Sábado, como Deus
Se Deus descansou no sétimo dia, como diz o Velho Testamento, deve ter alguma lição embutida nisso aí. No mínimo Deus já sabia - 40 minutos antes do Nada, mais ou menos no início do primeiro Fla-Flu - que sair sábado à noite é coisa de amador. Nada como a velha terça-feira, ou mesmo uma quinta, quem sabe uma segunda-feira descansada, para você ir à rua e só encontrar profissionais - além das coisas indispensáveis para quem quer sair à noite: locais com mesas para sentar, sem gente se acotovelando, sem caçadores de mulheres, sem lutadores de rua, com atendimento perfeito.
É claro que esses hábitos demandam certa disposição, afinal, não é fácil - ainda mais depois que você passa dos trinta - conciliar uma saída terça-feira à noite com o despertar para o trabalho na quarta-feira de manhã. Mas como evitá-los? Para mim já virou hábito há meses, por exemplo, a sinuca do domingo à noite. Há algumas semanas, virou hábito ir com Marcele ao Queen´s Leg na terça. E para mim tem que ser hábito ir com Marcele ao cinema na sexta-feira à noite (antes, claro, da Mate-me por favor).
Agora, já vão os anos desde que eu tinha algum hábito no sábado. Só mesmo o de acordar tarde - e já me dirigir à casa do engenheiro e colecionador de rock n roll Rodrigo Cobra, para ouvir dezenas de CDs (já foi LP) e bebericar à vida. Já houve o tempo em que matávamos uma garrafa de rum (com abacaxi e coco), conversando, ouvindo Who e Stones, e a tarde se ia, a noite chegava, e só o que tínhamos era uma leve embriaguez, suficiente para chegar em casa, tomar um banho e dormir antes mesmo da noite de sábado começar.
Quando se namora, é outra coisa - ficar em casa no sábado à noite é algo genial. Claro, desde que você tenha CDs, vídeos, um pouco de vinho, algumas comidinhas leves e dois travesseiros.
Só que Marcele estava viajando - meu sábado, portanto, quase foi ir ao Bukowski com os amigos, mas o cansaço me obrigou a ver o bizarríssimo filme "Bilhete premiado", de Nora Ephron, com John Travolta e Lisa Kudrow. Filme interessante, que termina com a frase "just lucky". Eu concordei e dormi.
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