29 outubro, 2001

RAIVA

De repente, senti uma raiva imensa, dessas que a gente tem vontade de gritar; quebrar uns copos, como fazem as histéricas atrizes em cenas de novela; ou chutar uma porta e quebrar um dedo. Xingar um palavrão. Um não, vários, seguidamente, como quem acaba de levar uma topada no dedinho na esquina da mesinha do cantinho da sala, no escuro da madrugada quando foi buscar um copo d´água. Minha raiva não é por hoje ser segunda-feira e eu não ter dinheiro na conta-corrente, mas sim uma fatura de cartão de crédito e uma conta de telefone vencidas em cima da mesa da minha sala, com o meu gato as vigiando. Imagina. Os problemas são sempre os mesmos. Mas esta é uma ira impulsionadora que vai me fazer levitar. Eu preciso. Me lembrei de uma pessoa. Porque se algum dia houve um grito, foi ela quem deu. Seu nome? Patricia. A moça um dia soltou a voz, chutou uma porta e quebrou um dedo. Ou dois. Talvez tenha se arrependido e hoje quebre apenas a cabeça fazendo palavras cruzadas.
Acho que ela sabe. E nós também. Às vezes é preciso fazer escândalos, perder a linha, ser rotulado de louco e berrar. Uma legião de amigos, familiares e desconhecidos, todos munidos de sorrisos, canções, lágrimas e holofotes, a descobriram em algum canto escuro e triste, e ela pensando que ninguém a ouvira. Atenção! Só isso. O berro fez eco no Rio de Janeiro, de Laranjeiras ao Leblon, e ninguém, à época, entendia como alguém podia deprimir-se assistindo os dias lindos que vinham fazendo, como hoje, por exemplo. Nem eu. Então, agora mesmo, desisti de gritar.
Optei por escrever: AAAHHHHHHH!