Na Prática a teoria é outra", 1974)
Para ninguém dizer que só há flores na minha relação com Alessandra Archer, deixo aqui minha resposta para uma de suas notas de hoje: "Uma vez Flamengo/Sempre Flamengo/Flamengo sempre eu hei de ser/É o meu maior prazer/Vê-lo brilhar/Seja na terra/Seja no mar/Vencer, vencer, vencer/Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer/Na regata ele me mata, me maltrata/Me arrebata de emoção no coração/Consagrado no gramado/Sempre amado/Mais cotado no Fla-Flu/É o ai jesus/Eu teria/Um desgosto profundo/Se faltasse/Um Flamengo no mundo/Ele vibra, ele é fibra/Muita libra já pesou/Flamengo até morrer, eu sou"
Em tempos de guerra, paz: Paz é começar a escrever um texto sem a preocupação de procurar palavras complicadas demais para dizer coisas simples. É acordar cedo e ver o azul tão óbvio, comum e tão bonito do céu da sua cidade e admirá-lo por isso. Por ser óbvio, comum e ainda assim, bonito. Paz são os verbos de ligação. É trocar palavras por melodias, por um livro ou uma tarde dormindo. É não atender o telefone aos domingos e esquecer que domingos são domingos e imaginá-los como sábados ou segundas, a menos que você goste destes dias. Tenho tanto para dizer sobre a paz e me sinto serena por não achar as definições para esse sentimento que me invade, principalmente quando tento expressá-lo.
A paz é fugidia e invisível. Não posso descrevê-la isoladamente quando hoje sinto-me por ela tomada. Será só por hoje? Preciso aproveitar. Pessoas vestidas de branco soltando pombas brancas não me trazem paz. Os pombos causam-me repulsa, ainda que sejam brancos, e a cena...é uma cena. Uma folha em branco é capaz de proporcionar-me paz. Pensar em preenchê-la, completa e tranqüilamente, sem ter mais nada a acrescentar no final, ah! que paz. Esta é a hora de deixá-los em sua companhia, porque eu já estou.
SEDE
Adoro os versos "Me dá um copo d´água/Eu tenho sede/E essa sede/Pode me matar", daquela música do Unplugged do Gilberto Gil. E quando li sobre a fome da Alessandra, senti sede, sede de vinho, de viver de uma forma mais desregrada, sede de beber vinho ao lado da Alessandra, sede de falar sobre o tudo, sobre o nada.
A sede, da boca seca, é um sentimento que parece nos trazer mais vida, pois implica na busca, na súplica, no pedir mais. Não a sede ou a fome de quem está no claustro ou na privação, mas a sede e a fome que descobrem o mundo, que percorrem a ilha em busca de víveres, do caçador.
A primeira vez que li um texto da Alessandra foi assim, me deu vontade de ler mais, uma espécie de sede.
Com toda essa vontade, me tornei o leitor número dois da Alessandra. Mas o número um que se cuide. Estou com sede de vencer.
Frase mais adequada para o dia:
"Globalização, quando não mata, aleija"
(de autoria de um jornalista razoavelmente conhecido)
FOME
Estou com fome. De sanduíche, macarrão, empadão, sorvete, salada ou doce-de-leite. Estou com fome. Quero comer papel branco com letras pretas e vomitá-las azuis e verdes ou da cor de quem as ler. Estou com fome pra rechear minhas poesias outra vez com muita agudeza e destemor. Fome de viver, fome de comer, fome de chorar, fome de mijar, fome de pensar, de ler e namorar. Fome de ganhar dinheiro. Estou com apetite para o saber, para o inventar e para ouvir risadas. Tanta fome para morrer na praia! Para ser engolida pelo mar, pelo ar e textos de Raduan Nassar. Tenho fome pra rimar e fome para ser compreendida.
Que fique bem claro: para o Free Jazz, a falta de grana é a velha desculpa. Quanto ao Festival de Cinema: filas, tô fora.
Hoje é o primeiro dia do Free Jazz e nós já sabemos que não vamos. Nem para tomar uma cerveja do lado de fora, como a turma do oba-oba. Quem quebra uma invencibilidade dessa? Psicanálise, rápido.
Para não dizer que não falei sobre futebol: “Sou tricolor de coração, sou do clube tantas vezes campeão, fascina pela sua disciplina o Fluminense me domina. Eu tenho amor ao tricolor. Salve o querido pavilhão, das três cores que traduzem tradição: a paz, a esperança e o vigor, unidos forte pelo esporte, eu sou é tricolor...”
Del Fuego reaparece
A pronta resposta ao meu questionamento de dois dias atrás, quando perguntei por onde andava Andrea Del Fuego: a mesma me manda um longo e simpático email, respondendo no ato:
"Estava na praia, fiquei uns 10 dias fora. Deu pra descansar um bocado.Olha só... vê se escreve todos os dias mesmo, agora tu tem platéia cativa, não vá decepcionar teu público ok? Vou ler todos os dias."
Maravilha...Isso é que é depoimento a favor!
Esse Blog é do bom: Não é caldo... É sempre engraçado descobrir mais alguém que gosta de Elmore Leonard. Sim, aquele que escreveu o livro que deu origem ao filme em que o George Clooney tira um sarro esperto da Jennifer López no porta-malas de um carro.
Independente da óbvia opinião que eu tenho sobre o aspecto físico da Jenniffer, devo admitir que um porta-malas é o local feito sob medida para os dois.
Mais um ano em que mantenho a invencibilidade: não fui a nenhum filme do festival e a nenhuma noite do Free Jazz. Estou pensando em formar um grupo de anônimos, com terapeutas, só com pessoas assim.
"Amo os que suportam o peso de suas responsabilidades/E movem todo o estorvo/Porque maior que a vontade de dominar/É a comodidade da dependência" (Gilmar Piolla, há dez anos, quando era somente escritor curitibano. Agora, além de escritor curitibano, ele ainda é um dos grandes do NO em Brasília.)
Greve no Vasco, rebaixamento no Flamengo, Dodô e Andrei no Botafogo, e o que é pior, só o Fluminense vai se classificar no Brasileirão.
Futebol carioca e Fundo do Poço: a parceria mais duradoura de todas.
"As melhores frases sobre ismos". Sobre Comunismo:
"Comunista é aquele cara que não tem nada e ainda quer dividir com os outros"
(atribuída ao genial Jaguar)
24 outubro, 2001
PREGUIÇA, recebida via e-mail: A preguiça é a mãe de todos os vícios; mas uma mãe é uma mãe e é preciso respeitá-la.
MÚSICA & MÚSICAParei tudo o que estava fazendo para me lembrar daquela que foi a minha primeira música. Relembrei, cantarolei. Não existe. Foram várias. Cada época, uma música. Meu primeiro contato musical aconteceu com os discos do Sítio do Pica-Pau Amarelo e dos Saltimbancos. Outros haviam, divertidos, coloridos e infantis, entretanto, nenhum que eu ainda saiba cantar e seja tão atemporal, por isso não os cito. As letras das canções de “Construção”, por Chico Buarque e “Domingo no Parque”, Gilberto Gil, na minha jovem cabeça de 12 anos criavam fantasias e imagens fantásticas. Eu seguia um ritual quase paranóico. Pegava minha vitrolinha vermelha, sim, eu quase todos nós tínhamos uma vitrolinha, fechava a porta do quarto e punha o disco para rodar. Estava lá, eu deitada no chão do quarto imaginando como seriam o José e a Juliana. E como seria morrer na contramão como um pacote flácido num mundo em que, para mim, àquela idade, ainda não machucava, embora meus joelhos fossem todos esfolados. A manhã passava e minha mãe gritava lá debaixo que o almoço estava pronto.
Eu pouco sabia inglês, talvez por isso tenha eleito “Imagine” a melhor canção em um determinado período, pela simplicidade da letra, na compreensão e no desejo. Talvez eu prefira falar sobre o primeiro livro. Porque quase me vejo a definir fases da minha vida, do rock ao clássico. Na adolescência eu gostava de rock e de todo o lixo que tocava nas rádios de locutores escandalosos pelo menos umas vinte vezes por dia. Quando eu dei meu primeiro beijo, nem lembro o que tocava. Preciso valorizar quem merece: meu pai e meu irmão cultivavam um interesse ingênuo pela música. Isso, de certa forma, é contagioso. É preciso ter essa instância ou não se é um amante da música. O tímido prazer de ouvir o que quer que seja, de manter um primeiro contato com um som para, quem sabe, nunca mais voltar ao que se ouviu. Peneirar as criações e reinvenções. De ouvir de tudo, de buscar o tudo o que se faz de harmônico no mundo e curtir. É mais cômodo, para a grande maioria, ouvir o último CD da banda conhecida. Ou as 10 mais tocadas da rádio. Ou parar no tempo, como eu, e viciar seu aparelho de som a tocar os mesmos discos durante algum tempo. Faço assim porque tenho consciência de que não conheço música e gosto, à exaustão, de algumas. E não porque eu sou 50% surda (permito o riso, aqui), mas porque não tive este interesse ingênuo e quase sacro pela música. Também não me sentiria à vontade para contar como um amor impôs o erudito no meu gosto musical e, felizmente, foi tudo o que restou dele – daquele amor. Equivaleria a assumir que eu era uma ouvinte estúpida e pouco impulsiva pois não tentava nada sobre as minhas preferências e escolhas: dos namorados à musica. Hoje tento, embora saiba da minha ignorância, porém não tenho pressa. Há muito o que ouvir, namorando ou não.
DEFINIÇÕES CURIOSAS
AMIGO: Diz-se da pessoa do sexo oposto que tem esse
"não sei o quê" que elimina toda intenção de querer trepar
com ela.
REALISTA: É alguém que leva uma bomba de mentira quando
voa, porque isso diminui as possibilidades de que haja outra
bomba no mesmo avião. (Laurence J. Peter)
AUDITOR: É o que chega depois da batalha e pisa nos
feridos.
CONSULTOR: É alguém que tira o relógio do teu pulso, te
diz a hora e te cobra por isso. Este também pode ser o cara
que nunca comeu ninguém mas sabe 358 maneiras de atingir o
ponto G.
BANQUEIRO: É um cara que te empresta um guarda-chuva
quando faz um sol radiante e o pega de volta no instante que
começa a chover (Mark Twain)
PROGRAMADOR: É o que te resolve um problema que você
não sabia que tinha de uma maneira que você não comprende.
FÍSICO QUÂNTICO: É um homem cego em um quarto escuro,
procurando por um gato preto que não está lá.
PSICÓLOGO: É aquele que olha todos os demais quando uma
mulher gostosíssima entra na sala.
DIPLOMATA: É quem lhe diz vá a merda de um modo tal que
você fica ansioso para começar a viagem.
TÉCNICO: Profissional apaixonado que sabe um pouco de
tudo o que cerca sua área.
GERENTE: Profissional especializado que sabe muito
sobre uns poucos pontos estratégicos de sua área.
DIRETOR: Profissional altamente especializado que sabe
absolutamente tudo sobre absolutamente nada.
