26 outubro, 2001

Maybe
O ano de 1998 foi sem dúvida um dos melhores da minha vida. Não fosse o Vasco ter sido campeão da Libertadores e o Brasil ter tomado de 3 a 0 da França, diria que foi um ano perfeito. Não namorei ninguém, à parte algumas saídas com meninas interessantes que não davam em muita coisa.
Mas muitos em minha volta estavam felizes. Existia o Bukowski, o local mais bacana que já tivemos para freqüentar. Conhecíamos todos, o barman, os donos (antes deles virarem inimigos um do outro), os DJs, e várias meninas que nós sempre víamos lá mas nunca tivemos coragem de abordar. Mas era bom vê-las, saber que estávamos mais ou menos na mesma comunidade.
Eram tempos felizes, mas que não deixavam de ter um sentimento estranho de ausência. Sim, mesmo quando todos estavam lá naquele similar de bar esperança, havia uma espera que parecia nunca acabar. Faltava alguém, sim, e não era apenas uma carência afetiva, e sim a falta de alguém com quem dividir os sonhos mas também os pesadelos.
E não era no Bukowski que isso iria acontecer, e sim na vida. Ou não acontecer.
Só sei que muitas vezes eu decidia ir embora sozinho, porque me cansava um pouco. Entre a felicidade calma e uma fervorosa tristeza, eu saía pela Rua Paulo Barreto escura, protegida pelas árvores, em direção à Voluntários na época iluminada. E estranhamente me sentia além do medo, do medo de assalto ou coisa assim, parecia que eu estava vivo demais, que poderia abrir mão de um pouco de vida.
Porque todas as vezes em que eu entrava na Paulo Barreto, mesmo que eu não quisesse, começava a tocar "Maybe" na minha cabeça, e eu não sabia de que parte de mim vinha o início dessa maravilhosa canção de Janis Joplin. Sei que começava, o solinho de guitarra, o teclado de igreja, o baixo, e Janis suplicando, implorando, pedindo, confortando, como se estivesse pessoalmente cuidando de mim.
E nessa hora eu sabia que sempre haveria o talvez. Maybe. Sempre.