27 julho, 2003

Cuba
Se até Saramago discorda do que acontece em Cuba, quem sou eu para contestar ou defender a ditadura do Fidel. Não disponho de bagagem para isso e sequer já estive na ilha, apenas leio que por lá não há riqueza mas também não há gente morrendo em filas de hospitais ou velho vendendo lápis em porta de botequim. Note: apenas leio sobre isso, nunca fui para ver se é verdade.
Mas tenho implicância com a maneira apressada com que todo mundo da imprensa brasileira anuncia um peidinho que seja de Fidel Castro. Todos festejam o fato de alguns cubanos terem improvisado um barco de um caminhão GM, ano 1957, mas ninguém me traz um perfil psicológico dos sujeitos que tentaram fugir para Miami. Para começar, e se os caras estão fugindo de Cuba por mera boiolice?
Ninguém implica com a babaquice que é alguém querer fugir para Miami sem estar envolvido em concordatas fraudulentas, por exemplo (ou em desvio de verbas em empresas brasileiras, fudendo a vida de milhares de trabalhadores). Esses caras sim é que têm necessidade de buscar uma cidade como Miami.
Me lembro de 1989, quando houve a grande festa do "fim do socialismo", li nos jornais a frase de um "pobre alemãozinho" finalmente liberto (um sujeito que provavelmente é milionário se comparado a um classe média baixa brasieiro):
"Pensei que ia morrer sem conhecer Paris".
Uma frase dessas, se dita numa roda de chope lá na Cobal do Humaitá, seria alvo de milhões de sacanagens. Mas para a imprensa brasileira que analisa o socialismo, é uma verdadeira desgraça, um alemão baitola ter tolhida sua liberdade de ir a Paris ficar dançando e cantando 'Sassaricando'.
Ficamos combinados assim: me enternecerei sempre com os caras que fogem de Cuba, tudo bem, usando recursos extremos. Mas antes, tranquem os malandros em uma sala, sozinhos, com um pedaço de veludo. Se alisarem o veludo antes de 15 minutos, é porque fugiram de Cuba por frescura.