25 setembro, 2003

PVC
PVC é como chamam aquele jornalista da ESPN Brasil, que saca tudo sobre futebol de qualquer parte do mundo, o Paulo Vinícius Coelho. Mas como estou com hérnia de disco, a sigla PVC só pode significar, para mim e para o título do post, uma coisa: Porra da Velhice Chegando. Sim, os dias de convalescência (que ainda prometem se prolongar bastante) me envelheceram espiritualmente pelo menos 60 anos. Os sintomas já começam cedo: por causa da dor, costumo acordar antes das seis da matina. Corro para o café, que vou preparando aos poucos enquanto ouço a rádio CBN, numa estranha obsessão (afinal, para que saber notícias de um mundo ao qual eu não tenho pertencido mais?).
A PVC é algo realmente fenomenal, perceptível em todo homem com mais de 30 nos nossos tempos modernos. Hérnia é puro PVC. Frequentar tubos de ressonância magnética é puro PVC – pior ainda é ter familiaridade com a enfermeira que ajeita os infelizes dentro do tubo. “Você já esteve aqui, né?”, perguntou ela, em minha segunda ressonância, como se fosse um garçom perguntando se eu que pedi a Calabresa sem cebola na noite anterior.
Aí você faz o tal exame, que eu já descrevi em alguns posts abaixo, e como bom adepto da PVC, é cheio de fobias. Para abafar a fobia, eu fecho os olhos antes de entrar no tal sarcófago. Claro que não dá para ficar o tempo todo de olhos fechados, no estilo Marion, não olhe, do Indiana Jones, você dá uma abridinha e aí babau. Saio do exame e encontro com Marcele, e minhas primeiras palavras são:
- Descobri uma coisa.
- O quê?
- Quero ser cremado. Quero que até o último tutano dos meus ossos seja triturado e reduzido a cinzas.
É claro que eu estava traumatizado por um genial documentário do GNT sobre catalepsia que eu vira dois dias antes.
Mas, porra, para que eu fui ver um documentário sobre catalepsia antes de fazer uma ressonância magnética?
Outra coisa de PVC é quando a cada aniversário os amigos lembram que está quase na hora do exame de próstata, o tal toque retal. Bom, antes de eu fazer 30, neguinho falava que era a partir de 30. Aí eu fiz 30, me botaram pilha, mas fiquei sabendo que era a partir de 35. Waaall, chegamos lá e até agora estou, vamos dizer assim, intacto. Aí, depois que vários amigos mais próximos dos 40 comentam que “está chegando a hora da dedada”, ouço um anúncio de rádio, uma campanha de saúde pública, no qual os caras recomentam o exame a partir dos 45 anos. Bom, desconfio então que alguém está fazendo o lobby anti-dedada, um grupo de sujeitos de 39 anos que ao longo dos últimos anos pressionou todas as sociedades e conselhos de medicina prorrogando o prazo para o agasalhamento do croquete com osso.
Agora, nada mais PVC do que aquilo que eu continuo tentando perder: a barriga. Meu amigo Marlos Mendes vive me dando uma explicação darwiniana, dizendo que é consequencia da evolução – o homem acumularia gordura e nutrientes para sobreviver a eras glaciais, etc. Ok, ok, mas não dava para a gente acumular gordura nas solas dos pés em vez de simplesmente na cintura? Depois de um rodízio de pizzas bastaria comprar mocassins. Uma semana no rodízio de carnes significaria apenas que você teria que ir ao sapateiro. As lipoaspirações poderiam ser feitas nas lojas Dr.Scholl. E de certo modo ser gordo significaria até ser mais sexy, mais atraente, já que com a gordura acumulada na sola do pé eu ficaria...mais alto! Bom, do jeito que eu estava há dois meses (com quase 80 quilos tendo 1,60m de altura) creio que eu poderia jogar par-ou-ímpar com Kareem Abdul Jabar. Enfim, a Porra da Velhice Chegando é inevitável, é uma chatice do cacete, mas provavelmente é o único jeito de conseguir ir sentado da Estação Botafogo à Praça Onze sem ser incomodado.