Janis Joplin
Janis
Hoje, 4 de outubro, completam-se 33 anos desde o dia em que Janis Joplin morreu e foi se espalhar pelo Oceano Pacífico sob a forma de cinzas (a cremação aconteceu três dias depois). A cada vez que ouço interpretações como “Maybe”, “Little Girl Blue” (extraordinária, do CD Kosmik Blues), “Ball and chain” e “I need a man to love”, me convenço de que Janis poderia muito bem ter nascido em outra época ou local, que todo o ambiente da contracultura e do fim dos anos 60 nos EUA acabou subvertendo um pouco o espírito dessa espetacular cantora de voz feia. Aliás, segundo muita gente, não só a voz – Janis era gordinha e feia, encarnava o sentimento de rejeição de milhares de adolescentes e jovens que não se enquadravam nos emergentes estereótipos de beleza, que a publicidade aos poucos começava a propagar. Enfim, a música de Janis era muito maior do que todos aqueles cabeludos vendendo incenso, e não era necessariamente sobre o Vietnã ou coisa parecida.
Janis falava basicamente de duas coisas: amor e rejeição. Talvez mais sobre rejeição. E essa mesma rejeição a levava até a inventar amores, como seu flerte com o cantor/ator/compositor Kris Kristofferson – autor de um hit de Janis, “Me and Bobby McGee”. Segundo Myra Friedman, autora da melhor biografia de Janis (“Enterrada vida”), Janis entrava em depressões profundas por Kristofferson não aparecer para ver seus ensaios. O compositor, porém, além de ter mais o que fazer, ficava meio puto porque sabia que se chegasse atrasado Janis lhe daria esporros injustificados para depois ficar pedindo desculpas feito uma criança.
Janis lamentava muito que Kris gostava dela. Ela queria ser amada. Por isso tanta empatia em “Little Girl Blue”, quando ela solta a voz, quase gemendo, seduzindo as pessoas rejeitadas que a ouvem, “oh, i know what you fell, i know what you fell”.
Ou em “Ball and chain”, do “Cheap Thrills”, quando ela desabafa “i need to know whyyyy...”, uma nota de arrepiar.
É natural que Janis e a contracultura até hoje se confundam, afinal, a cantora se vestia como se vestiam em San Francisco naqueles anos loucos. E se comportava com a permissividade sexual emergente da época, gostando muito de homem mas também curtindo um pouco as mulheres, apesar de não ser uma lésbica convicta. Mas sua real tendência sexual era mesmo a solidão. “Faço amor no palco com dez mil pessoas e depois vou para casa sozinha”, é sua frase mais famosa.
Mas acredito que a memória do que eram os hippies ou o flower power vai se dissipar muito ao longo dos anos, enquanto a voz que vem das cinzas cantando “Little Girl Blue” será sempre um tema atual. A sensação de liberdade presente na letra de “Me and Bobby McGee” (“Nos sentindo mais gastos do que nossos jeans(...)Bobby encontrou um caminhão/que nos levou na direção de Nova Orleans/Tirei minha gaita de dentro da minha suja bandana vermelha/E fui tocando suavemente/Enquanto Bobby cantava os blues (...) cantamos todas as canções que o motorista conhecia”) também será sempre atual, nos dias em que vivemos, dentro da imensa prisão chamada sobrevivência.
É, este fim de semana vou esquecer da hérnia ouvindo minha caixa de CDs “Box of pearls”.
4 Comments:
curti o post!^^
Adorei o post, a Janis Joplin é e foi umas pessoa realmente incrível. Sou bem suspeita pra falar sobre ela,confesso q mesmo não tendo nascido na época do "flower Power",mas tbm pq adoro blues e a Janis interpretava as canções com tanta dor e alma q só mesmo os bluseiros conseguiam transmitir...sempre fico arrepiada e com sentimento meio até saudosista ao ouvir "Summertime"... muito bom.
Acho q ela só queira sentir-se parte de algo sem q pra isso ela deixasse de ser ela mesma.
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