TRABALHO EM EQUIPE: Possibilidade de jogar a culpa nos
outros.
Pergunta desta quarta-feira: Por onde anda Andrea Del Fuego?
Mais uma série para inaugurar: "As Melhores Frases sobre Ismos".
Sobre feminismo: "Eu fui uma das primeiras mulheres a queimar um sutiã. Os bombeiros levaram quatro dias para apagá-lo" (Dolly Parton)
Zenon e Inagaki
Lá em Sampa o pessoal fala "pagar um pau para fulano", quando um cara admira o outro, ou o eleva às alturas. Quem me ensinou foi um amigo, Juliano Costa, repórter de esportes, que diz "pagar um pau pro Zagallo". E para o Santos, claro, time de seu coração. Só que eu confesso pagar um pau para Alexandre Inagaki, torcedor do Guarani de Campinas (Neneca, Mauro, Gomes, Édson e Miranda; Zé Carlos, Renato e Zenon; Capitão, Careca e Bozó, quem não lembra?), e um dos editores do SPAM ZINE, uma das melhores coisas da literatura internética. Você entra no site, se cadastra, e passa a receber todos os domingos (é levinho) um email com textos sensacionais - alguns SPAM ZINEs são temáticos. Parece que no próximo domingo ou no outro é sobre música.
Como aperitivo, só para vocês terem uma idéia do que tem no SPAM ZINE, segue aí um dos textos maravilhosos do Inagaki (publicado aqui neste blog sem autorização, claro!):
Torneiras abertas à toa. Leila, eu ainda não tô bêbado, relaxa. Quando eu me levantar desta mesa e gritar pra todo mundo que encontrei a Resposta Definitiva, aí sim é motivo pra você começar a se preocupar, ok? Teve uma vez que bebi tanto que achei que tinha virado médium, incorporei o Nietzsche, a Rita Hayworth e o Wilson Grey na mesma noite. Meus amigos sentiram que era hora de me arrastar pra casa quando comecei a cantar Put the Blame on Me e a fazer um strip no meio do velório. Não, eu tô bem, eu tô bem. Mas do que é que estava falando? Ah sim, torneiras. O problema deste mundo são esses amores não-correspondidos e desperdiçados a toda hora, entende? Como paixões que são despertadas negligentemente, ilusões platônicas que acabam com gosto de soco na alma, noites de sexo mal interpretadas, amores exilados que não encontram seu lugar no mundo, como peças extraviadas de um quebra-cabeça. O problema todo se resume nisso, corações e cérebros não falam a mesma língua. A vida seria muito menos dolorida se a gente tivesse o dom de se apaixonar por aquela pessoa que nos oferece o coração. Deveria ser tudo questão de um clique, e pronto: aquele amigo que a gente só consegue enxergar como confidente assexuado se transformaria no príncipe encantado. Mas não, não nesse rascunho porco de mundo em que vivemos. Quem sabe na versão 2.0.
É, eu sei, não precisa falar. Você falou que eu ia me estrepar com aquela menina, mas deixou de usar pedagogia comigo, pô. Sim, pode rir, vou fazer o quê? Leila, você se esquece do quanto todo homem é crianção e imaturo, e de como a gente se torna repentinamente burro quando se interessa por alguém? Esses lances de sermão, do tipo filho não coma o que caiu no chão, cuidado com as más companhias, não aceite balas nem arquivos attachados de estranhos, yada yada yada, não dão certo. Tem que quebrar a cara pra aprender, errar, cometer novos erros. Mas deixa pra lá. Fala sério, esse vinho não parece que fica melhor a cada gole? Leila, relaxa: tá tudo sob controle. Cê tá parecendo minha mãe, só falta pedir pra que eu arrume meu quarto. Meus livros estão todos empilhados, um dia te mostro a Torre de Pisa que fiz com meus Goethes, Fonsecas, Trevisans, Borges. Uma lindeza. Cê tá ansiosa pra ver o meu quarto? Você não sabe do que está falando, aquilo lá é um buraco negro, tudo que entra some e vai parar em outra dimensão.
Mas olha só: talvez o amor não passe de um erro de programação. Um bug atravacando o perfeito funcionamento do sistema. Um vírus no código-fonte da Matrix. Uma maldição que surgiu com a intenção única de inspirar cornos a escreverem músicas sertanejas, e de fazer minhocas treparem fulminantemente no drive-in do meu cérebro, numa putaria incessante que me atormenta 25 horas por dia. Leila, eu juro pra você: um dia vou espirrar e minhoquinhas sairão voando de minhas orelhas. Não ri não, eu tô falando uma verdade trágica: essas promíscuas malditas estão me deixando mais doido do que já sou, enchendo minha cabeça com a imagem onipresente daquela vagabunda incapaz de retribuir todo o amor que eu poderia dar a ela. Vou parecer alienado, e talvez eu seja mesmo, mas a verdade é essa: amores desperdiçados são a grande tragédia da humanidade. Se Franco, Pinochet, Suharto e todos esses babacas tivessem uma mulher legal, talvez não ficassem tanto tempo pensando em merdas totalitárias. Caralho, tô ficando mesmo bêbado. Ops, desculpe aí. Falo palavrões pra caralho.
Tem vezes que dá vontade de dizer pra aquela menina: porra, será que você não vê que eu não sou só ombro, que eu tenho boca, mãos, língua, pau? Porque estou farto de ouvir as desventuras amorosas daquela vadia com Danilos, Gérsons, Alans, Rodrigos e todo um bando de putos batizados com esses nomes típicos de classe média metida a burguesa, uns mauricinhos prestáveis pra trepar, mas que roncariam estrepitosamente se fossem obrigados a ouvir um quinto das lamúrias e confidências que a desgraçada me faz. Isso é que dá virar confidente. Se eu quisesse realmente comê-la, jamais poderia deixar que nós nos tornássemos amigos. Com certeza ela só consegue me ver como um terapeuta assexuado, um ombro-travesseiro, jamais como um macho. Caralho. Se ela soubesse que por detrás desta fachada inofensiva se esconde um gigolô pós-graduado em usos alternativos de chantily e algemas. Jura que você pagaria pra ver isso? Engraçadinha. A verdade é que você só conhece uma pessoa entre quatro paredes, despida, literalmente e simbolicamente, de todas as máscaras que a gente usa no dia-a-dia.
Mas ainda bem que tenho você pra me agüentar. Ouvir meus desabafos é como pagar pecados em vida, quando você morrer vai direto pro céu. Onde mais eu acharia uma amiga como você, que presta atenção em tudo o que eu digo? Ou isso, ou você arqueia as sobrancelhas como ninguém. Brincadeira. Às vezes me pergunto o que leva você a aturar minhas rabujices. Você deveria ser terapeuta. E não adianta me dizer que você só faz essas coisas por minha causa. Você é uma santa, a Madre Teresa dos chatos bêbados como eu. Um dia ainda ganho na Sena e encontro uma mulher tão linda e inteligente como você. Um clique? Ué, não entendi. Burro? Sim, mas qual é a novidade? Não, não. Pode deixar, eu pego um táxi. Ok. Garçom, a conta.
Leila, como é bom ter uma amiga como você.
Das coisas que mereciam o slogan "Sempre" muito mais que a coca-cola:
Livro para qualquer hora: O fio perigoso das coisas, de Michelangelo Antonioni
Música para qualquer hora: Wild Horses, dos Rolling Stones
Filme para qualquer hora: Mulheres Amazonas na Lua, de John Landis
Bebida para qualquer hora: limonada suíça
Comida para qualquer hora: pão francês quente
Companhia para qualquer hora: Alessandra Archer
Temperatura para qualquer hora: Entre 18 e 21 graus
Site para qualquer hora: Falaê
Blog para qualquer hora: Botequim e, claro, esse daqui.
Bar para qualquer hora: Cervantes
Praia para qualquer hora: Posto 9
DJ para qualquer hora: Zé Otávio ou Dodô
Jornal para qualquer hora: coluna do Dapieve no Globo
Amigos para qualquer hora: os meus, claro
23 outubro, 2001
tchan tchan tchan tchan
Após longas negociações com o inspirado Gustavo de Almeida, eis que consigo participar desse blog sobre o nada.
Ok. Não é o nada. Porque inspiração, para muitas pessoas, é quase tudo.
INSPIRAÇÃO
Tinha certeza que isso aconteceria! Acordei raivosa, impiedosa comigo mesma. Quem está dentro de mim, dizendo-me para esquecer minha maior paixão? Quando uma inspiração surge, não posso ser ingênua e acreditar que irei guardá-la para executá-la mais tarde ou no dia seguinte. Pouco importa o que eu estivesse fazendo, com certeza era menos real e importante do que a minha inspiração! Deixei-a partir, como o canário que fugiu da minha gaiola há dois dias. Observei-a esquivar-se, escorrer por entre meus dedos, como simples água corrente. Permiti que se escondesse de mim dentro de mim mesma. Tive a fé - e toda fé nos engana - de que meu cérebro me ajudaria a lembrar-me, hoje, daquela idéia única e sólida que tanto inspirou-me ontem. Se não posso confiar na minha memória, em quem mais creditarei minha confiança?
Andarei, a partir de hoje, com um bloco de anotações e uma caneta. Talvez também adote um gravador, daqueles pequeninos. Inútil tentar me excluir do grupo de desmemoriados, assoladores da nossa convivência, se ajo dessa maneira, colocando minha divina e idolatrada inspiração para dormir, como se ela viesse me acordar novamente ao raiar do sol todos os dias!
Se hoje escrevo sobre inspiração é por não tê-la encontrado, mesmo que tenha passado ao meu lado. Pior: é pensar que a dispensei, ignorando meu prazer de vê-la me fazer trabalhar, como uma seta a impulsionar-me e não o contrário, exigindo tantos movimentos no teclado, rápidos como o meu pensamento, para acertar alvos invisíveis, preencher lacunas da minha criatividade, fazendo-me capaz de inspirar-te e de acabar um pensamento que comecei há três meses, quando fui por ela flechada.
Passando o tormento da não-inspiração vem a lentidão e alguns momentos de sofreguidão, responsáveis por transformar qualquer tentativa de dissertação em uma conspiração com todas as palavras terminando em “ão”. É o momento de pontuar o final. Parar para pensar no nada. Aguardar outra visita espontânea e inoportuna da inspiração, só para confirmar que mais cedo ou mais tarde aparecerá.
Ufa.
