60 anos esta noite
No próximo dia 26, Michael Phillip Jagger completa 60 anos. A idade do vocalista da maior banda de rock and roll de todos os tempos me assusta um pouco, achava que ver Mick Jagger completar 60 anos fazia parte de um dia que jamais chegaria – ainda mais para mim, que quando criança li Jagger dizendo, insolente como sempre, “não quero chegar aos 40 anos cantando Satisfaction. O cara já excedeu o limite dele em 20 anos. Graças a Deus. Bom, não sei se Ele tem tanto a ver com isso assim. Não quero ser excomungado pela Igreja Católica ao escrever que Deus tem a ver com corpos boiando em piscinas, drogas, prisões, tumultos, facadas e traições.
Jagger e Richards volta e meia ficam sem se falar – mas até hoje eu acho que é balela, puro “gênero” que os dois fazem. Afinal, quando os dois eram três (nos tempos em que o sensível e ingênuo Brian Jones tocava guitarra), deu para ver quem mandava. No caso, Brian Jones só obedecia. E obedeceu tanto que acabou boiando em uma piscina.
Antes disso, os caras deitaram e rolaram, colocando crédito próprio em obras-primas de Jones como Paint it black (Jones toca cítara nessa) e Mother’s little helper. Brian ficava deprimido, mas Jagger e Richards (que faz 60 em dezembro) cagavam e andavam.
O otário seguinte foi Mick Taylor - excepcional guitarrista - que deixou a banda ao ver Jagger & Richards escrito nos créditos de sua maravilhosa Time waits for no one (seguramente uma das 100 músicas mais lindas que a humanidade já produziu).
Eu via tudo isso com temor mas ao mesmo tempo com fascinação – não pelas sacanagens, mas pelo fato de os Rolling Stones estarem acima até deles próprios.
E hoje confirmo. Vem moda, vai moda, vem hype, vai hype, falam em tecno, trance, drum and bass, falam em “DJs fazendo música” (nada mais lamentável), falam em new-bossa, mas nada disso movimenta tanto a humanidade quanto o lançamento de mais um disco dos Rolling Stones – queiram ou não os colunistas musicais adestrados. Na última vez, para lançarem Four Sticks, sua coletânea, tocaram no terraço de prédios (como os Beatles) e engarrafaram Nova York.
Quanto a mim, sou grato aos Stones e a Jagger por Wild Horses, Moonlight Mile, As tears goes by, Lady Jane, She smiled sweetly, Midnight Rambler, Gimmie Shelter, Let it bleed e mais umas quatrocentas músicas e uns 25 LPs. Uma obra inigualável, vasta, que atravessa quatro décadas e praticamente toda a minha vida – uma vida cuja relação com a música começou com um velho compacto 45 rotações com Penny lane de um lado e Strawberry Fields Forever do outro.
Uma simples brincadeira ao abrir uma conta de Hotmail (em 1997, quando eu estava no JB e mal sabia quem afinal tinha email para eu poder me comunicar), ao ver que já havia todas as variações com o nome “Gustavo”, deu origem ao nick “gustones”, em homenagem aos caras. Nunca mais deixei de lado. Como deixar de lado qualquer coisa relacionada aos Stones?
Afinal, eles estavam lá com You can’t always get what you want, nos momentos de perda e dor, tocavam ao fundo Wild horses nos fins de porre na madrugada, estavam com I got the blues quando fui de ônibus à Bahia via céu estrelado da estrada, presenciaram alguns (poucos, é verdade) beijos em bocas com Memory motel, Fool to cry, Angie e me confortaram nos momentos após enterros com Till the next goodbye (outra obra-prima).
Estavam lá na minha frente tocando “Like a rolling stone” na Apoteose em 1998 com Bob Dylan, quando minha amiga tijucana Cris se esvaiu em lágrimas – não à toa.
E, claro, estavam em Penedo com “Sweet Virginia” quando curtia com meu amor à beira da piscina.
E sempre estava lá a voz de Michael Phillip Jagger, o esganiçado mais afinado do mundo, esse sexagenário que permitirá um milhão de trocadilhos com seu novo adjetivo.
No dia 26, então, terei dois motivos para comemorar (espero começar a usar alianças nessa data). E três dias depois, é nosso aniversário de namoro.
Brindarei com vinho a nós e a Mr. Jagger. Que espero, prometa que vai chegar aos 80 cantando Jumpin Jack Flash.
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