04 janeiro, 2002

O homem do ônibus

Um dia qualquer.
Um dia comum.
Um ônibus.
Um homem.

O tempo.
O tempo da espera.
O ponto.

Um homem sem ponto.
Um homem no ônibus.
Um homem.
Um banco vazio para o homem sem ponto.

O homem do ônibus.
Um lugar para sentar.
Assento do tempo, assento de um ônibus frio,
assento do homem sem ponto.

O homem sem rumo, sem muro,
sem janelas, amor ou panelas.
O homem tristonho.
O destino do homem sem ponto...
O homem cansado do andar quer somente sentar.
Descansar.
Um homem fadado, triste, rotulado.
Levantou-se a mulher a seu lado e, com ela,
um olhar de soslaio.

Seu olhar sofrido pergunta, em voz baixa, ao ônibus:
Estou errado?
O homem do ônibus errou, sem querer.
Errou o ônibus, o ponto, o rumo e a hora.

A espera, a demora.
O homem em um ônibus frio, cercado de brancos lúcidos e nobres.
O homem do ônibus errou,
ao vir ao mundo negro e pobre.

...esta é uma poesia da minha irmã Adriana, aniversariante junto com o Gustavo anteontem. Sensível, Nanana parece que é escolhida a dedo para presenciar as cenas mais esdrúxulas do dia a dia do Rio de Janeiro.