11 janeiro, 2002

Cortázar, the killer
Apenas uma brincadeira com Cortez The Killer, tudo bem, aquela música imortal de Neil Young, outro gênio que não é deste mundo. Mas o que eu quero mesmo é falar de Júlio Cortázar, esse genial argentino (costumo dizer que salvaria da Argentina apenas Borges, Cortázar, Astor Piazzola e Doval - todos mortos). Quero reproduzir um texto dele, do livro "Histórias de cornucópios e de famas". É de um capítulo chamado "Manual de Instruções". O nome do texto? Leiam aí:
Instruções para chorar
Deixando de lado os motivos, atenhamo-nos à maneira correta de chorar, entendendo por isto um choro que não penetre no escândalo, que não insulte o sorriso com sua semelhança desajeitada e paralela. O choro médio ou comum consiste numa contração geral do rosto e um som espasmódico acompanhado de lágrimas e muco, este no fim, pois o choro acaba no momento em que a gente se assoa energicamente.
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Para chorar, dirija a imaginação a você mesmo, e se isto lhe for impossível por ter adquirido o hábito de acreditar no mundo exterior, pense num pato coberto de formigas ou nesses golfos do estreito de Magalhães nos quais ninguém entra, nunca.
Quando o choro chegar, você cobrirá o rosto com delicadeza, usando ambas as mãos com a palma para dentro. As crianças chorarão esfregando a manga do casaco na cara, e de preferência num canto do quarto. Duração média do choro, três minutos.