MOMENTO DESCONTRAÇÃO DA TERÇA-FEIRA: recebo um email com as frases abaixo. Acrescentei mais uma do Matheus
'TENHO O MAIOR ORGULHO DE JOGAR NA TERRA ONDE CRISTO NASCEU"
(Claudiomiro, ex-meia do Inter de Porto Alegre, ao chegar em
Belém do Pará para disputar uma partida contra o Paysandu, pelo Brasileirão
de 72)
"NEM QUE EU TIVESSE DOIS PULMÕES EU ALCANÇAVA ESSA BOLA"
(Bradock, amigo de Romário, reclamando de um passe longo)
"NO MÉXICO QUE É BOM. LÁ A GENTE RECEBE SEMANALMENTE DE 15 EM 15
DIAS"
(Ferreira, ex-ponta esquerda do Santos)
"QUANDO O JOGO ESTÁ A MIL, MINHA NAFTALINA SOBE"
(Jardel, ex-atacante do Vasco, Grêmio e da Seleção, hoje no
Sporting de Portugal)
"CLÁSSICO É CLÁSSICO E VICE-VERSA"
(Jardel)
"O MEU CLUBE ESTAVA A BEIRA DO PRECIPÍCIO, MAS TOMOU A DECISÃO
CORRETA: DEU UM PASSO A FRENTE"
(João Pinto, jogador do Benfica de Portugal)
"A MOTO EU VOU VENDER E O RÁDIO EU VOU DAR PARA A MINHA AVÓ"
(Biro Biro, ex-jogador do Corinthians, ao responder a um
repórter o que iria fazer com o "Motoradio" que ganhou como melhor jogador da partida)
"SÓ TRÊS COISAS PÁRAM NO AR: HELICÓPTERO, BEIJA-FLOR E DADÁ" (Dario)
"EU DISCONCORDO COM O QUE VOCÊ DISSE"
(Vladimir, ex-lateral do Corinthians, em uma entrevista à Rádio ecord)
"NA BAHIA É TODO MUNDO MUITO SIMPÁTICO. É UM POVO MUITO
HOSPITALAR"
(Zanata, baiano, ex-lateral do Fluminense, ao comentar sobre a hospitalidade do povo baiano)
"JOGADOR TEM QUE SER COMPLETO COMO O PATO, QUE É UM BICHO
AQUÁTICO E AMÁTICO" (Vicente Matheus, eterno presidente do Corinthians)
"O DIFÍCIL COMO VOCÊS SABEM, NÃO É FÁCIL"(Vicente Matheus)
"HAJA O QUE HAJAR O CORINTHIANS VAI SER CAMPEÃO" (Vicente Matheus)
"Sócrates é invendável, introcável e imprestável" (Vicente Matheus)
Livro para quem curte crônica futebolística (alta recomendação): Os cabeças de bagre também merecem o paraíso, novo do José Roberto Torero. Já comecei a ler. Tem uma crônica sobre o título do Flamengo em 1978 que é de arrepiar. Um círculo vicioso espetacular entre torcedores. Não dá para deixar de ler. Aliás, quem leu "O Chalaça" sabe que vai se divertir.
E já que falamos em futebol, o momento Autopromoção de hoje.....cliquem aí, se quiserem.
Música para se sentir mais feliz nesta terça-feira:
Running On Faith, do Eric Clapton.
Saquem a letra e me digam se não é de cortar o coração.
Tentem ouvir.
22 outubro, 2001
Me escreva, se quiser. Prometo que tentarei responder.
Comemorando a recente parceria assinada em contrato com a jornalista e cronista Alessandra Archer, o Blogus inaugura a série "Meninas que achamos legais". A primeira a preencher bem o espaço é Crib Tanaka, do Cena Urbana, outro site bacana de literatura alternativa.
Divirtam-se.
FRIO
por Crib Tanaka
Ele veio andando em sua direção, olhando-a fundo nos olhos e postou-se
diante dela. Ela, sem saber o que passava, estendeu-lhe a mão. Sentaram-se
no banco que havia um pouco mais adiante.
As mãos dele eram fortes, grandes, engoliam seus pequenos dedos. Ele estava
de preto. E mesmo apesar da fina blusa, o frio não havia tirado o calor de
seu corpo.
Suas mãos foram abraçadas pelas dele, como nunca havia acontecido. Ele,
então, fechou os olhos e começou a respirar fundo. Ela o olhava, sem
conseguir falar nada. Abria a boca e pensava em expressar-se com palavras,
mas não conseguia. Iria interrompê-lo. Podia ver, pelas pálpebras trêmulas
dele, que visões conturbadas passavam por sua cabeça. Volta e meia, ele
desviava com a cabeça de pessoas que via ou sorria com o canto dos lábios,
ao ver-se em lindos lugares.
Ela sentia o dia passando. E sentia frio agora. O vento a chateava por
levantar um pedaço da saia, mas gostava de sentir os cabelos batendo no
rosto, mesmo que machucasse um pouco. Pensou em puxar a mão. Ele parecia em
transe. Tinha medo de que ele dormisse. Não poderia ir para casa andando
sozinha, tarde da noite.
Por um momento, cedeu e fechou os olhos. Logo sentiu os pés saírem do chão.
Viu coisas, pessoas, lugares, caminhos, homens, crianças, mulheres dançando,
flores, livros – tudo muito rápido e sem nexo algum, sem aparente ligação.
Assustada com a rapidez das imagens que via, jogou o corpo para trás e puxou
as mãos para si. Abriu os olhos e viu que ainda era dia.
Era final de tarde de verão. A chuva começava a cair. Fina. Gelada. Ele a
olhou e não disse nada. A encontraria no futuro. E aí, sim, falariam sobre
esse dia.
Música para dar felicidade esta semana: "Dead Flowers", dos Rolling Stones - tanto faz a versão. Eu prefiro a do Sticky Fingers.
Frases para começar a semana:
"Em uma roda de pôquer, você tem 20 minutos para descobrir quem é o pato. Se não descobrir, você é o pato" (é de alguém que eu humildemente confesso não ter certeza de quem. Dizem ser de Hemingway)
"O valor de uma idéia não tem absolutamente nada a ver com a sinceridade de quem a professa" (Wilde)
"Volta, Bigode, volta" (não confirmado, mas seria de Flávio Costa em 1950 no Maracanã contra o Uruguai)
NOMES ESTRANHOS REGISTRADOS EM CARTÓRIO
Abrilina Décima Nona Caçapava
Abxivispro Jacinto
Acheropita Papazone
Adolpho Hitler de Oliveira
Adoração Arabites (masculino)
Agrícola Beterraba Areia Leão
Aldegunda Carames More (masculino)
Alfredo Prazeirozo Texugueiro
Amado moroso
Amin Amou Amado
Amor de Deus Rosales Brasil (feminino)
Antônio Cacique de New York (juiz-presidente do TRT da 22a região)
Antonio Camisão
Antonio Dodoi
Antonio Pechincha
Antonio Manso Pacifico Sossegado
Antonio Querido Fracasso
Aricleia Café Chá
Arnaldo Queijo
Asteroide Silverio
Audifax
Avagina (em homenagem a Ava Gardner e Gina
Lolobrigida)
Bailao Fernandes da Silva
Bandeirante Brasileiro Paulistano
Barrigudinha Seleida
Benedito Camurca Aveludado
Benedito Froscolo Jovino de Almeida Aimbare Militao de Souza
Baruel de Itaparica Bore Fomi de Tucunduva
Bizarro Assada
Boaventura Torrada
Bom Filho Persegonha
Brandamente Brasil
Bucetildes (chamada, pelos familiares, de Dona Tide)
Cafiaspirina Cruz
Caius Marcius Africanus
Carabino Tiro Certo
Caso Raro Yamada
Ceu Azul do Sol Poente
Chananeco Vargas da Silva
Chevrolet da Silva Ford
Chikako
Clarisbadeu Braz da Silva
Colapso Cardiaco da Silva
Comigo e Nove na Garrucha Trouxada
Confessoura Dornelles
Danubio Tarada Duarte
Deusarina Venus de Milo
Devercilirio Silveira da Costa
Dezecencio Feverencio Delegas
Dignatario da Ordem Imperial do Cruzeiro
Disney Chaplin Milhomem de Souza
Dosolina Tazinasso
Esdras Esdron Eustaquio Obirapitanga
Esparadrapo Clemente de As
Excelsa Teresinha do Menino Jesus da Costa e Silva
Farao do Egito Sousa
Fedir Lenho
Felicidade do Lar Brasileiro
Flavio Cavalcante Rei da Televisao
Fordencia da Silva
Francisco Notorio Milhao
Francisco Zebedeu Sanguessuga
Francisoreia Doroteia Dorida
Fridundino Eulampio
Graciosa Rodella
Gravitolina Pereira
Hericlapiton da Silva
Hidraulico Oliveira
Himineu Casamenticio das Dores Conjugais
Homem Bom da Cunha Souto Maior
Horinando Pedroso Ramos
Hugo Madeira de Lei Aroeiro
Hypotenusa Pereira
Isabel Defensora de Jesus
Jacinto Leite Aquino Rego
Jacinto Fadigas Arranhado
Janeiro Fevereiro de Marco Abril
Joao de Deus Fundador do Colto
Jose Amancio e Seus Trinta e Nove
Jose Casou de Calcas Curtas
Jose Catarrinho
Joao Enio ( Homenagem a John Waine)
Jose Machuca
Jose Padre Nosso
Jose Teodoro Pinto Tapado
Jovelina O Rosa Cheirosa
Julio Santos Pe-Curto
Kemula Katrine
Kunigunda Grohmann
Lanca Perfume Rodometalico de Andrade
Leda Prazeres Amante
Lediani (homenagem a Lady Ann)
Letsgo (de Let's go)
Lindulfo Celidonio Calafange de Tefe
Magnesia Bisurada
Maicon Jakisson de Oliveira
Manganes Manganesfero Nacional
Manoel Hora Pontual
Manoel Sovaco de Gambar
Manolo Porras y Porras
Manuelina Terebemtina Capitulina de Jesus
Maria da Cruz Rachadinho
Maria da Segunda Distracao
Maria de Seu Pereira
Marina Turburina Cataerva
Matozoide
Mijardina Pinto
Miyatoyohiko Oku
Mimare Indio Brazileiro de Campos
Naida Navinda Navolta Pereira
Napoleao Estado do Pernambuco
Napoleao Sem Medo e Sem Macula
Omenzinha
Oceano Atlântico Linhares
Oceano Pacífico
Orquerio Cassapietra
Otávio Bundasseca
Pacífico Pacato Cordeiro Manso
Padre Filho do Espirito Santo Amém
Pelumendia Loureiro
Presolpina Furtado
Primeira Delicia Figueiredo Azevedo
Produto do Amor Conjugal de Maricha e Maribel
Radigunda Cercena Vicensi
Ressurgente Monte Santos
Restos Mortais de Catarina
Rita Marciana Arroteia
Rocambole Simionato
Rolando Escadabaixo
Romulo Reme Remido Rodo
Sansao Vagina
Sebastiao Salgado Doce
Serdeberao dos Anjos Pereira Vargas
Sete Chagas de Jesus e Salve Patria
Sete Rolos de Arame Farpado
Sherlock Holmes da Silva
Simplicio Simplorio da Simplicidade Simples
Sudene Fatima Machado
Telesforo Veras
Terebentina Terepenis
Terprando Wilson Rego
Tospericagerja (em homenagem a selecao do tri: Tostao,
Pele,Rivelino, Carlos Alberto, Gerson e Jairzinho)
Trazibulo Jose Ferreira da Silva
Ultima Delicia do Casal Carvalho
Um Dois Tres de Oliveira Quatro
Um Mesmo de Almeida
Usnavy (em homenagem a U.S.Navy, a Marinha Americana)
Valdir Tirado Grosso
Valdisnei (Walt Disney)
Veneza Americana do Recife
Vitimado Jose de Araujo
Vitor Hugo Tocagaita
Voltaire Rebelado de Franca
Mimaré Indio Brazileiro de Campos
Ressurgente Monte Santos, Terprando Wilson Rego
Abxivispro Jacinto
João de Deus Fundador do Colto
Fedir Lenho
Horinando Pedroso Ramos
Miyatoyohiko Oku
Boaventura Torrada
Gravitolina Pereira
Telesforo Veras
José Teodoro Pinto Tapado
Hidráulico Oliveira
Pelumendia Loureiro
Acheropita Papazone
Bailão Fernandes da Silva
Primeira Delícia Figueiredo Azevedo
Antônio Querido Fracasso
Danúbio Tarada Duarte
Adoração Arabites (masculino)
Chananeco Vargas da Silva
Francisco Notório Milhão
Leda Prazeres Amante
Serdeberão dos Anjos Pereira Vargas
Aldegunda Carames More (masculino)
Orquerio Cassapietra
Kunigunda Grohmann
Radigunda Cercená Vicensi Confessoura Dornelles
Devercilirio Silveira da Costa
Hypotenusa Pereira
Clarisbadeu Braz da Silva
Presolpina Furtado
Asteroide Silverio
Amado Amoroso
Dosolina Piroca Tazinasso
Amor de Deus Rosales Brasil (feminino)
Legua e meia
Benedito Froscolo Jovino de Almeida
Aimbare Militão de Souza
Baruel de Itaparica Boré Fomi de Tucunduvá
Sansão Vagina
Adolpho Hitler de Oliveira
Alfredo Prazeirozo Texugueiro
Amin Amou Amado
Bandeirante Brasileiro Paulistano
Brandamente Brasil
Caius Marcius Africanus
Comigo é Nove da Garrucha Trouxada
Deusarina Venus de Milo
Dezecencio Feverencio Delegas
Dignatário da Ordem Imperial do Cruzeiro
Esdras Esdron Eustaquio Obirapitanga
Esparadrapo Clemente de Sá
Francisco Zebedeu Sanguessuga
Francisoreia Doroteia Dorida
Himineu Casamenticio das Dores Conjugais
Janeiro Fevereiro de Março Abril
Manolo Porras Y Porras
Lança Perfume Rodometálico de Andrade
Lindulfo Celidonio Calafange de Tefé
Manganês Manganesfero Nacional
Manuelina Terebemtina Capitulina de Jesus
Maria de Seu Pereira
Oceano Atlântico Linhares
Restos Mortais de Catarina
Rômulo Reme Remildo Rodo
Sete Chagas de Jesus e Salve Patria
Sherlock Holmes da Silva
Terebentina Terepenis
Um Dois Três de Oliveira Quatro
Chegaste agora? Pois é, esse blog aqui foi para garantir que jamais alguém dirá: "ele não tem o que fazer". Se tudo acabar, emprego, frilas, ensaio de banda, mulheres, Maracanã, cinema, música, sei que ainda restará esse blog. Na internet ninguém consegue jogar avião.
