10 caixas de engraxate
Costumo dizer nos papos de botequim que o Plano Real fez mal à música. Explico: as gravadoras, seja de que país for, nunca trouxeram benefícios ao pop com suas exigências periódicas aos artistas – esse papo de um disco por ano ou dois a cada três só servem para, por exemplo, fazer Neil Young flertar com o tecno só de sacanagem, como aconteceu na década de 90.
Agora, pegue-se um cenário de repentina prosperidade, de aumento no consumo, misture-se isso com uma fácil propagação de ritmos e letras fáceis e digeríveis, e taí o cenário para as gravadoras venderem mais aqueles discos prateados que chamamos de CD. E creia-me, do mesmo jeito que a maioria dos patrões detesta ter que pagar salário, pode acreditar que a maioria dos executivos de gravadora certamente odeia ter que colocar som naquele disquinho – e adorariam que todos nós comprássemos dezenas deles para forrar as paredes de nosso quarto.
Assim, com o plano Real, pintou uma cacetada de conjuntos musicais com fórmula igual: um tecladinho (acima de tudo), uns caras de terno branco, letras que falam de sexo sem usar palavrões e muitos sorrisos. E vários nomes tipo raça, pirraça, raça negra, etc.
Claro que o hábito de fabricar artistas não começou com o plano de desemprego do Fernando Henrique, óbvio. Afinal, lá nos EUA o Vanilla Ice nem sabe o que é Pedro Malan. Mas deve-se observar que a coisa aumentou com o Plano Real, e se espalhou para o dito Pop/Rock.
Com a retração da economia, porém, o espaço ficou pequeno e um dia ia acontecer mesmo o que rolou no Aeroporto Santos Dumont. É pouca audiência para muito Art Popular e LS Jack. E como pessoas “de bem”, tomaram a decisão mais racional: vamos decidir na porrada.
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