14 julho, 2003

Sem contato de mãos humanas
Acho que a paranóia toda começou quando algumas embalagens começaram a vir com essa frase do título escrita em cima, como forma até de encarecer o produto. Afinal, máquinas não tinham vírus ou bactérias como os seres humanos de mãos sujas. Nada como a tecnologia para evitar que algo nojento como uma unha ou cabelo apareça no meio de seus cookies ou amendoins. Tudo bem que volta e meia rolavam boatos de que ossos adornavam o interior de garrafas de coca-colas, mas, ora, tudo tem seu preço.
Pensei nessas coisas quando li outro dia, há dois meses que a Leiteria Silvestre estava indo para o vinagre. E parece que foi. Na verdade, já tinha virado Café Silvestre, mas a casa abriu em 1908 como leiteria.
Volta e meia quando alguém se estressava no centro da cidade, era comum sair um pouco do século e entrar para a história, parando para fazer um lanche na Silvestre (que ainda leva nome da galeria que ilumina seu lar).
O Globo publicou matéria dizendo que "a insegurança fechava a Leiteria Silvestre", atribuindo o fechamento às brigas entre guardas municipais e camelôs.
Balela.
No fim da matéria, o gerente, Armando, de 65 anos, dá o serviço:
- As pessoas não têm mais tempo para saborear um bom lanche, de esperar o atendimento do garçom. Todo mundo vive com pressa, sai comendo sanduíche na rua. Na Silvestre, as pessoas não eram apenas clientes, eram amigas - lembra.
Sei que estou chovendo no molhado. Mas é nessas horas que até vejo com bons olhos as decisões radicais de Luis Edmundo, o único jornalista do Brasil que não tem celular (em breve estarei me juntando a ele) e provavelmente o único dono de computador que considera CD-ROM uma "babaquice". "Serve para colocar copos, nada mais", ataca o xiita anti-tecno.
Quando vi hoje no caderno de informática que os McDonald's (que, por si só, já são um convite à impessoalidade digna de um bando de coveiros) vão usar pedidos informatizados, sem necessidade de atendimento humano, já senti um calafrio.
A mesma nóia acontece na hora de ir ao cinema - locais onde passei parte de minha infância como o Copacabana, o Ópera, o Coral, o Scala, o Largo do Machado 1 e 2, vão dando lugar a igrejas, lojas, academias de ginásticas (porra, há lugar mais escroto do que uma academia de ginástica?), porque os Cinemarks da vida substituem tudo. Os Cinemarks de veludo e Combo de pipoca substituem o velho cinema de rua, de onde você sai hipnotizado e dá de cara com a luz diferente da que estava quando você entrou, dá de cara com a cidade.
A vida está mudando. Mas acho que neguinho se precipita muito ao dizer que tudo está mudando para melhor com a tecnologia. É cedo para dizer.

2 Comments:

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