Ei, eu estava brincando.
TEXTO PUBLICADO NO SITE DA LOUD no ano 2000
PORQUE AS MENINAS DEVIAM SER MAIS COMPREENSIVAS COM OS MENINOS QUE AMAM FUTEBOL
O título é quase um apelo às mulheres que admiramos e sem as quais fica difícil sonhar – claro, porque no mais o sonho é a melhor parte de tudo. Quando se chega aos trinta, próximo do novo século, é sinal de que o sujeito já viu um meio-campo do Flamengo com Delacir, Aílton e Luvanor, ou mesmo um ataque alvinegro com Tuca, Cremilson e Puruca. Sem contar os estranhos centroavantes do Fluminense como Tulica e as aberrações vascaínas como Quiñonez. Em suma, quem tem trinta hoje em dia e ainda gosta de futebol, é porque gosta mesmo – seja qual for o time do cara, teve todas as oportunidades para largar o vício e não largou. Eu confesso que quase larguei em 1990, quando Bragantino X Novorizontino fizeram a final do Campeonato Paulista e o Corinthians foi campeão brasileiro com um gol de canela do Tupãzinho. Isso sem contar o gol de Caniggia contra o Brasil na Copa da Itália e, last but not least, a partida de João Saldanha para o clássico eterno.
Pois bem, depois de explicar para as meninas que o vício praticamente não tem chances de cura, o legal seria explicar como ele foi adquirido, assim elas entenderiam melhor. Eu, como rubro-negro, poderia dizer que adquiri o vício num final de tarde, aos sete anos de idade, saindo com meu pai do Maracanã (saudades do meu pai e do Maracanã, ambos falecidos), ouvindo ele falar num nome que eu nunca tinha ouvido antes: “Esse garoto Zico vai longe, já tem 30 gols no campeonato”. Zico terminaria de fato o Estadual de 1976 com 31 gols, contando com o feito naquela tarde inesquecível contra o América. Meu pai errou na conta, aquele tinha sido o 31 º gol dele.
Dois anos depois, ouvi pelo rádio o Flamengo perder nos pênaltis para o Vasco, e o tal Tita ser crucificado por ter errado uma das cobranças. Para mim era demais, eu tinha “já” nove anos e nunca tinha visto meu time ser campeão. Como podia? Aí veio a dose do traficante, ou seja, aquela dose que é pro cara viciar e nunca mais deixar de comprar a droga: o gol do zagueiro Rondinelli, um desses jogadores de futebol em que as pessoas comuns, hard working people, como dizem os Rolling Stones, têm orgulho em se espelhar. Era um dia de dezembro de 1978, o 0 a 0 dava o título do segundo turno ao Vasco – haveria uma decisão extra, pois o Flamengo ganhara o primeiro – e o Leão (esse que está de técnico) fechava o gol, parecia inumano. Eu não estava lá. Vários parentes meus testemunharam, meu irmão mais velho entre eles.
Muito nervoso, em casa, eu não conseguia mais ouvir o jogo, lá pelos 37 do segundo tempo eu desliguei o rádio, com a garganta presa, com vontade de chorar, tanto por mim pelos que estavam à minha volta, sabia que todos ficariam tristes também. Meu pai, principalmente, pois as derrotas do Fla o abatiam mesmo, e isso pegou em mim um pouco.
Só que o velho não perdia as esperanças – eu, com dez anos de idade, era muito mais niilista do que ele - , ele acreditava mesmo. E não deu outra. Aos 41, ele ligou o rádio, “vou ouvir até o final”. Jamais me esquecerei de que, no momento em que ele ligou o rádio, apareceu aquele “oooooooo” do meio da narração de gooooooooool do saudoso Jorge Cúri. Ao fundo, a vinheta que permanece até hoje, “Fla-men-gooo”, anunciando de quem tinha sido o gol. Do Flamengo. Em seguida, Jorge Cúri puxaria todo o “r” que ainda lhe restava na alma para soltar, “RRRRRRRRRRONNDINELLLI”, AOS 41 DO SEGUNDO TEMPO...”
Entendem, meninas, porque o futebol é tão importante? Dos momentos que eu tenho guardados na memória com mais intensidade com meu pai, esse se destaca, por causa da forte emoção, da cumplicidade que eu tive com ele, da felicidade que ele exibia. Morreria seis anos depois, mas feliz, com a fase de ouro que o Flamengo viveria, chegando a Tóquio e arrebatando o título mundial.
Do mesmo jeito que eu tenho esse momento com o velho, de saber em que parte da sala ele pisou quando me chamou para dizer que éramos campeões, cada um de nós tem sua história maravilhosa, seu choro muito particular em 1982 quando perdemos para a Itália, onde estava quando Baggio perdeu o pênalti, o que estava fazendo quando Leandro anunciou que não iria em 1986.
O futebol é isso e muito mais. É uma maneira menos dolorosa de sentir saudade, de ver o tempo passar galopando sem conseguir montar, levando coice, mas ficando firme. Pegue lá no armário seu velho álbum de figurinhas, e pense que aquela do Arzu, de Honduras, ou do Krankl, da Áustria, passou pelas mãos daquela primeira menina por quem você se apaixonou no colégio. E que você, nessa vida estranha e desencontrada (isso deveria ser pleonasmo) jamais verá novamente. Ou você não tem uma história como a minha em 1991, sozinho na Avenida Roberto Silveira, em Niterói, esperando o 996 depois de levar um fora da namorada mais inesquecível de todas, sem nenhum clima para gritar junto com as dezenas de carros com bandeiras do Flamengo que passavam comemorando o título estadual?
Minha vida sempre terá essas festas e dores como contas jogadas em um labirinto, para eu não me perder. Se é que um dia eu quero retornar. Um dia, nesse labirinto, talvez pinte lá o grande Minotauro e ele me chame para sair dele. Mas enquanto isso eu quero ver pelo menos mais um gol do Petkovic.
Enfim, espero que as meninas possam entender. E se elas entenderem mesmo, vão notar que nós que gostamos de futebol, no fundo, no fundo, gostamos mesmo é de mulher. E que a bola é só uma “valorizada” das manhãs de sábado e das tardes de domingo.
Acredito que uma das partes do tal plano terrorista de desestruturar o mundo ocidental esteja nas centenas de piadas sem graça, figuras do Bin Laden, arquivos de pps e outras imbecilidades que as pessoas fazem questão de circular pela internet. Afinal, o tempo que a gente desperdiça descarregando arquivos pesadíssimos para coisas chatinhas como Bin Laden em formato de preservativo poderia ser utilizado em atividades capitalistas produtivas tipicamente ocidentais.
No mais, acho inacreditável que as pessoas continuem vendo com bom humor o fato de seis mil pessoas - entre elas, cinco brasileiros - terem morrido em atentados. Não vejo aí nenhuma graça ou lição de história ou de moral. Como diz um certo poeta, "não sou brasileiro e nem estrangeiro". Essa guerrinha psicológica do terceiro mundo contra os americanos é um saco - e é o que faz a gente esquecer de perguntar, "se lá é o primeiro, e nós somos o terceiro, onde diabos é o segundo mundo?"
O que acontece realmente é que estamos gozando com o pau dos outros.
Não podemos, diante de seis mil mortos, ter outra reação que não o estranhamento, a repulsa.
Sei lá, se pelo menos tivesse acontecido na Argentina....Que tal dois aviões na Bombonera?
21 outubro, 2001
Recomendação da antiga, mas com certeza tem gente que ainda não conhece:
o site Superdownloads, que pode resolver muito probleminha de programa que por ventura o navegante tenha.
Falaê é um dos sites mais simpáticos que existem. Tem uma lista de discussão de gente excêntrica. Divertida à beça, só não participo porque tem muita mensagem e um cara chato que insiste em responder todas as mensagens, mesmo que coloque somente uma linha.
"Para quem está se afogando, jacaré é tronco" - frase de Marcelo Valença que deveria ser levada mais a sério.
