07 janeiro, 2002

Bom dia, Babilônia
Ainda não consegui dormir, estou aqui na madrugada desta segunda-feira pensando na vida, com o rádio ligado em FM, e velhas canções vão se acotovelando, disputando espaço em meus ouvidos e memória. Entra "Sunshine on my shoulders", com John Denver, que eu detestava, pois veio em uma época de Led Zeppelin, antes de eu descobrir que Led Zeppelin é eterno, todo mundo gosta.
O pior sempre passa. Antibióticos tomados, falta ainda uma cartela, passou a dor, passou o fim de semana trabalhoso (plantão, Casa da Matriz, plantão), em breve vai passar o período abstêmio e vou beber todas, aquelas que eu não bebi com os amigos no aniversário. Onde será que eu posso dar uma festa sábado? Tem como fechar algum lugar? Qualquer coisa menos Matriz, não há condições.
Queria era que parasse esse John Denver que nunca me comoveu, e entrasse logo a porra do Barry White cantando "Just the way you are", aquela obra-prima do Billy Joel, um primor de canção de amor, uma aula de como se faz música e se encanta a humanidade. Os merdinhas deveriam ouvir todos os dias e aprender o que é fazer o povo assoviar.
Bom dia, Babilônia. Não, não falo do filme dos irmãos Taviani, e sim do próprio despertar em um hospício, que é o que considero a gente saindo de uma infecção, começando a retomar o ritmo normal da vida. Assunto demais para tratar, vamos aos poucos, não sei de nada, quero tudo. É ex-namorada que liga, e vem tudo, tudo de uma vez só. É amor platônico que aparece e se desvanece. É trabalho louco, trânsito sinistro, metrô lotado, barriga que cresce, comidas que podres, calor senegalês, sol por testemunha, a mira ruim do policial, a gilete nas mãos do menor, os jornais estampando sirenes, enfim, bom dia Babilônia, bem-vindos ao caos, Caronte, nos guie para esse paraíso.
É isso, pessoal. Feliz Ano Novo. Vai ser sim, não tenho dúvida. Começa hoje.
Agora.