20 julho, 2003

Magnetismo Ressonante




- É, não tem jeito, vou ter que pedir uma ressonância magnética.
O meu ortopedista pediu isso enquanto eu relinchava de dor na frente dele. Não entendi porque ele fez uma cara de “foi mal aê”. De tanto ouvir falar desse exame, o qual é feito por jogadores de futebol ad nauseaum, achava que era algo tão corriqueiro quanto uma marteladinha no joelho. No máximo um aparelho emitindo ondas magnéticas.
Logo que entrei na sala dos exames, neguinho me mandou colocar uma roupa verde daquelas de pacientes internados em séries americanas. Peraí. Já estranhei.
Sou levado a outra sala e, sim, dou de cara com um daqueles tubos que a gente só vê em propaganda de plano de saúde – isso, aqueles mesmos que você vê com alguém deitado dentro, tendo somente uns 10 centímetros de ar acima do nariz.
A minha pergunta foi óbvia e transpirava pânico:
- Minha cabeça vai ficar para lá (pra dentro)?
A médica disse que o local era ventilado (e é realmente muito ventilado), que não havia problemas, etc. Me deram um par de tapa-ouvidos, estranhei na hora. “É por causa do barulho”. Coloquei e fiquei meio surdo. Colocaram na minha mão direita uma esfera de borracha ligada a um tubo, uma esfera apertável. Pensei, “Sei lá, deve ser pro cara apertar essa porra pra se distrair”. Sério mesmo que não consegui pensar em algo coerente para fazer com aquela bola de borracha dentro daquele sarcófago.
A maca em que me deitei foi deslizando lá para dentro e logo meu mundo ficou meio bege. Em seguida, começou a sessão – uma série de campainhas e zumbidos que me fizeram entender de uma vez por todas como surgiu a música tecno (juro que já ouvi coisas simplesmente iguais no terraço da Loud!, onde só toca esse lixo).
Aí, sei lá porque cargas d’água, apertei a merda da bolinha. Pararam tudo, me puxaram, ligaram o alto-falante e perguntaram se tava tudo bem. Eu tava meio grogue e respondi que sim, ué.
- Um pouco de claustrofobia? – perguntou uma médica.
Eu respondi o óbvio – sim, afinal, não há ser humano que entre num lugar daqueles sem lembrar do poema “Enterrado vivo”, do Vinícius de Morais.
Depois que percebi que a bolinha de borracha era na verdade a campainha de emergência, e que eu só deveria apertar em caso de passar mal. Mas, enfim, ainda tive que ouvir, após uma leve advertência, que “o exame dura de 20 a 30 minutos”. Puta que pariu.
Só sei que o resultado sai quinta-feira. E que posso ter uma hérnia. Bom, nada mal, para quem não tinha nada (no banco).