Ao contrário do que pode pensar a imensa torcida Arco-Íris (aqueles que torcem mais contra o Flamengo do que pelos seus próprios times), não são apenas eles que ficarão felizes com o rebaixamento do time no campeonato brasileiro. Eu também ficarei feliz, porque a longo prazo isso significará uma reação, uma limpeza na Gávea. Não vi a derrota para o Atlético Mineiro (mais do que previsível) porque fiz o juramento de jamais assistir jogos do Flamengo em que Fábio Augusto esteja em campo com o manto sagrado. Quando Beto saiu e ele entrou, eu desliguei a TV para não me aborrecer.
Confio na reação da imensa torcida, na convocação de novas eleições, para tirar do caminho todos os dirigentes que entrarão para a História como os culpados pela maior vergonha do clube. Tricampeonato? O Flamengo já tinha três, e daí? Título bom mesmo é nunca ter sido rebaixado, e esse nós vamos perder esse ano.
Sem contar uma coisa: desde 1996, foram 16 vexames, 16 goleadas. Média de três goleadas sofridas por ano. E detalhe: do total, metade na administração atual.
Esse texto saiu no SPAM ZINE, dos geniais Alexandre Inagaki, Ian Black e Orlando Tosseto Júnior
OS LEMINGUES E A RENÚNCIA
Mais gelo, por favor. É o que eu conseguia dizer naquela noite. Tédio. Aquela frase, que eu ouvira de uma mulher mais velha e sábia, “eu já conheço esse filme”, ecoava, e eu só pedia mais gelo e pensava na lógica dos lemingues. São como pequenos ratos, quase hamsters (alguém consegue entender o que é ser “quase um hamster”?), que em determinado momento de suas vidas seguem em bando para o alto de uma falésia, e de lá vão se atirando às cegas. Sou um ignorante, nunca li nada sobre os motivos que levariam os lemingues a esse suicídio coletivo. Gosto da mitologia, de pensar que, como Ícaros roedores, o que eles querem é virar morcegos. Mas outro dia, vendo o site www.darwinawards.com , vi uma explicação terrível. Este site relata casos em que o processo seletivo de Darwin é confirmado, por meio de mortes estúpidas. Segundo o site, seres demasiadamente estúpidos morrem de uma forma estúpida tendo como objetivo “limpar” a raça, dando lugar a outros que não morrerão de forma estúpida. Assim, os lemingues, ao se suicidarem, contribuem para a melhora de sua espécie, pois assim ficam na Terra apenas os lemingues que não se suicidam.
Essa lógica assusta. Teriam os nossos suicidas este ímpeto embutido em seus genes? Não sei. Será que os homens suicidam como lemingues? Pensei em Camus, quando disse que o suicídio é o grande problema filosófico do século 20. Mas respirei aliviado, já estamos no século 21, o suicídio não é mais um problema. Pensei então, naquela noite, que o grande problema do século 21 será a falta de lágrimas. Estamos acostumados a entender as mecânicas da sedução, da atração, e principalmente da rejeição. Sim, sim. Mais gelo. E vem uma moça e começa a dançar com o cara, e pede para ele guardar a comanda das bebidas, como se ele fosse passar a noite com ela, mas na verdade ele guarda e a moça se afasta. Em outro canto, uma mulher tenta se encontrar, procurando o homem de sua vida através das simples aparências. Há pré-requisitos: pelo menos 1,70m, cabelos lisos, moreno, bons ombros, olhos podem ser castanhos. E tomara que ele seja um cara legal. Tomara. Às vezes não é.
O que fazem os outros, nesta noite tão especial? Como lemingues, se dirigem ao abismo. Mais gelo, por favor. Acende outro. Bate mais uma. Cadê a seringa? A evolução cumpre seu doloroso papel. Empurra os lemingues com a ajuda da timidez, da insegurança, da frustração.
Mas, neste sonho, é incrível, mas os lemingues voam. Em direção ao sol, mas o que derrete suas asas é o amor.
Feliz dia dos namorados. Enloucrescendo.
Esse texto abaixo foi publicado no site Falaê:
Já está virando rotina: em março, festa do Oscar, e aquela figa na frente da televisão para ver se desta vez o filme brasileiro leva o de melhor produção estrangeira. De fato, os filmes brasileiros assumiram uma espécie de “padrão internacional”, uma “estética da imagem” nova, que talvez tenha em “A Grande Arte”, de Walter Sales (aquele com Peter Coyote) seu maior símbolo. Se disseram que Carmen Miranda voltou americanizada, que dizer do realmente novo cinema, com suas luzes e contrastes em preto-e-branco bem caprichados, sua ambientação densa, e seus dramas quase europeus como o de “Terra Estrangeira”? Bom, talvez sim, mas o fato é que o cinema brasileiro tem marcas das quais será impossível se separar – uma delas é o palavrão. Mesmo em um filme pungente como “Central do Brasil”, uma obra-prima daquelas, é possível ver alguém meter a cara numa janela e gritar “filha da puuuuuuuuuuuuta”; não tem erro. O cinema brasileiro tem essa maravilhosa arte do palavrão, da cafagestada, do non-sense, algo que, se fosse possível comparar linguisticamente falando, mataria de inveja qualquer Mario Monicelli, diretor dos italianíssimos e maravilhosos “Brancaleone”, “Quinteto Irreverente” e “Parenti Serpenti”. O nosso cinema dá inveja nos italianos mais gesticuladores e desbocados, e com certeza nos franceses mais introspectivos, nos americanos mais violentos, nos ingleses mais corrosivos.
Quando é que a gente vai entender que cinema brasileiro antes de tudo é divertido? Para ajudar nessa tarefa, a equipe de articulistas do Falaê preparou uma lista com as cenas mais bizarras das telinhas tupiniquins. Leia, divirta-se e mande sua sugestão.
1 – Os Sete Gatinhos – Obra-prima, talvez o filme de Neville de Almeida que, ao lado de Bonitinha mas Ordinária e Rio Babilônia, seja a base para toda a verborragia do nosso cinema. Em “Sete Gatinhos”, Lima Duarte aparece em close, pausadamente, com a maravilhosa frase, dita bem lenta: "Eu quero saber....quem foi que andou desenhando CARALHINHOS VOADORES na parede do banheiro." Na mesma obra, destaque para Regina Casé, pelada em volta de uma piscina, correndo do Maurício do Vale (que faz papel de deputado) e gritando: "Estou CAGANDO para as tuas imunidades, NÃO VAI ME COMEEER, NÃO VAI ME COMEEER". Não podemos esquecer que, em uma determinada cena do filme, Lima Duarte chama todas as filhas para dar um esporro generalizado, e aquela que é representada pela Djenane Machado aparece de camisola docilmente passando um prestobarba no suvaco.
Em Sete Gatinhos, Antônio Fagundes fala, “Eu sempre quis ter uma mulher na zona”. E minutos depois, está transando com uma das filhas do Lima Duarte ao som de “Cavalgada”, do Roberto Carlos. Não é preciso dizer mais nada, né?
2- Bonitinha mas ordinária – Uma das grandes atuações de José Wilker, onde ele fala talvez o “Filho da Puta” com a boca mais cheia de que se tem notícia. A cena clássica do cinema brasileiro, aliás, duas falas na mesma cena. Primeiro José Wilker se recusa a entrar no jogo de Carlos Kroeber, que faz o papel do magnata rico que tenta corromper os pobres. Wilker, todo ético, cita um colega de repartição, o Peixoto, para demonstrar seu caráter: "Eu não sou que nem o Peixoto!". Carlos Kroeber devolve, na lata, rasgando todos os tratados de sociologia já feitos: "No Brasil todo mundo é Peixoto"A cena fecha da maneira que nós conhecemos: José Wilker apontando para Carlos Kroeber e dizendo, "Eu sou contínuo, mas você é um FILHO DA PUTA! FILHO DA PUTA!".
3- Rio Babilônia – Na minha opinião (G. de A.) e dos outros colaboradores desta matéria, um filme indispensável. Extremamente trash, Rio Babilônia parece ter sido feito para chocar os desprevenidos e divertir demais da conta os iniciados. Já seria indispensável comentar que em um bordel, Norma Bengell puxa um trenzinho com Cláudio Mamberti e Jardel Filho de cueca samba-canção, gritando “empurra! empurra! empurra a carrocinha! empurra minha gente que a pipoca tá quentinha!”. Mas a coisa não pára por aí, evidentemente. Para começar, que o galã do filme se chama Joel Barcellos e parece o Nélson Piquet depois de ter o rosto esvaziado por um birro de encher pneu de bicicleta. O jornalista e crítico musical Marcus Marçal fala do filme:
“Tem uma cena antológica de um menáge-a-trois entre a Denise Dumont, o Pedrinho Aguinaga (seu marido no filme) e o Joel Barcelos. Esse último é um malandro q vive de falcatruas e outras sagacidades. Eles se conhecem numa festa, ele se interessa pela dona q o chama para uma carona. No carro já começa a putaria: ela começa a escancarar pro Joel, q olha pro sorrisinho maroto no olhar do marido. Foi a senha. Chegam na mansao do casal e vão todos pelados transar na piscina. Tem também uma cena em que uma famosa atriz gringa vem curtir o carnaval brasileiro. Ela é viciada em cocaína e, por questoes de abstinência, quebra o quarto do hotel. Aí entra o nosso herói: pra descolar o pó pra ela. Ela cheira e fica novinha em folha. Vai pro carnaval e se engraça com um negão (o Antônio Pitanga) integrante de bateria de uma escola de samba. O promotor brasileiro, almofada babaca (redundância pertinente), quer comê-la e só toma toco. Aí ela resolve esculachar o cara e fugir com o negão, o nosso herói Barcellos e sua trupe. Param na praia de Copabacana e ela resolve tomar banho de praia pelada. Gostosa, dá pra pegar geral a gringa. Aí ela vai e carrega o Pitanga. Chega o empresário, esbaforido e ela grita: "VAI TOMAR NA CU, SUA VIADA! VAI TOMAR NA CU!" O Pitanga descarrega na gargalhada e ameaça dar porrada no empresário só com o olhar. Cena antológica.”
Eu ainda acrescentaria a cena em que Jardel Filho sai de um recinto, encontra com Wilson Grey e outro assecla, e comenta, lateralmente: “aaaaahhhhh...nada como uma mijadinha, né?”. Cena que, diga-se de passagem, não acrescenta nada a filme algum – mas isso é que é o diferencial do nosso cinema....
4- Espelho de carne – Daniel Filho e Dênis Carvalho entram no quarto do espelho mágico e sentem um comichão estranho: começam a se perguntar se já deram a bunda. Aí um deles tem a idéia de jogar buraco e quem perdesse teria q dar a bunda: o daniel filho começa perdendo e o outro fica só zoando... Aí ele vira o jogo e dá um sorrisinho maquiavélico pro Denis Carvalho: "Tá preparado pra ser enrabado?". Corta a cena para um quarto na penumbra, podem ser vistas umas sombras e depois se escuta um AAAAAAAAAAAAAAAAAhhh!!!! do Denis Carvalho.
