Neighbors
Outro dia, Marcele me perguntou sobre uma trilha sonora para seu programa Caleidoscópio, da UFF, que tinha como tema ?Vizinhos?. Imediatamente recomendei a emblemática música que dá título a este post, do disco Tattoo You, dos Stones ? um espetacular disco de 1981, que rachou ao meio com uma marreta de rock n roll o caminho entre o punk e a new wave. Mas enfim, não é disso que estamos falando. Estamos falando de vizinhos.
Incrível como bastou eu ter uma hérnia de disco e ser obrigado a passar três meses dentro de casa para eu perceber o quanto a vida em prédios ? mesmo os pequenos, como o meu ? se tornou completamente inviável. E juro que não se trata de bancar o estilo ?vizinho-síndico?, daqueles caras que reclamam se você tira o sapato e joga no chão. Ou daqueles que vão lá na sua porta bater porque você só jogou um sapato e eles estão quase loucos esperando pela queda do outro.
Muito longe disso. Para mim, sujeitos cantando bêbados ?Largado no mundo? ou mesmo ?Down em mim? às quatro e meia da manhã de uma segunda-feira pode ser incomum, mas é passivo de compreensão. O bom vizinho pensaria, ?putz, são quatro e meia e os caras estão bêbados e cantando músicas deprê, porra, eles devem precisar?. Mas não, a única atitude que eles tomam é ligar dizendo frases insuportáveis como ?amanhã, quer dizer, hoje, é dia de trabalho?.
Eu sempre fui o escroto do prédio, na opinião dos vizinhos. Era eu quem tinha guitarra, era eu quem colocava altíssimo o LP ?If you want blood...you?ve got ir?, do AC/DC, ao vivo e com Bon Scott, era eu quem fazia festinhas quando ficava sozinho em casa, era eu que organizava bebelanças absurdas para ocasiões fugazes como reunir os amigos para ver lutas do Mike Tyson de madrugada ou mesmo as 500 milhas de Indianápolis, isso quando tinha um ou dois brasileiros. Hoje, são poucos os estrangeiros. Bom, mas voltando ao assunto.
Nessa minha temporada entre dor e fome, percebi o quanto as pessoas fazem coisas no dia-a-dia que enlouquecem. Descobri, por exemplo, que as minhas cinco vizinhas mulheres (de várias idades) um dia derrubarão o prédio inteiro com as porradas que dão na porta. Descobri que um vizinho de outro prédio tem um cachorro daqueles pequenos que late simplesmente o tempo INTEIRO, inclusive à noite. Percebi que uma das vizinhas mulheres tem lá seus 16 anos e ouve alto em um som compacto (desses tipo rádio-gravador, que têm som horrível) absolutamente TUDO que está na moda em termos de música, além de Bon Jovi ? e, como eu já disse, em volume alto.
Já ouvi ?Tô nem aí? mais de 700 vezes durante minha hérnia ? e isso bastaria, na minha opinião, para eu requerer a eutanásia.
Minha prima Mariana, que mora fora do país, voltou aqui em 2001 e, ao ouvir uma das minhas vizinhas gritando algo com um dos quatro animais que ela cria, disparou o comentário:
- É incrível como as vozes lá de baixo nunca mudam...
A hora mais incrível é a do RJ TV, em que absolutamente TODAS as notícias (e isso inclui até coisas desinteressantes) são comentadas pela voz mais cacete de todas. E eu aqui em cima com minha protrusão doendo até os fios de cabelo.
Enfim, com essa temporada de cachorros latindo, portas batendo, vizinhas faladeiras, música insuportável, descobri que feliz mesmo é quem tem vizinhos que fazem zona à noite ? porra, à noite eu tou dormindo, podem bagunçar à vontade. Se eu vou conseguir dormir ou não com a bagunça, tudo bem, isso é outra história. Mas eu sinceramente prefiro estar dormindo enquanto estiverem latindo.
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