17 julho, 2003

Enfim, notícia boa
Não, não é isso que é a notícia boa. Não estou nem aí para as promessas de “união” de Rosinha e de César Maia pelo Pan de 2007 (quando ambos, espero, já estarão fora de seus cargos atuais) e pelos Jogos de 2012. É realmente incrível. Prefeitura e governo esboçaram uma união na área da Segurança Pública (mas não fecharam nada), mal se entendem na questão do desemprego e ainda borram na hora de definir alíquotas de impostos – tanto é que o Estado aumentou o ICMS assim, sem nenhum entendimento com as prefeituras no sentido de verificar se a carga tributária não iria afastar as empresas do Rio.
O ICMS deve ter ficado maior em janeiro porque aqui é um estado muito seguro, em que os empresários nunca são seqüestrados, por isso o Rio já é atraente por si só.
E aí seguimos assim, orgulhosos das nossas Olimpíadas e fazendo parcerias para 2007, enquanto o desemprego e a miséria tomam conta do Estado do Rio.
Mas no meio dessa lambança toda, consegui acordar e dar de cara com uma notícia, se não boa, pelo menos alentadora: o investimento de R$ 2 milhões na reforma do cine Roxy, ali em Copacabana, lugar onde assisti Guerra nas estrelas, lá pelos idos de 1978.
Comentei lá embaixo sobre o horror das “novidades” e citei en-passant os Cinemarks. É claro que volta e meia vou parar num desses complexos de cinema, até porque os bons cinemas de rua andam rareando. E é claro que na primeira vez em que pisei em um Cinemark achei ducacete: oito cinemas no mesmo lugar, lanchonete, fila única para ingressos.
Até que olhei de perto.
Nos cinemas: em quatro passava Senhor dos Anéis (gosto do Duas Torres), em dois passava Harry Potter, em um passava Harry Potter dublado e no restante o último desenho da produtora de Procurando Nemo.
Nas lanchonetes, um saco de pipoca, talvez o snack mais barato do mundo (os agricultores que morrem na merda e imersos em calos vendem milho por 20 centavos a tonelada), custa seis reais. A Coca merdalight (não conheço outra versão de coca-cola que não seja a Light) sai por dois reais.
Na fila única, vidraças à prova de balas, alto-falantes e sempre com uma mulher lá dentro que deseja “bom filme” a alguém mais ou menos 700 vezes por dia. Caralho, isso é monstruoso.
A grande merda é que tecnicamente são cinemas perfeitos, em som, imagem, poltrona. Mas a impressão é de que são cinemas para quem não gosta de cinema, e sim de montanha russa.
Fui com Marcele ver um dos piores filmes de todos os tempos outro dia: Hulk. Lá pelos 40 minutos de filme, depois de me irritar com um diálogo em que Nick Nolte elogiava os olhos de uma mulher, nos levantamos do chão onde estávamos sentados (filas quilométricas dentro do shopping) e fomos embora. Não queríamos perder a noite, por isso andamos um pouco até o Espaço Unibanco e conseguimos um ingresso para “O homem que copiava”.
Me senti tão mais em um cinema que fiz questão de comprar a pipoca fria do Unibanco. Sentamos no lugar que queríamos e vimos um filmaço, com diálogos bem construídos, com pontos de virada (e não um filme cujo maior ponto de virada seja a transformação de um cara em uma coisa verde), conflitos, tramas, e atuações espetaculares dos atores, até da Luana Piovani, que nunca me encheu os olhos como atriz.
A impressão de tudo, no final, é que a tal padronização torra o saco. O pior de tudo é que as pessoas fazem questão de fingir que acham melhor.
Um dia quero ver se alguém vai achar a esfiha do Habib’s (é padronizada, igual em todas as filiais) melhor do que aquela da galeria no Largo do Machado. E pago para ver um fast-food limpinho ser melhor do que o sanduíche de carne assada do Belmont, feito por um galego que acabou de coçar o nariz.
Por isso tudo, longa vida ao Roxy. Longa vida ao velho e bom cinema de rua. Agora que estou sem celular, vou aderir ao movimento fundado por Luis Edmundo Araújo: vivam as velharias, abaixo a modernidade.