27 julho, 2003

Esse também é ídolo



Mesmo quando eu fingia não gostar do rei Roberto Carlos (nos tempos de roqueirismo radical aos 16 anos) eu respeitava o Tremendão Erasmo com a reverência devida. Até mesmo seu lamentável defeito, que é torcer por aquele time de São Cristóvão, assume contornos dignos, numa conversa rápida com ele. "Meu maior troféu, que mantenho até hoje. é uma camisa do Vasco, me dada pelo Alcir, manchada de sangue", me disse o Tremendão uma vez, em entrevista.
Seus sucessos sempre foram na contramão do adolescente Jovem Guarda. Se os meninos da Jovem Guarda era rebeldes mas filhos dos tijucanos do PL, o Tremendão vinha com uma música ("Close") em homenagem a um travesti. Se a onda dos imitadores de James Dean era andar em grupos onde só havia homem, ele fazia uma ode à vida de casal, "Mulher", em homenagem à Narinha. "Sou forte mas não chego a seus pés", cantava o Tremendão à sua musa Narinha, morta em 1996.
E sempre me emocionou o momento de todo final de ano, quando no especial de sempre da Globo, aquela voz anasalada anunciava "O meu amigo...Eraaasmo Caarlos!", e aí ele entrava ao som de "Você, meu amigo de fé, meu irmão camarada...".
"Festa de Arromba", "Fama de mau", "Mesmo que seja eu", "Pega na mentira" (ótima, essa, sonhando com Zico no Vasco ao lado de Pelé) são músicas que fazem parte da construção de um rock nacional, verdadeiro - pena que os críticos especializados e entendidos só considerem rock nacional aquele com influência britânica dos anos 80. O Tremendão, para mim, é a base de tudo.
Agora, ele me solta a frase que me motivou a escrever esse post. Em especial (ótimo) no Multishow, anunciando que volta a fazer excursões pelo país, ele manda muitíssimo bem:
- Estou caindo na estrada. Mas quero cair na estrada mesmo, aquele negócio de almoçar em churrascaria de beira da estrada, sentar na mesa, conhecer o dono, a mulher dele, os filhos, tocar um violão, conversar, conhecer pessoas, enfim, estrada de verdade, não esse negócio de esperar dez minutos e pegar conexão em aeroporto limpinho e moderninho não.
Sensacional, o Tremendão.