5 – Dama do lotação - A cena em q o motorista de ônibus passa a perna no trocador pra comer a Sônia Braga - e ele fica correndo atrás do ônibus, até cansar de comer poeira: "Ô Chinelão, deixa eu entrar nesse ônibus seu filho das
unhas! Ô Chinelão, seu filho da puta - vc falou q não me sacanear. Sônia Braga também dá para o sogro dela, representado por Carlos Kroeber. Só que os dois ficam brincando de cavalinho.
6 – O Segredo da Múmia – divertidíssimo “thriller” de terrir do Ivan Cardoso. Mas o staff do Falaê selecionou mesmo a cena em que Wilson Grey está em um motel com uma mulher, e de repente uma das paredes vem abaixo, aparecendo a múmia. Era para ser uma cena de terror, até a hora em que Wilson Grey abre a boca: “UMA MÚMIA? MAS QUE PORRA DE MOTEL É ESSE?”
7. Bar Esperança – Sílvia Bandeira representa uma mulher que se cansa de ser corneada pelo marido (o Pereio) e resolve fazer um strip tease numa festa à fantasia no bar. Ele aparece na festa vestido de mulher e dá de cara com a cena. A mulher dele vira celebridade no bar e passa a freqüenta-lo também. No ultimo dia de funcionamento do bar, ela repete o espetáculo.
Uma discussao entre o Carvana e o Antonio Pedro nesse mesmo filme também é legal. O Carvana começa a falar de problemas conjugais, profissionais, etc e o Antonio Pedro, bêbado, sempre adapta o mesmo bordão. ".(Respondendo a frase
anterior), você não passa de um intelectual de merda! vc não passa de um intelectual de merda!, né ô ba-ba-ca!?" Depois de dez situações dessas uma atrás da outra, o Carvana chama o Antônio Pedro pra porrada. Aí ele fala "Você vai me dar porrada, mas continuar sendo um intelectual de merda, não passa de um intelectual de merda, ô ba-ba-ca". O Carvana se emputece e diz q vai matá-lo apesar de ele ser o melhor amigo dele. E grita, “Passarinho (apelido do Antonio Pedro no filme), vai tomar no cu, Passarinho! Vai tomar no cu, Passarinho!” Adivinhem o que o Antonio Pedro fala: "Você vai me matar, mas não passa de um intelectual de merda! Não passa de um intelectual de merda". Segundo Paulo Francis, Antônio Pedro é um dos maiores atores do Brasil.
8 - Romance da Empregada – Cena mais do que bizarra: Betty Faria imitando Tina Turner apanhando no barraco do marido bêbado, o Daniel Filho;
9 – Vera – O mago Carlos Kroeber, morto em 2000, em uma aparição inesquecível. Ele é o diretor de um reformatório para mulheres, em que todas são lésbicas e usam calças de homem. Em uma cena, elas estão perfiladas tomando esporro, como em um exército. Kroeber anda de um lado para o outro, falando, “De amanhã em diante, todo mundo vai ter que usar saia aqui”. A reação é de silêncio e perplexidade, até que uma das meninas dá um passo para a frente, dizendo, “Olha, seu fulano, não vai dar não”. Kroeber, sem perder a pose, “AH É? ENTÃO É O SEGUINTE: TODO MUNDO ABAIXA A CALÇA PARA EU VER OS CULHÕES AQUI”. E diante da imobilidade geral, ele sorri triunfante: “Ninguém vai mostrar não?”, e completa, em CLOSE TOTAL: “PRA SER MACHO TEM QUE TER CULHÃO!”.
10 – Fulaninha - do David Neves – O ícone, o ídolo Roberto Bonfim está de camiseta sem manga, colar no peito, meio melado de suor, em uma cozinha de quinta categoria. Olha desconfiado para a mulher dele, a Zaira Zambelli, que frita um bife para um amigo do casal que passou mal. Intrigada com o olhar do marido, Zaira diz, "que que é?". Segue-se uma breve pausa e Roberto Bomfim pergunta: "Que que é? Que que é? Que que é é o CARALHO!". Dito isto, acerta uma porrada na mulher. Todos aparecem para separar, Bomfim se desvencilha de todo mundo e começa o show: "AGORA EU É QUE SOU O ESCROTO AQUI, NÉ? EU QUE FAÇO FILME DE SACANAGEM, EU QUE DOU PORRADA EM MULHER? E VOCÊ, SEU BABACA QUE TÁ APAIXONADO POR GAROTINHA QUE NÃO TEM NEM PENTELHO? E VOCÊ, AÍ, SEU BROCHA, VAI FAZER TUA MULHER GOZAR, RAPÁ! E ESSE AÍ, BABACÃO, METIDO A INTELECTUAL? INTELECTUAL DE MEEEEEERRRRRRRRDA É O QUE TU É". Pano rápido ao fim da metralhadora giratória.
11 - EU – Nesse filme de Walter Hugo Khoury em que ele mais uma vez reinventa seu alter ego Marcelo, Monique Evans pelada (fase áurea, parecia uma índia lindíssima), histérica, começa xingando o Tarcísio Meira: "Vc é viado! me trouxe aqui pra puta que o pariu e não vai me comer. VIADO! VIADO!"
12 – Caso Cláudia - Um dos filmes brasileiros mais engraçados e sem ter essa intenção. Simplesmente porque termina abruptamente, dando a entender que talvez tenha acabado a verba. O imortal Roberto Bomfim é um detetive típico de polícia civil, e Carlos Eduardo Dolabela faz um repórter policial típico, daqueles que andam mal vestidos, fumam pelos cotovelos e se misturam às investigações. Os dois investigam juntos o Caso Cláudia, inspirado na vida real. Mas em determinado momento, Bomfim entra subitamente em um apartamento onde Dolabela já estava fuxicando. Dolabela dá um salto e grita, “VAI ASSUSTAR A PUTA QUE TE PARIU”.
13 – De que filme é essa cena mesmo? - Algumas cenas enviadas pela equipe do Falaê não têm o nome do filme porque ninguém lembra o nome mesmo. Mas alguém sabe em que filme Osmar Prado pega um bebê com bunda suja e leva até o carro do motorista de trás, que enchia seu saco com uma buzina no engarrafamento? Pois é, Prado está com o carro cheio, sogra, papagaio, filhos, paciência no limite, e um babaca buzinando. Até que ele não se aguenta, pega o bebê fedendo, vai na janela do carro de trás e grita, “Ô MERMÃO! TÁ VENDO ISSO AQUI? É MERRRRDA!”
Tem também um filme sobre futebol, que tem a Carla Camurati em um time feminino, e uma participação do Casagrande. Isso mesmo, o hoje comentarista da Rede Globo aparece em um filme que já circulou no canal a cabo Multishow. Ele está saindo ofegante de um treino, e uma fã encosta, “posso falar com você?”, e ele, apressado, “vai falando, vai falando”, e a fã: “Sabe o que é? É que eu sou virgem e eu queria que você me descabaçasse”. Corta para Casagrande NU, transando com a mina. Agora, numa boa, isso lá é linguajar de uma virgem?
Enfim, esse é o cinema brasileiro que nós gostamos demais de ver, mesmo que a crítica não goste. Cindy Lauper é que tá certa: a gente só quer haver fun.
Gustavo de Almeida, Marcus Marçal e Andréa Del Fuego
NO INÍCIO DE 2001, PENSANDO NO TEMPO, E NA VIDA JOGADA FORA
0h – Não, não estou em uma contagem, nem regressiva, nem progressiva, mas pontuo a vida pelos números, para que eu me lembre que sou mortal, para que eu saiba quanto eu terei quando a vida começar, para que eu entenda quantos anos me restarão depois que eu parar de trabalhar e finalmente fazer as coisas que meu corpo apodrecido nem poderá tanto. Mas pontuo, pontuo, e em cada meia-noite hei de estar dormindo, na inconsciência justa dos sonados, no travesseiro terno do meu desamor.
0h – Eu conto as horas, os dias, os segundos, as batidas do meu coração. Eu odeio esses números todos, amo as letras, mas não sei com quem fico. É meia-noite, eu poderia estar dormindo, mas sempre há algo diferente do dia anterior, ou melhor, da noite anterior, nesse azulado escuro que me asfixia, com essas poças que gritam quando os carros passam em cima. Ficar sozinho também é bom, posso curtir de uma maneira mais desapaixonada, menos embriagada, o meu leve estado de torpor causado pela cerveja e pelo vinho. E caminho de volta para casa, ao invés de pegar um táxi. Afinal, nem toda hora é meia-noite.
2h- Sonho com meu chefe, penso na tristeza, lembro de antigos enterros. Me lembro, durante o sonho, que tenho de acordar cedo, e sentir os vergalhões pontiagudos do despertador furando o tecido da minha inconsciência sem perdão, essa sensação dolorosa de que é preciso contrariar a inércia, tão natural, e impedir o corpo de continuar dormindo. Eu concordo com a inércia. Jamais deveríamos acordar, uma vez dormindo. Como estou agora.
2h – Por que não durmo? Explicações fáceis como, “dor”, “vontade de viver”, “insônia”, passam por minha cabeça com preguiça. Aliás, “dor”, não. “Dor” não é fácil. Nem é fácil a sua constatação. Estar sem sono, pode ser, isso sim, um conforto para os olhos, que podem contemplar melhor as coisas sem excesso de luz. Assim como o pensamento, que flutua melhor na madrugada, sem os excessos, não só de luz, como de barulho, trevas, dor, estresse, correria e poluição. Na madrugada, é como se o tempo não tivesse uma trabalho a cumprir, um destino. É como se o tempo dormisse. E eu não.
4h – Já sonho com meus pais mortos. Até quando terei isso em mente? Até quando ficarei com aquele enterro na cabeça? E eu não me casei. Não sei porque, mas me sinto em dívida com eles. Mas mesmo endividado, durmo direto todas as noites, de tão cansado. Haja drinques após o expediente.
4h – Sim, pelo menos durante duas horas meu cérebro tem que apagar. Que sejam nas temíveis horas pares, aquelas em que a gente tem sempre vontade de ter os olhos fechados. Na meia-noite, por medo dos fantasmas alheios. Às duas, por medo dos próprios fantasmas. Às quatro, com medo de um dia ser obrigado à acordar. Às seis, porque todos os outros começam a acordar, e eu sou da minha opinião, ou poderia não ser – em homenagem ao Leminski – de que nada me dá mais medo do que os outros. O inferno? O Diabo não merece tanto.
6h – O despertador parece me lembrar a cada toque, me lembrar com ameaças de que se eu não acordar algo de ruim pode acontecer. O despertador é mais implacável do que uma mãe querendo que o filho vá para o colégio. Por que toda as manhãs eu lamento a necessidade que eu tenho dele? Por que só o despertador renega tanto minha própria humanidade. Do mesmo jeito que não voamos, acredito que nós também não despertamos. Não nascemos para voar (tanto que há várias doenças de avião) e também não nascemos para despertar (um dia os cientistas ainda vão descobrir que a maioria dos cânceres vêm do despertar precoce. Querem apostar?).
