28 julho, 2003

Onde eu me encontrei



Sim, foi em Copacabana. Mais precisamente no dia 29 de julho de 2002. A história, é longa e só vale contar pessoalmente – mas nem pelo fato de ser longa é chata ou desinteressante. Só sei que termina (ou começa) com um telefonema, em que se ouve Come rain or come shine na voz de Al Jarreau. E entra a minha voz, e começamos a conversar. O tempo parece ter parado de vez, a gente nem pensa mais nada. É pouco mais de meia-noite, início do dia 28 de julho, a conversa e as declarações ainda tímidas de amor vão até quatro e meia da manhã. Nos despedimos com a promessa de voltarmos a nos falar durante o dia – para variar, eu estava de plantão.
No dia seguinte, eu ligo e digo, “estou saindo, de táxi”. Entro na rua dela e a cada número até chegar ao 41 o coração parece aumentar o ritmo. Vejo a moça, é ela, que vem, entra silenciosa no táxi, nos beijamos imediatamente. Peço ao motorista para ir até Ipanema – na época, o Shenanigan’s ainda estava transitável.
No rádio do táxi, “I don’t wanna talk about it”, com Rod Stewart. E a gente se beijando.
Ela me dá o CD “Are you passionate?”, do Neil Young, repetindo o que eu escrevera meses atrás, “garantia de um bom começo”. E foi.
Já no Shenaningan’s brindamos com vinho, e passamos a noite nos beijando.
No dia 29 de julho de 2002, um ano atrás, essa história começava assim.
O Niezstche dizia que era necessário afundar na angústia do caos para engendrar estrelas. Pois eu acho que no fundo Marcele é a estrela que o meu caos engendrou. O meu caos e o nosso acaso. Marcele é, para mim, o meu acreditar eterno em final feliz – sim, pois não é ela a própria personificação de tudo isso?
Depois de algumas “topadas”, alguns tiros n’água, outras rejeições, certas decepções e muitas noites que terminei ouvindo “No surprises”, do Radiohead, Marcele me fez usar de novo a palavra amor – que eu sempre costumei definir como uma mistura caótica de sonhos e hormônios. Só quem já foi no fundo do poço pode entender de verdade o que é Marcele para mim – é como torcer por um time médio do interior, você nunca acha que vai ver seu time ganhar títulos, de repente ganha, e a ficha passa anos sem cair.
Marcele é quando eu engulo a ficha.
“Nossa vida juntos vai ser um sonho”, ela me disse. E até hoje repetimos, está sendo um sonho, está sendo um sonho.
No momento por que passo, com uma hérnia de disco, ela está me ajudando a não enlouquecer. Sua paciência é enorme, e seu amor, infinito.
No ano que passei antes de encontrar Marcele, eu tinha me preparado para uma vida sozinho. E me sentia razoavelmente bem com isso – sempre disse que viver sozinho não é o fim do mundo, e no mínimo você pode assistir os jogos das 16h e das 18h no domingo. Enfim, se você está sozinho, tem que saber aproveitar.
Não, viver sozinho não é ruim.
Mas para mim, estar com Marcele é melhor.
Melhor do que sozinho ou acompanhado com qualquer outra neste mundo, enfim, com ela é melhor do que qualquer outro jeito.
Obrigado, moça. Você veio chover e veio brilhar em minha vida.