14 janeiro, 2002

Assim...

...me deixaram escrever. Com uma permissão especulativa sobre meu sorriso ou o meu pranto. E ordenaram-me que o fizesse sobre qualquer assunto e mesmo obrigada. Redija sobre isso, comente aquilo, diga o que acha disso...
Não quero comentar sobre isso ou aquilo. Percebi que minhas palavras saem confusas, técnicas, patéticas, leves e pertinentes.
Porque neste momento, por exemplo, me sinto livre e estou me completando, exercendo meu narcisismo. Sou quem sangra, sua e salga à medida que me exponho. Quisera que fosse diferente. Não ter acordado com este sonho na cabeça. Que me mandassem escrever sobre qualquer coisa e eu conseguisse assimilar o tema e tomá-lo como uma coisa minha. Mas não. Meu texto se tornou uma pálida rosa amarela apreciada e comentada no entorno macio delicadamente com a ponta dos dedos. E escutei o texto-rosa-amarela me pedindo desculpas por ser apenas “bonitinho”. Resta calar-me, frustrada e triste, ante a incapacidade e inquietação que me toma.
Uma opção é finalizar fingindo assombramento (também porque sonhei com uma enorme sala de aula e uma professora antiga usando coque que escrevia no quadro-negro “sur le mur” e assustou-me).
Preciso me exercitar. Quero ser melhor, quero ser melhor...