6h – Durmo maravilhosamente, com arte. Um pano envolve meus olhos, mas só por precaução, afinal, o quarto está todo vedado. O ar condicionado faz um barulho delicioso, e eu posso sentir que estou roncando. Descanso, descanso. Que palavra linda, gostaria de ter certeza de que é para ela que nós nos encaminhamos, apesar de tudo. Tudo é morte, nada é descanso. Deveria ser o contrário.
7h – Porra, cheguei em cima da hora. Ela já está rosnando. Por que colocam mulheres para chefiar alguma coisa? Porra, devia ser sempre homem. Mulher tem tensão pré-menstrual, o que por si só já deveria desqualificar todas elas para função de chefia. E ela me pede para fazer a mesma merda, de sempre, o trabalho que não foi feito à noite, e eu sempre tenho vontade de dizer que à noite eu só estava dormindo porque sabia que haveria gente para fazer isso, e que essa gente agora está dormindo, e que por isso mesmo eu não posso pagar por isso agora. Mas engulo essa merda toda que eu queria dizer, e desce algo até meu estômago e dá uma cavadinha, são menos três mil células em direção à úlcera e à infelicidade completa. Tomo um esporro. Engulo de novo. Desço e peço uma média com pão e manteiga. É hora do lanche. Que merda de hora tão feliz.
Meu dia começa.
7h – Sinto muito medo, porque essa sensação de queda sempre me perturba. E é somente no meio da queda que eu lembro que é sonho, mas aí já é tarde demais, já me mexi na cama, já derrubei algo que fica na mesinha de cabeceira – eu sempre durmo com a cabeça para o outro lado, onde não tem mesinha – geralmente a garrafa d´água, ou o maço de cigarros. Gosto sempre que seja o maço, porque a garrafa está sempre meio cheia. Ou meio vazia. Bom, para cair, quebrar, e fazer uma merda enorme, o que importa é que ela está meio cheia. Independente de pessimismos ou otimismos.
8h – Começo a telefonar como um idiota, as pessoas do outro lado da linha mal entendem o que eu falo e o que eu quero. Acho que é cedo demais. Deus do céu, por que o mundo começa a funcionar tão cedo? Que idiotice? Acredito que é só por causa dos operários, esses, os mais explorados. É tudo a partir deles. Os patrões querem que a produção comece cedo, para poder ser escoada logo. A partir daí, a banca que vende os jornais para os operários tem que abrir cedo, a padaria que vende os pães idem, a farmácia idem, e tudo o que está em volta dessas merdas idem, ib idem, e assim o mundo inteiro mal curte a porra da alvorada. Eu, então, nunca vi isso. Estou sempre no ponto de ônibus, mas de costas para o sol.
8h – Resolvo levantar, sem pressa, sem dor, sem despertador, sem despertar a dor de ter renascido, de morrer de mentirinha para nascer de verdade que é essa coisa chamada acordar. Mas acordo bem, e faço essas coisas que são como um acontecimento, um verdadeiro ritual de magia branca: ligar a cafeteira elétrica, colocar o pó, plugar a tomada do forninho, pegar o jornal lá embaixo, passar manteiga no pão dormido, e ouvir o Adagietto de Mahler. Após o café, abro uma cerveja para eu agüentar o jornal. É sábado. O cigarro está delicioso.
9h – Sim, somente às nove da manhã é que a gente entende que é segunda-feira. O metrô é sempre igual, não nos dá essa impressão. Na rua, se caminha como sempre, e a atmosfera é a mesma de terça, quarta e quinta. Sexta não. Sexta é diferente, há uma cumplicidade urbana na sexta-feira, um pacto tácito. Acho que até batida de trem, no Brasil, tem um acordo – se for na sexta, deixa para lá, depois a gente conta os mortos e feridos. Toda sexta tem um quê, um sorrisinho de canto de boca de que tudo está acontecendo de fachada. Já a segunda tem o comprometimento cínico de quem quer começar a semana “com tudo”, todo mundo vira “caxias” na segunda. Desde meu porteiro até o atendente do maldito McDonald´s. Minha chefe decide me fazer entender que é segunda-feira e começa a me malhar para o superior dela. Claro, ela é uma forma de vida inferior.
9h – Caminho ao longo da muralha que protege os vivos do mar calmo. Há um futuro chegando, no ar. A música do Tom diz muito, quando tem aquele verso, “é promessa de vida/no meu coração”; os sábados têm essa falsa promessa, ou melhor dizendo, essa breve felicidade. Será que não seria melhor assim, chamarmos de “felicidades breves” todas as falsas promessas? Seria no mínimo um eufemismo simpático. E poético, quem sabe. Me lembra todos aqueles presentes caros que todo mundo já deixou de ganhar no Natal. No meu caso, um autorama. Nenhum DVD ou Palm Top, nenhuma dessas merdas preencheria a vaga que um autorama tem no meu coração. É sábado, esses moleques e seus pais que cumprem todas as promessas passeam na calçada cheia de um sol patético. Um sol que eu amo, que me dá ar. Essa é a impressão.
Começo a encher o saco dessa caminhada.
10h – As segundas-feiras sempre prometem arrancar meu escalpo. Ou pelo menos as segundas fazem com que a semana demonstre o tamanho de seu desejo por sangue. Ou por carne, sei lá. As segundas são uma espécie de arauto satânico de uma semana de merda. Você sofre, pena o dia inteiro, ouve sandices, tem asco do ser humano, vê a merda da vaidade tomando conta do seu chefe, sente nojo. Nojo de ver que aquela criatura viva leva dinheiro para casa às custas de te humilhar e também de puxa o saco de um outro filho da puta. Sente nojo de ver alguém que não deveria ter parado de se amamentar na mãe dar uma de experiente. Na segunda-feira, a gente sente mais nojo ainda. Vejo-a caminhar até a sala do editor, com uma folha de papel na mão. Grandes merdas ter folha de papel na mão. Ela e o editor conversam, e eu imagino o diálogo, “para que essa folha na mão, fulana?”, e ela respondendo, “ah, é que eu vim aqui chupar a pica do senhor, e queria limpar a porra dos meus lábios com essa folha”, ai caralho, cadê Cristo que não volta? Em que merda estamos nos transformando? Ah, já estou com fome.
10h – Começo a ver alguma vantagem nesse hábito que detesto que é o de acordar cedo. O dia parece ficar grande, enorme, mais tempo para se fazer nada, para ouvir música, para beber. Eu tenho quatrocentos CDs, cara. Preciso de tempo. Se eu depender de seis horas por dia (tirando as oito de trabalho e as oito dormindo), fudeu. Não ouço porra nenhuma e chegarei ao fim da vida sem ter ouvido todos eles pelo menos dez vezes. Claro, quando considero seis horas por dia, estou fingindo que não existe o tempo de deslocamento trabalho-casa-trabalho. Ai, cacete, é casa-trabalho-casa. Ou tanto faz, para você? O dia está enorme, já caminhei, fumei, bebi, vi os casais ensolarados, vi os bebês com alguma babaquice na mão, vi a areia da praia contente porque o sol vai permitir que ela foda com os pés dos seres humanos, vi as domésticas um pouco menos escravas, vi os motoristas ruins fazendo as primeiras cagadas do dia. É sábado mesmo, ninguém está de sacanagem, é verdade. Já começo a pensar que almoço terei pela frente. Que parente, que amigo, que ex-mulher, que criatura humana tirará o dia para considerar que deve almoçar comigo só porque é sábado? Enfim, acho que vou ao fliperama. Ou então a alguma loja de CDs usados.
11h – Foram perguntar à minha chefe se já era permitido almoçar. Era um cara que tem úlcera – que nem eu daqui a uns meses – e o cara não gosta de ficar muito tempo de estômago vazio. Minha chefe lhe deu uma resposta atravessada, irônica, babaca, escrota. Meu Deus, o que as pessoas estão fazendo umas com as outras. Um ser humano acha que pode humilhar o outro e usa para isso a chantagem do emprego. “Hei, cara, você tem que agüentar tudo isso, senão não poderá levar para casa o dinheiro para pagar o leite e o videogame de seus filhos”, puta que pariu, é isso que me deram? Um ser humano assim? Sou a favor de que a legislação trabalhista não permita que se demita por justa causa todo ser humano que tiver a coragem suficiente para encher o próprio chefe de porrada. Aliás, devia ser proibido demitir quem faz isso. Todo aquele que enche um chefe nojento de porrada deveria ser condecorado – porque é um herói, que luta para salvaguardar os culhões humanos, a honra, o sangue, a fé, o amor, a paixão. Um cara que mata o chefe de tanta porrada é a nossa salvação, nossa ligação com Deus. Cristo voltará como escriturário. Ou como repórter. Vai nos contar tudo dessa vez.
11h – Por que eu não escolhi uma loja de CDs normal? Tive que vir em uma de shopping? Ah, mas tudo bem. Talvez eu faça tudo aqui. Almoce, vá ao fliperama (não se usa mais esse nome, agora é sempre “games” ou “works” alguma coisa), e quem sabe ao cinema. Filme em cinema de shopping é sempre escroto. Ah, mas no fundo eu gosto é dessa liberdade. Ninguém me acha. Compro “Eat a Peach”, dos Allman Brothers. Aproveito e compro também o “Kind of Blue”, do Miles Davis, que sei lá por que cargas d´água eu ainda não tinha. Coloco no débito automático; ou no cartão? Sei lá. Só sei que hoje eu posso ter um autorama e não compro a porra de um autorama.
Tinha que ser naquele momento, que eu pedi. Meu pai nunca explicou por que não deu. Eu sei que foi por não ter dinheiro na época, mas ele poderia ter explicado, sei lá. Porra, também não ficaria nunca com raiva dele por causa disso. E nem fiquei.
Mas ainda terei um dia a alegria que eu nunca experimentei, que é o dessa merda desse autorama.
12h – Vai tomar no cu, sua filha de uma puta, é o que eu tenho vontade de dizer a ela. Vou almoçar e foda-se. O refeitório abre meio-dia, e eu tenho fome. Se eu pegar canelone, não posso pegar a carne assada. Uma colherada apenas de feijão – não é uma colher, é uma concha. Vou colocando tudo, salada, arroz, feijão, para ganhar tempo e decidir se eu quero carne ou canelone. O refresco é de maracujá. Uma merda. A sobremesa é quindim em pedaços, eu pego. E lá vamos para o maldito bicarbonato que eles colocam no arroz. Vejo os caras ricos da empresa chegando para almoçar no refeitório. Ainda não estão desalinhados simplesmente porque é cedo demais, meio-dia e eles não fizeram porra nenhuma, nem para a mãe deles. Aliás, para a mãe deles eles nunca fizeram merda nenhuma. E eu estou ralando desde as oito da manhã. Ou sete? É, hoje eu peguei às sete. Que bom, três da tarde já posso pensar em me mandar dessa merda.
12h – Peço dois chopes, o primeiro para eu virar, o segundo para saborear enquanto olho o cardápio. Está muito quente na cidade, minha sede está gigantesca. Odeio comer em shopping, mas me rendo à preguiça e à praticidade. Ontem uma garota me disse, “tem que haver praticidade na beleza”, eu nem entendi porra nenhuma porque estava bêbado. Acho que ela estava me explicando porque as mulheres gostam do Chico Buarque. É verdade, tem praticidade. A gente no fundo sabe que elas gostam porque o cara é bonito e ponto final. Isso é que é foda. Os intelectuais vibram, dizendo que elas gostam de um algo mais, mas é cascata. Fosse o Chico Buarque, com todas aquelas letras, a cara do Nestor de Montemar ou do Wilson Grey, queria ver. Foda-se. Peço uma porção de frango à passarinho. Sou livre até para não almoçar. Só porque é sábado. As horas saltam.
14h – Ainda estou escrevendo algumas notas. O cigarro depois do almoço, quando fumado com pressa, é uma merda. A sobremesa fica encravada entre os dentes, por mais que você escove com todo o cuidado. O bicarbonato, maldito bicarbonato, que estava no arroz, domina o ambiente, todo mundo arrota a porra do bicarbonato. Dizem que eles colocam para dar a sensação de enchimento, mas depois o bicarbonato facilita a digestão e aí você está com fome de novo. Mas deve ter algo conspiratório, de patrão. Deve ser melhor o empregado digerir logo, senão fica aquela indolência jiboiana, e aí já viu, fudeu, o cara não produz. Ele é o dono, ele pensa melhor. Ele sabe que um danoninho vale por um bifinho. Ai, caralho, minha chefe não sabe que um lexotan vale por um abraço. Tome mil, sua filha da puta, e vá de trem-bala para o inferno. Será que o diabo merece isso?
14h – Como é delicioso fumar um cigarro sem que a vida me obrigue a levantar. Pago a conta só de sacanagem. Fico sentado na mesa. Quanta merda passeia nesse shopping. E eu assim, querendo me ver livre de tudo. A Mega-Sena é a grande ambição do fim de século. Ninguém quer mais trabalhar. Sabe de quem é a culpa? Dos chefes escrotos. Se o ser humano se resolvesse, o trabalho seria uma felicidade.
Ah, meu trabalho só seria feliz se alguém me chupasse o pau todos os dias, lá dentro, enquanto escrevo alguma merda.
Minha chefe, com certeza, torceria para eu ganhar na Mega-Sena. Eu daria a ela, de presente, com todo carinho, um jazigo perpétuo.
16h – Que vida é essa, que nos obriga a, todos os dias, ficar experimentando extremos? O máximo de dor, de tristeza, de angústia, de sensação de fracasso, quando eu chego, de manhã e olho aquele rosto nojento de réptil, daquela mulherzinha repugnante, que sonha com pica todas as noites e jamais se realiza. E, de repente, a liberdade por umas seis horas, até eu me enredar na prisão do sono, até levantar para outro dia, até completar onze, doze meses no emprego e poder ficar um mês sem trabalhar, viajar, fazer alguma merda, ou não fazer nada, e aí voltar para o emprego, me dedicar à máquina em tempo integral. E um dia serei um velhinho, desses que os jovens se levantam para dar lugar no metrô, desses que as mulheres não levam a sério (elas já não me levam a sério), um velhinho filho da puta, que sofreu muito, na mão dessa mulher, na mão de várias mulheres, na mão da humanidade, na mão perversa da humanidade. Não quero mais essa humanidade desgraçada, quero ser um coiote nojento, me alimentar da carniça de todos eles mortos.
De repente, o vento do final da tarde me deixa feliz, e eu não quero mais ser um coiote, sim, quero continuar nessa prisão, desde que me deixem dar uma volta no pátio todo dia. Com a corrente e a bola.
16h – Começa o jogo, o Flamengo está todo desfalcado. Mas pelo menos dá para recuperar depois, o foda é o calor de Moça Bonita. Se empatar, ainda dá para a gente chegar na semifinal, o Bangu está querendo dificultar o jogo. Paciência. Talvez ainda dê para virar. Não sei se eu sou da mesma linha – que clichê absurdo, “virar o jogo”, que lugar-comum, mas o que que se faz da vida, afinal? Começo a pensar na noite, e de vez em quando me vem a sensação de inutilidade completa. Basta somar duas músicas: aquela que diz “a noite vai ser boa/de tudo vai rolar”, e uma outra pretensiosamente sensual que reclama, “solteiro no Rio de Janeiro/parado em qualquer praia/sou solto em qualquer lugar/tira a camisa/esse calor ta de amargar”, que me vem a sensação de não ter mais estômago. Talvez seja essa a resposta, o fim do estômago, abaixo o discernimento. Eu devo fazer parte do mundo dos feios, porque não vejo o que seria esse “de tudo vai rolar” e mesmo não aceito esse negócio de tirar a camisa ter relação com ser solteiro. Quanta babaquice. Mas pelo menos o Flamengo vira a porra do jogo. Meu tempo não foi em vão. Meu tempo não é quando, meu tempo é nunca. Adeus ao nunca. Across the universe. Jai guru dev a om.
18h – Uma vez li um livro, “Feliz ano velho”, do cara que fica paraplégico e diz que só queria sentar no banco de trás do ônibus e sentir o vento batendo no rosto. Eu detesto ônibus, mas pego um depois que salto do metrô, e sinto a brisa me mandando embora para outro mundo. Me dá vertigem ver mais um dia indo embora, e nessas horas sinto sempre o trabalho diário como sendo mais uma etapa em direção a lugar nenhum. Vocês me acham muito deprimido? Porra, é que eu percebi – não sou melhor nem pior, apenas percebi. Tenho medo até de falar nessas coisas. Tento então nesse tempinho entre o abrir desesperado dos grilhões e o trancafiar insuportável do sono, fazer a vida valer a pena. Escolho um CD, olho os filmes da TV, fumo, bebo, pensei até em rezar. Há quanto tempo eu não rezo, Deus, desde a última vez em que ouvi “Remember”, do Hendrix. Será que rezei naquele dia? Quando tive vertigens de morte aos 19 anos, um psicoterapeuta me perguntou, com a voz bem paternal, “você reza?”, e eu não sabia responder. Talvez porque ele estivesse me dando uma resposta. Orai, orai, que o Deus vai me fazer esquecer da morte. Eu só quero isso Dele. O resto de mim é Dele. Se sobrar algo. O Diabo não merece tanto.
18h – Uma vez li um livro de Carlos Castañeda – todo mundo tem que ler um dia – e vi uma frase maravilhosa: “O Crepúsculo é a fresta entre dois mundos”. E descobri nesse dia que fresta é uma palavra muito agradável. Não é para menos – nascemos por uma, pois não? E metemos em uma para esquecer da morte. Fresta é uma palavra molhada, você saliva a língua para falar. Eu resolvo é ver a Lagoa, com esse sol começando a pensar em se pôr – maldito horário de verão – e um monte de gente percebendo isso, se reunindo para ver o espetáculo como se ele não fosse diário. Mas não estaria aí a fórmula? Dizer a si mesmo ao acordar que não existe o diário? Que a morte ou a sorte pode estar na próxima esquina? Prefiro a Mega-Sena do que um jazigo perpétuo. Acho que já pensei nessas coisas essa semana.
20h – Todo dia tem Jornal Nacional. Principalmente hoje, segunda-feira. Todo dia não. Domingo não tem. Mas domingo é o dia mais foda, todos brigam com foices para decidir quem vai enfiar a pica dentro do seu cérebro molhado e gostoso, parece que o seu cérebro anda de espartilho, rebolando, querendo quem o domine. Que merda, o domingo. Ainda falam mal do futebol. Quero é mais cem gols do Rondinelli para esquecer um mísero Faustão. Quero dez replays de gols de falta do Zico para enfiar no rabo de todo mundo a musiquinha do Fantástico. Quero que os patrocinadores da videocassetada se fodam. Ah, e quero um domingo de Páscoa em que alguma ex-namorada reapareça e me dê um coelho de chocolate e um beijo na boca. Tudo bem, sem beijo na boca. Mas do coelho eu não abro mão.
20h – Caralho, às vezes esqueço que sábado também tem Jornal Nacional. Mas pelo menos têm as notícias da Fórmula 1 do dia seguinte. Ah, ainda não começou a temporada. Foda-se. Desligo e coloco um som muito porrada. Nirvana. O porteiro interfona. Os vizinhos dão um churrasco. Todos me deixam recado na secretária eletrônica. Sim, sim, é sábado mesmo. Eu não sabia, juro que não sabia. Pelo amor de Deus, não me batam. Eu sou só um moleque com medo, com um medo filho da puta de gente grande e crescida. De gente que faz cálculo de imposto de renda – desde criança que eu vejo uma superioridade quase genética nessa gente que sabe fazer o imposto de renda. Quase padres. Se pelo menos se masturbassem, seriam.
22h – Cervejas que somem. Ficam três garrafas vazias na pia, e mais uma que passará a noite a meu lado, na cabeceira, e meu pé provavelmente a derrubará no pior dos pesadelos. Mas só bebendo para poder dormir decentemente, sem interrupções. É difícil dormir sabendo que terei de acordar para um dia simplesmente filho da puta. Sabendo que contarei mais alguns dias para a pausa quase existencial da noite de sexta. Sabendo que na verdade estou ali para morrer, ou pelo menos para só sair dali quando o que eu ainda tiver de vida tiver se exaurido – como fazem com os cachorros. E de vez em quando, quando eu sou um bom cachorro, eles me atiram um osso, e eu fico realmente contente, pulo, sorrio, quase bato palmas, e deixo os outros cachorrinhos morrendo de inveja. Ah, isso é Pink Floyd, The Wall, “When i´m a good dog they sometimes throw me a bone in”, da mesma música em que o cara fala que tem 13 canais de merda para escolher. Ou seriam trinta? Saberei amanhã, quando eu acordar e só querer saber de pegar o metrô.
22h – Olho a programação de filmes. Quem sabe não passa “O Tesouro de Sierra Maestra”? Ou mesmo “Duelo ao sol”? Queria ver um desses westerns heróicos. Há quanto tempo não vejo heroísmo! E nunca pensei que um dia sentiria falta dessa porra desse heroísmo! Só vejo anti-heróis, onde quer que eu procure. Talvez não haja mais heróis assumidos porque no fundo, no fundo, ninguém quer mais salvar ninguém. Estão todos fudidos. Acho que vou dormir, sabe. Apesar de ser sábado, e todos quererem aproveitar a noite, fazerem sexo ou alguma coisa parecida. Eu quero aproveitar o sono. Tão bom como trepar e comer. Dormir. Apagar a consciência das coisas.
0h – Acho que voltarei a rezar. Nos extremos, nos pontos zeros, só nos resta pensar em Deus. Não, não sou eu, desculpe.
Amanhã é o quê?
DEDICADO A ROBINSON CRUSOÉ, AQUELE QUE MELHOR SOUBE BATIZAR SEU ÍNDIO